Sustentabilidade

Edicao Atual - Sustentabilidade

Editorial

Coragem e superação

São muitas as analogias entre o esporte e a vida. Todas elas tornaram-se ainda mais significativas nesse momento. A palavra “juntos” foi acrescentada ao lema olímpico “mais rápido, mais alto, mais forte” na abertura desta edição atípica das Olimpíadas, que acontecem com um ano de atraso, em um cenário desafiador.

Entre controvérsias, mensagens de esperança e competições quase sem público, a Olimpíada de Tóquio é um retrato impactante do nosso tempo. Um recorte que mostra a resiliência e a capacidade humana de seguir adiante. Centros de treinamentos fechados e competições canceladas dificultaram a preparação dos atletas, afetando o equilíbrio entre corpo e mente. 

O atual debate sobre saúde mental ganhou projeção durante as competições. A decisão da ginasta Simone Biles de abandonar algumas das provas surpreendeu o mundo, expôs uma batalha pessoal e dividiu opiniões. O episódio deu maior visibilidade ao tema e à importância de reconhecer (e respeitar) limites e vulnerabilidades - dentro e fora do esporte.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o Brasil é o país mais ansioso do mundo. São quase 20 milhões de brasileiros que sofrem de ansiedade, o que abrange transtornos como estresse pós-traumático e crises de pânico.

Esta edição da Cosmetics & Toiletries Brasil traz a trajetória de Sergio Fernandes, profi ssional com mais de quatro décadas de atuação no setor.

Os artigos técnicos abordam, entre outros, o tema da sustentabilidade, uma palavras-chave para o futuro da humanidade. Coincidentemente, nesta edição iniciamos a publicação da coluna Sustentabilidade em Cosméticos, para a qual passaremos a contar com a colaboração da profa. Joana Marto, membro do grupo de pesquisa do tema, da Universidade de Lisboa, Portugal.

Hamilton dos Santos
Publisher

A Indústria de Cosméticos e a Sustentabilidade - J Jorge, S Bom, HM Ribeiro, J Marto (Faculdade de Farmácia, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal)

As empresas de cosméticos a cada dia estão mais conscientes do impacto que seus produtos e suas práticas têm no meio ambiente e na sociedade. Neste artigo são abordados os objetivos que as empresas devem mirar para garantir a fabricação de produtos funcionais com ingredientes de origem sustentável, processos e embalagens ecológicas e comunicando as práticas de uso e de descarte corretas aos consumidores.

Las empresas de cosméticos son cada vez más conscientes del impacto que tienen sus productos y prácticas en el medio ambiente y la sociedad. Este artículo aborda los objectivos que deben perseguir las empresas para asegurar la fabricación de productos funcionales con ingredientes de origen sostenible, processos y envases ecológicos, y comunicar a los consumidores las prácticas correctas de uso y descarte.

Cosmetic companies are increasingly aware of the impact their products and practives have on the environment and society. This article addresses the objectives that companies should aim to ensure the manufacture of functional products with ingredients of sustainble origin, ecological processes and packaging, and communicating to consumers the corrects use and disposal practices.

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Maquiagem Sustentável - Rodrigo Novacoski (R Novacoski Serviços de Consultoria em Cosméticos, Curitiba PR, Brasil)

Na formulação de produtos de maquiagem sustentáveis deve se focar no uso de ingredientes de fontes renováveis e/ou verdes e seguras. É necessário conhecer a química dos ingredientes naturais e o potencial alergênico associado a eles.

En la formulación de maquillajes sostenibles, el foco debe ser el uso de ingredientes de fuentes renovables y/o verdes y seguros. Es necessário conocer la química de los ingredientes naturales y el potencial alergénico asociado a ellos.

In the formulation of sustainable make-up, the focus must be the use of ingredents from renewable sources and/or green and safe. It is necessary to know the chemical action of natural ingredients and the allergenic potential associated with them.

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Bioativos do Pepino no Cuidado com a Região dos Olhos - MM dos Santos, MB Berlim, NCC da Silva, SF Hengeltraub, CRA Malafaia, DW Barreto (Assessa, Rio de Janeiro RJ, Brasil)

O cuidado cosmético da pele na prevenção dos sinais do envelhecimento na área dos olhos pode ser realizado através do uso de diversos ingredientes ativos, como retinóides, antioxidantes, extratos de chá verde, entre outros. Dentre os ingredientes
naturais usados para o cuidado da área dos olhos, o pepino (Cucumis sativus L.) também é muito conhecido, mas relativamente pouco estudado, o que indica a existência de um grande potencial cosmético ainda a ser descoberto.

El cuidado cosmético de la piel para prevenir los signos del envejecimiento en la zona de los ojos se puede realizar mediante el uso de varios principios activos, como retinoides, antioxidantes, extractos de té verde, entre otros. Entre los ingredientes
naturales más conocidos utilizados para el cuidado de la zona de los ojos, el pepino (Cucumis sativus L.) también es bien conocido pero relativamente poco estudiado, lo que indica la existencia de un gran potencial cosmético aún por descubrir.

Cosmetic skin care treatments to prevent signs of aging in the eye area can be carried through the use of several active ingredients, such as retinoids, antioxidants, green tea extracts, and others. Among the natural ingredients used to care for the eye area,
cucumber (Cucumis sativus L.) is very popular, but relatively unknown to the science, which indicates a great cosmetic potential yet to be discovered.

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Benefícios Cutâneos do Extrato da Goma da Acácia senegal - CT Fabbron-Appas, MB Matioli Oliveira Lima, GM Castellani Pinto (AQIA Química Inovativa Ltda., Guarulhos SP, Brasil)

O objetivo deste artigo foi demonstrar os benefícios do extrato da goma da Acácia senegal na pele. Os testes de supressão de espécies reativas de oxigênio comprovam sua eficácia na proteção da pele contra os efeitos foto-oxidativos. Além disso, o extrato da goma da Acácia senegal é capaz de promover a formação de uma barreira cutânea e atuar nas propriedades biomecânicas da pele, aumentando sua firmeza.

