Avaliação

Edicao Atual - Avaliação

Editorial

Saúde é o que interessa

No webinar “Health and Beauty in the Coronavirus Era”, a Euromonitor International destacou a intensificação do movimento de bem-estar e suas microtendências. Com foco na manutenção da saúde, consumidores priorizam atributos e propósitos “clean” e de bem-estar emocional. Segundo a provedora de pesquisa de mercado, a demanda impulsionou em 14% o crescimento das vendas de artigos com esses posicionamentos neste ano.

De acordo com a pesquisa Global Health and Nutrition, também da Euromonitor, 65% dos consumidores no mundo todo consideram que bem-estar mental é um dos principais fatores na percepção de saúde.

Lançamentos reforçam a associação entre saúde e beleza, com novas opções para peles sensíveis ou temporariamente sensibilizadas; extensões de linhas de skincare com foco na restauração das defesas naturais da pele; linhas antibacterianas; e produtos desenvolvidos para o cuidado das mãos, para usar depois da higienização ou em vários momentos do dia.

Esta edição de Cosmetics & Toiletries Brasil apresenta a trajetória de Sara Palhares Bastos Gonçalves, profissional com 35 anos de dedicação à docência em cosmetologia. Em homenagem a Artur Gradim, publicaremos até o final deste ano os textos assinados por ele para a coluna Assuntos Regulatórios.

Os artigos técnicos abordam as preocupações com a avaliação de produtos, prevalecendo a máxima de que segurança é o que importa; os fatores que envolvem a pele sensível e as consequências na autoestima; a suspeita que a Covid-19 infecta o sistema tegumentar provocando lesões cutâneas e que pode estar relacionada com a imunossenescência.

Hamilton dos Santos
Publisher

A Radiação Solar e a Fotoproteção - C Parizzi, C Bechuate de Souza Azevedo, L de Paula Sousa, L Rigo Gaspar (Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto – USP, Ribeirão Preto SP)

Este artigo traz uma revisão sobre a radiação solar e seus efeitos na pele, os mecanismos de proteção contra essa radiação e as principais classes de filtros solares, bem como metodologias para a avaliação da eficácia de fotoprotetores.

Este artículo proporciona una revisión de la radiación solar y sus efectos sobre la piel, mecanismos de protección contra esta radiación, principales clases de protectores solares, así como metodologias para evaluar la efectividad de los fotoprotectores.

This article provides a review of solar radiation and its effects on the skin, protection mechanisms against this radiation, main classes of UV filters, as well as methodologies for evaluating the efficacy of sunscreens.

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Avaliação de Estabilidade, Segurança e Eficácia - Vinair Kumar Singh (Ganesha Cosmetic Products, Mumbai, Índia)

Para assegurar o sucesso de um produto, especialmente tendo em vista os princípios da “beleza limpa”, é preciso testar sua estabilidade, segurança e eficácia. O roteiro a seguir dá uma visão geral dos principais testes a serem realizados como parte do desenvolvimento e previamente ao lançamento de produtos.

Para garantizar el éxito de un producto especialmente a la luz de los principios de “beleza limpia”, debe probarse su estabilidad, seguridad y eficácia. El seguiente manual oferece una descripción general de las pruebas clave para realizar a medida que los productos se desarrollan y preparan para su lanzamiento.

To ensure a product’s success, especially in light of ‘clean beauty’ tenets, it must be tested for stability as well as safety and efficacy. The following primer offers an overview of key tests to perform as products are developed and prepared for launch.

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Pele Sensível e a Autoestima - Katerina Steventon, PhD (FaceWorkshops LLC, York, Reino Unido)

A autoestima e as primeiras impressões que deixamos nas pessoas têm inspirado uma crescente demanda por produtos para peles sensíveis. A ciência pode afirmar que pele sensível é algo subjetivo, mas as consumidoras têm uma noção autopercebida sobre sua sensibilidade.

La autoestima y las primeras impressiones han inspirado una mayor demanda de productos para pieles sensibles. La ciencia detrás de la piel sensible es subjetiva, pero los consumidores tienen una noción auto percebida sobre la sensibilidad.

Self-esteem and first impressions have inspired an increased demand for sensitive skin products. The science behind sensitive skin is subjective but consumers have a selfpercieved notion on sensitivity.

