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E o amanhã, como será?

Março/Abril 2020

Carlos Alberto Pacheco

colunistas@tecnopress-editora.com.br

Carlos Alberto Pacheco

A face do mundo nunca mais será a mesma. Com certeza você já deve ter escutado muito isso nestes últimos quarenta dias. Mas é isso mesmo! Não seremos os mesmos depois de tudo isto. As relações humanas em todas as suas dimensões sofreram uma disrupção, ou seja, vivemos um momento em que tudo muda a cada dia, e o futuro passa a ser contado como antes e depois dessa disrupção.

Este evento que vivemos talvez seja o primeiro após o real mergulho da humanidade na primeira parte da curva da 4ª Revolução Industrial (4RI), já em andamento. Em virtude da velocidade das constantes mudanças, que é uma das características da 4RI, ou seja, tudo junto e interligado ao ponto de já não mais nos permitir ver as coisas de forma aristotélica – separadas, bem classificadas, estanques –, este primeiro evento nos pega de surpresa, pois não há pré-experiência para lidar com ele. Como todas as coisas pertinentes a esta 4RI, teremos que aprender a administrá-lo com a Terra em movimento, cientes de que as soluções propostas hoje podem hoje mesmo ficar facilmente obsoletas.

Não é a primeira vez que a humanidade passa por uma experiência causada por uma pandemia. Não vamos retroceder ao início da humanidade nem à Idade Média. Mas podemos ir até o começo do nosso século. Já se foram dois grandes surtos pandêmicos de gripes do tipo coronavírus. A primeira foi em 2002 (SARS) e, depois, em 2014 (MERS). E, no meio do caminho, foi inaugurado o novo Regulamento Sanitário Internacional (2007) para o enfrentamento dessas dificuldades. Nesse século, também já ocorreram outras grandes pandemias dos tipos Infl uenza A, B e C, também conhecidas como A H1N1, como a de 2009. O H se refere à hemaglutinina, e o N diz respeito à neuraminidase, que são proteínas presentes no material que envelopa a carga genética viral, e os números referem-se aos diversos aminoácidos ligados a estas duas proteínas – até o momento já foram identificados 16 tipos de hemaglutinina e 9 neuraminidases.

No entanto, apesar desses constantes ataques viróticos, nenhum havia causado tamanho impacto, amplitude e profundidade que o atual. Não é mais raro escutarmos falar de impressoras 3D imprimindo equipamentos de segurança para a área da saúde. Aplicativos de comunicação em massa como Zoom App tornando-se mais populares mesmo nas camadas da sociedade menos habituadas a novas tecnologias. O trabalho remoto, que antes era impensável para muitos, vem se tornando a regra e sendo absorvido facilmente pelas partes integrantes.

Drones vêm sendo usados de maneira ainda não pensada ou difundida em larga escala. A logística está sendo levada ao extremo e convidada a propor ações de esterilidade na cadeia de distribuição nunca antes questionada. O mundo globalizado sendo posto em dúvida como modelo e o velho “just in time” sendo desnudo. Os governos reinventando-se a cada dia. As economias à beira da extinção. As relações interpessoais sendo questionadas. As dificuldades de se manter o confinamento levando ao questionamento do que é mais importante: a necessidade individual ou o bem coletivo. A ordem do dia passou a ser mais do que nunca o questionamento.

Nada do que foi dito acima está sendo classificado como bom ou ruim, certo ou errado. Estou apenas evidenciando que, como ditam as bases da 4RI, não temos tempo para pensar e controlar tudo. Temos de estar cientes de que primeiro as coisas acontecem e depois são avaliadas e que ninguém mais tem a hegemonia, seja lá do que for. As fragilidades estão expostas. A cada instante, uma nova solução aparece num canto do mundo e, em outra ponta, tudo está sendo posto abaixo por outra solução sem sabermos se ela é melhor ou não. O eixo do poder político/tecnológico parece ter parado, entrado em estado de inércia.

Portanto, diante do exposto, o momento é de exercer a “calma ativa”, aquele estado de espírito que não nos coloca em pânico ao mesmo tempo em que nos libera para continuarmos tentando ter as rédeas da situação. Apesar dos pesares, a raça humana, como entidade coletiva, vai saber como contornar esta difi culdade. Entender este momento como um processo, com começo, meio e fim, vai nos ajudar a chegar a um bom fim.



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