Microbioma Cutâneo

Érica Franquilino
 
 
 
 
 
 
 
Edição Temática Digital - Março de 2019 - Nº 41 - Ano 14
Universo particular
O ecossistema composto por microrganismos que habitam nosso corpo tem papel fundamental na manutenção da saúde e carrega informações capazes de impulsionar inovações em diversas áreas. No que diz respeito à microbiota (ou microbioma) da pele – onde essa comunidade se aproxima dos 100 bilhões –, o conhecimento adquirido nos últimos anos colaborou para o desenvolvimento de novas soluções apresentadas pela indústria cosmética.
 
O microbioma é o conjunto de microrganismos – como bactérias, leveduras, vírus e fungos – presentes no corpo humano, em regiões como narinas, boca, genitais, pele e, principalmente, no intestino. Juntos, esses microrganismos ajudam na digestão de alimentos, na metabolização de medicamentos e na modulação do sistema imunológico, dentre outras funções. Existem cerca de dez células bacterianas para cada célula humana.
 
As pesquisas nesta área do conhecimento foram aprofundadas no final dos anos 2000. Em maio de 2016, um grupo de cientistas anunciou a identificação completa do microbioma humano: todos os trilhões de micróbios que habitam o organismo. O conteúdo do Projeto Microbioma Humano, produzido pelos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês) em parceria com instituições internacionais de pesquisa, foi publicado em vários artigos nas revistas Nature e Public Library of Sciences (PLoS). Os artigos apresentaram a diversidade de micróbios em 18 locais do corpo humano, num panorama que inclui genomas de referência de milhares de microrganismos.
 
O trabalho de mapeamento envolveu aproximadamente 80 instituições de pesquisa e teve início em 2008. Foram avaliados 242 voluntários saudáveis (129 homens e 113 mulheres), dos quais foram obtidos tecidos de lugares como vagina, boca, nariz, pele e intestino. “Como os exploradores do século 15 que descreviam os contornos de um continente recém-descoberto, os pesquisadores deste projeto empregaram uma nova estratégia tecnológica para definir integralmente, pela primeira vez, o panorama microbial normal do organismo humano”, afirmou o diretor do NIH, Francis Collins, à época da divulgação do mapeamento.
 
Uma das questões investigadas pelos cientistas era a existência de um grupo básico de micróbios compartilhado por todos os seres humanos. O estudo mostrou que poucos grupos de bactérias e outros microrganismos são comuns a todas as pessoas. Cada indivíduo carrega uma grande variedade deles, e há comunidades únicas vivendo em diferentes partes do corpo.
Em síntese, a composição da microbiota é altamente variável de um indivíduo para outro. Assim como impressões digitais, não há microbiomas idênticos. Além da herança genética, eles são influenciados por diversos aspectos, relacionados a fatores como dieta, fase e estilo de vida de cada um. Esses microrganismos e seus genes constituem uma comunidade dinâmica que exerce grande influência na saúde e no surgimento de doenças, bem como no crescimento e desenvolvimento do ser
 humano. No que se refere à alimentação, por exemplo, os microrganismos decompõem grande parte das proteínas, dos lipídios e dos carboidratos da dieta e os transformam em nutrientes que o corpo pode absorver.
 
Eles também produzem compostos benéficos, como as vitaminas e os anti-inflamatórios que o genoma humano não consegue produzir. O desequilíbrio na composição do microbioma pode acarretar problemas na resposta imunológica e colaborar para o desenvolvimento e a progressão de doenças metabólicas, inflamatórias e autoimunes. Desde a intensificação das pesquisas sobre o tema, descobertas sinalizam que a diversidade do microbioma deverá ser um valioso recurso na personal
ização de tratamentos médicos. Estudos continuam apontando novos 
caminhos para potencializar os benefícios desse ecossistema, como no preparo físico de atletas e em dietas individualizadas.
 
 
Segundo especialistas, a combinação exclusiva de microrganismos de cada pessoa pode ser levada em consideração para uma vida longa e saudável. Atualmente, existem exames que conseguem determinar a composição exata de microrganismos em um determinado ambiente – as análises metagenômicas.
Por meio da identificação da composição de bactérias e outros microrganismos no intestino, por exemplo, é possível elaborar uma dieta específica, que favoreça o equilíbrio do microbioma.
 
