Temas Dermatológicos

Opções terapêuticas para a alopecia androgenética

Julho/Agosto 2016

Denise Steiner

colunistas@tecnopress-editora.com.br

Denise Steiner

A alopecia androgenética é a forma mais comum de queda de cabelo, com uma prevalência estimada em 50 a 80% no sexo masculino e 20 a 40% no sexo feminino. Atinge as áreas andrógeno-dependentes do couro cabeludo, com ação específica do DHT nos folículos pilosos, principalmente em indivíduos geneticamente suscetíveis. O mecanismo mais prevalente é a miniaturização, ou seja, a transformação dos fios terminais em fios velus, que são menores e mais finos. Em relação ao tratamento, é importante observar se existe microinflamação no couro cabeludo, associada a dermatite seborreica, danos actínicos da radiação ultravioleta [UV], produtos químicos ou bactérias ativadas pela radiação UV – fatores que parecem influenciar a epigenética e devem orientar o tratamento. Excluindo os transplantes capilares e a micropigmentação, há várias alternativas para tratamento da alopecia androgenética, dos medicamentos que têm ação biológica, destaca-se o minoxidil; antiandrógenos com ação específica no recetor; e bloqueadores enzimáticos, os que mais se destacam são a finasterida e a dutasterida. Apesar de ser utilizado há muitos anos, o mecanismo de ação do minoxidil ainda não está totalmente definido, mas ele parece prolongar a fase anágena. A dose de 5% é comprovadamente mais eficaz que a de 2%. Atualmente, além da loção, que deve ser aplicada duas vezes ao dia, também há a espuma 5%, que pode ser aplicada uma vez ao dia, proporcionando uma maior comodidade - recentemente, o uso do produto em mulheres foi aprovado. São poucos os efeitos colaterais relatados em relação ao uso do minoxidil por períodos bastante prolongados.

A espironolactona, indicada apenas para mulheres, é bastante utilizada devido a seu efeito antiandrogênico. Por ser a única droga administrada para o tratamento da alopecia androgenética, a dose diária é de 100 a 200 mg/dia, durante seis meses, o que provoca muitos efeitos colaterais, sendo necessário o controle da função hepática e dos níveis de potássio. Por esses motivos, cada vez mais esta droga deixa de ser uma opção terapêutica isolada, dando-se preferência para o uso da espironolactona associada a outros tratamentos.

É importante lembrar que os progestagenos utilizados na composição de diversas pílulas anticoncepcionais (como o acetato de ciproterona, a drospirenona e o acetato de clormadinona) também podem auxiliar no tratamento da alopecia androgenética, pela sua ação antiandrogênica. A finasterida está entre as drogas mais utilizadas no tratamento da alopecia androgenética masculina. Trata-se de um inibidor específico e competitivo da 5-alfa-redutase II, reduz os níveis de DHT em cerca de 65% e deve ser administrada na dose de 1 mg/dia – nem mais, nem menos. É contraindicada para mulheres com idade fértil, pois pode levar à feminilização do feto masculino. Porém, existem na literatura relatos (of-label) dos seus efeitos benéficos em mulheres com hiperandrogenismo – por exemplo, em casos de ovário policístico – com doses mais elevadas – de 2,5 mg/dia até 5 mg/dia.

Inúmeras controvérsias foram relatadas em torno da finasterida, entre elas o fato de a droga alterar o marcador tumoral PSA (antígeno específico da próstata). Mesmo com estudos que apontam a diminuição da prevalência de câncer da próstata em 24,8%, ainda subsiste na comunidade científica a dúvida sobre a sua relação com a ocorrência de tumores mais graves, principalmente com a dose de 5 mg/dia.

Mas os efeitos colaterais da finasterida na esfera sexual são, atualmente, os mais controversos. Um trabalho recentemente publicado fez ressurgir uma dúvida já amplamente debatida: a continuidade dos efeitos colaterais da finasterida – entre os quais a diminuição da libido e da qualidade da ejaculação e do orgasmo – mesmo após a descontinuação dessa droga. Mas a causa deste mecanismo é imprevisível e desconhecida, não havendo uma conclusão formal sobre esta questão. Uma meta-análise recente considerou que os trabalhos até hoje publicados não são adequados para determinar se haverá ou não persistência dos efeitos colaterais da finasterida após a sua descontinuação. Neste sentido, estão sendo conduzidos vários trabalhos de investigação e, por isso, este é um tema que merece reflexão.

A dutasterida também tem sido muito utilizada na abordagem da alopecia androgenética, pelo seu efeito inibidor da 5-alfa-redutase I e II, diminuindo os níveis séricos e tópicos de DHT em mais de 90%. Contudo, esta droga tem efeitos colaterais significativos - de impotência sexual, diminuição da libido e também interação medicamentosa. Porém, há relatos na literatura de melhoria com a sua utilização em mulheres, na dose de 0,5 mg/dia durante 12 meses.

Estão em estudo várias alternativas de tratamentos, entre eles os análogos da prostaglandina (entre os quais o setipiprant, um antagonista da PGD 2 e do recetor GPR 44, com resultados iniciais promissores); os tratamentos com luz e laser em baixa frequência; o plasma rico em plaquetas (apesar de serem poucos os estudos consistentes a sustentar cientificamente a sua possível utilização) e das células-tronco.

Atualmente, a terapêutica transdérmica também é outra possibilidade de abordagem da alopecia androgenética. Este método, que começou a ser desenvolvido com a utilização do laser fracionado ablativo e da radiofrequência fracionada em associação ao ultrassom, é aplicado através da pele, formando microcanais, seguido de infusão de substâncias ativas, por um aparelho semelhante ao utilizado na realização das tatuagens.

É fundamental que haja uma avaliação completa do paciente com alopecia androgenética para a indicação do tratamento adequado, como o controle da microinflamação, a correção dos níveis hormonais e de nutrientes que possam estar alterados, como o ferro, o zinco e algumas vitaminas; o controle do estresse e de algumas doenças concomitantes, como as da tiroide; a administração de finasterida e/ou minoxidil e de luz e laser de baixa frequência.



Outros Colunistas:

Deixe seu comentário

código captcha

muito bom!

por Edza Martins Brasil 07/09/2016 - 18:10

Gostaria muito de fazer o tratamento na faculdade de medicina

por Ana Paula de Melo 31/10/2018 - 23:36

Maycon,

A espironolactona age competindo com o receptor específico para os hormônios androgênicos, mas não há diminuição significativa da testosterona sistêmica. O hormônio mais importante no caso é a dehidrotesterona que vem do metabolismo da testosterona.

por Dra. Denise Steiner 08/02/2021 - 18:11

A espironolactona além de se encaixar no receptor do DHT no couro cabeludo diminui a produção natural de testosterona na mulher , Por qual mecanismo de ação ocorre essa diminuição da TESTOSTERONA?

por Maycon Christian da Silva 04/02/2021 - 20:29

Novos Produtos