Tendências

Cybormetics

Julho/Agosto 2016

John Jimenez

colunistas@tecnopress-editora.com.br

John Jimenez

As tendências vêm e vão num mundo cosmético em que tudo passa mais rápido do que nunca. Nesse contexto, encontramo-nos com fatos que, embora insólitos, são fascinantes por serem fonte de inovação. O termo cyborg vem da união dos termos cybernetic + organism. Recentemente, li a história de Neil Harbisson (autodenominado Cyborg), que é considerado o primeiro ser humano a ter usado a tecnologia para expandir os sentidos.

O inglês Neil nasceu em 1982 com um impedimento que lhe dificultava ver as cores. É um artista e ativista cyborg e foi a primeira pessoa no mundo reconhecida como cyborg pelo governo britânico. Ele tem uma antena wi-fi implantada na cabeça, o que lhe permite escutar e perceber as cores por meio do som, inclusive em infravermelho e ultravioleta, que estão num espectro que as pessoas não podem acessar naturalmente. Com essa tecnologia, Neil chegou, inclusive, a experimentar tons extraterrestres. Em seu passaporte, o governo lhe permitiu ter uma fotografia na qual se observa a antena que tem osteointegrada dentro do seu crânio e que sai de seu osso occipital. A antena também lhe permite conexão à internet, conexão bluetooth e recebimento de ligações telefônicas diretamente no seu crânio. Ele já conseguiu se expressar artisticamente a partir de um novo sentido originado da união permanente entre seu cérebro e a cibernética. É cofundador da Cyborg Foundation, uma organização internacional que se dedica a ajudar os humanos a se converterem em cyborgs e a defenderem seus direitos. Em maio de 2011, policiais que acreditavam que Harbisson estava filmando durante uma manifestação na Praça da Catalunha, em Barcelona, atacaram Neil, e sua antena sofreu danos. Ele denunciou o ato como agressão física, pois considera a antena uma parte de seu corpo. A seguir, veremos algumas das tendências que nascem do universo cibernético.

Cyborg anthropology. Uma tendência se manifesta na direção que tomam simultaneamente vários aspectos da sociedade e, tradicionalmente, o marketing tem se apoiado na antropologia para conhecer mais a fundo o consumidor, suas preferências, seus gostos e suas expressões. A antropologia cibernética está relacionada com a humanização da tecnologia e tem como objetivo estudar o que acontece quando as pessoas e a tecnologia se unem, chegando a estabelecer as sinergias surpreendentes das conexões humana e não-humana. A forma com a qual as pessoas interagem com as máquinas e a tecnologia define o que somos. Quais são os efeitos da tecnologia e da cibernética nos humanos? De fato, o Japão e a Coreia do Sul preparam leis para regularizar o comportamento dos robôs num futuro próximo.

Cyborg colors. Neil criou conceitos de cor interruptivos graças à combinação de seus sentidos. Há pessoas que desmaiam pelo excesso de estímulo. Numa recente entrevista, Neil disse que “não há peles brancas nem peles negras, todos somos laranja. As peles brancas são laranja-claro, e as peles negras são laranja-escuro”. Nesse sentido, poderíamos, com a ajuda dos cyborgs humanos, desenvolver novas cores, texturas e notas olfativas?

Cyborg creams. Recentemente, cientistas do Massachusetts Institute of Technology (MIT) desenvolveram um material que ficou conhecido como uma “segunda pele”, que consegue ocultar as rugas quando é aplicado, de forma que podemos ser cyborgs wrinkle-free em qualquer momento e de forma imediata. O material serve também como um delivery system de ativos cosméticos e fármacos e ajuda a tratar o eczema e outras condições dermatológicas. É feito a partir de um polímero baseado em silicone, conhecido como siloxano (cadeia composta por átomos de silício e oxigênio), inserido num cross-linked polymer, que, uma vez aplicado sobre a pele, forma uma película muito fina e imperceptível, que simula as propriedades mecânicas e elásticas da pele, proporcionando uma aparência mais jovem de forma imediata. Nas provas em profundidade, constatou-se que as olheiras diminuem imediatamente, as pálpebras se levantam, a profundidade das rugas diminui, proporciona um sistema inteligente de hidratação e pode ser programado para que gere proteção contra os raios UVB. Além disso, é um produto relevante no meio cosmético porque tem propriedades óticas que garantem um look natural. Parte das pesquisas em andamento estão orientadas a desenvolver outros materiais que sejam semelhantes à fibra capilar.

