Mercado

Balança Comercial - um olhar mais distante

Março/Abril 2014

Carlos Alberto Pacheco

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Carlos Alberto Pacheco

No momento em que o cenário econômico nacional aponta para um baixo crescimento em todos os setores da economia, o mercado estrangeiro apresenta-se como uma das alternativas interessantes para os que objetivam crescimentos robustos no ano de 2014. Este é o caso do setor cosmético, que almeja um crescimento de 7 a 10%, de acordo com a Associação das Indústrias Cosméticas.

Para os que já contemplam este caminho no leque de estratégias voltadas para um crescimento sustentável, cabe a pergunta “Para onde olhar?”. Decidir onde apostar as fichas não é uma tarefa fácil, uma vez que os recursos a serem empregados nestas ações são finitos a despeito dos desejos caminharem em sentido contrário.

No sentido de ajudar a direcionar este olhar, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDICE), através da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), tem dado uma excelente ajuda ao divulgar dados estatísticos no periódico “Balança Comercial Brasileira – Dados Consolidados”.

Mas o que é a balança comercial? Ela representa a diferença entre o faturamento obtido com as exportações de todos os bens e serviços e o faturamento resultante das importações no mesmo período. Falamos em saldo positivo ou superávit quando a exportação é mais expressiva que a importação – a situação contrária é chamada de saldo negativo ou déficit. Em geral, objetiva-se ter um saldo positivo, porém a análise deste número não deve ser feita de forma isolada, isto é, sem levar em conta outros indicadores econômicos, pois um saldo positivo não significa necessariamente uma economia forte.

Tome como exemplo um país que simplesmente efetue exportações de bens e serviços e que não importe absolutamente nada, apesar de precisar de determinados bens e serviços não produzidos em seu território. No final, a realidade será de uma total carência destes bens e serviços apesar do saldo positivo na balança comercial. Este saldo, em valor monetário, é um aspecto importante a ser considerado. Quanto maior o valor monetário movimentado, maior o poder de negociação, independentemente de o saldo ser positivo. Por exemplo, dois países podem apresentar um saldo positivo monetário de 1 milhão de dólares, sendo que um deles – de economia mais pujante – movimenta trilhões de dólares e o outro, apenas milhões. Existem outros fatores que devem ser levados em conta, como a situação política do país – já que territórios em conflitos armados estão mais sujeitos a problemas como embargos e descontinuidade de fornecimento – e o grau de desenvolvimento do país (países em desenvolvimento podem começar a produzir determinadas mercadorias em vez de importá-las) etc. Portanto, o histórico da balança comercial deve ser considerado.

Entre os fatores que não podem ficar fora da análise, está a verificação da “qualidade” do número, ou seja, é importante entender que bens e serviços compõem o saldo da balança comercial. Eles são classificados em três grandes categorias do ponto de vista da exportação: básicos (sem transformação, como o minério de ferro), semimanufaturados (transformados parcialmente, como a chapa de aço) e manufaturados (produto final, como o veículo). Países que ancoram fortemente a sua balança comercial em bens e serviços do tipo “básicos” (a soja, por exemplo) são menos desenvolvidos em relação aos que ancoram a sua balança comercial em bens e serviços finais (por exemplo, os softwares).

Vejamos a balança comercial de 2013. Nesse ano, 30 países movimentaram mais de 81% da economia mundial, sendo que o Brasil ocupou a 22ª posição – a mesma de 2012 –, o que representa 1,3% do mercado mundial, enquanto a China foi a principal exportadora, e os Estados Unidos, o importador de maior destaque. De acordo com os dados divulgados, o comércio exterior brasileiro registrou um total de US$ 242,2 para as exportações e US$ 239,6 para as importações, garantindo um saldo positivo de 2,6 bilhões de dólares, extremamente inferior ao ano anterior que foi de 19,4 bilhões de dólares – o pior dos últimos 10 anos, com uma diminuição constante do número de empresas exportadoras, apesar dos esforços da APEX em fomentar o mercado externo. No entanto, o saldo como valor final deve ser analisado em sua tendência. As exportações vêm apresentando queda (0,2% em relação ao ano anterior) nos últimos três anos, enquanto as importações crescem (7,4% em relação ao ano anterior) no mesmo período. Em outras palavras, se continuarmos assim, em breve estaremos importando mais do que exportando.

Atualmente, temos a China, os Estados Unidos e a Argentina como os maiores compradores individuais do Brasil – somados, representam 37,4% das exportações. Segmentando por blocos econômicos, o Mercosul é o terceiro mais representativo, seguido pela União Europeia e a Ásia como o mais importante.

Neste período, 38,4% das exportações foram de bens manufaturados, com crescimento de 2,6% em relação ao ano anterior. Ao olharmos este mesmo parâmetro pelos blocos econômicos anteriores, vemos que, do total de exportações para a Ásia, somente cerca de 8% correspondem à classe de bens e serviços manufaturados, enquanto para a União Europeia o mesmo parâmetro representa 37% e, para o Mercosul, 83%. Em outras palavras, os mercados mais próximos são mais receptivos aos produtos finais nacionais. Os números acima podem ser segmentados considerando apenas os dados do setor cosmético. Para isso, o MDICE (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) oferece o sistema ALICE, que permite fazer consultas pelos códigos NCM (Nomenclatura Comum do Mercosul) dos produtos comercializados.

A título de exemplo, no ano de 2013 nosso saldo da balança comercial de produtos classificados na categoria 33 (óleos essenciais e resinoides, produtos de perfumaria ou de toucador preparados e preparações cosméticas) foi negativo, na ordem de US$ -224,1 milhões em relação à União Europeia, US$ -141,1 milhões em relação ao Mercosul e US$ -2,2 milhões em relação aos países Asiáticos (exceto o Oriente Médio).

Na categoria específica 3401 (sabões medicinais), enquanto o saldo da balança comercial é negativo considerando as relações com a UE na ordem de US$ -18,5 milhões, é positivo na relação com o Mercosul em US$ 36 milhões.

Muitas informações podem ser tiradas dos dados disponibilizados por estes sistemas. Não deixe de consultá-los.



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