Boas Práticas

Limpeza e BPFeC

Janeiro/Fevereiro 2010

Carlos Alberto Trevisan

colunistas@tecnopress-editora.com.br

Carlos Alberto Trevisan

Gostaria de fazer algumas considerações com o objetivo de ressaltar a importância da limpeza em todas as atividades relacionadas com a efetiva implantação das Boas Práticas de Fabricação e Controle (BPFeC).

O leitor poderá argumentar que é óbvia a importância da limpeza para as BPFeC e que eu só estou querendo polemizar um assunto tão banal. Ele poderia estar correto quanto à segunda parte do que acabo de dizer, mas eu diria que a obviedade da importância da limpeza não necessariamente serve como justificativa para que este assunto não seja tratado. Veja o porquê disso, a seguir.

No decorrer das atividades de consultoria na implantação das BPFeC e de Sistemas da Qualidade, muitas vezes me deparei com situações nas quais a prática e a gramática são completamente antagônicas.

A primeira grande diferença está na correta interpretação do conceito “limpeza”. Cada empresa entende “limpeza” como procedimentos que podem ser adequados a determinadas situações particulares do seu processo de produção que não necessariamente têm relação com processos de BPFeC e da Qualidade.

Uma situação recorrente é quando existe necessidade de aumento nos volumes de produção, com aumento da jornada de trabalho e da velocidade das linhas. A consequência disso é a diminuição do tempo e da frequência das operações de limpeza, sem contar que, nessas ocasiões, adota-se uma rotina de limpeza resumida mais adequada aos novos padrões.

Eu poderia, sem risco de cometer alguma injustiça, afirmar que esse fato ocorre em cerca de 90% das empresas, pois ainda existe a crença que o tempo gasto com limpeza (mesmo se for pequeno) e a freqüência desta (mesmo se for baixa) não necessariamente têm impacto na qualidade do produto.

Outra norma, muitas vezes negligenciada, é aquela que determina obrigatoriamente o registro das sessões de limpeza, que devem ser realizadas em concordância com o estabelecido nos processos da Qualidade, entre os quais se encontram as BPFeC. A limpeza é uma atividade essencial, pois precede a sanitização, por exemplo, de equipamentos, utensílios, ambientes e vestimentas.

A limpeza, quando está de acordo com o conceito das BPFeC, tem amplitude muito maior do que simplesmente ser aplicada a equipamentos e ambientes, já que uma das suas maiores implicações - que tem impacto diretamente na segurança biológica dos produtos - está relacionada ao ser humano envolvido nas atividades.

A disponibilização de uniformes é fator primordial a ser considerado, pois, dependendo da forma como estes são submetidos à lavagem, os riscos de contaminação podem crescer em escala exponencial.

A simples atitude de permitir que o colaborador leve o uniforme para lavar em casa pode causar graves índices de contaminação, decorrentes da forma como o uniforme foi manipulado. A mistura do uniforme com outras peças de roupa e o contato deste com a contaminação ambiental, ao ser colocado para secar ao ar livre, são fatores que podem ter impacto direto em seu estado de limpeza.

Outro exemplo que posso mencionar é o hábito de não proteger, de modo adequado, equipamentos, acessórios e ambientes, após a limpeza. Outra crença de que, após a limpeza, a não ser o próprio uso, nada deve tocar os objetos, nem mesmo um filme plástico protetor.

E, quando se fala em limpeza, não se pode deixar de mencionar a necessidade de altos níveis de asseio em refeitórios, vestiários, banheiros e sanitários. Estendo esses níveis para os principais setores da empresa, como os laboratórios de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e de Controle de Qualidade, e as áreas de estocagem e administrativas. Em relação aos princípios efetivos da Qualidade, esses níveis são o melhor e o mais fiel retrato da incorporação da cultura da limpeza na rotina da empresa.



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