El objetivo de este artículo fue demostrar los beneficios del extracto de goma de Acácia senegal en la piel. Las pruebas de supresión de especies reactivas de oxígeno demuestran su eficacia para proteger la piel contra los efectos fotooxidativos. Además,
el extracto de goma de Acácia senegal es capaz de promover la formación de una barrera cutánea y actuar sobre las propiedades biomecánicas de la piel, aumentando su firmeza.

The aim of this article was to demonstrate the benefi ts of Acacia senegal gum extract on the skin. Reactive oxygen species suppression tests prove its effectiveness in protecting the skin against photooxidative effects. In addition, Acacia senegal gum extract is able to promote the formation of a skin barrier and act on the biomechanical properties of

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Aspectos Práticos da Regulamentação dos Produtos Cosméticos na UE - Parte 1 - Marta Costa e Carlos Maurício Barbosa (Laboratório de Tecnologia Farmacêutica, Departamento de Ciências do Medicamento, Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, Porto, Portugal)

Os produtos cosméticos devem ser seguros em condições de utilização normais ou razoavelmente previsíveis, sendo importante que a legislação garanta elevado nível de proteção da saúde humana. No presente artigo, discute-se o enquadramento legal dos cosméticos em vigor na União Europeia, no que diz respeito à sua composição, fabricação e colocação no mercado, e às ações pós-comercialização.

Los productos cosméticos deben ser seguros en condiciones de uso normales o razonablemente previsibles, por lo que es importante que la legislación garantice un alto nivel de protección de la salud humana. En el presente artículo se discute el marco legal vigente de los cosméticos en la Unión Europea, especificamente en lo que respecta a su composición, fabricación, comercialización y acciones de post comercialización.

Cosmetic products should be safe under normal or reasonably foreseeable conditions of use, and it is therefore important that the legislation guarantees a high level of protection of human health. In the present article, we discuss the legal framework for cosmetics in the European Union, namely with regard to composition, manufacture, placing on the market and post-marketing actions.

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Regularização de Importadores e Distribuidores de Cosméticos - B Fontes Mielgo de Carvalho, EL Machado (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT, São Paulo SP, Brasil)

Neste trabalho, o ambiente institucional brasileiro para a egularização de empresas de importação e distribuição de produtos cosméticos foi analisado. Foram levantados dados relacionados ao desenvolvimento da regulação sanitária do setor e uma análise comparativa entre os ambientes do Brasil e dos Estados Unidos para o modelo de indústria proposto.

En este trabajo se analizó el entorno institucional brasileño para regularizar las empresas importadoras y distribuidoras de productos cosméticos. Se recopilaron datos relacionados con el desarrollo de la regulación sanitaria del sector y un análisis comparativo entre los entornos de Brasil y Estados Unidos para el modelo de industria propuesto.

In this work, the Brazilian institutional environment for regularizing import and distribution companies for cosmetic products was analyzed. Data related to the development of the sector’s health regulation and a comparative analysis between the

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John Jimenez
Tendências por John Jimenez

Tendências em maskne

Ainda estamos no meio da pandemia e frequentemente nos perguntamos por que não alcançamos a imunidade de rebanho, apesar do esforço de vacinação que a maioria dos países está fazendo e do desenvolvimento e comercialização de vacinas por várias empresas que apresentam boa eficácia.

Vemos que as variantes do coronavírus representam um problema e uma realidade.

Essa realidade nos mostra que continuaremos usando a máscara por muito mais tempo, ela é nossa principal aliada para evitar a propagação do vírus. A maskne (máscara + acne) é a acne causada pelo uso da máscara e é produzida basicamente porque cria uma condição favorável para o desenvolvimento de acne, pois seu uso contínuo aumenta a desidratação e a perda transepidérmica de água (TEWL). Ela também aumenta a temperatura e a concentração de dióxido de carbono na área e reduz a concentração de oxigênio. Além disso, o atrito constante da pele com o material
cria as condições perfeitas para o desenvolvimento desse tipo de acne. A chave para prevenir e tratar a maskne é limpar o rosto com produtos suaves com mais frequência e também usar formulações hidratantes que ajudam a restaurar o equilíbrio da pele.

A seguir, veremos algumas tendências que estão surgindo no mercado em torno do fenômeno maskne.

- Maskne & Science: estamos observando o interesse de empresas em investigar mais a fundo os efeitos e as características da pele em populações de estudo que estão sujeitas ao aparecimento de maskne pelo uso normal de máscaras. Está se tornando mais claro o efeito sobre o desequilíbrio do microbioma e a integridade da barreira cutânea como principais causas de seu aparecimento.

- Maskne and K-Beauty: como sabemos, o uso prolongado da máscara facilita a obstrução dos poros por sujeira e bactérias, causando irritação, reações alérgicas, acne, linhas e manchas. Portanto, mais consumidores estão procurando incorporar uma solução para esse problema em suas rotinas diárias de cuidados com a pele. Na K-Beauty, estamos vendo como as tendências de clean beauty e cica-care começam a ser uma parte essencial dos conceitos de prevenção e tratamento da maskne.

- Multi-action soothing treatments: estamos vendo especialização em produtos desenvolvidos para aliviar os sintomas da maskne, como sprays formulados com ativos hidratantes, calmantes, esfoliantes e prebióticos.

- The maskne opportunity: estamos vendo os consumidores exigirem cada vez mais produtos que ajudem a prevenir os efeitos da maskne. Um relatório recente da Mintel indica que os homens também estão lutando contra a maskne. Globalmente, a comercialização de produtos e benefícios antimaskne está em alta há algum tempo.

