Fragrâncias

Edicao Atual - Fragrâncias

Editorial

Não existe plano B

Sofremos os impactos das mudanças climáticas, que aumentam em quantidade e intensidade, com graves consequências sociais e econômicas. Segundo o Índice de Resiliência à Mudança Climática desenvolvido pelo Economist Intelligence Unit, da revista The Economist, o PIB global poderá ser 3% menor até 2050 pela falta de resiliência climática.

Alterações no regime de chuvas, secas e ondas de calor atípicas prejudicam a produção agrícola e provocam escassez hídrica. No Brasil, a dependência das hidrelétricas para geração de energia é de aproximadamente 65%. Há 20 anos, a escassez de chuvas acarretou apagões e racionamento de energia no país, que hoje vive a maior crise hídrica em 90 anos.

O Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU relaciona a falta de chuvas (no Brasil e no mundo), ao aquecimento global – este, por sua vez, tem no desmatamento um componente importante. Vale acrescentar que a devastação da Amazônia prejudica a formação dos canais de umidade que viajam na alta atmosfera até o Centro-Sul, proporcionando chuvas abundantes.

Esse panorama demonstra o peso das políticas de gestão ambiental e como avanços e retrocessos impactam a qualidade de vida da população. Causamos mudanças irreversíveis no planeta, mas, como alertam especialistas, ainda há tempo de reverter esse quadro, com ações de curto, médio e longo prazos.

Esta edição da Cosmetics & Toiletries Brasil apresenta a diversifi cada trajetória de Liane Bender, profi ssional com mais de 30 anos de atuação no setor

Os artigos técnicos abordam fragrâncias e proteção solar, dois temas que a cada dia ganham mais importância como diferenciais de produtos no mercado de cosméticos.

 

Hamilton dos Santos
Publishe 

 

Fragrâncias em Cosméticos - Mariana Beny (Editora da plataforma Cosmetoguia, São Paulo SP, Brasil)

O presente artigo se propôs a fazer uma resenha sobre fragrâncias em cosméticos, sua evolução através da história e outros aspectos considerados básicos e relevantes, contando ainda com um glossário de termos usados em perfumaria.

Ese artículo propone hacer un repaso de las fragancias en cosmética, su evolución a lo largo de la história, y otros aspectos considerados básicos y relevantes, además de incluir un glosario de términos utilizados en perfumería.

This article proposes to make an overview of fragrances in cosmetics, their evolution through history, and other aspects considered basic and relevant, also featuring a glossary of terms used in perfumery.


Comprar

Notas sobre Proteção solar - Hamilton dos Santos (Editor de Cosmetics & Toiletries Brasil, São Paulo SP, Brasil)

Neste artigo são feitas referências à nova metodologia para determinar o fototipo da pele e o status do desenvolvimento dos métodos alternativos para determinar o fator de proteção solar. Adicionalmente, são mencionadas algumas pesquisas recentemente publicadas sobre proteção solar.

En este artículo se hace referencia a la nueva metodologia para la determinación del fototipo cutâneo y al estado de desarrollo de métodos alternativos para la determinación del factor de protección solar. Además, se mencionan algunas investigaciones recientemente publicadas sobre protección solar.

In this article, references are made to the new methodology for determining skin phototype and the status of development of alternative methods for determining the sun protection factor. Additionally, some recently published research on sun protection is
mentioned.

Comprar

O Cambuci e seu Potencial na Produção de Cosméticos - A Menezes Cunha, B dos Santos Coimbra, V Akemi Hirakawa, MR Manhani, VA Soares (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo - IFSP, Campus Suzano, Suzano SP, Brasil)

Este artigo visa apresentar as principais propriedades físico-químicas do cambuci, árvore frutífera nativa da Mata Atlântica, e seu potencial de aplicação como matéria-prima em formulações cosméticas.

Este artículo tiene como objetivo presentar las principales propiedades físicas y químicas del cambuci, una planta frutal originaria de la Mata Atlántica, y su potencial de aplicación como materia prima en formulaciones cosméticas.

This article aims to present the main physical and chemical properties of cambuci tree, a fruit native tree to the Atlantic Forest, and its potential for application as a raw ingredient in cosmetic formulations.

Comprar

Clean Beauty: Toxicidade em Formulações Cosméticas - Cíntia Baradel (Química Anastácio, São Paulo SP, Brasil)

A preocupação com a saúde e com o aumento de doenças como câncer, alergias e intolerâncias fomentou a busca por produtos seguros e criou-se o "movimento" Beleza Limpa ou Clean Beauty. Nesse movimento é avaliada a relação positiva promovida pelo uso de um produto de beleza versus seus impactos na saúde como indivíduo e, enquanto comunidade, é reforçado o apelo para a retirada de produtos com alto potencial tóxico que possam vir a comprometer o meio ambiente e a saúde do consumidor, bem como a imagem e, consequentemente, a sustentabilidade econômica da empresa.

La preocupación por la salud y el aumento de enfermedades como el cáncer, las alergias y las intolerancias, fomentó la búsqueda de productos seguros y se creó el "Movimiento Belleza Limpia" o "Belleza Limpia", en el que se establece la relación positiva con el uso de un producto. evaluados. de la belleza x sus impactos en la salud como individuo y como comunidad, reforzando la remoción de productos con alto potencial tóxico que puedan comprometer el medio ambiente, la salud del consumidor, así como la sustentabilidad de las empresas dentro del equilibrio de la economía.