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O Envelhecimento Cutâneo e a Imunidade - Robert Holtz (Laboratories, Inc. Denver CO, EUA)

Há suspeitas de que a Covid-19 infecta o sistema tegumentar, e a literatura atual menciona sinais relacionados a lesões cutâneas. Além disso, com o avanço da idade, a imunidade da pele decai, ou seja, há a imunossenescência. Essa área, ainda inexplorada, tem evidente potencial para o desenvolvimento de tratamentos e produtos.

Se sospecha que Covid-10 infecta el sistema integumentario y la literatura actual informa sobre signos relacionados de lesiones cutáneas. En relación con la edad, el sistema inmunitario de la piel disminuye; es decir, inmunosenescencia. Esta área en gran parte inexplorada tiene potencial de tratamiento y desarrollo de productos.

Covid-19 is suspected of infecting the integumentary system and current literature reports related signs of cutaneous lesions. In connection, with age, the skin’s immune system declines; i.e., immunosenescence. This largely unexplored area holds treatment and product development potential.

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A Influência dos Cosméticos no Bem-estar e na Autoestima - Larissa Rigo Caldeira, Vera Lucia Borges Isaac (Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade Estadual Paulista (Unesp), Araraquara SP, Brasil)

O consumo de cosméticos aumentou muito e o questionamento que fica é por que se usa tanto cosmético. Então, foi realizada uma pesquisa com o objetivo de avaliar os benefícios dos cosméticos. Os resultados apontaram que o uso de cosméticos está relacionado ao bem-estar pessoal e à autoestima.

El consumo de cosméticos hace aumentado mucho y la pregunta que queda es por qué es tanto el uso de cosméticos. Luego, se realizó una investigación con el objetivo de evaluar los beneficios de los cosméticos. Los resultados mostraron que el uso de cosméticos está relacionado con el bienestar personal y la autoestima.

The consumption of cosmetics has increased a lot and the question that remains is why is the use of cosmetics so much. Then, a research was done with the objective of evaluating the benefits of cosmetics. The results showed that the use of cosmetics is related to personal well-being and self-esteem.

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Formulando a “Beleza Limpa” - Irwin Palefsky (Cosmetech Laboratories Inc., Fairfield; eld NJ, EUA)

Um produto de "beleza limpa" (clean beauty) parece implicar que seu desenvolvimento tem maior diferença na segurança e ao mesmo tempo dispensa ingredientes desnecessários. Para os formuladores, este artigo explora como seguir o perfil de beleza limpa, com abordagens que se ajustam a diferentes interpretações.

Un produto de "beleza limpia" (clean beauty) parece implicar su desarrollo con una mayor diferencia em la seguridad, al mismo tiempo que no utiliza ingredientes innecesarios. Para el formulador, este artículo explora como seguir el perfil de beleza limpia con enfoques que coincidan con varias interpretaciones.

A clean beauty product seems imply its development with a heightened sense of safety as well as unnecessary ingredients. For the formulator, this article explores how to follow the clean beauty profile with approaches to match various interpretations.

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Defesa contra IV, Luz Azul e UVA-II - Dra. Charlene Dal-Iavan (Innovative Skincare/S. Clinical, Burbank CA, EUA)

O conhecimento dos agentes ambientais que afetam negativamente nossa pele vem aumentando nos últimos anos. Este artigo faz uma análise mais detalhada da radiação infravermelha, da luz azul e da radiação UVA-II, e sugere possíveis medidas protetoras.

El conocimiento sobre los agentes ambientales que afectan negativamente nuestra piel ha aumentado en los últimos años. Este artículo analiza más de cerca la radiación infrarroja, la luz azul e la radiación UVA-II, y sugere posibles medidas de protección.

Knowledge about environmental agents that negatively affect our skin has increased in recent years. This article takes a closer look at infrared, blue light and UVA-II, and suggests possible protective measures.

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Aloe vera no Tratamento da Acne Vulgar - Ariane Braga da Cruz, Luana Caroline Cândido da Silva, Sofia Poletti (Curso de Estética da Fundação Hermínio Ometto (Uniararas), Araras SP, Brasil)

A acne vulgar (AV) é uma condição inflamatória que aparece principalmente em adolescentes. Ela apresenta hiperprodução sebácea; hiperqueratinização folicular; aumento da colonização por Propionibacterium acnes; e inflamação dérmica. A patologia apresenta diversas formas de tratamento. Entre elas citamos o uso da Aloe vera, devido às suas ações anti-inflamatória, antimicrobiana e cicatrizante.