Microbioma cutâneo
A pele humana é rica em microrganismos essenciais para a saúde. Um centímetro quadrado 
de pele pode conter até um bilhão deles. A maior parte desse microbioma é adquirida no nascimento. A diversidade encontrada no microbioma cutâneo está diretamente relacionada à saúde do indivíduo.
 
“Crianças nascidas por meio de parto natural tendem a ter a microbiota mais diversificada do que aquelas que nasceram por cesarianas”, comenta Gustavo Facchini, que integra o departamento técnico Skin Vitro do Grupo Kosmoscience. Segundo Facchini, pessoas que têm animais de estimação também têm uma microbiota mais diversa.
 
 
 
Marco Rocha, dermatologista com doutorado voltado ao estudo da acne, explica que a manutenção da barreira cutânea é fundamental para a pre
servação do equilíbrio ideal entre as bactérias comensais (que existem numa relação mutuamente simbiótica e benéfica com os humanos, ajudando em várias funções) e pat
ogênicas que 
existem na pele.
 
“De maneira ideal, os microrganismos comensais ajudam a reduzir a quantidade de variantes patogênicas, mantêm o pH ideal da pele, fundamental para a defesa inata, e ajudam no desenvolvimento do sistema imunológico, à medida que o ser humano passa pelas diferentes fases da vida”, afirma. A barreira cutânea apresenta funções fundamentais no controle da permeabilidade. “Sempre que há alterações em seu funcionamento, encontramos uma disbiose, isto é, a alteração do microbioma. Nesses casos, a hidratação externa ajuda a restaurar a integridade da barreira e, consequentemente, a reequilibrar o microbioma”, completa.
 
No artigo “O movimento do microbioma”, publicado na revista Cosmetics & Toiletries Brasil em agosto de 2018, o autor Travis Whitfill destaca que “os exemplos de consequências do relacionamento simbiótico entre os microrganismos e a pele humana incluem um diálogo com o sistema imunológico cutâneo, o estímulo da secreção de peptídeo antimicrobiano, a proteção contra bactérias patogênicas e o estímulo à produção de ceramidas. Todos esses efeitos são benéficos para a pele”. Segundo Whitfill, a complexidade da microbiologia da pele vai além da divisão entre micróbios benéficos ou daninhos. Os microrganismos podem causar benefícios
ou ser prejudiciais, dependendo do cenário – uma pele saudável ou comprometida, por exemplo. Variações nas características desse processo também podem ocorrer em função da dinâmica de interação entre microrganismos. “Determinado microrganismo pode ser benigno enquanto estiver isolado, mas pode aumentar sua presença em relação a outros microrganismos, causando uma resposta
cutânea”, afirma o autor.
 
O uso de medicações, como antibióticos orais e tópicos, a idade, o estado de saúde e alguns hábitos cotidianos também interferem na estabilidade da microbiota. “Lavar a pele demais ou com produtos muito abrasivos interfere negativamente nesse equilíbrio. A exposição exagerada à radiação ultravioleta e à poluição gera radicais livres, que agridem o microbioma. Além disso, temos a questão da má alimentação, que gera inflamação no tecido; o estresse, que libera mediadores pró-inflamatórios; privação do sono; e procedimento estéticos agressivos ou realizados sem orientação, entre outros fatores”, menciona o dermatologista Jardis Volpe.
 
A junção desses aspectos pode resultar em pele seca, estressada e sensível, o que favorece o envelhecimento precoce e colabora para agravar condições como acne, dermatite atópica e psoríase. “Trazer dermocosméticos com probióticos para a equação pode ajudar a reconstruir um ecossistema de pele saudável”, aponta. “Não é preciso lavar a pele facial mais do que duas vezes ao dia. É importante usar hidratantes indicados ao seu tipo de pele, além de aplicar e reaplicar diariamente o filtro solar”, completa.
 