The concern with health and the increase in diseases such as cancer, allergies and intolerances, fostered the search for safe products and the "Clean Beauty" or Clean Beauty "movement" was created, in which the positive relationship with the use of a product is evaluated. of beauty x its impacts on health as an individual and as a community, reinforcing the removal of products with high toxic potential that could compromise the environment, consumer health, as well as the sustainability of companies

Comprar

Aspectos Práticos da Regulamentação dos Produtos Cosméticos na UE - Parte 2 - Marta Costa e Carlos Maurício Barbosa (Laboratório de Tecnologia Farmacêutica, Departamento de Ciências do Medicamento, Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, Porto, Portugal)

Os produtos cosméticos devem ser seguros em condições de utilização normais ou razoavelmente previsíveis, sendo importante que a legislação garanta elevado nível de proteção da saúde humana. No presente artigo, discute-se o enquadramento legal dos cosméticos em vigor na União Europeia, no que diz respeito à sua composição, fabricação e colocação no mercado, e às ações pós-comercialização.

Los productos cosméticos deben ser seguros en condiciones de uso normales o razonablemente previsibles, por lo que es importante que la legislación garantice un alto nivel de protección de la salud humana. En el presente artículo se discute el marco legal vigente de los cosméticos en la Unión Europea, específi camente en lo que respecta a su composición, fabricación, comercialización y acciones de post-comercialización.

Cosmetic products should be safe under normal or reasonably foreseeable conditions of use, and it is therefore important that the legislation guarantees a high level of protection of human health. In the present article, we discuss the legal framework for cosmetics in the European Union, namely with regard to composition, manufacture, placing on the market and post-marketing actions.

Comprar

Dez Etapas-chave para o Desenvolvimento de um Cosmético - Mônica Machuca (Consultora, São Bernardo do Campo SP, Brasil)

O desenvolvimento de um produto cosmético é um processo complexo. Neste artigo, a autora sumarizou esse processo em dez etapas e descreve com detalhes cada uma dessas etapas.

El desarrollo de un produto cosmético es un processo complejo. En este artículo, el autor resume este processo en diez pasos y describe cada paso en detalle.

The development of a cosmetics product is a complex process. In this article, the author has summarized this process in ten steps and she describes each step in detail.

Comprar
John Jimenez
Tendências por John Jimenez

Intimate beauty

Recentemente, li um artigo em uma revista que me inspirou a escrever esta coluna. Uma mulher comentou que, com a idade, a área íntima perde firmeza e, portanto, a incontinência começa ao rir ou ficar com medo. Que insight pode ser a chave na experiência dessa mulher?

Lembremos que os insights são necessidades e desejos ocultos do consumidor, que, quando revelados, representam grandes oportunidades de inovação. Nesse caso, podemos pensar que uma oportunidade para a indústria cosmética é ajudar a recuperar a firmeza nessa área, para que as pessoas possam voltar a desfrutar de suas emoções sem se preocupar.

Os produtos cosméticos para a área genital e cuidados íntimos estão em alta. O objetivo dos cosméticos íntimos é limpar, perfumar, corrigir odores, proteger e manter essa área em bom estado, em todas as pessoas, sem especificidade de gênero.

A formulação de produtos nesta categoria requer um alto conhecimento técnico, visto que devem ser consideradas as características fisiológicas da pele desta área, a permeabilidade epitelial, a alta irrigação, a flora microbiana e a fricção nesta parte do corpo. Portanto, os padrões de segurança são específicos para esses produtos.

Se nos referirmos apenas à categoria de cuidados íntimos femininos, vemos novas propostas muito interessantes em limpadores, lenços umedecidos e produtos hidratantes íntimos que podem incluir cremes, óleos, sérum, loções, bálsamos e lubrificantes, além de sérum vulvar, protetores labiais e tinturas para pelos pubianos. Na categoria de nutracêuticos, também estamos vendo inovações relacionadas a produtos que promovem a saúde vaginal. O mercado de cuidados íntimos femininos valia US$ 1,24 bilhão em 2020 e tem um crescimento acumulado projetado de 3,4% até 2025.

- Inclusive underwear: recentemente, no Brasil, Pantys lançou sua primeira coleção de roupas íntimas transgênero e não binárias para garantir a inclusão do período para todas as pessoas que menstruam.

- New opportunities: cosméticos com ação rejuvenescedora que protegem contra a perda de firmeza, tecnologias tradicionais no tratamento facial para o tratamento íntimo, como ácido hialurônico, bisabolol, pantenol e ácido lático. Produtos para tratar alterações de pigmentação causadas pela idade e depilações frequentes, desodorantes íntimos, sabonetes íntimos com mecanismos especializados e névoa íntima.

- Vajacial: este termo vem das palavras facial e vaginal. Refere-se a tratamentos de beleza para a área íntima com o objetivo de hidratar, firmar e melhorar a sua pele.

- Mojo: estamos vendo um boom de produtos como hidratantes, depiladores, desodorantes e perfumes para o cuidado da área íntima masculina. Vemos conceitos muito interessantes, como o Mojo, que é o primeiro tratamento condicionador perfumado para a pele do pênis.

- A nova virilidade: existem marcas de nicho que se especializam no desenvolvimento de desodorantes e loções específicas para após a depilação íntima. Também vemos novos aparelhos de barbear que prometem menos sensibilidade e mais facilidade de uso no chuveiro.