- Skin-friendly face masks: estamos vendo um boom de máscaras faciais adequadas para a pele desenvolvidas sob supervisão dermatológica. Em março deste ano, foi lançada a primeira máscara facial do mundo compatível com a pele. Elas são feitas de seda hipoalergênica para reduzir a irritação e incluem uma estrutura de espuma elevada para aumentar a ventilação e limitar a umidade. As máscaras ajustáveis são ergonomicamente projetadas para que realmente reduzam o contato com a pele em mais de 50%,
ajudando a criar uma experiência mais confortável e menos sujeita a efeitos indesejáveis de cuidados com a pele.

- High-tech skin care masks: estamos vendo novas propostas de máscaras no mercado que combinam o melhor da tecnologia e da prevenção. Foi lançada em abril uma máscara que usa uma combinação de calor e luz azul para atacar a maskne e que promete promover uma pele clara e saudável, principalmente quando combinada com produtos de tratamento facial. O conceito também inclui uma peça nasal ajustável, de modo que o dispositivo de cuidados com a pele em forma de máscara possa ser adaptado a uma ampla gama de tamanhos de rosto.

- CBD & masks: cosmetotêxteis desempenham um papel importante na inovação em máscaras de proteção. Vemos, por exemplo, materiais que possuem princípios ativos antivirais que ajudam a reduzir a atividade do vírus e também materiais que possuem microcápsulas de CBD que são liberadas lentamente durante o dia para ajudar a tratar a irritação produzida pelo uso da máscara. Além disso, liberam aromas relaxantes e ativos hidratantes para criar uma nova experiência de uso do produto.

- Mask-friendly: esse é um dos principais claims que
veremos em tendência em produtos de diversas categorias, como tratamento facial e maquiagem principalmente. Estamos vendo especialização em produtos para usar antes e depois da máscara, gerando novas rotinas de tratamento facial para ajudar a reduzir os efeitos da máscara. Pre-mask e Pos-mask
são descrições interessantes que ajudam a criar a diferenciação do produto.

- Touchless and hand-free: em publicação recente, a Mintel indica que os formatos de spray sem contato são um nicho, mas se destacam por aproveitarem o maior foco na higiene e por serem mais leves e fáceis de aplicar.

- Maskne and exfoliation: o mercado está testemunhando um boom de esfoliantes suaves para o tratamento de maskne. Ácidos esfoliantes como AHA e BHA são ótimos para melhorar a textura da pele e as manchas e prevenir erupções, especialmente por causa da maskne. Também observamos a tendência de ácidos suaves, como PHA (poli-hidroxiácidos) e LHA (lipo-hidroxiácidos).

Carlos Alberto Pacheco
Mercado por Carlos Alberto Pacheco

Mercado de luxo: um ponto fora da curva

Apesar da catastrófica situação econômica em que a pandemia mergulhou todas as economias do planeta, há ainda uma ilha quase inabalada que sinaliza como um farol de oportunidades e porto seguro para quem atua nesse mercado: o mercado de luxo. O mercado de luxo abrange desde o segmento gastronômico (vinho, café, chocolate, azeite e outros) até o têxtil e seus utensílios (vestimenta, bolsas, joias, sapatos e outros), lógico, passando também pelo segmento cosmético. Esse, por sua vez, vai muito além do setor de perfumes, abrangendo também o que podemos chamar de procedimentos estéticos associados a viagens e spas.

O conceito de luxo sempre existiu, senão como atividade econômica - como se percebe no movimento organizado e profissional europeu a partir de 1987 -, pelo menos como status nas sociedades classistas que acompanham a humanidade desde seu início. Em apoio ao dito anterior, podemos mencionar o uso exclusivo de ouro, prata e joias por reis, sacerdotes e abastados homens de negócios, alijando o resto da população desses privilégios materiais - e, quando muito, restrito a alguns adereços pessoais adquiridos a muito custo e sacrifício. Na era contemporânea, decidiu-se migrar o luxo das sombras do artesanato para o mercado profissional e global, porém mantendo ainda uma das bases de sustentação desse mercado: a exclusividade. Um exemplo disso é a criação das marcas Louis Vuitton no estilo dos ovos de Fabergé.

Aqui faço uma ressalva: o mercado de luxo é mais do que simplesmente uma grande marca invejada pelo consumidor, mas sim um estilo de vida que busca a experimentação de sensações diferenciadas, superiores às obtidas no dia a dia e as mais exclusivas possíveis. Outro ponto é que nem sempre luxo é sinônimo de superioridade de produto. Na China e na América Asteca, o mercúrio era utilizado como elemento de luxo pela realeza. Ele foi empregado na confecção de túmulos e em elixires para garantir a imortalidade da alma daqueles que eram considerados divindades. Pelo fato de que o mercúrio tem a propriedade de refletir a imagem como um espelho líquido, era usado também em rituais de passagem para outros mundos. Os participantes mergulhavam as mãos em piscinas cheias de mercúrio enquanto entravam em transe pelo uso de substâncias psicotrópicas. Hoje sabemos dos efeitos nocivos do uso do mercúrio no corpo humano e no meio ambiente. No entanto, esse exemplo serve para mostrar que o exótico nem sempre é saudável, salutar ou mesmo superior. Mesmo atualmente, em um mundo engatinhando em suas visões ambientalmente sustentáveis e ecologicamente responsáveis, esse tipo de situação tende a ser rara, porém não podemos nos esquecer dos problemas que os casacos de pele de animais causaram no final do século XX.

De qualquer maneira, de uma coisa não podemos escapar: o mercado de luxo passa pelo consumo de produtos e serviços, quando não pelos dois em sinergia, e, diga-se de passagem, com preços altos. A atividade do luxo na França representa a quarta principal força do resultado do PIB. Confesso que fiquei
impressionado com esse dado, mas vale lembrar que, culturalmente, a França já milita nesse conceito há muito tempo, desde a época dos monarcas absolutistas, principalmente no seu expoente máximo, Luís XIV. Países como a própria França, a Itália, a Inglaterra e a Alemanha são ícones do luxo tradicional
e produtores das principais marcas de luxo de renome global.

