Autor: Klaus Schwab
Editora: Edipro
O ponto de inflexão em curso
por Carlos Alberto Pacheco
A confiança das pessoas nas empresas,
nos governos, nas mídias e até mesmo na
sociedade civil caiu a ponto de mais da
metade do mundo sentir-se decepcionada com o
sistema atual.” São palavras duras, não é?! Po-
rém, em parte, é esse o sentimento que refl ete a
visão de mundo do decano Klaus Schwab, econo-
mista, fundador e presidente executivo do World
Economic Forum (WEF, Fórum Econômico
Mundial, em português), registradas em seu
livro Aplicando a Quarta Revolução Industrial,
da editora Edipro.
A ideia não é apresentar ao leitor uma visão
pessimista do mundo, é apenas chamar a atenção
para o grau de insatisfação de boa parte dos quase
oito bilhões de pessoas que habitam o planeta.
Mas o autor vai além do problema instalado e,
aproveitando-se da já em curso Quarta Revolução
Industrial (4RI – título cunhado por ele e que
já entrou para a história), parte para propostas
de reversão do atual cenário instalado. Note-se
que o processo da 4RI já não é mais futuro, é
presente e, de acordo com ele, diferentemente
das revoluções anteriores, a atual será constante,
ou seja, passaremos a viver em curtos espaços de
tempo um eterno e frenético ritmo revolucionário
dentro da própria revolução em curso. Segundo
o autor, não há como deter o fenômeno, pois ele
avança tanto nas sombras dos porões da casa de
um cidadão, em um Estado comunista, que pode
viralizar um app revolucionário para o controle
de drones usados em guerras biológicas, como à
luz do dia, nas bancadas de uma universidade em
um Estado capitalista que pode desenvolver uma impressora 3D para
repor órgãos humanos visando o aumento da expectativa de vida da
população mundial. Em outras palavras, para o bem ou para o mal,
não há chances de essa revolução ser interrompida, resta-nos domá-la.
Mas por que chamar a atenção para o fato de que essa revolução
pode trazer algo de ruim para a humanidade? Será que há algo para
aprendermos com as anteriores revoluções industriais de forma a nos
garantir um status mais exitoso para esse novo processo de mudança?
A história nos mostrou os acertos e desacertos das revoluções que já
ocorreram por aqui. Um ponto em comum em todas elas, que contribuiu
muito para os malefícios da humanidade, foi o pensamento dos que
detinham o poder da mudança, de que o mundo é um eterno “jogo de
soma zero”, ou seja, um jogo no qual apenas um entre dois atores sai
ganhando. Essa prerrogativa, que acompanha a natureza humana da
maioria dos atuais atores mundiais dos campos econômico e político,
de fato mudou? O autor ressalta que esse ponto de infl exão é decisivo
para o êxito da atual revolução em andamento.
Outro fator que põem em risco o sucesso que a 4RI pode trazer
à humanidade é a exclusão de importantes partes interessadas na
condução de uma distribuição mais equitativa dos benefícios dessa
revolução. Esse fator aponta três grupos, tradicio-
nalmente excluídos dos processos de mudança,
que precisam estar presentes na remodelação do
mundo em que vivemos. São eles: as economias
em desenvolvimento, as organizações ambientais
e, em virtude de a população mundial estar se tor-
nando cada vez mais longeva e idosa, os cidadãos
de todas as gerações, de todos os níveis de ensino
e de todas as faixas de renda. Levando em conta
que no mundo o extremismo ganha espaço e a
antiga globalização encontra-se questionada até
mesmo por parte daqueles que anteriormente a
defendiam, não podemos deixar de considerar
que esse ponto crítico de sucesso faz com que
a 4RI não deixe de ser uma proposta de enorme
pretensão como solução para os problemas da
humanidade.
Em um dos mais claros capítulos da obra
Aplicando a Quarta Revolução Industrial, o
autor traça desapaixonadamente as vantagens
e desvantagens de cada uma das três primeiras
Revoluções Industriais e conclui que o saldo do
balanço das variáveis de cada uma delas não só
foi positivo, pois queiramos ou não a humanidade
progrediu, como também serviu de arcabouço téc-
nico para a revolução subsequente. Essa 4RI não
poderá deixar de apresentar seus pontos fracos e
fortes, porém muitos questionam se o saldo tam-
bém será positivo como nas demais Revoluções
Industriais. Na obra, o autor aproveita o ensejo
para repassar o avanço em 12 conjuntos de tecno-
logias verdadeiramente disruptivas da atualidade.
Essas tecnologias vêm modificando não só nosso
conceito de aspectos práticos, como logística, comunicação e realidades
aumentadas, como também de questões fi losóficas, por exemplo, o que
é de fato “ser humano”, uma vez que o mundo físico está ficando cada
vez mais difícil de se distinguir do mundo biológico e virtual.
Com essa abrangência de informações trazida pelo autor Klaus
Schwab, seu objetivo é preparar os setores da sociedade mundial
para o que está em curso, porém livre, solto e desregulamentado,
por exemplo, os blockchain, as novas bioterapias e a ocupação do
espaço extraterrestre próximo à Terra. Além disso, e mais importante,
Schwab convida o leitor a se questionar: Será que a raça humana vai
mais uma vez desperdiçar um daqueles momentos históricos em que
a humanidade tem a oportunidade de melhorar a distribuição de renda
e aumentar o bem-estar, ou vai repetir o acirramento da desigualdade
social e do extremismo ideológico, a despeito do avanço tecnológico?
Em linha com o assunto estão os livros Automação & Sociedade:
Quarta Revolução Industrial, um olhar para o Brasil (Elcio Brito
da Silva, editora Brasport); A Quarta Revolução Industrial: (Des)
Emprego? (Roberta Pappen e Wilson Engelmann, editora Appris); e
Indústria 4.0: conceitos, contextos e devaneios (Paulo Leal, editora
Amazon).