Facchini ressalta que o equilíbrio do microbioma da pele inibe a proliferação de microrganismos patogênicos “tanto pela competição por habitat quanto por meio da síntese de enzimas tóxicas a esses patógenos”. A Kosmoscience realiza avaliações para a identificação de microrganismos no microbioma cutâneo e mensuração do impacto da formulação cosmética na homeostase da pele (o aumento ou a diminuição do número de cada bactéria ou fungo).
 
“Após seleção criteriosa de participantes de pesquisa e uso padronizado de produtos investigacionais, realizamos o sequenciamento
de RNA (ácido ribonucleico) ribossômico 16s ou 18s e o sequenciamento de DNA (ácido desoxirribonucleico) por Whole Genome Shotgun (WGS)”, comenta. “Adicionalmente, possibilitamos também ao mercado a realização de protocolos clássicos de cultivo e caracterização de microrganismos”, acrescenta.
 
Para Facchini, a tendência do desenvolvimento de cosméticos para reequilibrar e proteger a flora cutânea deve “revolucionar” os
cuidados diários com a pele. Ele acredita que um dos grandes desafios para o setor, “além da criação da própria formulação, será mensurar essa interação de maneira ampla e assertiva, traduzindo os resultados para uma linguagem acessível ao consumidor”.
 
Rocha destaca que o desafio principal consiste na seletividade dos prebióticos. “Tais composições precisam fortalecer a microbiota comensal sem estimular o desenvolvimento de cepas ou variantes patogênicas”, argumenta.
 
Volpe lembra que o reequilíbrio da flora cutânea colabora para uma pele menos reativa. “Pessoas com pele sensível se beneficiam muito de dermocosméticos com probióticos, já que eles reconstroem e fortalecem a barreira da pele. O mesmo acontece com os pacientes com acne, que conseguem ver melhora no tamanho da lesão e na vermelhidão da pele”, afirma.
 
Quem mora em grandes cidades e tem a pele constantemente exposta à poluição também se beneficia do uso desse tipo de produto. “Hoje temos ciência de que muito mais pacientes precisam desse tipo de cuidado. As indústrias deveriam investir mais nesses produtos. Um dos entraves ainda é o preço. No entanto, pela demanda crescente, esses dermocosméticos tendem a se popularizar e o preço deve diminuir”, acredita.
 
Mercado
A realização do Projeto Microbioma Humano estimulou novas pesquisas em laboratórios de gigantes do setor cosmético. Em 2016, a Johnson & Johnson estabeleceu uma parceria com a S-Biomedics, startup belga de biotecnologia especializada no estudo do microbioma – e que recebeu, em julho do ano passado, um investimento de aproximadamente 1 milhão de euros da Beiersdorf.
 
Em 2017, a Dior reformulou sua linha de hidratação Hydra Life, lançando produtos dedicados ao reequilíbrio da microbiota. Com itens para limpeza, esfoliação, creme e máscaras, a linha – que teve o nome reduzido para Life – passou a contar com ingredientes botânicos trabalhando em simbiose: a folha de haberlea (originária da Suíça e capaz de sobreviver a longos períodos de seca) e o extrato de malva. A folha de haberlea estimula a produção de ingredientes protetores, e a malva impulsiona a síntese das proteínas associadas à hidratação. 
 
Marcas internacionais têm apostado no potencial dos probióticos e prebióticos. Probióticos são microrganismos vivos que, em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde, fortalecendo o sistema imunológico e melhorando a absorção de nutrientes. Os prebióticos são componentes alimentares não digeríveis, que estimulam a proliferação ou a atividade de populações de bactérias boas. Eles servem como alimento para essas bactérias, estimulando-as a crescerem e a combaterem as indesejáveis. “Para se proteger das agressões ambientais, a pele precisa se manter inalterada, e um dos seus maiores aliados são os probióticos. O conteúdo das células de bactérias interage com os receptores celulares da pele para modular a resposta imune. E isso realmente ajuda a aliviar a inflamação cutânea”, diz Volpe.
 
Três anos atrás, a Clinique lançou o Clinique Redness Solutions Daily Relief Cream, um creme de uso diário, com formulação suave e sem óleo, desenvolvido com tecnologia probiótica. A promessa é de conforto instantâneo à pele vermelha e irritada.
 
