Mercado

BRICS – Quem é você?

Novembro/Dezembro 2017

Carlos Alberto Pacheco

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Carlos Alberto Pacheco

A sigla foi cunhada em 2001 por Jin O’Neill, economista chefe da Goldman Sachs, para explicar a união de Estados emergentes com graus de desenvolvimento econômico semelhantes – Brasil, Rússia, Índia, China e, mais tarde, a partir de 2010, não mais sob a égide de O’Neill, a África do Sul. Comenta-se nos bastidores que o presidente russo à época, Medvedev, teria sido o grande articulador do Grupo Político. Este tipo de associação de Estados é assim classificado e se distingue de um Bloco Econômico como a EU28 ou de uma Zona de Livre Comércio como a NAFTA.

O objetivo do BRICS é propor uma alternativa à distribuição de poder geopolítico em um mundo pós-ocidental, ou seja, nasce do desejo global de não se ter mais os EUA como o eixo econômico principal num mundo globalizado.

Por Estados emergentes com “graus de desenvolvimento econômico semelhantes” não se deve entender Estados com “economias iguais”, pois isto não só não representaria a realidade dos Estados formadores do BRICS, como também não cumpriria o objetivo de complementaridade e mútua ajuda comercial. O entendimento deste conceito deve passar pelo percentual de crescimento econômico à época medido pelo crescimento do PIB, mas também por outros fatores indicadores de crescimento econômico, como o índice de desenvolvimento da matriz energética, o índice de construção civil e o endividamento público, entre outros (13 fatores no total). Prova disto foi a exclusão do México e da Coreia do Sul, que, apesar de serem considerados emergentes, já apresentavam um grau de desenvolvimento superior ao de outros emergentes em vários indicadores importantes, colocando-os assim fora da “semelhança” almejada.

Em 2000, o percentual de crescimento econômico mundial medido pelo PIB era de 4,4%, enquanto a Rússia registrou 10%, a China 8,4%, o Brasil 4,1% e a Índia 3,8%. A esta pujança de crescimento econômico levou-se em consideração a projeção do crescimento da população na Força de Trabalho e da baixa produtividade (que indicava um potencial de crescimento ainda maior caso resolvido a questão de produtividade. Com isso, a soma do PIB em trilhões de dólares dos países do BRIC (ainda sem a África do Sul) representava 7,7% do PIB mundial, contra 26,5% da EU e 34,9% da NAFTA. Em 2016, com um mundo menos aquecido, com uma taxa de crescimento de 2,4%, esta distribuição se alterou significativamente e a favor do BRICS, que hoje representa 22,3% do PIB Mundial (3 vezes mais que em 2000), contra uma baixa na representatividade da EU para 21,7% e da NAFTA, para 28%.

Mas é óbvio que nem tudo são flores. Caso os Estados do BRICS queiram se apresentar como uma real opção à nova hegemonia comercial mundial, terão que resolver problemas internos ainda considerados graves. A título de exemplo, pode-se mencionar a Taxa de Desemprego. Em 2000, os Estados do BRIC (ainda sem a África do Sul) eram responsáveis por 39% (70 milhões) de desempregados do total mundial acima de 15 anos de idade. Esta cifra se apresentou negativamente igual em 2016: 39% (77 milhões). Os regimes de governo da Rússia e da China não são tão bem vistos apesar de a pujança econômica eclipsar um pouco a questão dos direitos humanos às vistas do mundo. A imagem de corrupção endêmica do Brasil não contribui para a ideia de país espelho para Estados emergentes, e a África do Sul, ainda com problemas na taxa de natalidade, não contribui para isto também.

De qualquer maneira, apesar de nem todos os problemas de natureza estrutural terem sido resolvidos a contento, o aumento da representatividade do percentual do PIB dos Estados formadores do BRICS na economia mundial indica que os objetivos do “grupo político” vão se desenvolvendo positivamente ao longo dos anos.

Isto é apenas um preâmbulo para incentivar os estrategistas de mercado a enxergarem as janelas de oportunidades de negócios que se abrem e, por consequência, não deixar de aproveitá-las. Quais oportunidades?

Entre elas, está a facilidade de exportação de produtos. No ano 2000, a balança comercial brasileira foi de US$ -147,7 milhões em comparação à Rússia, US$ -53,9 em relação à Índia, US$ -136,8 à China e US$ 74 à África do Sul. Em 2016, os números indicavam uma parceria muito mais robusta: US$ 278,8 milhões, US$ 678,8, US$ 11.769,6 milhões e US$ 1.060,8 (na mesma sequência mencionada anteriormente). Resumindo: a balança comercial do BRICS saiu de US$ -338,4 milhões em 2000 para US$ 13.788 milhões em 2016.

Em uma rápida comparação nas mesmas bases com a EU28, percebe-se que a balança comercial não cresceu tanto assim e se apresenta menos expressiva quando comparada com o BRICS: no ano 2000 US$ 833,5 milhões para US$ 2.295 milhões em 2016. A situação fica pior quando comparada com a NAFTA, que representava US$ 775,3 milhões e passou para US$ -13,0 em 2016. O mesmo vale para o comparativo com os Estados do G7: US$ -2.534,3 milhões para US$ -4.558,7 no mesmo período.

O total da balança comercial brasileira pende favoravelmente para os negócios com os Estados do BRICS: maior representatividade no todo das exportações e maiores índices de crescimento ao longo dos anos. No entanto, em 2016, apenas 6,4% das exportações de produtos de perfumaria, toucador e preparações cosméticas foram destinadas aos países do BRICS. Fizemos mais negócios com os Estados do G7 (29,6% das exportações) do que com os Estados do BRICS, igual quantidade de negócios com Cuba (com uma população muito menor) do que África do Sul e Rússia somados.

Portanto, para aproveitar este momento singular que se apresenta, há a necessidade de se estudar individualmente cada uma das culturas, pois não se pode querer colocá-las dentro de um único rótulo. Não se pode querer obter um comportamento de consumo igual em uma nação majoritariamente ateia (Rússia) e em uma extremamente espiritualizada (Índia). Da mesma forma, não se pode querer acreditar que as condições climáticas da China (temperada) sejam iguais às da África do Sul (semiárida) ou que o PIB per capita da Rússia seja igual ao da China. A lição de casa aqui indica uma necessidade personalizada de estudo para cada país com o objetivo de melhor aproveitar todas as oportunidades.

Muitos números foram apresentados aqui, mas o objetivo é mostrar que grandes oportunidades se escondem e podem ser aproveitadas se usarmos a alavanca do BRICS para fomentar a balança comercial do segmento de cosméticos. É a geopolítica atual a nosso favor.



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por Carlos Mesquita Aguiar 25/01/2018 - 10:05

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