Cyborg makeup effect. Na web, encontramos tutoriais para as pessoas que querem realizar seu sonho de se tornar cyborg. Neles, é ensinado como criar uma peça protética em poliestireno, que pode ser anexada ao rosto junto com complementos como led e baterias. Veremos linhas de maquiagem desenhadas especialmente para essas aplicações.

Cyborg fashion. É o futuro da moda cibernética. Estamos vendo no mercado bionic leggings em cores metálicas e conceitos relacionados com cyberpunk, cybergirl, futuristic look…

Cyborg rose. Cientistas da Suécia criaram a primeira rosa cibernética mediante a implantação de circuitos dentro de seu sistema vascular, a fim de distribuir de forma diferente a água e os nutrientes, o que leva a um novo metabolismo. Com certeza, veremos novos perfis olfativos de notas tradicionais que nos permitirão criar conceitos de fragrâncias cibernéticas.

Cyborg dryer. Há pouco tempo, uma companhia criou um secador de cabelo supersônico. É uma versão futurista do secador tradicional, menor e mais leve. Pode ser até oito vezes mais rápido do que os tradicionais e com uma frequência de som que o torna mais agradável. Esse desenvolvimento abre as portas a novos dispositivos que podem interagir com chips dos usuários para atingir benefícios adicionais durante a secagem, como hidratação e controle do frizz.

Beauty and the Cyborg. É a versão cibernética de A Bela e a Fera, que foi publicada em janeiro deste ano. Com certeza, originará tendências com conceitos cosméticos e de fragrâncias.

Digital detox. Estamos globalmente mais conectados do que nunca, graças aos avanços cibernéticos, mas a vida na era digital pode estar longe de ser ideal em alguns casos. As estatísticas dizem que podemos gastar mais da metade de nossas vidas na frente de uma tela, o que, sem dúvida, traz um impacto psicológico, social e cultural negativo. Uma pessoa comum consulta seus dispositivos inteligentes 90 vezes por dia. Atualmente, estima-se que 10 mil pessoas têm um chip instalado em seu corpo. Há empresas que estão instalando chips nos empregados para entrar em suas instalações e sair delas.

No entanto, o mundo cibernético também nos exige períodos de desintoxicação digital. Estamos diante de um novo luxo. Agora, existem lugares para descansar sem cobertura telefônica móvel, onde se pode aproveitar mais tratamentos cosméticos e de SPA. O incalculável valor do contato com a natureza e consigo mesmo determinam tendência. Há hotéis, casas de campo e de descanso afastadas da tecnologia e da conexão wi-fi. Esses estabelecimentos oferecem o Detox Pack, que combina sucos detox, sessão de SPA, ioga, dieta especial baixa em calorias e terapia com cosméticos desintoxicantes, antipoluentes e antioxidantes. Tudo isso para atender aos clientes que, cada vez mais, perguntam por lugares afastados da tecnologia e que estejam localizados em florestas e próximos a lagos e rios. Quando o hóspede faz o check-in num hotel assim, deixa com os funcionários seu celular, laptop e tablet. Sem dúvida, ele vai indicar em seu status no Facebook, Instagram, Linkedin e Twitter em suas próximas férias: “fechado para detox”.

Cybormetics = Cyborg Beauty + Cosmetics. Quero citar, para finalizar, uma das frases que eu mais gostei de Neil: “O ser humano está destinado a se converter em cyborg. Já faz séculos que usamos a tecnologia como ferramenta, e o seguinte degrau é que ela passe a fazer parte do nosso corpo”. Nesse sentido, a cosmética também está começando a dar esse passo e terá de evoluir para que se encaixe perfeitamente no conjunto Cyborg + Consumidor + Cosmética. Com certeza, nos próximos anos, veremos um desenvolvimento e aplicações cybercosméticas para cyberconsumidores que hoje não conseguimos nem imaginar…



Outros Colunistas:

Deixe seu comentário

código captcha

Seja o Primeiro a comentar

Novos Produtos