Cosmetogenética

Erica Franquilino

Potencial no setor cosmético

Exemplos no mercado

 

artigo publicado na versão impressa da edição julho/agosto 2017 da revista Cosmetics & Toiletries Brasi
 predisposição à perda de colágeno, a eficiência na eliminação de substâncias tóxicas e a capacidade de resposta da pele a estímulos inflamatórios são algumas das muitas variantes – referentes à estética - que podem ser desvendadas com o uso da análise genética.
 
   Em pouco mais de uma década, desde o anúncio da realização do primeiro sequenciamento do genoma humano, as nformações existentes nos genomas vêm sendo utilizadas no diagnóstico de doenças, na formulação de medicamentos e em várias outras áreas, como nutrição, veterinária, agronomia e direito.
   Na medicina – além da compreensão de diversas doenças de origem genética –, a análise do genoma aponta caminhos para
abordagens mais direcionadas e eficazes, com a perspectiva de novas e personalizadas frentes de tratamento contra males como
o câncer, por exemplo.
 
   O mapeamento genético também abrange novas metodologias para a individualização de dietas e exercícios físicos – a nutrigenômica. Essa área tem como foco o entendimento da maneira como os alimentos são capazes de interferir na atuação dos genes. Com base no mapa genético, especialistas podem prescrever os regimes alimentares mais adequados às necessidades dos pacientes. O objetivo é auxiliar na prevenção e no tratamento de doenças, por meio da alimentação.
   A farmacogenética, ou farmacogenômica, dedica-se à identificação dos fatores genéticos que podem interferir na resposta aos medicamentos. A mesma dose de um determinado medicamento, por exemplo, pode proporcionar efeitos benéficos para um paciente e ser ineficaz ou até mesmo tóxica para outro, que tenha recebido o mesmo diagnóstico.
 
   Nos últimos anos, as metodologias de sequenciamento e as possibilidades de aplicação têm evoluído rapidamente – assim como o desenvolvimento de novas tecnologias para auxiliar na análise das informações, como a bioinformática – com custos cada vez menores.

 

Potencial no setor cosmético

Em 2001, o custo do sequenciamento genético era de aproximadamente US$ 100 milhões por genoma. Em 2015, em face dos
avanços tecnológicos, havia caído para cerca de US$ 1000. O químico Daniel Barreto, professor da Escola de Químicada Universidade Federal do Riode Janeiro (UFRJ), destaca que, desdeo final do Projeto Genoma Humano, o custo do sequenciamento vem caindode forma vertiginosa.
 
   “Projeções bastante confiáveis já apontam para custos inferiores a US$100 por genoma. Dessa maneira, o conhecimento profundo e detalhadodas razões genéticas e epigenéticas de determinados aspectos estéticos de cada indivíduo é, hoje, mais acessível do que nunca. Essa compreensão permitirá o desenvolvimento de produtos e tratamentos muito mais eficientes e direcionados”, argumenta. Para Barreto, a análise genética poderá ajudar no desenvolvimento de produtos cosméticos personalizados. “Ao conhecermos as características genéticas de cada pessoa, seremos capazes não só de compreender melhor as origens de determinados aspectos de sua aparência – como estrutura tecidual e melanogênese na pele e nos cabelos – como também elucidar e diferenciar as origens – genéticas, epigenéticas ou ambientais – de cada indivíduo”, afirma. Esse nível de conhecimento abre portas para o desenvolvimento de soluções personalizadas e outras voltadas a grupos específicos e com características genéticas similares, como os calvos, por exemplo.
 
   O estudo genético vem se tornando um dos recursos utilizados por dermatologistas para oferecer tratamentos customizados aos pacientes. Em 2002, a companhia norte-americana Lab 21 apresentou o DNA Face Cream, creme manipulado de forma personalizada com base em uma amostra de DNA do usuário, retirada da mucosa de sua bochecha pelo dermatologista. No mesmo ano, o artigo Dermagenetics, publicado na revista Cosmetics & Toiletries norte-americana, trazia uma abordagem – sob o ponto de vista da genética – da variação nas respostas dos indivíduos ao estresse ambiental, vislumbrando o potencial do setor cosmético para o desenvolvimento de produtos para o cuidado da pele – formulados de acordo com necessidades individuais.
 
   O conceito de cosmetogenética começou a ser explorado no Brasil pela empresa SkinGen, do grupo Boticário, cujas operações
começaram em 2012 – depois de quatro anos de pesquisas – e foram encerradas em menos de dois anos. A Skingen Inteligência
Genética atuava por meio de duas divisões: a Skingen Lab, responsável pela análise genética de pacientes encaminhados por dermatologistas, e a Skingen Pharma, unidade onde era feita a manipulação dos produtos.
 
