Cosméticos para pacientes oncológicos

Erica Franquilino

Cosméticos para pacientes oncológicos 

Fase de mudanças

No mercado

Resgate

Oncologia estética

Matérias-primas e produtos para pacientes oncológicos

 

matéria publicada na revista Cosmetics & Toiletries Brasil, Jan/Fev de 2018, Vol. 30 Nº 1 (pág 19 a 21)

 

Cosméticos para pacientes oncológicos 

     Além do impacto do diagnóstico e da decorrente batalha para vencer a doença, pessoas em tratamento contra o câncer têm de lidar com alterações drásticas na aparência, como a perda de cabelos. Produtos para cuidado pessoal e artigos de maquiagem ajudam a atenuar alguns dos problemas relacionados a essa fase, como o ressecamento excessivo da pele, manchas e a ausência de sobrancelhas, por exemplo. São itens essenciais para a preservação do autocuidado, em meio a tantas mudanças.

    Câncer é a denominação conferida a um conjunto de mais de 100 doenças, que têm em comum o crescimento desordenado de células, que, por sua vez, invadem tecidos e órgãos, podendo espalhar-se para outras regiões do corpo. O acúmulo de células cancerosas determina a formação de tumores. Os diferentes tipos de câncer correspondem aos vários tipos de células do corpo.

     Caso a doença tenha início em tecidos epiteliais, como pele ou mucosas, é denominada carcinoma. Quando o início ocorre em tecidos conjuntivos, como ossos, músculos ou cartilagens, é chamada de sarcoma. Os tipos de câncer também são diferenciados em razão da velocidade de multiplicação das células e da capacidade de invadir tecidos e órgãos - vizinhos ou distantes.

     Em síntese, os tratamentos podem incluir cirurgia, quimioterapia e radioterapia. Em muitos casos, é preciso combinar mais de uma modalidade. Dor, náusea e fadiga são alguns, dentre os vários efeitos colaterais do tratamento.

 

Fase de mudanças

     Substâncias quimioterápicas bombardeiam o tumor e podem ser administradas com finalidade curativa; adjuvante, feita em combinação com a cirurgia curativa; prévia, como nos casos em que a medicação reduz o tamanho do tumor antes da cirurgia; e paliativa, quando a intenção é melhorar a qualidade da sobrevida do paciente.

     Os quimioterápicos, contudo, não atacam apenas as células tumorais. Essas substâncias também atingem as estruturas normais e que se renovam constantemente no organismo, como a medula óssea, os pelos e a mucosa do tubo digestivo. Por essa razão, a medicação é aplicada em ciclos periódicos – observando-se o tempo necessário para a recuperação dessas estruturas.

     No que diz respeito à aparência física, esse processo acarreta efeitos como o ressecamento da pele, o aparecimento de manchas pelo corpo, o enfraquecimento das unhas, inchaço, além de perda ou ganho de peso. “A pele de quem se submete a tratamentos como rádio e quimioterapia fica mais sensibilizada e fragilizada. É comum que ela passe a ficar mais sensível, com coceiras, irritações, ressecamento e descamações. Em alguns casos, podem aparecer feridas”, diz a dermatologista Helga Clementino, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e parceira da Sinclair, empresa especializada em dermatologia estética.

     Helga menciona alguns cuidados cotidianos que pacientes oncológicos devem ter. Em tratamentos como a radioterapia – método capaz de destruir células tumorais empregando uma dose pré-calculada de radiação ionizante na área doente –, ela recomenda lavar a pele irradiada com água e sabão neutro e secá-la com uma toalha macia, sem esfregar. “É essencial proteger a pele com filtro solar com FPS 30 durante um ano após o tratamento, evitar banhos quentes e compressas quentes ou frias sobre a área tratada”, comenta. Ela também desaconselha o uso de roupas com tecido sintético, bem como peças apertadas ou de tecidos grossos, como jeans.