Eu fico até sem jeito de falar em um assunto como esse em um país com nível de desemprego na ordem de 14,8 milhões de pessoas no 1º trimestre de 2021. 14,7 milhões de famílias no mesmo período estão recebendo o Bolsa Família (note: famílias, não pessoas, o que representa um número muito maior de pessoas afetadas) e com um PIB nos 12 meses anteriores a março de 2021 recuando em 3,8%. No entanto, a realidade é que, apesar da crise, a concentração de renda nos 1% mais ricos do país, América Latina e mundo vem aumentando e deve continuar crescendo, pois a crise não afeta igualmente a todos - atinge menos os de maior poder aquisitivo, justamente o público-alvo do mercado de luxo.

A velha máxima das aulas de marketing continua valendo: toda crise anda associada a uma ou mais oportunidades. Cabe a cada um se preparar para descobri-las e aproveitá-las, pois enquanto há quem chore, há quem venda lenços, e, neste caso, lenços de seda.

Gestão em P&D por Wallace Magalhães

Quanto tempo a indústria sobrevive sem o P&D?

Você já havia pensado nisso? Eu não sei exatamente quanto tempo e acho que ninguém sabe, mas uma coisa é certa: uma indústria ou uma marca de cosméticos não sobrevivem muito tempo sem um P&D ativo e competente. Vamos tentar entender a questão por um caminho alternativo fazendo uma comparação com outros setores. Quanto tempo uma indústria sobrevive sem a produção? Fácil. Sobrevive enquanto durar o estoque, algo que normalmente gira em torno de trinta a quarenta dias. E sem o departamento comercial? Sem vendas, a sobrevivência seria determinada pelo saldo de caixa, que, nas empresas de pequeno e médio porte, deve ser um tempo ainda mais curto que a autonomia do estoque. Já para a sobrevivência sem o P&D, não existe uma resposta clara. Nem para o seu próprio pessoal. Comparada com os setores de vendas e produção, a importância do P&D nos resultados e na continuidade da empresa não fica explícita porque não existem os vetores de urgência ou de curto prazo. E é exatamente aqui que se esconde um enorme risco de “insucesso”, jeito polido de falar “fracasso”.

Quando a importância de um setor não é devidamente percebida, a consequência é um natural desprestígio, o que normalmente acarreta em déficit de recursos, equipamentos inadequados e falta de pessoal, o que comprometeria, por exemplo, a possibilidade de ter tempo e estrutura necessários para desenvolver protocolos de avaliação, uma atividade essencial que deveria ser constante no P&D. Recursos e protocolos de avaliação bem desenvolvidos permitem medir e comparar o desempenho dos produtos que desenvolve com aqueles do mercado, o que é básico para gerar competitividade.

O mercado já conviveu com produtos de vida longa, mas há muito tempo esta não é mais a regra. A quantidade de pesquisas gera uma rápida evolução do conhecimento, que, aliada à farta comunicação social, afeta fortemente o comportamento dos consumidores e acaba por determinar a necessidade contínua de novos produtos. Isso sem considerar o suporte constante que o P&D deve dar à produção e à qualidade, já que os produtos atuais são mais tecnológicos. Grande parte da qualidade é gerada no P&D, quando este define a composição, o modo de preparação e as especificações de produtos e insumos. Se houver um comprometimento ou uma deficiência funcional, haverá repercussão em todas as áreas técnicas e, certamente, nos “resultados da empresa”, jeito polido de falar “prejuízo”.

Fazer um creme hidratante ou perfume não é tarefa difícil, mas existe uma enorme distância entre preparar e desenvolver um produto. No desenvolvimento, há primeiramente a necessidade de ajustar a composição a uma determinada necessidade do mercado consumidor, com o máximo de desempenho possível e ajustado a um custo adequado ao sistema de precificação. Em seguida, tem que estabelecer modo de produção e especificações que determinem níveis ótimos de eficácia, segurança e estabilidade, que, por sua vez, devem ser devida e formalmente avaliados. Existem, ainda, a observação formal de todas as normas regulatórias e o compromisso de entregar à produção uma tecnologia exequível na planta industrial, com risco mínimo de qualidade.

O funcionamento do P&D se apoia em três pilares: laboratório, pessoal e sistema de informação. Se este setor, que é quem gera a tecnologia, não estiver devidamente reconhecido e prestigiado, provavelmente o laboratório não vai estar devidamente equipado, o quadro de pessoal deve ser insuficiente e o sistema de informação será improvisado. Aí, dificilmente terá um bom desempenho. Definitivamente, não é possível fabricar produtos confiáveis e competitivos se estes tiverem sido desenvolvidos em um setor deficitário em recursos, equipamentos, protocolos, conhecimento, informação e pessoal. Pelo mesmo motivo, é praticamente impossível ter uma fabricação sem riscos de qualidade e prejuízos.

No âmbito da competitividade, o cenário não é melhor. Como entregar ao mercado um produto capaz de satisfazer o consumidor e criar fidelidade à marca sem um processo de desenvolvimento vigoroso? Até a regularização do produto vai ficar comprometida, na medida em que os dados serão naturalmente incompletos ou imprecisos. Portanto, não há como responder com precisão à questão título desta coluna, mas ignorar a essencialidade do P&D e sua contribuição para o resultado da empresa é um equívoco grosseiro que não combina com possibilidade de sucesso. O incrível é que isso ainda acontece, até no próprio P&D.

Cristiane M Santos
Direito do Consumidor por Cristiane M Santos

Superendividamento

Seja para uma vida mais confortável, por um impulso ou desejo ou por outros fatores extremos – que muito tem acontecido ultimamente – como para a satisfação de necessidades básicas, como compra de comida e pagamento de contas de serviços essenciais, grande parte da população está endividada e precisa pagar suas dívidas para a “roda seguir girando”.

