A ordem mundial em transformação – por que as nações prosperam e fracassam

A ordem mundial em  transformação – por que as nações  prosperam e fracassam

Edição

Edição Atual - Práticas ESG

Práticas ESG


Autor: Ray Dalio
Editora: TORDESILHAS



Ascensão e queda das nações

O lapso de tempo entre o início e o fi m de um ciclo de ascensão e queda de um império é de 250 anos

por Carlos Alberto Pacheco


Os novos tempos serão radicalmente diferentes daqueles em que vivemos, embora semelhantes a muitos outros períodos da história”. Com esse paradoxo “radicalmente dife- rentes ... embora semelhantes” é como começa o recém-lançado livro de Ray Dalio, Editora Intrínseca: “A ordem mundial em transformação – porque as nações prosperam e fracassam.”

Para entender a envergadura da obra é preciso conhecer o autor por trás dela. Ray Dalio é uma daquelas figuras dotadas de um olhar crítico e forjadas nos tempos de crise e que surgem no cenário como verdadeiros faróis quando as coisas não estão claras. Mas ele não é um daqueles gurus tântricos que se esgueiram por caminhos espirituais para revelar o mundo físico. Não, ele é um observador arguto que buscou no estudo histórico uma explicação para o atual mundo físico, mais especificamente à geopolítica, e em uma audaciosa presunção, preparar os leitores para os tempos de mudança que já batem às portas.

Observando a eclosão de inúmeros even- tos importantes que aconteceram diversas vezes ao longo da história humana, porém inéditos no decurso de sua própria vida, é que Ray Dalio desenvolveu os princípios que acompanham a sua análise dos tempos moder- nos. Eventos esses que envolvem o desenrolar quantitativo e qualitativo da dívida interna dos Estados aliada a reduções drástica da taxa de juros dos títulos soberanos e como isso levou à emissão massiva de moedas de reservas; os conflitos internos aos Estados que acabaram tomando projeção nacional e não deixaram de ser explorados por concorrentes internacionais; e a ameaça real da ascensão de uma potência em substituição a predominante fazem parte dessa minuciosa análise. As observações oriundas da vivência desses eventos deram à luz três princípios basilares de sua metodologia: Entender que devemos estar preparados para o fim, pois nenhum império ou moeda dura para sempre; Saber diferenciar tendên- cias passageiras de mudanças irreversíveis é fundamental para a tomada de decisão, e; Acreditar que a capacidade de lidar com o futuro depende da compreensão das relações de causa e efeito que geraram as grandes mudanças na humanidade.

O autor afirma que pelo fato do lapso de tempo entre o início e o fim de um ciclo de ascensão e queda de um império (estimado em cerca de 250 anos) ser três vezes maior do que o ciclo de vida médio de uma pessoa (80 anos) é a razão que leva a falsa percepção de que as coisas sempre foram e continuarão sendo exatamente como são hoje. Essa miopia é que simultaneamente surpreende as pessoas e as deixa atônitas quando de fato as mudanças ocorrem, sem saber que o evento em si apenas faz parte do encerramento de um ciclo e início de outro. Por exemplo, sem estudar o passado é extre- mamente fácil esquecermos ou preferirmos fechar os olhos para o fato de que o dólar nem sempre foi a moeda de reserva mundial. Nos últimos 500 anos o mundo experimentou três diferentes moedas de reserva: o florim (Holandês) que reinou por cerca de 200 anos, seguido pela a libra esterlina (Britânica) du- rante 150 anos, e há 70 anos, o atual dólar. Já se perguntou o que ocorreu com essas moedas para que deixassem de serem con- sideradas como moeda de reserva mundial e a relação desse fenômeno com o declínio dos seus respectivos impérios? Como isso pode ajudar-nos a enxergar o tempo de vida útil que o dólar americano ainda gozará no cenário mundial e se o yuan se apresenta de fato como o próximo candidato a moeda de reserva mundial?

Com foco nos quatro últimos impérios, capítulo a capítulo, o autor vai descrevendo a performance desses indicadores, relacio- nando-os com os fatos históricos que os justificam nas três fases do ciclo: ascensão, auge e declínio. A beleza da obra ainda mostra a dança dos indicadores nos 10 a 20 anos de transição entre a troca das potências. Com a mesma profundidade que esmiuça a transição espanhola para a holandesa, ele o faz, a título de previsão, na transição pela qual a América se encontra frente ao seu atual maior rival: a China.

O livro não é para economistas, ou pelo menos não só a eles, mas para quem se dedica as áreas de desenvolvimento estratégico das empresas, ou aqueles que têm a responsabilidade sobre as suas próprias finanças pessoais.

Na mesma linha desse livro há Ascenção e queda das grandes civilizações (Paul Kennedy, Editora Campos - esgotado), As- cenção e queda dos impérios globais 1400-2000 (John Darwin, Edições 70), e Civilização: Ocidente x Oriente (Niall Fergurson, Editora Crítica).