- Facial care inspired: trate a área íntima como a pele do rosto. Em um relatório recente, a Mintel indica que os benefícios inspirados no rosto, como clareamento, antienvelhecimento, firmeza e hidratação agregam valor e diferenciação para novos conceitos de tratamento íntimo. Também menciona que o CBD, vitamina C, prebióticos e probióticos são ingredientes de tendência para essa área.

- Microbiome friendly: esta é uma das áreas com grandes oportunidades em cosméticos íntimos. Nos próximos meses, veremos novas pesquisas sobre formulações com ingredientes amigáveis ao microbioma. Veremos também novas tecnologias voltadas para a manutenção saudável da biota da área íntima nas próximas feiras.

- Copos menstruais: a diversidade de copos menstruais está em alta. São muito interessantes porque não geram aumento de temperatura e umidade na região e seus materiais também ajudam a cuidar do planeta.

- Clothing microbiome: este ano, vimos alguns estudos científicos muito interessantes sobre o efeito do microbioma da roupa na saúde da pele. Este é um fator que começa a ter interesse científico, uma vez que o microbioma da roupa íntima tem efeito sobre o bom estado da pele da região íntima.

- OMV!: recentemente uma marca lançou o Bikini Soothing Serum, que foi especialmente formulado para reduzir a coceira, o ressecamento e a irritação na região do biquíni e na área íntima.

- Groin care: a virilha começa a merecer atenção especial para marcas especializadas em higiene masculina. As estatísticas indicam que três em cada quatro homens reclamam pelo menos uma vez por ano de coceira e desconforto na região da virilha. Essa tendência está crescendo porque a depilação íntima está se tornando mais comum em homens de diferentes idades.

Intimate Beauty... a pandemia está nos ensinando que podemos ter mais tempo para cuidar adequadamente de nossa área íntima. Sem dúvida, esta categoria representa uma grande oportunidade de inovação para a indústria cosmética.

Carlos Alberto Pacheco
Mercado por Carlos Alberto Pacheco

De olho na balança

No caso, eu me refiro à balança comercial. Entre outros indicadores econômicos, como o PIB e o câmbio comercial, também é com ela que se avalia a saúde econômica de um país. O saldo da balança comercial é a diferença entre as exportações e importações de produtos e serviços que um país realiza em um período específico. Diz-se que ela está com superávit quando o saldo das exportações no período determinado é maior que o das importações. O contrário se configura como um déficit. Em situações de equilíbrio, denomina-se equilíbrio comercial.

A quantas anda esse indicador? Vejamos mais de perto para evitarmos as armadilhas que os números puros, sem explicação, podem nos armar.

A balança comercial no mês de julho/21 encerrou com superávit (US$ 7,4 bilhões). No entanto, esse número foi menor do que o do mês anterior (junho/21) – US$ 10,4 bilhões (29,2% a menos). Quando comparado com o mesmo mês do ano anterior (junho/20), também apresenta um desempenho menor na ordem de 2,8% (US$ 7,6 bilhões).

Porém, a economia tem uma particularidade chamada sazonalidade, que faz com que os meses ao longo do ano não apresentem o mesmo desempenho. Portanto, vamos estender o período de análise e refazer o mesmo caminho de comparação. Consideremos o ano de 2021 (janeiro a julho). Nesse período, a balança comercial encerrou positiva com robustos US$ 44,4 bilhões, com crescimento de 48,4% quando comparado com o mesmo período do ano anterior.

Isso é algo bom? Antes de responder à pergunta, temos que abrir um pouco mais os números. Primeiro temos que analisar o movimento das exportações e importações individualmente. Em 2021, as exportações cresceram 34,6% em relação ao mesmo período do ano anterior; e as importações, 30%. Em outras palavras, passamos de fato a exportar mais do que importar. Isso pode significar, entre outras coisas, que estamos exportando mais produtos/serviços em relação ao ano anterior em virtude de um aquecimento das economias externas, ou que não estamos importando tanto em consequência de uma diminuição da produção interna. Tendo como parâmetro o percentual nacional da utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, responsável por 51,2% da receita das exportações, nota-se no mesmo período que houve um aumento da produção interna em 6,9 pontos percentuais, o que indica que a primeira opção anterior se justifica.

Além dos valores percentuais, é sempre bom avaliarmos sobre qual base ele é aplicado, pois 1% de mil dólares é diferente do mesmo percentual sobre um bilhão. Para isso, consideramos a corrente de comércio (soma do faturamento das exportações com as importações). Dessa forma, em termos de faturamento, no período de janeiro a junho de 2021, comparado com o mesmo período do ano anterior, houve um incremento de US$ 68,6 bilhões (corrente comercial em 2021: US$ 278,9; 2020: US$ 210,3) – um aumento de 32,6%, o que é bem positivo. No entanto, não podemos esquecer que estamos comparando o período atual de recuperação econômica com um período anterior fortemente contaminado pelos problemas da pandemia. Quando comparado com o ano de 2019 (corrente comercial de US$ 235,2 bilhões), o percentual de crescimento se reduz a 18,6%.

Outra variável importante para analisar é o valor agregado do que se exporta e importa. As nossas exportações são fortemente constituídas de produtos classificados como indústria de transformação – 48,5% do total (tendo como principais produtos os de processamento e conservação de carne - 7% do total). Do lado das importações, 90,5% do total dos produtos também são os classificados como indústria de transformação, tendo como principais os de fabricação de produtos químicos básicos, fertilizantes e compostos nitrogenados, plásticos e borracha sintética em formas primárias - 16,6%, que são de maior valor agregado. Isso já não é algo muito bom.