El acné vulgar (AV) es una condición inflamatoria, que aparece principalmente en adolescentes. Se presenta hiperproducción sebácea; hiperqueratinización folicular; aumento de la colonización por Propionibacterium acnes e inflamación dérmica. La patología presenta diversas formas de tratamiento entre ellas citamos el uso del Aloe vera debido a su acción anti-inflamatoria, antimicrobiana y cicatrizante.

Acne vulgaris (AV) is an inflammatory condition, which appears mainly in adolescents. It has sebaceous hyperproduction; follicular hyperkeratinization; increased colonization by Propionibacterium acnes and dermal inflammation. The pathology presents several forms of treatment among them we mention the use of Aloe vera due to its antiinflammatory, antimicrobial and healing action.

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John Jimenez
Tendências por John Jimenez

Holobeauty

A BBC publicou uma nota em 9 de julho sobre o coronavírus em que afi rmava que esta não é a última pandemia. O alerta dos cientistas é sobre a “tempestade perfeita” para doenças causadas por novos vírus que aparecerão. O claim “ação contra vírus” está crescendo no mercado de cosméticos em várias categorias, pela pandemia declarada pela OMS e pela necessidade de proteção do consumidor.

De acordo com a Mintel, esse claim cresceu mais de 500% no segundo trimestre de 2020. Podemos ver uma diversidade de claims em produtos como álcool e géis desinfetantes, como kills virus, anti-virus action, virus killer, including flu virus and common cold virus, fight the covid-19 virus… Na web, encontramos relatórios e postagens em blogs com perguntas sobre quanto tempo o vírus pode viver em produtos cosméticos com vários usos, como batons, maquiagem, cremes etc.

Portanto, a indústria cosmética está começando a se interessar por vírus, em particular, pelo viroma humano.

Em geral, podemos dizer que o microbioma humano é composto de bactérias, vírus e fungos. O viroma é a coleta de todos os vírus encontrados no corpo humano (incluindo a pele), e os vírus são a entidade biológica mais abundante e têm a maior proporção no microbioma. Seu papel na saúde e aparência da pele é desconhecido. O viroma é diferente em sangue, sistema respiratório, sistema nervoso, sistema digestivo e pele.

As bactérias, como parte fundamental do microbioma, foram extensivamente estudadas, enquanto os vírus estão abrindo um novo panorama por duas razões. Em primeiro lugar, a quantidade de vírus desconhecidos que fazem parte do microbioma humano é próxima de 80%, ou seja, não sabemos a totalidade do nosso viroma e, em segundo lugar, porque há uma falta de pesquisas sobre quais são as “ações benéficas” que alguns vírus podem ter na pele. Por exemplo, em 2013, um artigo foi publicado na Trends in Microbiology indicando que o β-papilomavírus humano (βVPH), da família Polyomaviridae, pode participar ativamente da proliferação de queratinócitos durante a cicatrização de feridas.

O papel do viroma no envelhecimento está começando a ser de grande interesse na ciência, pois desde 2019 vemos novas publicações sobre esse assunto. Um artigo publicado pela The Gerontological Society of America, em dezembro de 2019, menciona que o viroma se adapta em termos de composição e abundância em resposta a diferentes fatores relacionados à idade, como alterações no sistema imunológico (imunologia), ambiente, dieta, infecções, consumo de antibióticos e outros fatores intrínsecos. Quando o viroma se adapta a essas mudanças, pode ter efeitos nos processos de envelhecimento. Outra teoria também explica que os vírus podem afetar as alterações no DNA que aceleram o envelhecimento da pele.

Pesquisadores da IBM e da Universidade da Califórnia investigaram e publicaram neste ano a robustez do microbioma humano como um indicador da idade, porque um microbioma “jovem” pode oferecer pistas sobre como desacelerar o processo de envelhecimento. O microbioma cutâneo fornece a previsão mais precisa da idade, e eles desenvolveram um modelo de predição baseado em inteligência artificial que permite prever a idade com base na análise de microbioma.