     Quem faz quimioterapia precisa dedicar atenção especial à hidratação da pele, ter cuidado ao cortar as unhas, fazer a barba ou se depilar. Não é recomendável remover as cutículas, pois elas protegem as unhas contra infecções. “É melhor optar por produtos sem fragrância e sem álcool. São boas opções os itens à base de óleo de amêndoas, ceramidas e leite de aveia”, diz a dermatologista. Banhos demorados e quentes também devem ser evitados, pois ressecam mais ainda a pele.

    A queda de cabelos, sobrancelhas, cílios e demais pelos corporais acontece porque a quimioterapia atua em células que se multiplicam com frequência – como os folículos pilosos. “Isso ocorre com alguns tipos de quimioterápicos, a partir da terceira ou quarta sessão. Dois ou três meses após o término das sessões, o cabelo nascerá novamente, mas de forma estrutural diferente do fio anterior. Os fios que eram lisos podem nascer crespos, pois as alterações acontecem nas regiões que controlam espessura e simetria da fibra capilar. Os fios que eram grossos podem nascer finos, e até a cor do cabelo pode ficar diferente. Para reduzir os efeitos colaterais no couro cabeludo, alguns dermatologistas fazem o resfriamento dessa área, gerando uma vasoconstrição local, que diminuirá os efeitos do tratamento”, explica. A técnica, aponta Helga, é mais utilizada por dermatologistas que trabalham em hospitais.

 

No mercado

     Considerando o sistema imunológico enfraquecido, é recomendável que essas pessoas utilizem hidratantes suaves para a pele, isentos de álcool e ricos em óleos e manteigas naturais.

     Atuante no setor há dez anos, a Oncosmetic tem foco de atuação exclusivo em pacientes oncológicos. “Desenvolvemos produtos sincronizados com as necessidades de prevenção e controle de reações dermatológicas, orais e relacionadas à autoestima apresentadas pelo paciente, durante e após os tratamentos”, diz Manoel Francisco, diretor comercial da empresa.

     No que diz respeito aos diferenciais dos produtos da Oncosmetic em relação aos itens convencionais para cuidado pessoal, ele destaca a especificidade, ajustada às necessidades do paciente oncológico. “Nosso compromisso é desenvolver produtos específicos para o paciente oncológico, buscando nos adequar às necessidades das equipes multidisciplinares envolvidas no tratamento. Este entendimento de atuação é mais que necessário, é obrigatório. A complexidade da doença e das respostas aos tratamentos exige uma adequada sincronia resolutiva quanto aos produtos a serem utilizados”, aponta.

     Os itens, com produção terceirizada, são comercializados em farmácias, de todo o país. O portfólio é composto por 12 produtos, em 27 formas de apresentação, divididos nas linhas Pele, Oral e Autoestima. A marca planeja lançar outros 12 itens. “Nossos produtos se ajustam às mudanças que o organismo apresenta em virtude das alterações no sistema imunológico e na multiplicação celular, que interferem no equilíbrio e no funcionamento do organismo como um todo, degradando a qualidade de vida e a autoestima dessas pessoas”, acrescenta.

 

Resgate

     A psicóloga Mariana Cavalcante, da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), ressalta que a autoestima está relacionada não apenas à aparência física, mas também ao auto autoconhecimento. “Mudança é a palavra que acompanha o paciente durante todo o processo: mudança física, de rotina, da vida em geral. É importante, durante toda essa fase, a busca por autoconhecimento e autocuidado. O autocuidado pode estar ligado à estética, como passar um batom e um blush, mas também a fazer o que se gosta, descobrir novos sentidos na vida, olhar-se e cuidar-se com amorosidade”, argumenta.

     “Com relação aos cosméticos, é imprescindível que o paciente converse com seu médico, sobre os produtos mais adequados para serem utilizados durante o tratamento, pois pode ser que exista alguma restrição”, adverte.