Com esses três conceitos em mente – balança comercial, corrente comercial e composição dos produtos comercializados –, a avaliação da cara da nossa economia fica mais apurada, clara.

Gestão em P&D por Wallace Magalhães

O desenvolvimento do Desenvolvimento

O desenvolvimento de qualquer atividade é o resultado natural de sua evolução tecnológica. Este fenômeno atinge a todos, e a consequência é que as pessoas mudam, o mercado muda, e mudam também as exigências para se obter sucesso neste novo ambiente. Em HPPC, este processo passa obrigatoriamente pelo P&D, obrigando-o a uma constante atualização. E, para que este realinhamento possa acontecer, existem dois fatores decisivos. O primeiro é como o P&D é visto pelos outros setores da empresa, principalmente pelos gestores. Muitas vezes, sua importância nos resultados do negócio não é reconhecida, e isso reduz os investimentos no setor, seja em aquisições ou até mesmo na viabilização de condições de aprimoramento dos protocolos existentes. O segundo é como o próprio P&D se enxerga. Se internamente ele se enxergar como uma bancada de produção de amostras, estará cometendo um enorme equívoco e reduzindo seu valor, diminuindo ou até eliminando as possibilidades de sucesso do novo produto. Para viabilizar essa atualização constante, o trabalho de desenvolvimento deve adotar uma forma padronizada de operar, observando com muita atenção alguns passos decisivos.

Realize uma pesquisa bem planejada antes de montar uma formulação: se além de buscar informação sobre ativos e formulações houver uma revisão da fisiologia do substrato do novo produto, sua condição de fazer uma análise crítica das informações obtidas aumenta substancialmente, criando as condições de se chegar a uma composição bem mais efetiva. Isso aumenta as chances de se criar um produto competitivo.

Entenda os cálculos de formação de custo e preço: depois de montar a composição, antes mesmo de redigir o modo de preparação e as especificações, você deve verificar se o custo está adequado ao projeto, para não perder tempo com formulações de custo inadequado, o que, aliás, ainda hoje é muito comum. Cuidado com a tal da “margem de segurança”, que, se for mal estabelecida, acaba elevando artificialmente custos dos insumos. Procure conhecer a disponibilidade e a estabilidade dos preços dos insumos que serão utilizados. Você pode obter esta informação com os fornecedores. Se você usar ao máximo da possibilidade de custo, possivelmente terá um produto de melhor desempenho.

Leia as fichas técnicas dos ingredientes e verifique as listas restritivas: antes de “bater o martelo” para a composição e também para determinar o modo de preparação e as especificações para completar a formulação, consulte as listas restritivas e, se as concentrações estiverem de acordo com elas, consulte a literatura dos ingredientes. Não se deixe enganar com os ingredientes que você usa sempre. O exemplo clássico é o do álcool cetoestearílico. Muita gente não lê sua ficha técnica e se esquece da importância da temperatura de fusão para determinar as temperaturas de processo e, principalmente, os cuidados da etapa de resfriamento, para evitar a formação de grumos.

Atualize seus protocolos: desenvolva protocolos para a avaliação de formulações e promova uma revisão sistemática dos métodos existentes. Há métodos muito simples que fornecem informações preciosas, como é o caso da verificação de hidrofilia de um fio de cabelo com a técnica da gota de água. Analise produtos do mercado e compare os resultados com os obtidos na avaliação das formulações em desenvolvimento.

Mantenha os dados atualizados: mantenha os dados referentes a ingredientes e formulações organizados e atualizados. E não caia na tentação de utilizar ingredientes se pelo menos os dados essenciais, como composição INCI Name e especificações, não estiverem disponíveis.

Compreenda o objetivo final do P&D: o objetivo final é gerar tecnologia e informações que permitam regularizar e fabricar produtos de acordo com as normas e com a ciência e com nível de qualidade adequado. Amostras são só parte do trabalho.

Se o P&D não estiver ciente de seu papel e sua importância, pode até desenvolver algumas formulações, mas estará longe de ser um setor desenvolvido.

Valcinir Bedin
Tricologia por Valcinir Bedin

Danos aos cabelos causados pela radiação UV

Semelhante ao restante da pele, o cabelo está exposto a fatores ambientais nocivos. Embora a radiação ultravioleta (UVR) e o fumo sejam bem conhecidos como os principais fatores que contribuem para o envelhecimento extrínseco da pele, seus efeitos na condição do cabelo só recentemente atraíram a atenção da comunidade médica. A UVR solar terrestre varia de aproximadamente 290 a 400 nm; a UV-B (290-315 nm) atinge apenas a derme superior, enquanto a penetração da UV-A (315-400 nm) na derme aumenta com o comprimento de onda. Os dois efeitos crônicos mais importantes da UVR na pele e no couro cabeludo calvo são fotocarcinogênese e elastose solar; no entanto, os efeitos da UVR no cabelo foram amplamente ignorados.