Por outro lado, a pele tem uma resposta adaptativa e pode expressar proteínas antivirais. A C&T publicou um artigo interessante em julho (Resposta antiviral) – que está sendo publicada nesta edição, em português -, em que apresenta a imunosenescência como um elemento chave que nos permitirá desenvolver produtos de skin care no futuro para mitigar os efeitos do envelhecimento na capacidade da pele de responder a vírus.

O holobionte é um dos conceitos considerados promissores para o futuro. Vem dos termos holo (tudo) e bíos (vida). Esse é um termo criado por Lynn Margulis e é usado para se referir à associação entre um macrorganismo (animal ou planta) e os microrganismos simbióticos que compõem sua microbiota (bactérias, vírus e fungos). O papel do viroma no holobionte não é totalmente claro, e há muitas coisas a descobrir.

Sabemos que existem vírus bacteriófagos que podem ter um “efeito positivo” porque podem controlar o crescimento de certas bactérias e, assim, alcançar um efeito probiótico, como ocorre no intestino. Existe um grande interesse científico em determinar qual é o efeito do viroma nas populações bacterianas da pele e como essa interação tem efeitos na saúde da pele. Uma melhor compreensão do microbioma e seus componentes permitiu o desenvolvimento de novos conceitos. A revista Science publicou em maio um artigo sobre o conceito psychobiome em relação às bactérias intestinais que pode alterar a maneira como pensamos, sentimos e agimos. Outro artigo, publicado em 2019, introduz o conceito photobiomics, relacionado à maneira como a luz, incluindo a fotobiomodulação, pode alterar o microbioma.

Holobeauty = holobionte + beauty. No futuro, o conceito de beleza será mais integral, considerando todas as associações que o ser humano possui com seu microbioma. Veremos novas descobertas e mecanismos que incluirão novas tecnologias que melhorarão a aparência da pele e sua capacidade de se defender. O viroma terá um papel fundamental nos cosméticos do futuro.

Carlos Alberto Pacheco
Mercado por Carlos Alberto Pacheco

Um pouco mais de Dieese

O Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), como o nome indica, é mantido e dirigido há mais de 60 anos pelos diversos sindicatos da federação. O art. 3º de seu estatuto, entre os objetivos, preconiza “a realização de estudos, pesquisas e atividades de educação, produção e difusão de conhecimento e informação sobre o trabalho em um contexto multidisciplinar, tendo como instrumento de análise o método científico, a serviço dos interesses da classe trabalhadora, sem prejuízo da diversidade das posições e enfoques sindicais”. Ao longo de sua história, a instituição providenciou dados estatísticos interessantes para os que precisam correlacionar variáveis de mercado com o fim de estabelecer estratégias de colocação de produtos em uma região tão continental como o Brasil.

Entre os dados disponibilizados pela instituição, gostaria de destacar o valor da cesta básica de alimentos.

A composição da cesta básica é definida pelo Decreto-Lei nº 399, de 30/4/1938 (republicado em 24/5/1938 e ainda vigente), que tem como escopo aprovar “o regulamento para execução da Lei nº 185, de 14/1/1936, que institui as Comissões de Salário Mínimo”, publicado no Diário Oficial de 17/5/1938 pelo então Presidente Getúlio Vargas.

No art. 6º encontra-se a seguinte disposição: “O salário mínimo será determinado pela fórmula Sm = a + b + c + d + e, em que a, b, c, d e e representam, respectivamente, o valor das despesas diárias com alimentação, habitação, vestuário, higiene e transporte necessários à vida de um trabalhador adulto” e, no quadro V , há a definição dos treze itens e quantidades por região que compõem as despesas diárias de alimentação (Ex.: 4,5kg/trabalhador/mês de feijão para o território nacional).

A partir de janeiro de 2016, mensalmente o Dieese passou a pesquisar estes itens nas 27 capitais da federação e avaliar o impacto deste custo na população que ganha entre um a três salários mínimos. A pesquisa considera vários tipos de locais de aquisição dos itens, que vão desde vendedores ambulantes até supermercados, passando por empórios, mercearias, feiras livres, padarias, açougues etc.

O que podemos fazer com estes dados? Várias coisas. Avaliando-se os dados do período entre abril/2017 e março/2020 (3 anos), percebe-se uma correlação superior a 80% entre o valor da cesta básica alimentar paulista e outras dez capitais da federação.

