Tricologia

Tricologia genderless

Novembro/Dezembro 2019

Valcinir Bedin

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Valcinir Bedin

termo “genderless”, em inglês, que significa literalmente “sem gênero”, é usado para designar situações e até produtos nos quais a diferenciação de gênero não se aplica. Quando falamos de cosméticos ou medicamentos, devemos levar em consideração as diferenças anatômicas e fisiológicas que existem entre aqueles designados ao nascimento como sendo masculinos e femininos.

A pele é o maior órgão do corpo humano e o único que tem uma característica peculiar: a comunicação com o mundo exterior e com outros seres humanos. Isso faz com que precisemos entender bem como ela funciona para, no mínimo, não causarmos danos ao tentarmos manipulá-la.

Para nos atermos aos cabelos, devemos lembrar que a velocidade de crescimento e o comprimento final dos fios têm uma correlação com o gênero. Estudos feitos com gêmeos mostram que os cabelos das meninas crescem mais e mais rapidamente do que os dos meninos.

É claro que existem diferenças raciais importantes quando falamos de pele, sendo a mais visível a cor, que é dada por uma composição de melanina (pigmento proteico produzido pelo melanócito e que é responsável pela tonalidade acastanhada), vasos sanguíneos (responsáveis pelas tonalidades azuis e vermelhas) e queratinócitos (células da epiderme responsáveis pelos tons amarelados). A somatória desses tons é que vai dar a cor final da pele.

Os hormônios também podem infl uenciar a cor da pele. Devemos lembrar que o corpo humano contém estruturas chamadas glândulas, que produzem uma secreção que é jogada na corrente sanguínea denominada hormônio. Há algumas diferenças entre os gêneros no que diz respeito às glândulas, e nós vamos nos ater àquelas que interferem na pele e nos cabelos.

A tireoide, glândula localizada na altura do pescoço, produz hormônios que podem alterar a textura dos cabelos, deixando-os mais secos e quebradiços. Mas isso não muda de acordo com o gênero.

O grupo de hormônios que mais interfere na pele e nos cabelos é o dos andrógenos, chamados de hormônios masculinos, mas presentes em ambos os gêneros. Eles são produzidos essencialmente nos testículos e na suprarrenal nos homens e nos ovários e na suprarrenal nas mulheres.

Simplificadamente, podemos dizer que, nos homens, os andrógenos são responsáveis pelos caracteres masculinos (voz, barba etc.) e, nas mulheres, eles servem para manter a força muscular e estimular a libido.

Apesar de ter uma distribuição diferente em cada gênero, a quantidade de folículos pilossebáceos que cada ser humano tem é praticamente igual a 5 milhões. Eles estão espalhados pelo corpo todo, sendo aproximadamente 1,5 milhão no segmento cefálico e o restante distribuído de maneira específi ca. Aí entram as diferenças relacionadas à quantidade de hormônios.

Pelos corporais são o exemplo maior de alta relação hormonal. Salvo em algumas raças, na maioria dos seres humanos, homens têm mais pelos corporais que mulheres. Na barba, também vemos esta relação. Na região pubiana, o desenho diferente da distribuição mostra uma baixa, mas existente, relação hormonal. Nas axilas, apesar de parecer haver diferenças, elas não existem.

E nos cabelos?

Antes de falarmos dos fios propriamente ditos, vamos lembrar a anatomia do folículo. Ele tem na base o bulbo capilar, onde encontramos estruturas nervosas e também os receptores de hormônios, importantes no crescimento dos fios. Seguimos com a haste, o músculo eretor do pelo, a área do bulge (repositório de células-tronco do cabelo) e a glândula sebácea, responsável pela produção do sebo, que, junto com o suor, produz o manto hidrolipídico, cosmético natural e protetor da pele e dos fios.

Esta glândula é totalmente sensível ao nível de andrógeno circulante. Sua produção é que vai determinar se uma pele pode ser classificada como oleosa ou não. A evidência maior que temos dessa produção é a adrenarca, período da puberdade no qual começam a ser produzidos os hormônios sexuais que levam ao aparecimento da acne, que é uma afecção da glândula sebácea.

Evidentemente, nos homens essa produção é normalmente maior do que nas mulheres, fazendo com que a maioria deles tenha cabelos e couro cabeludo mais oleosos do que elas. Isso nos leva a pensar que deveríamos formular produtos específicos para um e para outro.

É claro que podemos ter linhas genderless. Produtos para estilo, cremes finalizadores, produtos tipo leave on ou leave in podem ser usados por qualquer consumidor, mas penso que, tecnicamente falando e também do ponto de vista mercadológico, o mais adequado é haver a separação.



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