Como consequência do aumento do tempo de lazer e da crescente popularidade das atividades ao ar livre e das férias ao sol, a consciência da proteção solar da pele tornou-se importante e deve se aplicar também aos cabelos. Além de ser a causa mais evitável de morbidade cardiovascular e pulmonar significativa e uma importante causa de morte, a associação do tabagismo com vários efeitos adversos na pele e no cabelo também foi reconhecida. Aumentar a conscientização pública sobre a associação entre tabagismo e queda de cabelo parece oferecer uma boa oportunidade para a prevenção ou cessação do tabagismo, uma vez que a aparência do cabelo desempenha um papel importante na aparência física geral e na autopercepção das pessoas. Por fim, a quantidade e a qualidade do cabelo estão intimamente relacionadas ao estado nutricional de um indivíduo. O suprimento, a absorção e o transporte normal de proteínas, calorias, oligoelementos e vitaminas são de fundamental importância em tecidos com alta atividade biossintética, como o folículo piloso. A menos que o cabelo seja prejudicado devido à deficiência nutricional, os nutrientes podem fazer muito para aumentar o tamanho dos fios individuais, porque a espessura do cabelo é amplamente genética. No entanto, existem fatores externos que influenciam a saúde do cabelo a tal ponto, que os micronutrientes podem impulsionar o cabelo que sofre desses problemas.

Apesar de não ter nenhuma função vital na espécie humana, o cabelo é muito importante para a nossa autoconfiança, bem como uma parte muito importante da aparência e do autoconceito. Há estudos mostrando que problemas capilares funcionam como item negativo na convivência humana. A parte externa do cabelo, uma estrutura de fibra de queratina chamada de haste capilar, é sensível aos efeitos externos, sejam eles mecânicos, físicos ou químicos. A exposição excessiva ao sol é a causa mais frequente de comprometimento estrutural da haste do cabelo. O comprometimento fotoquímico do cabelo inclui degradação e perda de proteínas capilares, bem como degradação do pigmento capilar. A degradação da proteína do cabelo é induzida por comprimentos de onda de 254-400 nm. A radiação UVB é responsável pela perda de proteína do cabelo, e a radiação UVA é responsável pelas mudanças de cor. A absorção da radiação nos aminoácidos fotossensíveis do cabelo e sua degradação fotoquímica produzem radicais livres. Eles têm impacto adverso nas proteínas do cabelo, especialmente na queratina. A melanina pode imobilizar parcialmente os radicais livres e bloquear sua entrada na matriz de queratina. Ele também absorve e filtra as radiações UV adversas. Portanto, a melanina é importante para a proteção direta e indireta das proteínas do cabelo. Proteger a cutícula é muito importante para manter a integridade da haste do cabelo. Isso pode ser alcançado evitando impactos nocivos ou implementando produtos para o cabelo com filtros UV.

Os efeitos negativos da radiação solar (comprimentos de onda ultravioleta, visível e infravermelho) se manifestam em vários aspectos do cabelo, como cor, força, brilho, teor de proteína e rugosidade da superfície, entre outros. Apesar de saber que a radiação danifica os cabelos, não há consenso sobre o efeito de cada segmento da radiação solar na haste capilar. Os produtos de fotoproteção capilar são direcionados principalmente para cabelos tingidos. Geralmente, são à base de silicones, antioxidantes e filtros UV químicos quaternários, que possuem maior afinidade com a superfície capilar carregada negativamente e apresentam maior eficácia. Infelizmente, não existem parâmetros regulamentados, como a fotoproteção da pele, para avaliação da eficácia dos produtos para os cabelos, o que impossibilita a comparação com os resultados publicados na literatura. Assim, é importante que os pesquisadores se esforcem para aplicar condições experimentais semelhantes a um nível real de exposição ao Sol, como dose, irradiância, tempo, temperatura e umidade relativa.

É muito importante estimular a produção de trabalhos científicos nesta área, especialmente em centros acadêmicos que sejam imparciais, para que a confiabilidade dos dados não seja questionada.

Olivier Fabre
Fragrâncias por Olivier Fabre

Óleos essenciais no Brasil

O Brasil é o maior exportador do mundo de óleos essenciais em volume e o terceiro em valor.

Por que o país é só o terceiro ator mundial em valor Essencialmente por ser exportador quase que exclusivamente de essência de laranja, um “subproduto” da indústria de sucos de laranja e outro produto no qual o Brasil é líder mundial. Mais de 90% das exportações são dessa essência cítrica. Coloco a palavra subproduto entre aspas porque é assim que é definida a essência de citrinos, quase de forma depreciativa. É certo que essa categoria de essências tem um nível de preço que está entre os menores da categoria de produtos e que essas essências são usadas principalmente em produto de limpeza (detergentes, limpadores lava-louças, etc.) Mas não unicamente: elas também são usadas na perfumaria fina, em colônias, como os outros cítricos, limão, lima, mandarina etc. Porém existe uma exceção: a essência de bergamota. Extraída de um cítrico híbrido, o preço da bergamota é mais alto, por duas razões: sua raridade e seu uso, que ocorre quase exclusivamente em fragrâncias da perfumaria fina. O Brasil também exporta a essência de bergamota, mas em quantidade pouca expressiva.

Outro óleo essencial comercializado pelo Brasil é a essência de eucalipto, cujo preço está entre os menores dos óleos essenciais. E os tipos de produtos em que essa essência é usada também são produtos de limpeza, com preço baixo.