Por exemplo, com esta simples análise de correlação, nota-se que 92,7% dos pontos da correlação entre o valor da cesta paulista e carioca são explicados pela equação da reta (y = 1,0224*x – 18,6564), com 95% de intervalo de confiança. Da equação podemos avaliar que, a cada R$ 1,00 acrescido no valor da cesta em São Paulo, haverá um decréscimo de R$ 17,63 no valor da cesta no Rio de Janeiro para os assalariados que ganham entre 1 a 3 salários mínimos. O mesmo pode ser feito para outras capitais. Esta análise poderá ajudá-lo a ver como o aumento ou a diminuição do valor da cesta poderá concorrer com o valor destinado à compra de outros produtos (por exemplo, cosméticos e produtos de higiene) levando em conta que a prioridade de consumo é dada a itens de alimentação.

Outra análise que se pode fazer é entender quanto do salário mínimo é comprometido para a aquisição da cesta básica. Na capital paulista, nos meses de março a junho de 2019, mais de 50% do salário mínimo foi comprometido para este fim. Fenômeno semelhante ocorreu em dezembro último.

Uma análise semelhante à anterior pode ser feita, substituindo-se a variável ‘salário mínimo’ por ‘rendimento médio do trabalho principal’, que considera a renda das famílias. Considerando-se a renda familiar paulista em dezembro de 2019, verifica-se que a cesta básica paulista comprometia 17,4% da renda familiar.

Outros cruzamentos podem ser desenhados, e há muito mais a ser explorado nos estudos do Dieese. Eles indicam que, para atender a premissa estabelecida no art. 6º do Decreto-Lei nº 399, o salário mínimo deveria ser 4,4 vezes maior que o atual, ou seja, R$ 4.562,60 – realidade muito distante do atual quadro econômico nacional, considerando que 60% da força de trabalho ainda ganha menos de um salário mínimo mensal (IBGE-PNADC).

Cristiane M Santos
Direito do Consumidor por Cristiane M Santos

E-commerce e pandemia

No último dia 10 de junho, foi promulgada a Lei no. 14.010, que dispõe sobre um regime jurídico emergencial e transitório de relações jurídicas durante o período de pandemia da Covid-19. No que diz respeito às relações de consumo, esta Lei, em seu artigo 8º, suspendeu até o dia 30 de outubro de 2020 a aplicação do artigo 49 do Código de Defesa do Consumidor (CDC) - que contempla o prazo de reflexão e o direito de arrependimento do consumidor nas compras efetuadas fora do estabelecimento comercial -, nas hipóteses de entrega domiciliar (delivery) de produtos perecíveis ou de consumo imediato e de medicamentos.

Certamente, esta pandemia fez com que muitos consumidores que tinham algum tipo de receio com as compras online - por aplicativo, site ou whatsapp e com exceção do “disque pizza” - passassem a experimentar essa prática por necessidade e falta de opção, seja para fazer o supermercado, comprar medicamentos ou até mesmo comprar algum objeto de desejo para neutralizar o tédio da quarentena.

Segundo dados divulgados pela empresa de inteligência de mercado Neotrust/Compre & Confie, 5,7 milhões de consumidores fizeram sua primeira compra online durante o período de maior distanciamento social (abril a junho).

No Brasil, esse setor de consumo ainda tem muito para crescer, porém, uma coisa é certa: dessa parcela de novos descobridores de e-commerce, alguns voltaram exclusivamente às compras do modelo físico tradicional, mas muitos irão considerar e manter a opção online em sua nova rotina.

Por isso, como os números de retomada do varejo em geral ainda são desanimadores, especialistas consideram essencial a manutenção de investimentos no comércio digital.

Quanto às relações de consumo online, estas devem seguir e respeitar a legislação vigente, garantindo o direito desses consumidores.

Nesse contexto, vale destacar que o artigo 49 do CDC foi criado para gerar maior proteção aos consumidores que adquirissem produtos ou serviços fora do estabelecimento comercial.

Art. 49. “O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio”.

Parágrafo único. “Se o consumidor exercitar o direito de arrependimento previsto neste artigo, os valores eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de refl exão, serão devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados”.

As compras online não estão expressas nesse artigo, pois esse tipo de compra ainda não chamava a atenção do legislador da década de 1990 (ano de promulgação do CDC), mas as formas citadas são meramente exemplificativas.

A ideia do prazo de “reflexão” (7 dias) seria que o consumidor poderia se arrepender da aquisição feita quando estivesse de fato em contato com o produto ou serviço.