Segundo o Mapa da Inadimplência no Brasil, divulgado pela Serasa, cerca de 62,56 milhões de brasileiros estavam endividados no mês de maio desse ano. E desses, cerca de 30 milhões não estão conseguindo pagar as suas dívidas, tornando-se superendividados.

Nesse contexto e após quase 10 anos de tramitação, foi promulgada de no último dia 1° de julho, a Lei nº 14.181/21 – já conhecida como a “Lei do Superendividamento” – que altera o Código de Defesa do Consumidor (CDC) e o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/03), para aperfeiçoar a disciplina de crédito ao consumidor e dispor sobre a prevenção e o tratamento do superendividamento.

Para a nova lei, entende-se por superendividamento a impossibilidade manifesta de o consumidor pessoa natural, de boa-fé, pagar a totalidade de suas dívidas de consumo, exigíveis e vincendas, sem comprometer seu mínimo existencial, nos termos da regulamentação
(artigo 54, § 1º).

Dentre as alterações estabelecidas pela nova lei, cujo foco principal são os consumidores de boa-fé que ficaram impossibilitados de honrar com o pagamento de seus compromissos financeiros, sejam estes compra de produtos ou contratação de crédito, por motivos de desemprego, doença etc., destacam-se as seguintes:

• Tornam-se direitos básicos do consumidor a educação financeira e a prevenção e tratamento de situações de superendividamento.

• Garantia de práticas de crédito responsável e preservação do mínimo existencial quando da repactuação de dívidas.

• São nulas as cláusulas contratuais de produtos ou serviços que limitem o acesso ao Poder Judiciário, que estabeleçam prazos de carência em caso de atraso das prestações mensais ou que impeçam o restabelecimento integral dos direitos do consumidor e de seus meios de pagamento depois da quitação dos juros de mora ou do acordo com os credores.

• Na venda a prazo, obriga o fornecedor a informar o consumidor sobre o custo efetivo total, a taxa mensal de juros e os encargos por atraso, o total de prestações e o direito de antecipar o pagamento da dívida, além de informar o valor total do pagamento com e sem o financiamento.

• Proíbe propagandas de empréstimos que indiquem que não haverá consulta aos órgãos de proteção ao crédito ou avalição da situação financeira do consumidor, assim como o assédio ou pressão na compra/contratação, principalmente quando se tratar de consumidores idosos, analfabetos, doentes ou em qualquer estado de vulnerabilidade.

O grande destaque da lei é o direito de “recuperação judicial” por meio de conciliação – incentivo aos meios consensuais-, previsto no artigo 104-A: A requerimento do consumidor superendividado pessoa natural, o juiz poderá instaurar processo de repactuação de dívidas, com vistas à realização de audiência conciliatória, presidida por ele ou por conciliador credenciado no juízo, com a presença de todos os credores de dívidas previstas no art. 54-A deste Código, na qual o consumidor apresentará proposta de plano de pagamento com prazo máximo de 5 (cinco) anos, preservados o mínimo existencial, nos termos da regulamentação, e as garantias e as formas de pagamento originalmente pactuadas.

Nos casos de acordo com credor, para ser homologado pelo juiz e se converter numa sentença judicial, este deverá descrever o plano de pagamento da dívida.

A medida é um avanço importante e oportuna para revenir e minimizar os altos índices de endividamento, pois, como bem disse o professor britânico, David Harvey, “vivemos no mundo da servidão por dívida”

Antonio Celso da Silva
Embale Certo por Antonio Celso da Silva

Caminhos da embalagem na terceirização

O mercado de terceirização é um dos que mais crescem, e boa parte desse crescimento acontece pela grande quantidade de pequenas marcas que estão entrando no mercado e não querem construir fábrica. Cresce também porque as grandes marcas estão optando por terceirizar em vez de ampliar suas fábricas.

A verdade é que cada vez mais o holofote principal das
marcas está virando para marketing e vendas. A fabricação está ficando restrita a especialistas no assunto.

Nesse movimento, mais uma vez a embalagem, importante ferramenta de venda, está ficando em segundo plano, e alguns aspectos preocupam, a começar pelas pequenas marcas que buscam um terceirista mas não têm nenhuma experiência e conhecimento das embalagens e dos fornecedores. Muitos terceiristas não têm um departamento para desenvolver ou mesmo procurar embalagens para essas marcas. Esse é um dos pontos de atenção das marcas quando buscam um terceirista.

Por outo lado, existem terceiristas que, além de ter essa área destinada e dedicada a essa operação, ainda disponibilizam um show room de embalagens onde a marca pode ver, avaliar, saber quem é o fornecedor e ter uma ideia do custo de cada uma.

Mas um assunto que preocupa muito com relação às embalagens na terceirização é a responsabilidade pelo controle da qualidade, seja qual for o tipo de contrato entre as partes.

Um pequeno terceirista nem sempre tem um departamento de controle de qualidade de embalagens, até porque isso não faz parte das exigências legais da Anvisa, como é o caso das matérias-primas, então ele terceiriza. Pode também usar um sistema de qualidade assegurada com o fornecedor e não ter inspeção no recebimento.

É preciso abrir aqui um capítulo à parte para a definição de qualidade assegurada.

Para que isso aconteça, é mandatório ter passado por uma série de etapas anteriores, a começar por um plano de amostragem, definição/classificação dos tipos de defeitos e respectivos NQAs (níveis de qualidade aceitáveis) já implantados no terceirista. Soma-se a isso a necessidade de ter havido um histórico de sucesso, ou seja, sem reprovações de lotes anteriores.

Em resumo, a qualidade assegurada é um processo e não apenas uma atitude de não analisar no recebimento e dizer que já vem aprovado.