Portanto, hoje a característica do mercado brasileiro é de um mercado quase “monoproduto” e que tem pouco valor agregado. No passado, o mercado brasileiro foi maior em número de óleos essenciais “nobres” exportados, como icônico óleo essencial de pau-rosa, que entra na composição do Chanel 5. O Brasil continua sendo o maior e único exportador desse óleo essencial. Porém, depois de atingir um pico na exportação do óleo essencial de pau-rosa, nos anos 1960, hoje a produção é diminuta devido à escassez de árvores na Floresta Amazônica e ao uso crescente do linalol sintético pela indústria da perfumaria, principal componente do óleo essencial de pau-rosa. No passado, o Brasil também foi líder mundial de óleo essencial de menta e de óleo essencial de sassafrás. Esse último óleo essencial, além de ser usado em perfumaria, é um importante agente para uso em inseticidas à base de piretroides. Nesses dois casos, a concorrência com o Brasil, primeiro do Paraguai (que se beneficiou do esgotamento das terras de plantio de menta do lado brasileiro!) e posteriormente da Índia, em relação à menta, e da China, em relação ao óleo essencial de sassafrás, fez com que hoje o Brasil se tornasse importador desses óleos essenciais.

O panorama atual do mercado mundial de óleos essenciais é positivo, com crescimento anual na casa dos dois dígitos. Isso se deve a diversas razões.

Primeiro, esse crescimento se deve à tendência, que se confirma a cada dia, da preferência por produtos de origem natural, mas natural mesmo: as essências e os óleos essencias são produtos naturais por excelência.

Segundo, o crescimento desse mercado também se deve ao fato de que uma parte signifi cativa do mercado de óleos essenciais vai para a aromaterapia, outro setor da indústria que está em forte crescimento, particularmente desde quando surgiu a pandemia de Covid. Esse setor cresceu 6% no ano de 2020, no Brasil. E, finalmente, o crescimento do mercado mundial de óleos essenciais se deve ao crescimento rápido da perfumaria de “niche”, que, particularmente desde 2019, é um grande consumidor de óleos essenciais, sobretudo dos óleos essenciais “nobres”, que têm alto valor agregado.

Nesse contexto, o Brasil tem todo interesse em investir nessa indústria, para captar outras fatias desse mercado, que é rentável e está em forte crescimento. Isso precisa de investimento, pesquisa e tempo.

O Brasil é o país com maior diversidade genética vegetal do mundo, portanto está em uma condição privilegiada para conseguir fazer isso. Nos últimos dez anos, a indústria da perfumaria brasileira entendeu essa oportunidade e investiu no desenvolvimento sustentável de espécies vegetais e de seus óleos essenciais. Novos óleos essenciais estão sendo usados pela própria indústria da perfumaria e, em alguns casos, estão sendo comercializados.

Cristiane M Santos
Direito do Consumidor por Cristiane M Santos

Convenção de Singapura

O Brasil assinou, no último dia 4 de junho, a Convenção das Nações Unidas sobre Acordos Comerciais e Internacionais resultantes de Mediação – já conhecida como Convenção de Singapura.

Esse tratado tem por objetivo facilitar o comércio internacional, promovendo a mediação de conflitos como método alternativo e efetivo para resolver disputas de comércio internacionais – além de ser mais célere e econômico.

A Convenção não se aplica a questões consumeristas, familiares ou trabalhistas, nem para acordos formalizados por meio de sentenças judiciais ou arbitrais. Seu âmbito é a mediação nos conflitos de comércio internacional.

A importância e necessidade de se valorizar e estimular os meios consensuais de resolução de conflitos já havia sido tema dessa coluna – menciono o texto “É hora de desjudicializar”, publicado na edição Cosmetics & Toiletries Brasil, maio/junho 2020.

Conceituando, a mediação é um meio de solução de conflitos entre as partes (pessoas físicas ou jurídicas), que, com o auxílio de um terceiro imparcial e sem poder
de decisão, denominado mediador, facilita a comunicação e estimula a construção de soluções consensuais para a controvérsia.

A mediação de conflitos está prevista em nosso ordenamento jurídico, sendo regulada por lei específica
(Lei 13.140/2015).

Ao aderir à Convenção de Singapura, o Brasil reconhece e legitima a mediação como uma forma de resolução de conflito no cenário do comércio internacional.

Vigente desde setembro de 2020, a Convenção confere o reconhecimento internacional dos acordos mediados, isto é, o que foi acordado na mediação, desde que não tenham sido descumpridos os requisitos procedimentais – destaco aqui os princípios de autonomia da vontade das partes, imparcialidade do mediador e confidencialidade - nem contrariado o ordenamento jurídico interno dos países envolvidos, poderá ser “cobrado” (executado) como uma sentença judicial – sem a necessidade de se instaurar um
processo judicial para comprovar a validade daquele acordo etc.

É um grande passo para o nosso tão necessário processo
de desburocratização, celeridade e para nossa imprescindível segurança jurídica no cenário internacional. Lembrando que desburocratização e segurança jurídica atraem investidores, investimentos geram empregos, renda e consumo.

Para que a Convenção de Singapura integre o ordenamentos jurídico interno brasileiro, ainda será necessária a aprovação pelo Congresso Nacional, mediante Decreto Legislativo, ratificação e promulgação pelo Presidente da República e publicação do Decreto
Presidencial.

De qualquer maneira, essa adesão reitera que o acesso à ordem jurídica justa não se limita ao sistema convencional, e a valorização e o reconhecimento dos meios consensuais de resolução de conflitos são irreversíveis.

Denise Steiner
Temas Dermatológicos por Denise Steiner

Conceitos atuais sobre fotoproteção

Proteger-se da radiação solar é fundamental para a saúde da pele. O Sol emite vários tipos de radiação, tais como UVA, UVB, luz visível e infravermelho.

