Gestão em P&D

Formulação não é lista de ingredientes

Maio/Junho 2010

Wallace Magalhães

colunistas@tecnopress-editora.com.br

Wallace Magalhães

É muito comum encontrar formulações escritas de maneira inadequada, nos laboratórios de desenvolvimento. Montar uma formulação é muito mais do que listar ingredientes e quantidades. Ela deve estar perfeitamente identificada e conter instruções claras sobre o modo de preparação e especificações. Lembre-se que uma formulação enviada para a bancada é uma ordem de serviço, semelhante a uma ordem de produção e, portanto, é mais do que uma lista de ingredientes e quantidades.

A seguir, vamos analisar e discutir informações imprescindíveis para uma formulação em desenvolvimento.

- Código e versão: identifique cada formulação com código único. Utilize preferencialmente uma codificação que inclua a variável “versão” para identificar formulações que tenham sido geradas a partir de uma outra, com pequenas alterações na composição centesimal, no modo de preparação ou nas especificações. Use esse código para identificar recipientes e amostras.

- Descrição: utilize uma descrição para a formulação, que garanta sua fácil identificação.

- Formulação centesimal e modo de preparação: nessa seção, liste os ingredientes, com suas respectivas quantidades, e o modo de preparação. É conveniente utilizar uma seriação que indique a fase a que pertence cada ingrediente na fórmula. A boa aplicação desse princípio facilitará a redação do modo de preparação, reduzindo o número de palavras, deixando o conteúdo mais claro e menos sujeito a erros. Vamos a um exemplo prático, utilizando uma seriação alfanumérica em uma formulação bem simples.

1001/01 – Loção Tônica Hidratante

A1. Água -> 95,500

A2. Ácido Lático -> 1,000

B1. Propilenoglicol -> 2,000

B2. Conservante -> 0,200

C1. Fragrância -> 0,300

D1. Fatores de Hidratação (NMF) -> 1,000

No modo de preparação, cite claramente os fatores operacionais, como temperatura, velocidade de agitação e o tempo de processo. O modo de preparação da formulação acima poderia ser satisfatoriamente descrito da seguinte maneira:

1 - Transferir A1 para o recipiente principal.

2 - Adicionar A2 em A1, lentamente, sob agitação (100 rpm), mantendo a agitação por 2 minutos.

3 - Em outro recipiente, dissolver B2 em B1, agitando até a solução ficar perfeitamente homogênea.

4 - Adicionar a Fase B ao recipiente principal, lentamente, sob agitação (100 rpm), mantendo a agitação até a homogeneidade.

5 - Adicionar C1 ao recipiente principal, lentamente, sob agitação (100 rpm), mantendo a agitação até a homogeneidade.

6 - Adicionar D1 ao recipiente principal, lentamente, sob agitação (100 rpm).

7 - Manter a agitação por 3 minutos. Antes de retirar a agitação, certificar-se que o conteúdo esteja límpido e homogêneo.

Por questões técnicas e regulatórias, toda formulação deve ser centesimal, ou seja, totalizar 100. A literatura científica e as normas regulatórias são estabelecidas em base centesimal. Isso não é novidade, mas devemos observar bem os seguintes detalhes:

- É recomendável que as quantidades sejam assinaladas em unidade de massa. O uso da unidade “g” garante a correção da totalização. Sabemos que é incorreto somar unidades diferentes e, portanto, não podemos somar linearmente “g” com “ml”. Mas também não podemos somar “ml” com “ml”, se os materiais forem de densidades diferentes. Um exemplo prático: se juntarmos 100 ml de água deionizada com 100 ml de álcool etílico absoluto, não teremos 200 ml da solução. A diferença é pequena, mas é incorreto ignorá-la.

- Não utilize a expressão “qsp 100”. É importante utilizar somente números para registrar a quantidade de qualquer ingrediente, porque isso permite a elaboração de cálculos matemáticos.

- Especificações: toda formulação deve ter suas especificações anotadas. Essa anotação deve ser feita antes de preparar as amostras, pois isso pode orientar correções, avaliações e ajustes, como é o caso do pH. Para uma formulação aprovada, não há escolha: suas especificações devem ser anotadas integralmente, por conveniência técnica e obrigação regulatória, e devem contemplar todos os aspectos definidos pela legislação.

Há ainda outros dados que devem ser sistematicamente anotados, como o nome do responsável pelo desenvolvimento, data e hora de preparação, manipulador, avaliação preliminar, entre outros. Enfim, a montagem de uma formulação é um momento importante no desenvolvimento e deve ser feita de forma integral, com muita concentração, reflexão e critério.



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