Outro tipo de problema bastante comum nos terceiristas com relação às embalagens são as exigências de cada cliente, principalmente considerando o aspecto dos defeitos visuais (atributos), pois do aspecto dimensional precisa-se obedecer ao desenho técnico aprovado e suas respectivas tolerâncias para cada tipo de inspeção. Muitos clientes não conhecem e não sabem como se faz o controle de qualidade e vêm com a exigência padrão: “minha embalagem tem que ter zero defeito!”. Quem trabalha com qualidade sabe que defeitos vão sempre existir e, por isso, eles são classificados como simples, maiores e críticos, e cada um tem o seu respectivo NQA. O grande problema é que, se cada cliente exigir um NQA para sua embalagem, o inspetor do terceirista ficará perdido.

O que o mercado pratica é que cada terceirista deve ter o seu plano de amostragem e sua classificação de defeitos e NQAs, padrão para todos os clientes.

Esse item (e com essas definições) tem que ser esclarecido pelo terceirista por ocasião das negociações e não pode ser esquecido no contrato entre as partes.

Convém sempre lembrar que, para cada um dos três tipos de contratos existentes entre cliente e terceirista, também existem diferentes responsabilidades com relação às embalagens.

No primeiro tipo de contrato, que é o full service, em que o terceirista compra todos os insumos, inclusive embalagens, normalmente a responsabilidade por controlar a qualidade das embalagens no recebimento fica por conta do terceirista. É óbvio que, como citei anteriormente, isso precisa ser acordado com o cliente, pois existem clientes que fazem esse tipo de contrato, mas têm conhecimento e condições de fazer a inspeção por sua conta, seja no fornecedor ou no recebimento do terceirista. De uma maneira ou de outra, toda inspeção tem que ter o respectivo e oficial laudo aprovando ou reprovando o lote.

No outro tipo de contrato em que o terceirista compra matérias-primas e o cliente fornece as embalagens, a responsabilidade pelo CQ normalmente é do cliente, a menos que seja acordado que essa responsabilidade também seja do terceirista.

No contrato de serviço em que o cliente fornece todos os insumos, o controle de qualidade das embalagens é feito pelo cliente.

Citei aqui o que o mercado pratica, mas é claro que, em função do perfil do terceirista e do cliente e do que foi combinado, a responsabilidade pelo CQ das embalagens pode mudar de lado.

A embalagem na terceirização é um dos assuntos que requerem especial atenção e clareza quanto à responsabilidade das partes. Não se esqueça disso na sua próxima negociação, seja você uma marca ou mesmo um terceirista.

Valcinir Bedin
Tricologia por Valcinir Bedin

Maquiagem para áreas pilosas

O ser humano tem aproximadamente 5 milhões de pelos espalhados pelo corpo. Eles têm tamanhos, formas e funções diversas, normalmente relacionadas às localizações. A maioria dos pelos tem uma função protetora, mormente os periorificiais como os cílios, por exemplo.

Uma norma social do Ocidente diz que especialmente as mulheres devem tirar os pelos corporais e, muitas vezes, quando isso não é possível, devem ao menos disfarçá-los, pois pelos no corpo seriam características masculinas, segundo essa norma.

Por outro lado, a falta de pelos em algumas áreas é mal vista. Ausência de cabelos, rarefação, tantos em homens quanto em mulheres, é visto como sinal de envelhecimento ou de menos beleza.

Várias técnicas são usadas para tentar solucionar este problema. O transplante de pelos é a mais radical delas e tem sido muito aprimorado nos últimos anos. Consiste na retirada de fios de áreas onde eles são abundantes, chamadas de áreas doadoras, e na inserção deles na área pretendida. Hoje em dia, existem os transplantes chamados de fio a fio, em que cada pelo é retirado individualmente e inserido da mesma forma, dando um aspecto bem natural ao final do procedimento. Pode-se transplantar para qualquer área pretendida, desde que seja sempre um transplante autólogo, isto é, retirado e plantado num mesmo indivíduo. Até o momento não temos notícia de resultados positivos com transplantes realizados com doadores externos. O que se busca é idealizar uma técnica de clonagem de pelos, o que permitiria a realização de transplantes de milhares de fios partindo-se de um único fio doador.

Enquanto não temos técnicas mais modernas, uma maneira de disfarçar a ausência ou rarefação de fios em uma determinada área é usar uma maquiagem no local.

Exceto pelas maquiagens artísticas, que, às vezes, têm a função de envelhecer ou deixar mais feio um personagem, quando falamos em maquiagem sempre pensamos em algo que utiliza cosméticos para melhorar a aparência. Não é diferente quando falamos de pelos. Os produtos utilizados nessas áreas pilosas têm a função de melhorar sua aparência, de preferência sem causar danos à pele e com a maior durabilidade possível.

As tinturas dos cabelos seriam o primeiro pensamento de um tipo de maquiagem para fios. Alterar a cor deles é algo que o ser humano faz há milênios! Hoje em dia, considera-se que a tintura pode ser até uma forma de proteger os fios! Claro que precisamos levar em consideração a topografia deles. Não se pode usar um mesmo produto nos cabelos, nos cílios e nos pelos pubianos. Cada local tem suas características, que devem ser levadas em consideração pelo formulador, lembrando que a velocidade de crescimento dos fios varia com sua localização, e, na cabeça, gira em torno de 1,2 cm por mês.

Para estes problemas, surgem os retocadores de raízes, que são, na verdade, tinturas acondicionadas em dispositivos práticos de aplicação rápida e resultados imediatos. Ainda são elaborados para pequena duração, devendo os formuladores pensar em, cada vez mais, tornar a aplicação mais prática e fácil e aumentar sua durabilidade.

Produtos em forma de shampoos ou finalizadores de lavagem que prometem aumentar a espessura dos fios também são uma nova tendência. Precisamos lembrar que os produtos para cabelos são aqueles que causam maior número de reclamações dos usuários concernentes à não entrega do prometido nas peças publicitárias. Uma sugestão é que os departamentos de
pesquisa e desenvolvimento (P&D) e de marketing conversem mais e cheguem a um consenso para evitar dissabores.