     Ela destaca que o autocuidado “é um resgate de si mesmo”. “O paciente consegue passar por essa experiência de forma mais leve, e isso impactará positivamente o tratamento”, afirma. Com base nesse conceito, um número crescente de hospitais mantém projetos focados na elevação da autoestima, como as oficinas de beleza. “Elas auxiliam as pacientes a se redescobrirem e a buscarem saídas para a falta de cabelo e para a mudança física. Por isso são tão importantes”, conclui.

     O projeto “De bem com você – A beleza contra o câncer”, realizado pelo Instituto Abihpec, atende mulheres em tratamento oncológico, oferecendo oficinas de automaquiagem em clínicas e hospitais. O projeto começou em 2012, com oficinas em três hospitais da capital paulista: Centro de Referência da Saúde da Mulher/Hospital Pérola Byington, Instituto Brasileiro de Controle do Câncer e Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. O objetivo das ofi cinas é minimizar os efeitos secundários relacionados à quimioterapia, à radioterapia e a outros tratamentos oncológicos na aparência das mulheres.

     Hoje, a iniciativa chega a 28 hospitais, nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Fortaleza, Rio de Janeiro, Paraná, Bahia e Piauí. Desde o início do programa, foram atendidas 12 mil pacientes. A cada mês, cerca de 350 mulheres passam pelas oficinas.

     A iniciativa da Abihpec reproduz no Brasil o modelo do projeto norte-americano Look Good Feel Better. Criado nos Estados Unidos em 1989, atualmente está presente em 25 países, por meio de filiais independentes que compartilham o nome e a missão do programa.

     No Brasil, o projeto é apoiado e patrocinado por empresas do setor cosmético. Em entrevista à Cosmetics & Toiletries Brasil em março de 2015, Claudio Viggiani, presidente do Instituto Abihpec, explicou que o projeto recebe contribuições financeiras – que suportam o custo logístico –, além de doações de produtos. Depois da oficina, cada mulher leva para casa um kit, com os itens usados durante a aula.

     O projeto também recebe doações de empresas que não atuam no segmento de maquiagem. Graças a essas doações, o kit oferece itens como perfumes, protetores solares, shampoos e desodorantes. Atualmente, mais de 30 empresas participam do programa.

     Nas oficinas, maquiadores e assistentes trabalham de forma voluntária, orientando as pacientes. A maquiadora Claudine Vilas Boas Duarte participa do projeto há três anos. “Realizei vários tipos de trabalhos voluntários por muitos anos, inclusive na África e na Índia. Quando concluí meu curso de maquiagem profissional, pensei que poderia reunir o útil ao agradável. Pesquisando na internet, descobri o Instituto Abihpec e o projeto. Era exatamente o que eu procurava”, comenta.

     Claudine já participou de oficinas na Unicamp, no hospital Antoninho Rocha Marmo, na cidade paulista de São José dos Campos, e no hospital AC Camargo, em São Paulo, dentre outros. Até o final do ano passado, ela estava atuando na Liga Sorocabana de combate ao câncer. “A principal queixa das mulheres é em relação à perda das sobrancelhas. Elas adoram quando damos dicas de como desenhá-las. Mas elas também se queixam bastante da perda dos cílios e, obviamente, dos cabelos”, diz.

     Para disfarçar manchas na pele, é essencial usar uma base de alta cobertura. “Mas tem de saber aplicar. Muitas espalham com tanta força ou usam tão pouco produto, que a base acaba sumindo. Nas oficinas, também explico a função do corretivo, que é ainda mais eficaz no caso de manchas. Para as sobrancelhas, recomendo sombra ou lápis especialmente desenvolvidos para essa finalidade, de preferência, que sejam de longa duração. Durante o tratamento, elas sentem muito calor e suam muito. Se a maquiagem não for de qualidade e não tiver durabilidade, pode acabar se desfazendo”, comenta.

