O homem mais rico da Babilônia


Autor: George S. Clason
Editora: HarperCollins


O homem mais rico da Babilônia


por Carlos Alberto Pacheco


No ano de 2023, 28,8% das famílias brasileiras estavam com dívidas em atraso e 12,2% das famílias sem condições de pagar as dívidas em atraso. Pesadas nuvens no horizonte apontam que 20,7% delas estão com mais de 50% de suas rendas familiares comprometidas com dívidas. Esses são os dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) disponibilizados no relatório PEIC.1

O endividamento das famílias não é um problema local, nem tão pouco exclusivos da nossa atualidade. Isso deveria nos fazer refletir: qual o antídoto para esse mal que assola a humanidade? Não há uma bala de prata para a dissolução do imbróglio. Porém, sem a menor sombra de dúvida, seja qual for a solução proposta, inequivocamente ela passará pela educação financeira.

Imbuído do ideal de aportar conhecimento às pessoas no intuito de evitar uma vida de eterno endividamento, o autor e empresário americano George Samuel Clason, lançou em 1926 o célebre livro “O homem mais rico da Babilônia”. Achou que a data de edição da obra foi grafada errada? Engano seu. Há quase 100 anos, o assunto já era de preocupação em uma nação marcada por um contínuo crescimento econômico: o famoso sonho americano.

Por meio de uma série de parábolas, metáforas e personagens fictícios, o autor ambienta a narrativa na antiga cidade da Babilônia, uma das mais economicamente pujantes cidades da antiguidade. Com os seus personagens, tão humanos como eu e você, ele transmite verdades atemporais e universais, como a importância de pagar a si mesmo (poupar), investir os recursos poupados com destreza, evitar dívidas desnecessárias, além de destacar a diferença entre os não tão claros conceitos de necessidade e desejo. Como se não bastasse, ele explora o fenômeno “empréstimo” e descreve a sua dinâmica na vida de quem empresta, bem como de quem o contrai, além de pôr o pé no instigante assunto do cultivo de fontes de renda, entenda-se, investimentos. George faz tudo isso sem usar um único termo técnico financeiro. Apenas introduz os conceitos em um nível fácil de ser absorvido por qualquer pessoa minimamente alfabetizada.

Além disso, ele acredita que a preparação adequada é a chave para o sucesso no sentido de interromper o nefasto ciclo de pobreza e tormentos. É notório que em famílias historicamente endividadas, o cenário do endividamento renova-se de geração em geração. Mais do que deixarem dívidas físicas como herança, elas acabam legando aos descentes a mentalidade do endividamento como único modo de vida, como algo indissociável a vida.

Na obra, é fundamental entender o conceito de sucesso não como a riqueza avarenta, embebida na cobiça, mas sim como a tranquilidade de viver uma vida digna, equilibrada, saudável — principalmente na terceira idade — e sem as preocupações que assolam as famílias inclusas nos percentuais já mencionados. A ideia é incitar os leitores ao cultivo de suas próprias aptidões, ao estudo e a soma de conhecimentos, a fim de ganhar a autoconfiança para realizar seus ideais.

Com frases como “uma parte de todos os seus ganhos pertence exclusivamente a você”, “é melhor uma pequena cautela do que um grande remorso”, “não temos condições de ficar sem uma proteção dequada”, entre outras tão relevantes, os ensinamentos sobre gestão financeira pessoal vão sendo transmitidos suavemente e nos convidam a uma profunda reflexão sobre como gerimos nossas vidas.

Para os endividados, destaco dois capítulos que descrevem a dinâmica de como colocar as dívidas em ordem e como se prevenir para não entrar no caótico quadro de um endividamento perpétuo: “O negociante de camelos da Babilônia” e “As tabuinhas de argila da Babilônia”. A moral dessas duas parábolas é: “onde há determinação, o caminho pode ser encontrado”. Mais do que um simples capítulo de um livro de autoajuda financeira, a parábola apresenta uma excelente estratégia para renegociação de dívidas.

No intuito de não reproduzirem o cenário do qual não lhes é satisfatório, recomendo a todos os adolescentes a leitura dessas parábolas bem estruturadas, especialmente àqueles que reconhecem a possibilidade de um futuro diferente do passado ao qual foram involuntariamente inseridos.



1 A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) é um conjunto de informações apuradas mensalmente, desde janeiro de 2010, pela CNC.