   “Com a queda brusca dos custos da análise do genoma, negócios que não eram viáveis do ponto de vista econômico há cinco anos, poderão se tornar atraentes em um curto espaço de tempo”, afirma Barreto. “Por outro lado, acredito que, em função das particularidades deste mercado e da individualização dos tratamentos, novos modelos de negócio, muito diferentes dos atuais, deverão surgir num futuro próximo”, acrescenta.

 

Exemplos no mercado

 

 A análise genética permite a identifi cação de alterações em genes relacionados à saúde e ao processo de envelhecimento da
pele, como: as variantes genéticas associadas à perda precoce de colágeno; o grau de sensibilidade e a capacidade de resposta da pele a estímulos inflamatórios; a eficiência no processo de eliminação de substâncias tóxicas, como corantes, poluentes e tabaco; a capacidade antioxidante; a tendência a produzir mais ou menos substâncias relacionadas à firmeza, à elasticidade e à pigmentação; e a predisposição à dermatite atópica.

   “O teste genético direciona a escolha dos ativos de maneira mais assertiva e individualizada”, diz o dermatologista Bruno Vargas, de Belo Horizonte. “A primeira etapa consiste numa consulta médica detalhada e num exame minucioso da pele. Por meio de uma amostra bucal, identifica-se a saúde da pele, a partirda subdivisão em cinco áreas: firmeza e elasticidade, rugas, danos por exposição ao sol e pigmentação, danos por radicais livres, e sensibilidade e inflamação”, explica.
 
   O dermatologista Jardis Volpe, de São Paulo, faz uso do teste genético há três anos. O médico não costuma personalizar os cremes com base nesse tipo de procedimento em um primeiro momento, “apenas quando sinto uma dificuldade em relação à melhora daquela pele. Nesse caso, o teste torna-se muito útil, sobretudo se apontar alguma predisposição à perda maior do colágeno ou ao aumento da atividade oxidativa. A partir dos resultados, crio produtos mais potentes e adequados para cada caso, tanto tópicos quanto orais”, comenta.
 
   Ele menciona como exemplo desse tipo de abordagem o tratamento da calvície masculina. “O teste é muito válido ao predizer se a pessoa é responsiva ou não à finasterida, um medicamento que deve ser utilizado no longo prazo para retardar o problema. É preciso ressaltar a importância do acompanhamento médico, pois a finasterida não é indicada para qualquer pessoa”, afirma Volpe.
 
   A farmacêutica bioquímica Joyce Rodrigues, diretora científica da Mezzo Dermocosméticos, acredita 
que a genética é “um divisor de águas” quando o assunto é tratamento estético personalizado. Ela explica que o gene responsável pela degradação do colágeno chama-se metaloproteinase de matriz 1, mais conhecido como MMP1. “Por meio de um estudo genético, é possível saber se a pessoa tem ou não uma alteração nesse gene”, aponta. A Mezzo Dermocosméticos atua nesse segmento por meio de uma divisão criada recentemente, o Centro de Cosmetogenética. “No Centro de Cosmetogenética, uma equipe de profissionais altamente qualificados estuda as funções alteradas dos SNPs [sigla em inglês para polimorfismo de nucleotídeo único] que oferecem riscos à saúde da pele”, diz. O SNP é uma variação na sequência do DNA que afeta somente uma das bases – adenina (A), timina (T), citosina (C) ou guanina (G) – na sequência do genoma. Os profissionais da Mezzo trabalham em conjunto com clínicas de estética e o laboratório Centro de Genomas.
 
   Joyce explica que o paciente da clínica de estética se submete a um exame que analisa o gene MMP1 – por meio da coleta da saliva - na própria clínica. O estudo do gene é realizado pelo Centro de Genomas, que emite um laudo e o repassa para o Centro de Cosmetogenética.
 
   “Nós disponibilizamos o laudo e um protocolo personalizado ao profissional de estética, que saberá se o risco de degradação de colágeno é baixo, moderado ou alto. Enquanto o paciente aguarda o resultado, o profissional inicia um protocolo em cabine, para deixar a pele do paciente apta à continuidade do tratamento posterior, em cabine e home care, com os dermocosméticos da Mezzo. É importante alertar que o tratamento personalizado não muda o DNA, mas a forma como os genes se expressam,
potencializando a necessidade de cada um”, destaca.

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