Autor: John Emsley
Editora: Blucher
Uma molécula por dia
O fantástico mundo das substâncias e dos materiais
que fazem parte do nosso dia-a-dia
por Carlos Alberto Pacheco
Você já teve aquela súbita e persistente curiosidade de conhecer fatos pitorescos de moléculas
usuais que usamos em formulações cosméticas?
Eu confesso que por várias vezes já fui acometido desse desejo.
Se for esse o seu caso, eu recomendo a
leitura do livro “Moléculas em Exposição”
de John Emsley, editora Edgard Blücher.
Apesar de ser um livro de divulgação
científica, ele acaba abusando um pouco
do linguajar mais técnico. Porém nada
que um aluno do ensino médio, ou alguém disposto a enriquecer o seu cabedal
de conhecimento científico, não possa
facilmente dominar com uma simples
consulta na internet de termos e conceitos
menos conhecidos. Excelente referência
para professores de ciências que querem
abrilhantar suas aulas e desta maneira
despertar o interesse do público juvenil
para um tema ainda em desenvolvimento
no país: a divulgação científica.
Na década de 1990 o jornal britânico
The Independent, com o propósito de
reforçar a fidelidade do seu público e
atrair novos leitores, encomendou ao
autor, também professor de química,
uma coluna mensal que revelasse o
quanto cada um de nós se envolve com
a química sem disso nos darmos conta.
Por seis anos ininterruptos ele escreveu
na coluna nomeada “Molécula do Mês”
sobre moléculas parcialmente conhecidas do público como cafeína, sal, hipoclorito
de sódio, oxalato de cálcio, ftalatos, aspirina, arsênio, chumbo
entre outros que abraçam o universo dos alimentos, cosméticos,
produtos de limpeza, medicamentos, tintas, plástico, têxtil, couro,
papel, defensivo agrícola, nutrição do solo, petróleo entre outros
segmentos. Com o término da publicação da coluna o autor decidiu ampliar os artigos já produzidos e colocá-los em um livro sem
os limites de caracteres rígidos impostos por uma coluna de jornal, produzindo assim uma obra menos rasa e mais interessante.
De uma forma cativante ele vai nos trazendo curiosidades sobre as moléculas abordadas. A título de exemplo,
eu menciono a parte destinada ao benzoato de denatônio,
considerado pelo Guinness dos Recordes como a molécula mais amarga conhecida. A molécula
já era de uso corrente em remédios na
Era Vitoriana, os quais em sua grande
maioria eram preparados do tipo faça
você mesmo (DIY). A sua detecção
pelo paladar já pode ser percebida com
míseros 10 ppb (parte por bilhão) e já
ser repugnantemente amarga com 50
ppb (nota: a simples substituição dos
dois radicais etil ligado ao átomo de
nitrogênio no radical denatônio reduz
o amargor da molécula na ordem de
100.000 vezes). Outra curiosidade
destacada na obra é a desmitifi cação da
queratina, rica em cisteína, como agente
afrodisíaco ou princípio ativo contra
artrite e reumatismo muscular.
O fato de os chifres de rinocerontes
serem ricos em queratina acabou por inscrevê-los no livro dos animais em risco
de extinção. Há também uma história
resumida da atropina, seus usos, riscos
e os estragos que causou ao longo da
história, principalmente na consolidação
do império Romano. Bloqueando a
acetilcolina, a atropina reduz os fl uídos
corporais, como saliva, lágrimas, muco,
secreção pulmonar, suor e urina, por isso
muito usado nos procedimentos pós-operatórios. Curiosamente nem todos os seres
vivos são adversamente afetados por ela, tendo até mesmo
a bactéria do solo, Pseudomonas pútrida como um dos
organismos que se alimentam da atropina para a obtenção
de carbono e nitrogênio, evitando assim o acúmulo dessa
toxina no solo.
Em linha com o assunto há outros títulos como Os botões
de Napoleão (Zahar), Barbies, Bambolês e Bolas de Bilhar
(Zahar), e De que são feitas as coisas (Blücher).