Mercado

Um olhar sobre os números dos IDHM

Setembro/Outubro 2013

Carlos Alberto Pacheco

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Carlos Alberto Pacheco

Os números do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) acabam de ser editados. O IDHM é baseado no IDH Brasil 2013 e ambos são elaborados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pela Fundação João Pinheiro (FJP).

Para quem serve o estudo do IDHM? Para todos os tomadores de decisão que se baseiam em dados socioeconômicos, como gestores governamentais, pesquisadores e cidadãos comuns. Nas iniciativas privadas, esse relatório é extremamente útil ao profissional de marketing que procura mapear desafios e oportunidades de negócios pelo território nacional.

Alguns talvez me perguntem se a análise municipalizada do Produto Interno Bruto (PIB) seria uma maneira mais fácil de “fotografar” o desenvolvimento de determinada área, uma vez que o PIB mede a soma, em valores monetários, de todos os bens e serviços finais produzidos pelo país. Outros talvez acreditem que o índice de Gini municipalizado representaria melhor o desenvolvimento, pois ele mede a desigualdade da distribuição de renda. Vejamos: sem dúvida, os dois índices servem muito bem para análises socioeconômicas, porém se concentram unicamente na riqueza e na renda. Embora possamos desdobrar o PIB ou o índice de Gini geral em PIB ou em índice de Gini particular, como educação, setorial etc., a dimensão focada sempre será a riqueza e a renda.

Por outro lado, o IDH Brasil e o IDHM focalizam outras dimensões além da riqueza e da renda propriamente ditas. De acordo com o idealizador do IDH, o paquistanês Mahbub ul Haq, baseado nas ideias do economista indiano Amartya Sen, o “desenvolvimento humano” é o processo de ampliação das liberdades das pessoas, no que se refere às suas capacidades e às oportunidades a seu dispor, para que elas possam escolher a vida que desejam ter.

O processo de expansão das liberdades inclui as dinâmicas sociais, políticas e ambientais, além das econômicas, necessárias para garantir uma variedade de oportunidades para as pessoas, e do ambiente propício para cada uma exercer na plenitude seu potencial.

Sendo assim, o IDHM tem uma visão centrada nas pessoas e no seu bem-estar, entendido não como o acúmulo de riqueza ou o aumento da renda, mas como o aumento das escolhas, das capacidades e da liberdade de escolher. Em outras palavras, para o IDHM a riqueza e a renda não são fins em sim mesmas, mas meios para que as pessoas possam ter a vida que desejam. Isso porque o crescimento econômico de uma sociedade não se traduz automaticamente em qualidade de vida. Muitas vezes, observa-se justamente o contrário, ou seja, o aumento das desigualdades.

Como observamos, o IDHM vai ao encontro dos desejos de uma sociedade que está mais preocupada com seu bem-estar, ao contrário do PIB – o único índice que era universalmente aceito, até algumas décadas atrás, como indicador para o desenvolvimento humano –, que apresenta uma visão mais materialista. O IDHM traduz melhor a população dos 5.565 municípios, para o olhar dos homens de marketing do mercado cosmético, que buscam exatamente identificar nichos de pessoas preocupadas com o seu bem-estar, independentemente do seu poder de compra.

Esse índice reúne três dos requisitos mais importantes para a expansão das liberdades das pessoas: a oportunidade de levar uma vida longa e saudável (saúde); o acesso ao conhecimento (educação); e poder desfrutar de um padrão de vida digno (renda).

A dimensão “longevidade” é medida pela expectativa de vida ao nascer, calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio dos censos demográficos, considerando os mesmos padrões de mortalidade. Ou seja, a partir do momento em que o município investe em saneamento básico, acesso ao sistema de saúde e melhorias no meio ambiente, essa dimensão é representada pela longevidade da população.

Quanto à dimensão “educação”, o indicador mede o acesso ao conhecimento e se baseia na escolaridade da população adulta (no percentual da população maior de 18 anos com Ensino Fundamental completo) e no fluxo escolar. Esse fluxo é composto por um mix que inclui os percentuais: da população entre 5 e 6 anos que está frequentando a escola, dos jovens entre 11 e 13 anos que estão frequentando os anos finais do Ensino Fundamental e dos jovens entre 18 e 20 anos que têm Ensino Médio completo. Uma população mais educada traduz uma população com mais oportunidades de escolha.

