Tricologia

Shampoos e preservantes

Julho/Agosto 2009

Valcinir Bedin

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Valcinir Bedin

Entende-se por preservantes as substâncias que, adicionadas como ingredientes aos produtos cosméticos, têm a finalidade principal de inibir o desenvolvimento de microrganismos nesses produtos.

Todos os cosméticos necessitam de preservantes capazes de reduzir a carga microbiana em níveis aceitáveis durante o tempo de uso, no prazo de validade. Os preservantes devem apresentar atividade antimicrobiana efetiva, sendo seletivamente tóxicos e eficazes contra bactérias, fungos e leveduras.

Essas substâncias podem igualmente ser adicionadas aos produtos cosméticos, noutras concentrações que não as previstas como preservantes, para outros fins específicos que se destaquem da apresentação do produto cosmético, como, por exemplo, desodorizantes nos sabonetes ou agentes anticaspa nos shampoos. Outras substâncias utilizadas na fórmula dos produtos cosméticos podem possuir propriedades antimicrobianas, podendo, por esse fato, contribuir para a conservação desses produtos, como, por exemplo, numerosos óleos essenciais e alguns álcoois.

Para se ter uma idéia da importância do assunto, em janeiro de 2008, cinco pacientes de um hospital em Barcelona foram infectados pela bactéria Burkholderia cepacia, encontrada em um leite hidratante utilizado em seus tratamentos após a higienização. Os investigadores descobriram que os produtos foram contaminados por ineficácia do sistema preservante.

O problema é o preservante ser considerado o segundo responsável (perde só para a fragrância) pelas manifestações cutâneas adversas. Devido às suas características intrínsecas, por conta da sua origem sintética, podem apresentar reações ao usuário, tais como irritação total, dermatite de contato, hipersensibilidade e outras. Atendendo às expectativas do mercado de cosméticos, que busca formulações com menor potencial de toxicidade, diminuindo a incidência de irritação e alergia, foram desenvolvidas muitas pesquisas quanto à eficácia de uso de preservantes de origem vegetal. A planta Rubus rosaefolius (Rosácea), conhecida popularmente como morango silvestre ou amora-do-mato, é uma das fontes naturais que está sendo pesquisada atualmente.

Como os shampoos têm grande volume de água em sua formulação, são mais susceptíveis à contaminação microbiológica e, por essa razão, utilizam preservantes, entre eles, os ésteres do ácido p–hidróxibenzóico (os parabenos).

Um trabalho relata que os preservantes da família dos parabenos apresentam propriedades estrogênicas, ou seja, comportam-se como se fossem o hormônio feminino, o estrogênio. A notícia publicada no periódico americano (J of Applied Toxicology 24:5–13, 2004) despertou interesse dos consumidores e dos cientistas de todo o mundo, obrigando os fabricantes a repensarem urgentemente as formulações e a investir massivamente em pesquisas.

Em outra oportunidade, outro journal publicou que o uso de parabenos em produtos cosméticos destinados à aplicação na área axilar (como desodorizantes, por exemplo) deve ser reavaliado, pois estudos recentes levantaram a hipótese (ainda especulada) de que o uso continuado nessa região pode estar associado ao aumento da incidência de câncer de mama (Int Journal of Toxicology 27:1-82, 2008). Isso é alarmante, pois é enorme a utilização desses cosméticos por gestantes, lactantes, crianças e pacientes sob tratamentos diversos como o câncer, reposições hormonais e terapias crônicas.

Hoje, o mercado possui preservantes naturais, ou mais modernos que, até o momento, demonstraram segurança, permitindo aos pesquisadores o desenvolvimento de formulações mais seguras.

Longe de criar polêmica, o intuito de se levantar hipóteses, que obviamente precisam ser confirmadas, é obrigação de todos os que trabalham na área cosmética.



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