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Holobeauty

Julho/Agosto 2020

John Jimenez

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John Jimenez

A BBC publicou uma nota em 9 de julho sobre o coronavírus em que afi rmava que esta não é a última pandemia. O alerta dos cientistas é sobre a “tempestade perfeita” para doenças causadas por novos vírus que aparecerão. O claim “ação contra vírus” está crescendo no mercado de cosméticos em várias categorias, pela pandemia declarada pela OMS e pela necessidade de proteção do consumidor.

De acordo com a Mintel, esse claim cresceu mais de 500% no segundo trimestre de 2020. Podemos ver uma diversidade de claims em produtos como álcool e géis desinfetantes, como kills virus, anti-virus action, virus killer, including flu virus and common cold virus, fight the covid-19 virus… Na web, encontramos relatórios e postagens em blogs com perguntas sobre quanto tempo o vírus pode viver em produtos cosméticos com vários usos, como batons, maquiagem, cremes etc.

Portanto, a indústria cosmética está começando a se interessar por vírus, em particular, pelo viroma humano.

Em geral, podemos dizer que o microbioma humano é composto de bactérias, vírus e fungos. O viroma é a coleta de todos os vírus encontrados no corpo humano (incluindo a pele), e os vírus são a entidade biológica mais abundante e têm a maior proporção no microbioma. Seu papel na saúde e aparência da pele é desconhecido. O viroma é diferente em sangue, sistema respiratório, sistema nervoso, sistema digestivo e pele.

As bactérias, como parte fundamental do microbioma, foram extensivamente estudadas, enquanto os vírus estão abrindo um novo panorama por duas razões. Em primeiro lugar, a quantidade de vírus desconhecidos que fazem parte do microbioma humano é próxima de 80%, ou seja, não sabemos a totalidade do nosso viroma e, em segundo lugar, porque há uma falta de pesquisas sobre quais são as “ações benéficas” que alguns vírus podem ter na pele. Por exemplo, em 2013, um artigo foi publicado na Trends in Microbiology indicando que o β-papilomavírus humano (βVPH), da família Polyomaviridae, pode participar ativamente da proliferação de queratinócitos durante a cicatrização de feridas.

O papel do viroma no envelhecimento está começando a ser de grande interesse na ciência, pois desde 2019 vemos novas publicações sobre esse assunto. Um artigo publicado pela The Gerontological Society of America, em dezembro de 2019, menciona que o viroma se adapta em termos de composição e abundância em resposta a diferentes fatores relacionados à idade, como alterações no sistema imunológico (imunologia), ambiente, dieta, infecções, consumo de antibióticos e outros fatores intrínsecos. Quando o viroma se adapta a essas mudanças, pode ter efeitos nos processos de envelhecimento. Outra teoria também explica que os vírus podem afetar as alterações no DNA que aceleram o envelhecimento da pele.

Pesquisadores da IBM e da Universidade da Califórnia investigaram e publicaram neste ano a robustez do microbioma humano como um indicador da idade, porque um microbioma “jovem” pode oferecer pistas sobre como desacelerar o processo de envelhecimento. O microbioma cutâneo fornece a previsão mais precisa da idade, e eles desenvolveram um modelo de predição baseado em inteligência artificial que permite prever a idade com base na análise de microbioma.

Por outro lado, a pele tem uma resposta adaptativa e pode expressar proteínas antivirais. A C&T publicou um artigo interessante em julho (Resposta antiviral) – que está sendo publicada nesta edição, em português -, em que apresenta a imunosenescência como um elemento chave que nos permitirá desenvolver produtos de skin care no futuro para mitigar os efeitos do envelhecimento na capacidade da pele de responder a vírus.

O holobionte é um dos conceitos considerados promissores para o futuro. Vem dos termos holo (tudo) e bíos (vida). Esse é um termo criado por Lynn Margulis e é usado para se referir à associação entre um macrorganismo (animal ou planta) e os microrganismos simbióticos que compõem sua microbiota (bactérias, vírus e fungos). O papel do viroma no holobionte não é totalmente claro, e há muitas coisas a descobrir.

Sabemos que existem vírus bacteriófagos que podem ter um “efeito positivo” porque podem controlar o crescimento de certas bactérias e, assim, alcançar um efeito probiótico, como ocorre no intestino. Existe um grande interesse científico em determinar qual é o efeito do viroma nas populações bacterianas da pele e como essa interação tem efeitos na saúde da pele. Uma melhor compreensão do microbioma e seus componentes permitiu o desenvolvimento de novos conceitos. A revista Science publicou em maio um artigo sobre o conceito psychobiome em relação às bactérias intestinais que pode alterar a maneira como pensamos, sentimos e agimos. Outro artigo, publicado em 2019, introduz o conceito photobiomics, relacionado à maneira como a luz, incluindo a fotobiomodulação, pode alterar o microbioma.

Holobeauty = holobionte + beauty. No futuro, o conceito de beleza será mais integral, considerando todas as associações que o ser humano possui com seu microbioma. Veremos novas descobertas e mecanismos que incluirão novas tecnologias que melhorarão a aparência da pele e sua capacidade de se defender. O viroma terá um papel fundamental nos cosméticos do futuro.



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