O Superstart Skin Renewal Booster, da Elizabeth Arden, é um sérum formulado com um complexo de probióticos para fortalecer a capacidade natural da pele de se recuperar e se renovar. Enriquecido com funcho do mar e extratos de linhaça, o produto deve ser aplicado antes do hidratante, para aumentar a eficácia dos produtos de skincare.
 

 

Alguns anos antes dos lançamentos da Clinique e da Elizabeth Arden, a La Roche-Posay, marca da divisão de cosmética ativa da L’Oréal, já havia incluído uma bactéria na formulação do hidratante Lipikar Baume AP+, que tem a função de reequilibrar e proteger a flora cutânea, diminuindo a incidência de irritações em peles sensíveis. O ativo patenteado Aqua Posae Filiformis ajuda a restaurar a barreira cutânea e a reequilibrar a população de bactérias da pele, melhorando os sintomas da dermatite atópica. Novas marcas têm surgido com foco no cuidado da microbiota, como a britânica Aurelia, com formulações à base de fermento, peptídeo de leite e óleos essenciais; e a francesa Gallinée, dona de um complexo patenteado de prebióticos e probióticos, que tem a Unilever como acionista minoritária.
 
 
Em fevereiro deste ano, a Buona Vita apresentou ao mercado brasileiro o Prosec, sérum secativo que traz em sua composição o extrato lisado de Saccharomyces cerevisiae, ativo probiótico que auxilia no controle da oleosidade e do brilho, na contração dos poros e na diminuição da vermelhidão, acalmando peles irritadas e melhorando a aparência do tecido. O produto foi desenvolvido para o tratamento de acne e comedões em todos os graus, evitando a formação de cicatrizes.
 
 
A formulação também conta com ácido salicílico, cuja ação é potencializada pelos ingredientes alantoína (renovador celular e cicatrizante), vitamina B3 (previne a acne e melhora a textura da pele), alfa bisabolol (efeito anti-inflamatório e calmante) e um bioativo à base de água de coco verde integral, que estimula o crescimento de fibroblastos, aumentando o nível de colágeno do tipo I na pele.
 
 
 
O Dermosoft Antiacne Sérum Multissolução, que integra o portfólio da Extratos da Terra, controla o processo inflamatório e atua na cicatrização das lesões inflamadas, além de controlar a oleosidade e reduzir poros. O produto restaura a umidade das camadas mais superficiais da pele, fortalecendo a barreira de proteção, mantendo a hidratação e evitando o aparecimento de novas espinhas. A formulação traz o bioecolia, ativo que promove o desenvolvimento de microrganismos bons, equilibrando a presença de bactérias indesejáveis na pele, responsáveis pela formação da acne.
 
 
Com extratos botânicos como os de calêndula, camomila, erva-doce e hamamélis, o sabonete facial U.SK Cleanser, da Under Skin, tem ação cicatrizante, calmante, suavizante e reparadora. O produto promove a limpeza da pele sem interferir na integridade da barreira cutânea, mantendo o pH e a microbiota natural.
 
 
 
 
O Aqua Pro.Bio, um dos itens da linha Hidradefense Solution, da Adcos, regenera e reforça a barreira biológica 
cutânea. O produto
pode ser usado a qualquer hora do dia para hidratar a pele, proteger o corpo e o rosto contra o estresse ambiental e restaurar a
imunidade da pele. A marca informa que, devido à concentração de ativos e prebióticos na composição, ele é ideal para o cuidado e a recuperação de peles sensíveis e sensibilizadas.
 
 
O Prebio Skinbiotic Essence, da marca Adélia Mendonça, é um clareador de uso íntimo que traz na composição uma associação
de água termal oriunda dos atóis da polinésia francesa e ativos com atuação nanovetorizada. O clareador, que faz parte da linha home care, é voltado às disfunções pigmentares das áreas perineal, perianal e de face interna das coxas e virilhas – com ação prebiótica e simbiótica.
 