Talvez no contexto atual essa proteção em algumas situações seja descabida, já que muitas vezes compras de produtos online não são feitas por impulso, mas sim depois de muita pesquisa por parte do consumidor.

Mas, voltando à suspensão temporária do prazo de reflexão e direito de arrependimento, isto só valerá nas compras de medicamentos, produtos perecíveis ou de consumo imediato.

Entretanto, esta lei não suspende o direito de devolução, troca e/ou ressarcimento do consumidor nos casos de inadequação, vício ou defeito de qualquer tipo de produto.

Carlos Alberto Trevisan
Boas Práticas por Carlos Alberto Trevisan

Pandemia e comportamento

Inicio esta coluna fazendo uma pergunta: Qual é a efetiva utilidade, a médio e longo prazo, para as ações da Qualidade, de algumas das imposições que foram feitas à população para evitar a proliferação dos casos de coronavírus? Pode parecer estranho, mas, se observarmos com um olhar mais analítico, veremos que muitas das imposições feitas nada mais são do que atitudes que devem ser tomadas no cotidiano das empresas, no que se refere à Qualidade, nos aspectos de higiene e segurança para pessoas e produtos.

Em razão das imposições e recomendações feitas pelas autoridades sanitárias, muitas associações empresariais, conselhos de categorias profissionais, sindicatos patronais e outras entidades divulgaram guias, normas, procedimentos e recomendações, tanto sobre o campo comportamental quanto sobre o da distribuição física de postos de trabalho, relativas, por exemplo, à criação de sistemas preventivos de acesso aos locais das atividades.

Informalmente, realizei uma avaliação com os envolvidos no atendimento/cumprimento das imposições/ recomendações, para saber como estas imposições foram compreendidas e assimiladas por eles e qual é o efetivo comprometimento desses atores com elas.

Não me surpreendi quando ficou bastante claro que as ações estavam sendo tomadas em razão da pandemia e que, logo que a pandemia for superada – espero que isso aconteça o mais breve possível -, a situação naturalmente retornará à situação existente pré-pandemia.

Alguns podem considerar que estou sendo pessimista, mas o histórico de implantação de quaisquer processos – quando estes não são devidamente assimilados, compreendidos e conscientemente aceitos pelos colaboradores e pelas organizações – mostra que, com maior ou menor rapidez, a situação retorna à condição que existia antes da implantação.

A razão para essas observações é que, se não houver a efetiva motivação das pessoas envolvidas para que aceitem as mudanças - o que se obtém com informação e esclarecimento – o que resultará em seu comprometimento, o resultado obtido ocorrerá por causa da obediência das pessoas ou pelo seu receio de punição e não por causa da efetiva incorporação, por elas, do novo processo.

Muitos dirão que a razão para o cumprimento das imposições/recomendações é a proteção da vida, mas, por exemplo, basta caminhar pelas ruas para verifi car que a utilização de máscaras ainda não é cumprida por uma parte, não importa se grande ou pequena, da população.

O motivo desses comentários é lembrar, aos responsáveis pelas organizações, que a presente experiência que estamos vivenciando, por ser muito grave e estar causando o sacrifício de muitas vidas, deve ser utilizada como um aprendizado e aplicada às atividades do dia a dia. Por isso, deve-se atender aos preceitos da Qualidade quanto à higiene e à segurança das pessoas e dos produtos.

A atual situação que estamos vivendo será uma grande oportunidade para, efetivamente, lembrar às pessoas que, se cumpridos aos procedimentos, corretamente preparados e representativos da realidade, os resultados serão os melhores possíveis e servirão como exemplo para o cumprimento dos demais processos

Gestão em P&D por Wallace Magalhães

Cosméticos Y: oportunidades

Na coluna da edição março/abril de 2014, apresentei os cosméticos como uma equação, a partir de uma correlação gráfi ca, mostrando o efeito de cosméticos, alimentos e medicamentos na qualidade de vida e na produtividade das pessoas.

Para quem não viu a publicação ou não se lembra dela, a ideia está resumida no gráfico* abaixo, no qual os pontos 1 e 2 representariam uma condição normal, 3 mostra a queda da qualidade e da produtividade causada por uma enfermidade, o segmento de reta 3-4 a recuperação por ação do medicamento, e do ponto 5 para 6 estaria demonstrada uma elevação promovida pelo uso de cosméticos.

