Tricologia

Fragrâncias, corantes e espessantes em produtos capilares

Julho/Agosto 2013

Valcinir Bedin

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Valcinir Bedin

Produtos cosméticos precisam, necessariamente, ter uma aparência agradável ao consumidor. Isso faz parte de uma estratégia mercadológica essencial para um bom desempenho na planilha de vendas.

E, quando falamos em aparência de um cosmético, temos de citar desde o formato do frasco (sobre os materiais utilizados) e a rotulagem (que for adequada ao uso eventual do produto sob a água), até o odor, a consistência e a cor do produto. A isso tudo damos o nome de “percepção do consumidor”.

Quando tratamos de produtos capilares, esses cuidados assumem papel fundamental no sucesso de um produto, a começar pela busca de princípios ativos, por exemplo. Nenhum formulador em sã consciência escolheria um “extrato de laranja” para um produto capilar, pois correria o risco de ver seu produto empacado nas prateleiras sob a pecha de deixar os cabelos “um bagaço”. Da mesma forma, um “extrato de batata” não poderia aparecer no rótulo de um tônico capilar!

É claro que as tendências mudam e a moda, que dita regras, tem de adaptar-se aos tempos. Contudo, alguns itens são quase estáticos no decorrer do tempo. Nós acompanhamos a polêmica que se formou sobre o uso de sal nos shampoos. Sabemos que a sua utilização nesse tipo de produto deve-se à função de espessamento que o sal proporciona e que essa é uma qualidade sensorial muito importante.

Porém, a mídia, de certa forma, estimulou uma inverdade, disseminando a informação de que o sal presente nesses shampoos seria prejudicial de alguma forma para as hastes capilares, pois causaria maior desidratação destas. Sabemos que isso não procede, mas é difícil combater notícias cuja origem ninguém conhece!

Além da sensação de que um shampoo espesso e que faz muita espuma limpa mais, tem-se também a impressão de que certas cores “limpam mais” que outras. Shampoos ou loções com cores cítricas têm mais “potência” limpante que os de cores claras ou leitosas, que, por sua vez, parecem ser mais “hidratantes”.

Já um shampoo antirresíduo, para muitos consumidores, deveria ser transparente e um produto do tipo leave in não deveria ser muito espesso ou amarelado. O formulador sabe que essas características não influenciam no resultado final do produto ao nível de sua eficácia, mas, com certeza, influenciam o consumidor a comprá-lo.

Outro fator importante em relação aos corantes é a possível ocorrência de dermatite de contato, quando estes ficam anexados durante muito tempo ao couro cabeludo. Se aparecer vermelhidão ou prurido, deve-se suspender imediatamente o uso do produto suspeito. Vale lembrar que processos alérgicos são individuais e temporais, isto é, não é porque uma pessoa teve uma alergia que outras também a terão, e essa pessoa pode tornar-se não alérgica a aquele produto.

Com relação ao odor, há ainda mais complicações. A primeira dificuldade é disfarçar certos cheiros que são impróprios até para produtos de limpeza. Por exemplo, alguns princípios ativos desengordurantes ou derivados de enxofre têm odor natural de “ovo podre”. O risco que o formulador corre ao tentar minimizar esse problema é que, ás vezes, a somatória dos odores fica pior do que o cheiro inicial! Novamente, o odor de frutas cítricas pode ter impacto cerebral no sentido de parecer mais limpante, o odor de chocolate ou do leite, mais hidratante e o odor de medicamentos, mais terapêutico.

Dentre todos os sentidos envolvidos, quando se fala de produtos capilares, o olfato é, com certeza, o mais preocupante no imaginário do consumidor, uma vez que este tem a impressão de que o odor vai ficar impregnado nos cabelos por um longo período, o que, na maioria das vezes, não ocorre. O cheiro que é sentido no frasco não é transferido para os fios, e estes não têm a capacidade de absorvê-lo. Mas é difícil para o pessoal do marketing explicar aos consumidores que isso vai acontecer, portanto é mister mascarar o cheiro o máximo possível, e, de preferência, torná-lo o menos impactante possível.

Cabe ao formulador ter bom senso e a percepção do que o mercado quer para fazer uma fórmula na qual os ativos adicionais não atrapalhem, no final, a eficácia desejada.



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