Tricologia

É possível um produto vegano com qualidade?

Setembro/Outubro 2020

Valcinir Bedin

colunistas@tecnopress-editora.com.br

Valcinir Bedin

Antes de discorrermos especifi camente sobre a pergunta feita acima, devemos fazer uma análise epistemológica de alguns termos muito utilizados hoje em dia.

Vamos começar com o termo vegano. Produtos veganos são aqueles em que não são utilizadas matérias-primas de origem animal, mas isso não signifi ca que não contenham materiais sintéticos.

Os cosméticos veganos são produtos que não possuem ingredientes de origem animal em sua formulação, como, por exemplo, queratina animal, colágeno, cera de abelha, mel, seda, leites, gorduras de boi ou porco e não utilizam animais em nenhuma etapa de testes.

Para receberem o logo Certified Vegan, é preciso atender a alguns requisitos: os produtos não podem conter matéria-prima de oriundas de carne, aves, peixe, ovos, laticínios, mel, própolis e geleia real, entre outros, nem subprodutos de animais, tais como corantes de insetos, seda etc.

Além disso, têm que ser cruelty-free, isto é, não podem usar animais para seus testes de eficácia. Por isso, estas nomenclaturas são apenas alternativas de selos, e o rigor irá depender da certificadora.

Os cosméticos veganos fazem parte dos “cosméticos verdes”, os quais são desenvolvidos segundo princípios ecológicos. Nesse grupo, também entram os cosméticos orgânicos e os naturais.

Como obter esta certificação e quais são os testes?

Os testes em animais estão proibidos desde 2003 nos EUA. No mesmo ano, foi fundada a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), que, dez anos depois, em 2013, criou o Selo Vegano.

Para conceder o selo, alguns itens têm que ser observados, como produtos sem ingredientes de origem animal, ausência de testes em produtos com ingredientes em animais e o produto finalizado não pode ser testado em animais.

Outras sociedades ainda verificam se o cosmético segue diversas exigências relacionadas ao processo de produção, origem das matérias-primas e à sustentabilidade da cadeia produtiva.

O certificado Certified Vegan, outorgado pela Vegan Awareness Foundation, uma das mais prestigiadas do mundo.

Outra organização muito conhecida por suas atividades em relação aos animais, PETA (People for the Ethical Treatment of Animals) — volta sua atenção principalmente para quatro áreas com maior número de sofrimento animal: laboratórios em geral, indústria de alimentos, indústria do entretenimento e comércio de roupas (sem uso de pele de animais e de couro, por exemplo). Além disso, atua em muitas outras questões, como o combate à crueldade e ao assassinato de roedores e pássaros, entre outros animais, bem como aos maus tratos de animais que foram domesticados.

Como saberemos se os produtos são seguros para uso humano? Onde os testes são realizados?

Diversas empresas realizam testes de cosméticos veganos em pele humana desenvolvida em laboratório — tendo a aparência de círculos de gelatina transparente. A pele coletada pode ser separada por idade, sexo e raça do doador para a realização de testes confi áveis em função do mercado visado. Uma das maneiras de se obter essas amostras de pele são cirurgias em que temos sobras deste material humano.

A matéria-prima para criar a pele humana vem, principalmente, de células chamadas queratinócitos, cultivadas e inoculadas. Nesta cultura, as células se multiplicam até a formação de uma camada espessa a ser mergulhada em um líquido nutritivo que simula o sangue humano. O cultivo resulta em uma pele humana apta a testar produtos veganos e cruelty-free.

Pode-se ainda utilizar o modelo de pele de cobra, que usa a pele descartada do animal.

Para a obtenção de matéria-prima, são permitidos os processos que utilizam pressão, destilação a frio, vapor ou água, concentração por métodos físicos ou mecânicos e percolação. Já os solventes extratores são glicerina e álcool, se obtidos de maneira orgânica. Processos que utilizam nitrogênio e CO2 também são viáveis.

Além de não conterem produtos de origem animal e da inexistência de crueldade com os animais, os cosméticos veganos têm que contribuir para a sustentabilidade. Os cosméticos veganos, em geral, são fabricados com matérias-primas sintéticas. Essa particularidade diminui a produção de lixo durante a fabricação. Mas nem sempre isso é suficiente. Existem produtos veganos que utilizam vaselina ou parafi na, que são derivados de petróleo e não são biodegradáveis!

Cabe ao formulador observar todas estas questões quando for elaborar um produto para o qual espera receber o selo vegano. Não é uma tarefa simples, mas com certeza é necessária. Quando observamos o mercado destes produtos, vemos que ele vem aumentando exponencialmente e que ficar fora dele é um suicídio comercial.



Outros Colunistas:

Deixe seu comentário

código captcha

Seja o Primeiro a comentar

Novos Produtos