Quando falamos em maquiagem, não podemos esquecer os produtos que prometem acabar com a calvície instantaneamente. São produtos feitos com queratina ou fibras de algodão, com cargas eletrostáticas que, quando aplicadas nos fios, aderem a eles dando a impressão de maior espessura. Tem um lado positivo que é o resultado imediato, mas tem um lado negativo, que é a durabilidade. A maioria dos produtos acabados no mercado não é resistente à água, o que torna o seu uso um pouco arriscado, pois qualquer exposição à água ou mesmo ao suor pode causar constrangimento.

Não poderíamos deixar de citar a técnica chamada de maquiagem definitiva, que é uma forma de tatuagem que tenta mimetizar os pelos. É bastante feita nos supercílios de pessoas que retiraram esses pelos durante a vida, mas pode também ser feita na área de barba ou até na cabeça. Apesar da técnica ter evoluído e as tintas terem melhorado de qualidade, a minha opinião é que ela deve ser usada apenas em áreas pequenas para ter um resultado estético razoável.

Resumindo: cabe aos formuladores buscar elaborar produtos que tenham durabilidade e capacidade de mimetizar os pelos naturalmente.

Carlos Alberto Trevisan
Boas Práticas por Carlos Alberto Trevisan

Volta às origens

Nesta oportunidade, vou fazer uma breve reflexão sobre a verdadeira importância das Resoluções de Diretoria Colegiada (RDCs) que são emitidas pela Anvisa para o comprometimento das empresas.

Em princípio, pode parecer estranha essa minha proposta, mas a seguir o leitor vai concluir que tenho razão.

Durante minhas atividades como consultor tenho encontrado empresas que ainda me questionam sobre requisitos que constam da RDC nº 348/97 e que foram considerados como já implantados quando houve a publicação da RDC nº 48, em 2013.

Logo após a publicação da RDC nº 48/13, ministrei mais de 30 cursos, em todo o país, nos quais eu divulgava e orientava os profissionais da indústria sobre as novas disposições constantes na então recente RDC, as quais aprimoravam o que havia sido estabelecido anteriormente na RDC nº 348/97.

Decorreram exatos 24 anos desde a publicação da RDC nº 348/97 e outros tantos 8 anos desde a publicação da RDC nº 48/13, tempo suficiente para que as empresas se atualizassem com relação às Boas Práticas de Fabricação e Controle (BPF). E muitas não o fizeram.

Por curiosidade, tentei pesquisar a razão exata de, em um período tão longo, muitas empresas ainda não terem conseguido implantar a RDC nº 48/13, já que, ao implantá-la, estariam atendendo à RDC nº 348/97.

Na maioria dos casos, concluí que houve negativa da administração dessas empresas em disponibilizar recursos de toda a ordem para a implantação desses requisitos.

Mais uma vez, tentei entender os motivos pelos quais não houve o comprometimento da alta administração dessas empresas em relação a cumprir essas novas obrigações. Notei que os processos e os sistemas da qualidade, nessas empresas, não levaram em conta os objetivos estratégicos e a segurança econômica, portanto se distanciaram dos propósitos de lucratividade necessários para que elas sobrevivessem.

Em parte, esse comportamento vem da cultura-empresarial de que as BPF são responsabilidade somente das áreas da Qualidade e da Produção, portanto elas não teriam relação com a economia, com o mercado, com as vendas, etc.

Essa cultura imputa, de forma inadequada, à Qualidade e à Produção, a missão da responsabilidade sobre manutenção das BPF, afirma que está agindo desse modo, para prestigiar a independência de ação da Qualidade.

A cultura que atribui essa responsabilidade a essas duas áreas, se instala nas empresas que são notadamente de pequeno porte e nas quais há carência de capacitação técnica, ou seja, em que os dirigentes não têm formação específica para a atividade e não levam em consideração que é preciso investir em recursos humanos para possibilitar uma atuação condizente com as necessidades da operação. Esse é o famoso caso de atribuir a uma única pessoa toda a reponsabilidade por realizar as atividades da Qualidade, além de atribuir a essa mesma pessoa toda a responsabilidade pelo desenvolvimento de novos produtos, pelo treinamento de pessoal, etc. Enfim, com tamanha sobrecarga, é humanamente impossível alguém conseguir executar minimamente bem quaisquer das atividades que lhe são atribuídas. Esse é um dos fatores do mau desempenho, da desmotivação de colaboradores e, por consequência, dos maus resultados de muitas empresas.

Acredito que a única forma de envolver os administradores no processo da Qualidade é demonstrar o quanto a Qualidade colabora para a redução de custos, a eficiência de processos, a melhoria da imagem dos produtos e, consequentemente, da imagem da empresa para os consumidores. Essa tarefa não é fácil, mas é necessária.

Olivier Fabre
Fragrâncias por Olivier Fabre

Fragrâncias no mundo de amanhã

Em primeiro lugar, vou relatar um evento que me aconteceu bem no começo da epidemia de covid, por volta do dia 15 de março de 2020.

Aquele era o momento no qual a polêmica do uso da máscara estava no auge. Aliás, essa polêmica ainda continua no auge, mas isso é outra história.

Eu já tinha começado meu autoconfinamento, mas precisei sair de casa para fazer um deslocamento indispensável e me esqueci de colocar a máscara. Pouco depois de sair de casa, cruzei com uma senhora que estava bem perfumada. Foi nesse momento que me lembrei da máscara, mas, sobretudo, pensei: “Se as moléculas da fragrância conseguem chegar até o meu nariz, o mesmo aconteceria com o infame vírus, que, além de ser letal, pode provocar anosmia por um tempo? E será que essa senhora, além de usar um bom perfume, está contaminada?”