     Outro detalhe importante é a cor da maquiagem para os olhos. A dica de Claudine é nunca usar preto para colorir as sobrancelhas, e sim tons de marrom acinzentados. “O importante é sempre acompanhar o formato da sobrancelha, que permanece lá, mesmo com a queda dos pelos. É preciso tomar cuidado para não pesar e parecer artificial. O ideal é desenhar como se fossem pelos, fio a fio, de baixo para cima. Não recomendo tatuagem definitiva, à qual muitas recorrem no desespero e depois acabam se arrependendo”, ressalta.

     A maquiadora destaca a receptividade das pacientes que participam do programa. “Elas costumam sair agradecidas, muitas se emocionam e nos abraçam. Lá elas têm a oportunidade de fazer novas amizades, descobrem pessoas que estão passando pela mesma situação e, juntas, tornam-se mais fortes. A oficina não é apenas para ensiná-las a se maquiar, é também um momento de doação de carinho para essas guerreiras”, diz.

 

Oncologia estética 

     Um dos efeitos colaterais da quimioterapia é conhecido como “síndrome mão-pé”. O problema acontece quando uma pequena quantidade de drogas escapa de vasos sanguíneos localizados nas palmas das mãos e nas solas dos pés. É uma condição marcada por dor, inchaço, dormência, formigamento ou vermelhidão das mãos e dos pés. Em casos extremos, pode haver rachaduras e sangramentos.

     “Os hidratantes podem ser suavemente aplicados nessas áreas, sem massagear o produto na pele. Os clientes devem ser lembrados de verificar os pés, onde podem ocorrer ferimentos causados por extremos de temperatura. Compressas frescas com gelo podem proporcionar alívio temporário, e a elevação das mãos e dos pés também ajudará. A pomada antibiótica pode ser aplicada em feridas abertas. A ingestão de vitamina B6 ajuda a aliviar os sintomas, juntamente com o uso de um creme ou loção tópica calmante”, diz um trecho do livro Oncology Esthetics – A Practitioner’s Guide, de Morag Currin (Allured Books).

     A síndrome mão-pé e outros vários efeitos do tratamento são descritos pela autora, que explica como o atendimento de esteticistas pode ajudar pacientes oncológicos, aliviando incômodos e proporcionando bem-estar. Ela também aborda o conhecimento necessário para realizar esse tipo de atendimento – que deve ser feito por profissionais especializados na área – bem como os tratamentos faciais e corporais oferecidos em spas.

     No Brasil, spas começam a criar programas específicos, voltados a pessoas que enfrentaram a doença. Algumas propostas abrangem dieta balanceada, técnicas de relaxamento, atendimento psicológico, treinos específicos, sessões de fisioterapia e outros tipos de tratamento voltados à recuperação dessas pessoas.

     “Uma compreensão clara e concisa do câncer, das diferentes terapias de spa e dos produtos usados para o cuidado da pele é fundamental para evitar desconfortos desnecessários. Pesquisas mostram que uma variedade de modalidades de toque afeta positivamente os sintomas relacionados ao câncer ou os efeitos colaterais do tratamento, como náuseas, fadiga, insônia, edema e dor”, aponta Morag.

 

Matérias-primas e produtos para pacientes oncológicos 

     A formulação de produtos para o cuidado da pele de pessoas em tratamento contra o câncer requer, dentre outras características, o uso de tensoativos suaves e matérias-primas que auxiliem na regeneração e na melhora da hidratação.

     Em um conteúdo exclusivo, disponível no site www.cosmeticsonline.com.br, as empresas fornecedoras de matérias-primas Chemspecs, Sarfam e Solabia destacam as propriedades de ativos voltados ao desenvolvimento de soluções que atendam às especificidades desse tipo de produto.

     No site você também conhece os géis, hidratantes e outros itens produzidos pela Oncosmetics. Pioneira no segmento de produtos para cuidado pessoal de pacientes oncológicos, a empresa oferece produtos para necessidades específicas dessas pessoas, como um simulador de saliva, que proporciona alívio durante o tratamento quimioterápico e radioterápico.

 

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