Tricologia

Podemos tratar um adulto como uma criança, mas não o inverso

Março/Abril 2017

Valcinir Bedin

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Valcinir Bedin

Quando se trata de cuidados médicos ou gerais, existe um dogma que diz que podemos tratar um adulto como se fosse uma criança mas nunca o inverso! Fala-se isso em relação a drogas, posologias e formas de apresentação.

Quando falamos de cabelos, isso não é diferente. Apesar de eles serem estruturas sem atividade fisiológica intensa e de os cabelos das crianças não serem muito diferentes dos cabelos dos adultos, alguns cuidados são bem diferentes.

Os pelos corporais começam a se formar a partir do quarto mês da gestação e, na vigésima segunda semana, todos eles já estão formados. É nesse momento que temos a maior quantidade de pelos no corpo. A partir daí, ocorre seu amadurecimento, mas sua quantidade vai diminuindo no decorrer da vida.

A espessura dos cabelos aumenta até a vida adulta e, após os 50 anos, ocorre uma diminuição da densidade, o que dá a impressão de que há menos fios.

A cor dos cabelos das crianças é mais clara do que será na vida adulta. Isso ocorre porque a melanina na infância está imatura e, portanto, mais clara. Entre os 6 e os 18 anos de idade, ocorre a transformação da cor, que vai ganhando mais força, escurecendo os fios.

O formato dos fios de cabelo pode sofrer alteração devido à interação hormonal. Assim, uma criança pode ter fios lisos até a adolescência e, a partir daí, eles podem começar a ficar cacheados ou ondulados. Isso também pode ocorrer em situações nas quais exista uma alteração hormonal intensa, como na gravidez, por exemplo.

Naturalmente, o cabelo tende a ser mais fino e macio durante a infância, como resultado da ausência de uma medula na estrutura capilar.

Os fios de cabelo são mais arredondados e, conforme as crianças crescem, eles tendem a ficar mais achatados. Com o aumento da idade, a medula, o núcleo central do cabelo, vai se desenvolvendo e fazendo com que o cabelo fique mais grosso com o passar dos anos.

A estrutura química e proteica dos fios não se altera da infância para a vida adulta, e dados como velocidade de crescimento não podem ser atribuídos a eventos ocorridos nos primeiros anos de vida, como se ouve eventualmente. Há casos de crescimento vagaroso que são atribuídos a cortes ou acidentes com os cabelos ocorridos nos primeiros anos de vida.

O que existe sim é uma diferença no couro cabeludo das crianças em relação ao couro cabeludo dos adultos. Os primeiros são mais sensíveis a agressões e têm a sua composição do manto hidrolipídico diferente da dos adultos. As crianças apresentam menos secreções de sebo que os jovens e adultos, o que significa que não há necessidade de lavar todos os dias a cabeça. Além disso, o sebo presente é quimicamente diferente: nas crianças, colesterol e ésteres de colesterol estão em níveis mais elevados, enquanto esqualeno, ácidos graxos livres e ésteres estão em níveis mais baixos. As diferenças são, sem dúvida, relacionadas a efeitos hormonais.

Na adolescência, existe um despertar dos hormônios e há uma quantidade maior de óleo no couro cabeludo.

Portanto, cada fase deve ter o seu conjunto de produtos específicos.

Como vimos, as crianças têm menos secreções sebáceas que os adultos e, por isso, shampoos com alto poder de detergência, que contêm sulfatos, fazem uma limpeza mais intensa, deixando os cabelos mais ressecados e o couro cabeludo sensibilizado.

Além disso, há diferenças na composição química. Nos shampoos para adultos, a faixa de pH está entre 5,5 – 6,5, o que pode ser irritante para os olhos e o couro cabeludo infantil.

Os shampoos e condicionadores com pH na faixa de 7,0 – 8,5 evitam a irritação dos olhos e a limpeza excessiva do couro cabeludo, sendo, portanto, mais indicados para bebês e crianças pequenas, que não entenderiam a ordem de manter os olhos fechados.

Caso seja necessário o uso de condicionador, ele deve ser aplicado por um adulto, para que não haja o risco de excesso de produto nos cabelos.

A frequência ideal de lavagem dos cabelos é em dias alternados, para que eles se mantenham limpos e, ao mesmo tempo, não se retire o manto hidrolipídico necessário à homeostase desta região.

Um estudo da Sociedade Brasileira do Cabelo mostrou que a idade em que as meninas brasileiras começam a fazer tratamentos químicos nos cabelos é de 9 anos!

Não é preciso ser nenhum expert para perceber que é muito cedo para se alterar as estruturas dos fios de cabelo, mas isso ocorre na prática.

Estimuladas pela mídia e sem condições de avaliar que uma das vantagens de ser brasileiro é a diversidade racial, estas crianças acabam por exigir dos seus pais condutas que nem sempre são para o seu bem.

O que devemos fazer, como profissionais conscientes da nossa responsabilidade, é alertar, especialmente os pais e responsáveis por estas crianças, de que há uma idade adequada para tudo e de que mexer dessa maneira nos cabelos e, eventualmente, no couro cabeludo, não é a atitude mais saudável que podemos ter.



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