Quando essas radiações penetram na pele, cada uma provoca um tipo de dano, conforme a profundidade atingida ou o tipo de mecanismo de interação com as estruturas cutâneas.

A radiação UVB chega à superfície cutânea por volta das 10 horas, persistindo até as 14 horas. Essa radiação atinge diretamente o DNA celular, sendo a maior responsável pelo câncer de pele. Essa radiação também queima a pele, deixando-a vermelha e inflamada.

A radiação UVA, que incide durante todo o dia, penetra mais profundamente e agride vasos, fibras, outras células, folículo pilossebáceo, glândulas etc., envelhecendo a pele e sendo responsável por rugas, vasos dilatados e flacidez. Sendo assim, a radiação solar tem 40% de luz visível, que, ao penetrar na pele, provoca manchas. Essa radiação escurece mais as peles mais morenas e também piora aquelas que já estão manchadas.

A radiação infravermelha esquenta a pele e promove vasodilatação, causando algumas doenças de pele.

Devemos usar filtro solar para tomar sol e também todos os dias, para evitar esse conjunto de agressões que envelhecem, mancham e causam câncer de pele.

O filtro solar deve proteger da radiação UVB e, para tanto, ele tem um fator de proteção solar, FPS. Quando no rótulo do filtro vem escrito FPS 50, significa que ele possui 50 vezes a capacidade de proteger em relação à dose eritematosa mínima da radiação ultravioleta B.

Vamos exemplificar: uma pessoa vai à praia sem qualquer filtro solar e demora 5 minutos para ficar avermelhada. O filtro solar com FPS 50 significa que ela poderá ficar 5 minutos x 50 = 250 minutos antes de ficar vermelha ou queimada. Vale lembrar que a pele, quando fica vermelha, já corre risco de câncer de pele.

O filtro também deve ter proteção em relação à radiação UVA e, então, estará escrito a palavra UVA ou PPD, que é a sigla de proteção para UVA.

Em geral, o ideal é que o filtro solar proteja de UVB, por exemplo, 60 e 1/3 para UVA, no exemplo, 20. Esse é um bom equilíbrio entre os filtros. Portanto, os filtros convencionais não protegem da luz visível. Somente filtros com pigmento protegem da luz visível. O melhor pigmento colorido para proteção é o óxido de ferro.

O filtro solar para usar no dia a dia pode ter FPS ao redor de 30 e PPD 10 e, de preferência, ter cor, principalmente para pessoas morenas e manchadas.

No tratamento do melasma, o filtro solar precisa ter cor, além de FPS e PPD altos. No caso do melasma, o filtro solar também precisa esconder a mancha.

Os filtros solares não protegem do calor da radiação infravermelha. O protetor solar pode ter agregado na sua formulação componentes como vitaminas antioxidantes (C e E), que também protegem da radiação infravermelha.

Na próxima coluna, trarei mais informações sobre as formulações dos filtros solares e também as Recomendações do Primeiro Consenso de Fotoproteção do Brasil, realizado durante a gestão 2013-2014 da Sociedade Brasileira de Dermatologia, SBD, da qual eu tive a honra de ser presidente.

Carlos Alberto Trevisan
Boas Práticas por Carlos Alberto Trevisan

Cultura organizacional e sistema da qualidade

Como é do conhecimento, uma das grandes dificuldades para introduzir uma inovação, como os princípios da qualidade por meio do sistema da qualidade, nas empresas é a chamada
cultura da organização.

Considera-se cultura da organização o conjunto de comportamentos, atitudes, atividades e processos que, com o crescimento das empresas e no decorrer do tempo, agregaram valor ao atender às necessidades que se apresentaram.

O requisito 9.1.2 da ISO 9001, que trata da satisfação do cliente, declara: “A organização deve monitorar a percepção do cliente do grau em que suas necessidades e expectativas forem atendidas. A organização deve determinar o método para obter, monitorar e analisar criticamente esta informação”.

O grande obstáculo para que seja alterada a cultura da organização reside no aspecto comportamental das pessoas, resultante de falhas de comunicação, se, de fato, a comunicação interna existir.

A relação da cultura da organização com a metodologia de sua administração é que provoca a não motivação das pessoas em aceitar as novas ações, necessárias à obtenção dos resultados desejados quando da implantação do sistema da qualidade.

Quando a cultura da organização já assimilou o conceito da qualidade, as ocorrências surgidas que podem impactar a qualidade não prosperam, pois o próprio princípio da melhoria contínua impede que ocorram os denominados “problemas imprevistos”.

Quando a cultura da qualidade está efetivamente implantada em todos os níveis da organização, o objetivo dessa cultura estará dirigido à satisfação do cliente por meio do atendimento satisfatório de suas necessidades e da superação das suas expectativas.

Vários estudos mostram que as organizações nas quais a cultura da qualidade está em constante desenvolvimento têm menores gastos comparativamente a organizações que não praticam os princípios da qualidade.

Outra característica que se nota nas organizações nas quais a cultura da qualidade está presente é a satisfação dos funcionários com suas atividades. A cultura da qualidade possibilita que estes possam assumir responsabilidades que não seriam assumidas se não houvesse essa prática.

