Temas Dermatológicos

Fotoproteção

Maio/Junho 2020

Denise Steiner

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Denise Steiner

A aplicação adequada do protetor solar pode evitar danos causados pela radiação UV na pele, mas a parte do UVB bloqueada é também necessária para a produção de vitamina D. Embora intuitivamente suspeitemos de que o uso adequado do protetor solar impeça a síntese suficiente de vitamina D, há poucos estudos que analisam esta questão.

A radiação ultravioleta do tipo B (UV-B), com pico de ação em 296 nm, atua no metabolismo da vitamina D, transformando, na epiderme, 7-di-hidrocole-terol em pré-colecalciferol (pré-vitamina D3). A partir daí, uma sequência de reações metabólicas de hidroxilação vai ocorrer no fígado e nos rins até a produção da forma ativa da vitamina D (1,25-di-hidrocolecalciferol).

A dose estimada de UV-B necessária para a produção de 1000 UI de vitamina D é de 0,25 Dose Eritematosa Mínima (DEM), quando cerca de 25% da área corporal total é exposta. É, portanto, uma dose considerada pequena se comparada à dose necessária para a produção de eritema.

Em um país com altos níveis de insolação, como o Brasil, poucos minutos de exposição ao ambiente externo, qualquer que seja o clima, somente de mãos e face, seriam suficientes para a produção de vitamina D. Portanto, devemos ter maior preocupação com os riscos relacionados à exposição solar do que com os riscos relacionados à sua não exposição.

Em relação ao horário de exposição ao sol, sabemos que o nível de radiação UV-B no período anterior às 10 horas da manhã e após as 15 horas (desconsiderando-se o horário de verão) é mínimo. Por isso, não se justifica a exposição solar durante esse período com a intenção de produção de vitamina D.

Sabemos que o uso adequado de fotoprotetores reduz de forma significativa a quantidade de radiação UV-B que atinge a superfície cutânea, podendo, desta maneira, interferir teoricamente na produção de vitamina D. Entretanto, na prática, sabemos que o uso regular de fotoprotetores não leva à deficiência de vitamina D.

A possível justificativa encontrada seria a de que, pelo fato de os usuários não aplicarem o protetor solar na quantidade adequada e com a frequência e regularidade recomendadas, uma quantidade sufi ciente de radiação UV-B atingiria a superfície da pele para a produção de vitamina D.

Assim, o uso de fotoprotetores, da forma como são habitualmente utilizados pelos usuários, não poderia ser considerado como um fator predisponente ao desenvolvimento de defi ciência de vitamina D.

O Consenso Brasileiro de Fotoproteção faz as seguintes recomendações:

1. A exposição ao sol, de forma intencional e desprotegida, não deve ser considerada como fonte para a produção de vitamina D ou para a prevenção de sua deficiência.

2. O uso de protetores solares com FPS superiores a 30 deve ser recomendado para todos os pacientes, acima de 6 meses, expostos ao sol. Não se deve realizar a exposição ao sol sem o uso adequado de protetores solares. Crianças abaixo de 6 meses não devem se expor diretamente ao sol e não devem fazer uso regular de fotoprotetores.

3. Pacientes considerados como sendo de risco para o desenvolvimento de deficiência de vitamina D devem ser monitorados por exames periódicos e podem utilizar fontes dietéticas ou suplementação vitamínica para a prevenção de deficiência de vitamina D.

4. São considerados fatores de risco para o desenvolvimento de deficiência de vitamina D:

a. Lactentes recebendo amamentação exclusiva
b. Idosos (pele envelhecida produz menos vitamina D) c. Indivíduos com baixa exposição ao sol
d. Condições climáticas extremas
e. Uso rigoroso de medidas de fotoproteção
f. Cobertura da pele por práticas religiosas
g. Pessoas com pele escura (fototipos V e VI)
h. Pacientes com síndrome de má absorção
i. Obesos mórbidos

5. A dose diária recomendada de vitamina D para a prevenção de deficiência em indivíduos de risco é a seguinte:

a. 0 a 12 meses: 400 UI/dia
b. 1 a 70 anos: 600 UI/dia
c. Acima de 70 anos: 800 a 1000 UI/dia

A prevenção ao câncer de pele, por meio da fotoproteção consciente, é a medida prioritária em termos de saúde pública para o Brasil, particularmente na área da dermatologia, e a Sociedade Brasileira de Dermatologia continua a estimular a população a evitar a exposição ao sol sem a adequada proteção, especialmente no período de maior risco, entre 10 e 15 horas.



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