Mercado

Rendimentos médios em 2018

Novembro/Dezembro 2019

Carlos Alberto Pacheco

colunistas@tecnopress-editora.com.br

Carlos Alberto Pacheco

Para os estrategistas de mercado das empresas produtoras de bens de consumo final, o que representa saber que, no ano de 2018, o rendimento médio mensal real do 1% da população com maiores rendimentos é foi 33,8 vezes o rendimento dos 50% da população com menores rendimentos? Resposta: Um enorme desafio!

A distribuição do rendimento das pessoas de 14 anos de idade ou mais, de todos os trabalhos a preço médio do ano, indica que 1% da população ganhava R$ 27.744,00 contra o rendimento de 50% da população, que era de R$ 820,00 - menor que o salário mínimo vigente à época (a saber: R$ 954,00). Considerando um total de 90,1 milhões de pessoas com 14 anos ou mais ocupadas na semana de referência no ano de 2018, 1% da população representa menos de um milhão (901 mil) contra uma população de 45 milhões que representa os 50% menos favorecidos. Esta fração dos 1% mais ricos representa duas vezes a população da cidade de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, ou a população de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, por exemplo. Na outra ponta, comparo a quantidade dos 50% mais pobres ao total da população do Estado de São Paulo. Esta desigualdade na distribuição de renda é uma das maiores no mundo.

Em 2018, o rendimento médio era de R$ 2.234,00, tendo a região Sudeste um rendimento superior (R$ 2.572,00), enquanto o Nordeste registrou um valor menor do que a média (R$ 1.497,00). As capitais dos estados apresentaram um rendimento significativamente superior ao da média: R$ 3.086,00.
Ao analisar um pouco mais os números, um fato importante chama a atenção: no período 2012/2018, o percentual de crescimento anualizado da parte do total dos rendimentos a qual se chama rendimentos oriundos de aposentadorias e pensões foi de 2,1% contra um crescimento negativo dos rendimentos de todos os trabalhos de 0,3%. O que isto significa? Uma tendência de formação de renda não pela via do emprego (salários), mas pelo recebimento de aposentadoria e pensão, o que nos desenha uma característica sinistra e perigosa desta massa de rendimentos. Em 2018, o rendimento de todos os trabalhos representava 72,4% dos rendimentos de todas as fontes, enquanto o rendimento das aposentadorias e pensões já representava 20,5%.

Olhando o rendimento pelo viés do nível de instrução, observam-se pessoas com nível superior completo ganhando 5,8 vezes mais quando comparados com os sem instrução, ou seja, R$ 4.997,00 contra R$ 856,00 (valor inferior ao salário mínimo da época), ou 2,8 vezes maior quando comparado com os que têm o Ensino Médio completo ou equivalente (R$ 1.755,00). No período 2012/2018, a variação do rendimento ano a ano foi de 7%, tendo o rendimento das pessoas com nível superior completo uma valorização de 5%. No entanto, apenas 20,3% da população com 14 anos ou mais ocupada tem nível superior completo (18,3 milhões de pessoas), embora esta faixa da população tenha aumentado no período, ao mesmo tempo em que a parte sem instrução foi diminuindo. Isto é uma boa indicação de que houve um aumento dos índices de alfabetização, bem como do grau de instrução da massa da população economicamente ativa. De qualquer maneira, é o conhecimento gerando riqueza individual e coletiva.

As pessoas na faixa etária de 60 anos ou mais ganham em média 2,3 vezes mais quando comparadas com os jovens na faixa de 10 a 24 anos (R$ 2.766,00 e R$ 1.220,00, respectivamente). No período de 2012/2018, a variação da renda anualizada da população com 60 anos ou mais foi de 6,7% contra uma valorização menor para a população entre 20 e 24 anos (5%). Em 2018, apenas 7,9% desta população tinha 60 anos ou mais (7,1 milhões de pessoas), embora esta fatia da população estivesse aumentando ano a ano com o envelhecimento populacional. No entanto, o percentual de gastos com saúde (medicamentos, planos e tratamentos) é expressivo nesta faixa etária.

A desigualdade da renda por cor ou raça é assustadora. Os declarados brancos ganham em média 30% acima da média nacional, enquanto os declarados pretos ganham 27% abaixo da média. Os declarados brancos ganham em média 1,8 vezes mais que os pretos. O mesmo se dá em relação ao sexo: os homens ganham 10% a mais do que a média nacional (R$ 2.460,00), e as mulheres ganham 13% a menos do que a média (R$ 1.938,00).

A princípio, pode parecer que essas informações são apenas números e dados distribuídos por faixa de idade, região, cor, sexo e grau de instrução. Mas o fato é que tudo isto nos indica que ainda não encontramos o nosso lugar na economia local, regional (América Latina) e mundial. Já se foi a década de 70 do século passado, quando o PIB nacional representou 4,5% do mundial contra os 2,5% de 2018, enquanto outros ganharam importância no cenário mundial.

Estabelecer estratégias de mercado numa selva tão diversa e desigual como a desenhada acima e em um cenário de diminuição do PIB mundial, não é uma tarefa fácil.



Outros Colunistas:

Deixe seu comentário

código captcha

Seja o Primeiro a comentar

Novos Produtos