Quando menciono a comunicação como um dos recursos mais importantes para disseminar a cultura da qualidade na organização, faço isso porque, durante todos estes anos que me dedico à atividade de implantar o sistema de gestão da qualidade em empresas, grande parte do meu trabalho foi conseguir que essas organizações melhorassem a forma de sua administração se comunicar com os funcionários. Se não conseguisse isso, não conseguiria ativar a motivação dos funcionários em participar efetivamente do processo.

Uma ferramenta que impacta bastante a alteração da cultura organizacional é comprovar a redução de gastos resultante das ações colocadas em prática. Isso eleva a motivação dos funcionários por terem participado efetivamente do processo.

Devemos sempre lembrar da premissa de que: “Quem faz qualidade são pessoas”.

Tenho certeza de que essas simples considerações servem para mostrar que a cultura da organização impacta, positiva ou negativamente, a obtenção dos resultados do sistema da qualidade, que, por consequência, é o objetivo dessa mesma organização.

Antonio Celso da Silva
Embale Certo por Antonio Celso da Silva

A embalagem e os cuidados microbiológicos

Sempre que se fala em embalagens o foco está no design, no molde, na qualidade, nos fornecedores, no dia a dia da fábrica etc.

Raramente vemos alguém abordar a preocupação microbiológica. Será que embalagem não contamina?

Vamos aqui levantar pontos de atenção e orientar caminhos para minimizar esse problema. Não que eu seja expert no assunto ou tenha formação em microbiologia, mas as quatro décadas de experiência dentro de fábrica, vivendo no detalhe o dia a dia dos problemas, me credenciam para dizer: cuidado com a contaminação nas embalagens e das embalagens.

Primeiro vamos entender que a embalagem é a primeira barreira para proteger o produto, porém ela também pode ser um meio de contaminação desse produto. É óbvio que, num primeiro momento, estamos falando das embalagens primárias, aquelas que entram em contato direto com o produto, como frascos, potes, bisnagas, tampas, válvulas, batoques, cascaseal, escovinha de máscara (rímel), bandejas de compactados etc.

Mas aí vem a pergunta: as embalagens são lavadas e higienizadas antes de entrar na linha de envase? A resposta é não. Na indústria cosmética, não existe a obrigatoriedade de fazer esse processo, embora algumas empresas até o façam. O que é preciso exigir é que as embalagens estejam devidamente limpas e livres de poeira e sujidades, principalmente partículas de papelão. Para tanto, é mandatório que essas embalagens venham em sacos plásticos transparentes, de boca para baixo e dentro da caixa de embarque. Isso, na verdade, deve fazer parte da especificação técnica e ser um ponto de controle durante a inspeção no recebimento do lote na fábrica.

É importante também ressaltar que não existe norma da Anvisa específica para controle microbiológico nas embalagens nem tampouco determinação de limites de UFC (unidades formadoras de colônias), como existe para o produto acabado e suas famílias.

Quando cito saco plástico transparente, é porque já passei pela experiência de receber um lote de cascaseal, aquele protetor que vai sob as tampas dos potes de cremes, em saco plástico preto de lixo, um belo foco de contaminação microbiológica numa embalagem primária. O lote foi obviamente reprovado antes de se iniciarem as análises dimensionais e os atributos daquela embalagem.

Os riscos de contaminação raramente acontecem durante o processo de fabricação das embalagens, principalmente as plásticas e primárias, pois elas são fabricadas sob altas temperaturas, seja pelo processo de sopro ou por injeção. Esses riscos começam a acontecer a partir do momento em que saem das respectivas extrusoras ou injetoras e vão para as áreas de decoração, colocação em caixas e armazenamento temporário para serem enviadas aos clientes. As condições de estocagem, o adequado fechamento das caixas e principalmente a limpeza e a obediência às boas práticas de fabricação e controle (GMP) no almoxarifado de embalagens.

Os riscos de contaminação também acontecem no recebimento e na amostragem do lote na fábrica. O não uso de EPIs adequados pelo amostrador, área de amostragem aberta, o retorno às caixas das embalagens amostradas e inspecionadas por atributos e o devido fechamento das caixas amostradas são também pontos de atenção para evitar contaminação microbiológica nas embalagens.

Na linha de envase, também existem pontos que requerem atenção. A começar por não levar as caixas de papelão contendo as embalagens para dentro da área de envase, o uso dos EPIs adequados e, principalmente, não colocar mãos e dedos dentro das embalagens para posicioná-las na linha de envase, mesmo que de luva - da mesma forma, o retorno de saldos de embalagens da linha para o almoxarifado e os cuidados com a recolocação de boca para baixo nos plásticos dentro das caixas e devidamente fechados.

Importante ressaltar que os cuidados com contaminação física cruzada se confundem com os cuidados microbiológicos, mas um leva ao outro.

Também é importante destacar que diferente do laboratório químico, o microbiológico não é obrigatório nas empresas - ele pode ser terceirizado. É claro que essa é uma decisão da empresa, considerando que isso atrasa os já demorados testes microbiológicos.

Para finalizar, informar que alguns fabricantes de embalagens plásticas já começam a utilizar recursos para minimizar a contaminação microbiológica das embalagens e também os produtos nessas embalagens primárias. Trata-se do uso de íons prata (Ag+). Isso ainda está muito pouco divulgado, por estar em fase de testes, mas creio que será uma tendência muito em breve.

São vários os pontos que requerem cuidados para evitar a contaminação microbiológica nas embalagens, mas o objetivo aqui é acender uma luz amarela e redobrar a atenção para as nossas tão esquecidas embalagens na fábrica.

Novos Produtos