Voltei para casa, coloquei a máscara e, para mim, a polêmica sobre a máscara estava definitivamente encerrada.

Na história da perfumaria é reconhecido que epidemias influíram nas tendências das preferências olfativas. Na coluna anterior, referi-me à água de colônia da rainha da Hungria. No século XIV, o perfume já era usado para enfrentar uma epidemia. “A peste bubônica foi combatida por um certo número de perfumes, entre os quais a água da rainha da Hungria, que surge em 1370, à base de alecrim, manjericão, notas agrestes que têm virtudes purificadoras”, explica Élisabeth de Feydeau no livro Les parfums (Ed. Robert Lafont, 2011). “O perfumista foi antes de tudo o exterminador de miasmas durante séculos. Portanto, acho que o perfume ainda tem um papel a desempenhar hoje em relação à epidemia”, lembra a historiadora.

Isso também aconteceu nos anos 1990 na epidemia de Aids. Naquela década, ocorreu uma mudança nas notas dos perfumes em relação às dos anos 1980, época na qual a humanidade ficou ciente da existência do vírus da Aids. Os perfumistas repensaram a criação de perfumes. “Os anos 1980 foram anos de extrema opulência do ponto de vista do perfume, com muita potência e personalidade, e sobretudo sensualidade, como Poison de Christian Dior, Giorgio de Beverly Hills, fragrância tão potente e invasiva que chegou a ser “proibida” em certos restaurantes. Já nos anos 1990, pelo contrário, as fragrâncias eram mais “recatadas,” com notas frescas, aéreas, limpas, frias, quase higiênicas, sem opulência nem sensualidade. Foi o auge das notas marinhas, como New West, de Aramis “a epidemia de Aids ancora as necessidades dos consumidores em algo muito mais voltado para o frescor e o desejo de pureza,” cita Eugénie Briot, historiadora da perfumaria e responsável pelos programas da escola de perfumaria da Givaudan. Em 1994, Calvin Klein lançou o perfume CK One, para atender as aspirações de novos clientes. Essa é uma colônia simples, fresca, hesperídica, floral, musky e de alguma forma uma modernização da água de colônia do século XVII – o século do higienismo.

Levando em conta a relação entre as tendências olfativas e as grandes epidemias, o que vai acontecer no “mundo de amanhã” das fragrâncias? No que se refere às tendências olfativas, na minha opinião, as tendências das notas gourmand, gourmand-frutal, frutal- gourmand, das notas “oud” e das notas âmbar do segmento masculino vão pouco a pouco dar lugar às notas florais. Mas este será um floral novo, e, paradoxalmente, vai haver um retorno às notas florais mais perto da natureza, o que será obtido pelo “sincretismo” entre técnicas ancestrais, como a “enfleurage,” e as sofisticadas tecnologias de criação de novas moléculas.

Do ponto de vista do mercado, a crise causada pela covid foi um acelerador fantástico do segmento da perfumaria “niche.” O mundo pós-covid vai ter que contar com esse novo segmento de mercado, o qual vai levar a outro efeito: ao fim dos gêneros de perfumes. Pouco a pouco, vão desaparecer a perfumaria feminina e a masculina e haverá o nascimento da perfumaria, simplesmente da PERFUMARIA!

Denise Steiner
Temas Dermatológicos por Denise Steiner

Cuidados com a pele no inverno

A pele é o maior órgão do corpo humano e também o órgão que faz interação com o meio exterior. Portanto, a pele no inverno vai sofrer a influência de baixas temperaturas e ter que se adaptar a elas.

A temperatura mais baixa leva à desidratação da pele, com evaporação da água para manter o calor da pele.

A pele precisa manter a temperatura do organismo entre 35,9 e 36,9 °C, que é o ideal para as reações metabólicas internas. Com temperaturas mais baixas, a pele tende a ficar ressecada, com coceira e descamação.

Algumas alterações podem ocorrer tanto na face quanto no corpo. No rosto, o frio pode provocar avermelhamento e maior sensibilidade. A dermatite seborreica é uma irritação constante na parte central do rosto e raiz do couro cabeludo e sobrancelhas.

A rosácea, que é uma pele sensível e avermelhada, piora muito com o frio. O tratamento do rosto também precisa ser modificado, pois no inverno a cútis não tolera ácidos como o retinoico e o glicólico todos os dias.

Outra questão relevante é que mesmo as peles oleosas e acneicas também precisam de hidratação. Água é diferente de óleo. No inverno, a pele perde mais água e resseca com mais facilidade.

Sendo assim, a palavra de ordem no inverno é hidratação.

O hidratante compatível com sua pele deve ser usado todos os dias de uma a duas vezes, com intervalo de algumas horas entre as aplicações.

Os eczemas também são mais frequentes no inverno. Eczema é uma alteração em que a pele fica inflamada e com coceira, podendo gerar feridas e infecção. As pernas podem coçar muito e descamar.

Os indivíduos atópicos, que já são mais sensíveis, pois a pele é mais ressecada por natureza, podem ter irritações nas dobras, no pescoço e também no couro cabeludo.

No inverno, é interessante tomar somente um banho por dia, com sabonetes hidratantes, evitar esfoliação e hidratar a pele logo após o banho – e também mais uma vez por dia.

O hidratante deve ter propriedades umectantes e ser agradável ao toque de pele.

Princípios como ureia, ácido hialurônico, glicerina, vitamina E, niacidamida, ceramida, ácido glicólico e óleo de uva podem ser usados nessa composição.

O filtro solar deve continuar sendo usado no inverno, pois a radiação ultravioleta agride a pele independentemente da temperatura. Usar protetor solar com princípios hidratantes e antioxidantes ajuda na saúde e beleza da pele.

A psoríase, assim como outras doenças inflamatórias, pode piorar no frio, e a hidratação deve ser reforçada.

Cuide-se.

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