A marca também oferece ao mercado o Sublime 24K Prebio Gommage, esfoliante prebiótico funcional para o fortalecimento dérmico de peles sensíveis. Formulado com ouro 24K, nanovitamina C, extrato de cucumis e ativos prebióticos, ele remove as células mortas, garantindo um efeito iluminador imediato e progressivo, além de reduzir o surgimento de rugas e linhas finas. Polissacarídeos encapsulados em nanomatriz de celulose são liberados de forma contínua na pele, atuando para o fortalecimento epitelial, aumentando os mecanismos de defesa e tornando a pele mais resistente às agressões ambientais.
 

 

Parcerias para aprofundar o conhecimento
 
 
A DSM fez um investimentona S-Biomedic, empresa belga especializada em microbioma da pele.
 
De acordo com a companhia, a iniciativa ressalta o seu interesse em uma área “identificada como de expressivo potencial de crescimento”. A companhia também lançou um site com conteúdo voltado ao microbioma cutâneo, o The Secret Life of Skin.
 
“Com sua longa experiência em biologia da pele e seu profundo conhecimento no campo da ciência epidérmica, a DSM está bem
posicionada para ampliar seu foco de pesquisa e inovação no microbioma da pele. Já fizemos descobertas encorajadoras sobre como os ativos do nosso portfólio funcionam no microbioma da pele e do couro cabeludo. Por meio deste investimento, esperamos promover mais inovação nessa área”, comentou Rishabh Pande, vice-presidente de marketing e inovação em Personal Care & Aroma da DSM.
 
A incubadora de tecnologia da L’Oréal fechou um acordo com a uBiome, líder mundial em genômica microbial. Por meio de uma
parceria de colaboração, ambas as empresas irão realizar novos estudos sobre o microbioma cutâneo, com o objetivo de aumentar o conhecimento a respeito do impacto que a diversidade bacteriana tem sobre a saúde da pele, e ajudar no desenvolvimento de novos produtos da L’Oréal.
 
O microbioma da pele tem sido estudado há mais de uma década pela multinacional francesa, que publicou 50 artigos sobre o
assunto desde 2006. A companhia informa que as descobertas incluem a ligação entre microbioma, função de barreira da pele e respostas imunes, bem como a evolução do microbioma no envelhecimento pele.
 
“Uma das principais descobertas da nossa pesquisa mostra que os distúrbios da pele, muito parecidos com os do intestino, estão frequentemente ligados a um problema de desequilíbrio microbiano”, afirmou Luc Aguilar, diretor da divisão de Pesquisa e Inovação da L’Oréal, em comunicado.
 
A UBiome, que tem o maior banco de dados de microbioma humano do mundo, desenvolveu produtos como o SmartGut, o primeiro teste de microbioma clínico baseado em sequenciamento, que identifica micróbios intestinais relacionados a doenças crônicas, como Doença de Crohn e colite ulcerativa.

 

Sebastião D. Gonçalves (ProServ Química Ltda) Contribuição publicada em 29/10/2019

A demanda por conservante eficaz e ingredientes seguros nunca foi tão grande quanto agora, com consumidores e reguladores contra alguns consagrados conservantes sintéticos. 
Neste momento vejo grandes desafios e oportunidades para a indústria cosmética. 
 
Por longo tempo, vejo discussões sobre as tendências dos conservantes, e o seu paradoxo, em relação aos conservantes clássicos, e o declínio de uso de produtos como Misturas de Isotiazolinonas, Parabenos, DMDM Hidantoina, Imidazolidinil Uréia, Triclosan, Bronopol, entre outros. As isotiazolinonas era o conservante de quase 70% dos produtos enxaguáveis no ano 2000. Hoje é por volta de 15%. 
 
Este paradoxo sobre conservantes na indústria de cosmética é muito real. Mercados regulamentados, tais como o UE, restringiu as listas positivas dos conservantes, que são autorizadas para uso em cosméticos nas condições especificadas. O problema é que estas listas estão ficando mais curtas. Ou informação ou desinformação de um novo agente nas discussões que são as blogueiras, e sua força junto ao público consumidor, que está ditando tendências.
 
Toxicologistas falam sobre risco = perigo x exposição, portanto, não é surpreendente que eles destacam o risco de irritação aumentar à medida que somos expostos mais e mais a conservantes considerados críticos.
Lembre-se, é muito importante para um cosmético ser seguro por meio de armazenamento e uso, ao longo de sua toda uma vida de prateleira, que muitas vezes é pelo menos de 24 meses.
 
