Temas Dermatológicos

A Cosmecêutica e a dermatologia

Janeiro/Fevereiro 2020

Denise Steiner

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Denise Steiner

A pele é o maior órgão do corpo humano, contendo inúmeros tipos de células, centenas de elementos químicos e várias estruturas diferenciadas que, em conjunto, são responsáveis por funções de proteção e homeostase do organismo. A pele também é reconhecida como ativo órgão do sistema imunológico interagindo com os sistemas endócrino e neural. Além disso, ela reflete a aparência do indivíduo e indiscutivelmente influencia sua autoestima e, consequentemente, seu comportamento biofísico social.

Para atingir e interagir com a pele, existem milhares de produtos de uso local com a mais variada gama de ações, características e repercussões. O uso de produtos tópicos segue todo um caminho particular de penetração e, às vezes, absorção, inerentes e interação deste tecido com os produtos químicos.

O interesse em produtos cosméticos que possam embelezar a pele é quase tão antigo como o homem, à medida que a preocupação com a imagem esteve sempre entre as prioridades do ser humano.

Alguns produtos cosméticos são relacionados às funções decorativas e protetoras como: esmaltes, perfumes, batons, limpadores, filtros solares e outros. No entanto, mesmo assim observamos que, em algum momento de sua ação, há mudanças fisiológicas na pele. No caso de um sabonete, a limpeza da pele promove o desengorduramento, que persiste por alguns instantes durante os quais há modificação fisiológica com a diminuição do manto hidrolipídico.

Existem outros tipos de cosméticos, como por exemplo aqueles utilizados para funções de hidratação, clareamento, antienvelhecimento, antiperspirante e outros. Neste caso, pode ocorrer maior modificação do estado fisiológico conforme o princípio ativo utilizado. Para estes produtos, vem sendo proposto o termo de cosmecêutico, que caracteriza ação cosmética e também terapêutica. Outros nomes como cosméticos ativos ou cosméticos medicamentos também foram sugeridos para denominar os produtos em questão.

O modo de penetração de um cosmético não é diferente de um medicamento. É necessária pesquisa médica e farmacológica para esta análise, utilizando recursos como marcadores, microscopia eletrônica, modelos in vitro e in vivo. Isto tudo para acompanhar o trajeto do produto com suas ações químicas e seus desdobramentos, desde a entrada na camada córnea até a profundidade que possa atingir.

O cosmecêutico deveria ser acompanhado de bula com especificação exata do seu conteúdo, modo de utilização e possíveis interações com outros medicamentos. A utilização, por exemplo, do ácido glicólico duas vezes ao dia em peles mais secas e sensíveis pode promover avermelhamento e certo grau de inflamação. Com a modificação e o afinamento da camada córnea provocada pela maioria dos alfa-hidroxiácidos, é necessário maior proteção em relação ao sol, assim como maior cuidado com o uso de outros produtos, principalmente, medicamentos. A pele, alterada por ácidos, absorve outras substâncias com maior facilidade.

É necessário lembrar que peles com qualquer dermatose reagem ao cosmecêutico de forma diferente das peles normais. Isto porque as peles inflamadas, pruriginosas e com descamação aceleram a entrada de qualquer produto, podendo haver absorção com efeitos colaterais para o organismo.

O produto cosmecêutico terá muitas indicações, a começar pela associação de filtros solares com vitaminas antioxidantes e princípios hidratantes, que potencializa a proteção em relação à radiação ultravioleta, tornando-o um produto com várias utilidades.

Por outro lado, é preciso tomar cuidado ao usar esses produtos, pois eles podem tornar-se perigosos quando mal indicados. Por serem também agentes terapêuticos, eles seguem os princípios de penetração dos agentes medicamentosos, e a anatomia e fisiologia da pele precisam ser bem conhecidas e compreendidas. Não se pode tolerar conceitos fantasiosos sobre respiração da pele, poros abertos, raízes capilares encharcadas etc. O uso dos cosmecêuticos terá que ser acompanhado da competência e responsabilidade que exigem produtos com ação específica para a pele.

Finalizando, a realidade é que estamos vendo o surgimento, a cada dia, de novos produtos que podem ser caracterizados como cosméticos ativos. Cabe a todos os envolvidos - pesquisadores, indústria, revendedores, especialistas médicos e não médicos e consumidores - conscientizarem-se que cada desafi o é acompanhado de novas demandas de conhecimento e responsabilidades.



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Bom dia! lí o artigo da Dr@Denise e achei muito interessante, gosto muito dessa coluna e sou fã dela! At.te Murilo Martins Florianópolis

por Sergio Murilo Martins 21/04/2020 - 12:05

Agradeço! É muito gratificante receber um recado como este! Denise

por Dra. Denise 19/05/2020 - 11:08

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