Mercado

O vai e vem da economia mundial e local

Setembro/Outubro 2020

Carlos Alberto Pacheco

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Carlos Alberto Pacheco

Muito já se disse sobre isto e mais ainda será dito: estamos vivendo um ano complicado. Como se não fosse suficiente termos que lidar com a perda de vidas humanas, inclusive de pessoas próximas, com um auge mundial de 966 mil [no dia da edição dessa coluna] - sendo EUA e Brasil responsáveis por 35% deste número [137 mil só no Brasil] -, ainda temos que lidar com as agruras da economia, que são complicadas - mais ainda com os movimentos políticos da pré-eleição norte-americana.

O PIB das economias mais fortes do planeta tem recuado fortemente. No segundo semestre nos EUA, o recuo foi de 9,1% em relação ao trimestre anterior, ou seja, -31,9% anualizados. Na Zona do Euro, o tombo de 12,1% foi maior ainda, e, no Japão, foi de 7,8%. O Brasil acompanha as tendências de queda mundial e apresenta uma redução de 9,7%. O único país a ter um PIB positivo em relação ao trimestre anterior foi a China, com 11,5% (os dados são da OCDE).

De acordo com a instituição, os dados refletem as consequências das medidas de isolamento, tendo como auge o meio do segundo trimestre (maio). Com o relaxamento das medidas restritivas, a tendência é a recuperação pouco a pouco da economia, porém com uma forte previsão de fechamento de PIB´s negativos para o ano (mundo -4,5% e Brasil -6,5%).

No Brasil, muito se tem feito para tentar mitigar este cenário, como a injeção de auxílio emergencial, estímulos fiscais etc. Apesar do esforço, o percentual do crescimento da indústria de transformação, que inclui a indústria cosmética, teve um encolhimento de 17,5% em relação ao trimestre anterior, ou 10,7% no ano. Olhando a conta do comércio, parte importante no segmento cosmético, a retração foi de 13% em relação ao trimestre anterior (retração de 6,9% no ano).

Do ponto de vista da balança comercial, embora as exportações tenham crescido 1,8% em comparação ao trimestre anterior, no ano acumula perda de 0,8%. As importações diminuíram 13,2% em relação ao trimestre anterior e apresentam redução de 5% no ano. Isto indica uma atividade industrial interna menor.

O relatório PNAD Covid-19 de julho indica que nacionalmente a relação entre o rendimento médio do trabalho “efetivamente” recebido e o “habitualmente” recebido ficou em 87,1%, ou seja, as famílias tiveram em média uma perda de 12,9% em seus rendimentos (de R$ 2.070 contra R$ 2.377). Analisando os vários estratos de estudos, este percentual de longe não é homogêneo. Por exemplo, quem trabalha por conta própria recebeu efetivamente 72% do que habitualmente recebia (R$ 1.376), enquanto os trabalhadores do setor privado com carteira receberam, em média, R$ 2.096, e funcionários públicos receberam efetivamente R$ 3.574, em média - 90% acima do habitual. Os trabalhadores com Ensino Superior completo foram os que tiveram a menor perda, a saber: 10,6% (R$ 3.579). Apesar de uma massa de rendimento menor do que a dos homens (R$ 2.214), as mulheres (R$ 1.866) tiveram uma perda semelhante, embora uma maior recuperação no período. Para os idosos (60 anos ou mais), a perda foi substancialmente maior quando comparadas com a dos jovens entre 14 e 24 anos. De qualquer maneira, apesar do aumento de 6,5% no total dos rendimentos efetivos, na prática os efeitos funestos da perda de rendimentos na sociedade têm sido evidentes. A boa notícia é que o rendimento efetivamente recebido tenderá a aumentar enquanto o auxílio emergencial for mantido.

O terceiro trimestre tende a ser melhor do que o último. No entanto, a diminuição destas medidas, aliada ao aumento das taxas de transmissão do vírus, adormece as expectativas de uma recuperação mais rápida. De acordo com a OMS, uma vacina efetiva e segura não deverá estar disponível antes do segundo semestre de 2021 e uma campanha de vacinação mundial somente no segundo semestre. A OCDE recomenda a continuação dos auxílios emergenciais ao longo do ano de 2021 com o fi m de evitar contrações maiores do que as previstas, porém atualmente esta não é a política do Poder Executivo. A OCDE também recomenda uma forte ação dos bancos centrais de cada Estado no sentido de conter o desemprego (variável ainda sem controle no Brasil) e a manutenção de uma infl ação baixa, com atividade industrial signifi cativa (equação difícil de se manter mesmo em situações favoráveis).

Todos os fatores descritos, aliados à pesada sombra de uma segunda onda mundial da pandemia, um olhar extremamente negativo por parte de investidores estrangeiros sobre as políticas ambientais brasileiras e as queimadas naturais impostas pela mãe natureza vão desenhando pela frente um cenário bastante complicado para os empresários locais, oferecendo muitas difi culdades para uma efetiva recuperação econômica.



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