Fórmulas cosméticas destinam-se, portanto, ser quimicamente estável e realmente preservadas, sem crescimento microbiológico. Mas só isto não é suficiente, ou seja fazer um produto que não permite crescimento microbiano. É preciso mais.
A fim de passar por testes de indústria tais como o teste de desafio (ISO 11930:2012), os micróbios especificados, que são adicionados à fórmula (em concentrações especificadas, no início do teste), devem ser mortos rapidamente. Fórmulas de cosméticos, portanto, precisam de algum tipo de preservação. Mesmo aqueles que alegam serem sem conservantes, (assim não contêm conservantes das listas positivas), se eles passam no teste de desafio, então a fórmula tem um sistema de “preservação presente”. Ou seja o produto tem uma auto-preservação.
 
A comunidade cosmética e cientifica vê este paradoxo dos conservantes como uma oportunidade para os formuladores serem mais criativos. Por exemplo, usando a abordagem de 'barreira', onde uma série de fatores são combinados para fazer uma fórmula mais hostil aos microrganismos e assim reduzir o nível de conservante necessária para matá-los ou inibir o seu crescimento. A expressão “hard to grow” é o que começa a surgir para diminuir o uso dos conservantes.
 
Os obstáculos incluem a baixa atividade de água, acidez, controle do potencial de redox, adição de agentes quelantes, usando misturas sinérgicas de conservantes permitidos e incluindo ingredientes tais como etil exil glicerina, benzoato+sorbato, álcool benzílico, ácido cítrico, capril-caprilato, ácido dehidroacético, sais de gluconato, sais metálicos como zinco e prata. Sem esquecermos que a condição de fabricação deve contemplar água, higiene & limpeza validados, com um controle microbiológico que assegure a qualidade microbiológica do ambiente de fabricação.
Mais controversa é a inclusão de ingredientes de uso cosmético que também ajudam na preservação como certos óleos essenciais e extratos naturais.
 
A Comissão Europeia está muito consciente da crise sobre preservação. Eles emitiram um infográfico salientando a importância dos conservantes para produtos cosméticos e ninguém quer produtos não preservados no mercado. Recentemente o CIR (Cosmetic Ingredient Review)  deu um parececer positivo sobre os parabenos.
Fornecedores de materiais cosméticos estão trabalhando muito para encontrar tecnologia novas, claras e inovadoras. Tecnologia de embalagem que oferecem a formuladores, diferentes maneiras de entregar cosméticos com segurança. Novos produtos orgânicos, fermentados, sendo usado como conservantes.
 
Trabalhando com o microbioma humano, sinto que estamos entrando em uma nova era, numa nova plataforma onde os formuladores de produtos cosmético torna-se um membro chave da equipe de Desenvolvimento, Inovação e Pesquisa, e conhecimento de microbioma, microrganismos processos biológicos serão a base para o avanço do que vem pela frente.
Não só por causa das tendências da preservação, mas também para tirar o máximo partido das descobertas, trabalhando com a microbiota da pele.
 
Alguns especialistas estão começando a questionar os efeitos de conservantes nos micróbios que vivem na nossa pele. E isto pode levar a novos modelos de avaliação de segurança de produtos, preservação de cosméticos e efeito da aplicação do cosmético sobre a microbiota.
 
Também, com algumas marcas falando em 'equilíbrio' do microbioma da pele utilizando abordagens semelhante ao iogurte, por exemplo. Vai ser necessário especialistas em pensamento criativo, se isto é para se ter segurança, em produtos que passam no teste de desafio, e alimentam a microbiota boa.
E se falarmos dos pró-bióticos, que é um verdadeiro desafio, sobre equilíbrio do produto, preservação e impacto do produto sobre a microbiota da pele.
 
Muita inovação, muita criatividade!!! 
E as discussões e propostas de preservação, sem conservantes sintéticos serão o tema corrente. Falaremos cada vez mais de preservação e cada vez menos de conservantes.
 
 

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