A dimensão “renda”, calculada pelo IBGE, é medida pela renda per capita (total de renda gerada pelo município dividido pela população total, incluindo os não geradores de renda, como crianças, desempregados e idosos).

O índice é calculado pela raiz cúbica da multiplicação das três dimensões e varia entre 0 e 1,000. Os valores do IDHM são classificados como “muito baixo” (índices inferiores a 0,499), “baixo” (de 0,500 a 0,599), “médio” (de 0,600 a 0,699), alto (de 0,700 a 0,799) e muito alto (superiores a 0,800).

Vamos exemplificar esse índice comparando os resultados de 2010, de três cidades: São Paulo SP, Rio de Janeiro RJ e Porto Alegre RS, conforme dados a seguir:

Cidades:

São Paulo
IDMH: 0,805
IDHM Longevidade: 0,855
IDMH Educação: 0,725
IDMH Renda: 0,843

Rio de Janeiro
IDMH: 0,799
IDHM Longevidade: 0,845
IDMH Educação: 0,719
IDMH Renda: 0,840

Porto Alegre
IDMH: 0,805
IDHM Longevidade: 0,857
IDMH Educação: 0,702
IDMH Renda: 0,867

São Paulo e Porto Alegre têm IDHM classificado como “muito alto”, enquanto o Rio de Janeiro é classificado como “alto”. Note que os IDHMs Longevidade entre São Paulo e Porto Alegre são semelhantes, e o mesmo não vale para os IDHMs Renda dessas cidades. Embora os IDHMs Renda entre São Paulo e Rio de Janeiro sejam semelhantes, o mesmo não se observa nos IDHMs Educação e Longevidade.

Com esses dados, o profissional de marketing pode fazer correlações de vendas dos seus produtos, ou de uma linha específica e avaliar qual perfil de município espelha melhor o perfil do seu público-alvo. Veja o exemplo a seguir.

Imagine que, por amostragem estatística, o gerente de marketing identifique que os 10 maiores municípios com razão de vendas/população das regiões do Brasil onde ele já atua tenham um IDHM entre 0,650 e 0,680 (índice compreendido na classificação de municípios com IDHM médio). Por meio do Atlas do Desenvolvimento Humano Municipal, ele identifica que existem 697 municípios que se enquadram nesses índices. Ele identifica que 29% desses municípios estão no estado de Minas Gerais e apenas 6% nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro juntos. Caso ele observe que boa parte desses municípios identificados não faz parte dos municípios em que atua, pode decidir deslocar esforços de vendas para essas áreas.

O corte pode ser feito considerando o lançamento de um produto-conceito, ou seja, de um produto que exija do consumidor um grau de instrução mais alto para que este possa entender melhor os argumentos de vendas.

Sendo assim, o gerente de marketing pode decidir fazer um teste com os consumidores dos 53 municípios que tenham IDHMs Educação superiores a 0,750, espalhados por sete estados, ou, caso opte por um experimento reduzido, com os sete municípios com os maiores IDHMs Educação de cada estado.

Imagine que a empresa queira prospectar melhor as vendas de produtos para os consumidores da terceira idade. Os municípios com os IDHMs Longevidade são os que apresentam a tendência de ter o maior percentual de sua população nessa faixa de idade. Atualmente, são 3.166 municípios (56% dos municípios). No entanto, caso a estratégia do produto seja atingir as classes A e B, o melhor será segmentar os municípios dentre esses com os maiores IDHMs Renda.

Nesse caso, haverá 1.589 municípios-alvo. Caso seja necessário atingir os municípios dentre esses com os maiores IDHMs Educação, haverá 328 municípios com 67% concentrados na Região Sudeste.

Como pôde ser observado, o cruzamento dos dados pode ser feito de diversas formas, de acordo com a necessidade de informação do planejamento estratégico da empresa. Para os que conseguem enxergar a diferença entre “dado” e “informação”, vale a pena conferir o site http://atlasbrasil.org.br/2013/home.



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