A princípio, foi atribuída aos alimentos a função de manter a condição de vida normal, representada no gráfico pelos segmentos de reta 1-2 e 4-5. Foi aqui que ocorreu um equívoco importante. Na verdade, alguns produtos de HPPC, além da elevação da curva (5-6), são responsáveis pela manutenção da condição normal de saúde ao prevenirem o aparecimento de doenças, o que está sendo amplamente demonstrado na prevenção da contaminação pelo novo coronavírus.

Os sabonetes - principalmente os líquidos –, os antissépticos e até os shampoos assumiram um protagonismo que estava meio esquecido. Pode-se afi rmar, sem medo de errar, que os produtos de HPPC têm mesmo uma extensa faixa de benefícios, que vai da manutenção da saúde até a elevação da qualidade de vida das pessoas, contrariando os mal informados que ainda, no século XXI, acham que os produtos HPPC são produtos supérfl uos. E contrariando também alguns gestores da própria indústria, que ainda convivem com a ultrapassada mentalidade de que os cosméticos são vistos como itens que têm como maior, ou até único motivo de sua existência, a fi nalidade de gerar faturamento.

Assim, para reforçar sua importância, seria adequado destacar com denominação específica aqueles produtos de HPPC que têm impacto direto na saúde das pessoas. Eu os chamei de Cosméticos Y. Fazem parte deste grupo: os sabonetes e os antissépticos tópicos e, ainda, os cremes dentais, os enxaguatórios bucais e, obviamente, os protetores solares. E, se olharmos com um pouco mais de atenção, seria possível aceitar a inclusão dos hidratantes corporais – com destaque para os cremes para as mãos - dos anticaspa, dos antiacne, e até de produtos que melhoram a circulação sanguínea das pernas porque, de certa forma, podem corrigir situações que, por um possível agravamento, poderiam resultar no aparecimento de doenças.

Porém, aqui o foco está no primeiro grupo, e o objetivo é ressaltar, em todas as esferas, o caráter de essencialidade e demonstrar a importância estratégica destes produtos na saúde pública.

Espera-se que este protagonismo e esta classificação especial reforcem a absoluta necessidade de adoção de critérios científicos e mostre a toda a cadeia produtiva a inquestionável exigência de se observar todos os preceitos tecnológicos e regulatórios em seu desenvolvimento, na sua fabricação e comercialização.

Ao criar esta designação especial, lançando luz sobre estes produtos, mais do que defi nir, a ideia é destacar o momento atual como hora propícia para se questionar e até fazer evoluir a tecnologia empregada em seu desenvolvimento e na sua fabricação.

Parece ser ponto pacífico que, mesmo depois de equacionada e resolvida a atual situação de pandemia, o mercado deve manter e até criar novas demandas de produtos. As mãos devem exigir atenção especial. A lavagem constante e o uso de antisséptico à base de álcool, que devem perdurar no mercado pós-pandemia, vão exigir produtos hidratantes regeneradores de alto desempenho, que possam efetivamente recuperar a pele. Estes produtos têm muita chance de ser um grande sucesso de vendas. Mesmo que ainda não tenha se manifestado claramente, pode até ocorrer algo semelhante àquilo que foi chamado de ‘Efeito Batom’ - que provavelmente será chamado de ‘Efeito Rímel’ ou ‘Efeito Sombra’ –, que pode impulsionar a venda de produtos para os olhos.

Definições à parte, o que parece certo mesmo é que o mercado está passando por uma grande transformação envolvendo valores e expectativas, e isso deve exigir novos produtos e novas funcionalidades. Como o trabalho é demorado, melhor mesmo é ir adiantando o serviço.


*Gráfico disponível para visualização nas edições impressa e digital

Assuntos Regulatórios por Artur João Gradim

De olho no amanhã, sem excessos ou desperdícios

A dinâmica de alteração na rotulagem dos produtos de HPPC é grande, ora voluntária, promovida pelas empresas para incluir novos apelos mercadológicos e/ou novo design para a concepção gráfica, ora compulsória, como é o caso do disposto nos regulamentos técnicos ou nos atos administrativos, cujas atualizações ou reformulações quase sempre impactam a rotulagem.

Essas atualizações ou reformulações regulatórias exigem a elaboração de uma nova arte para a embalagem/rotulagem do produto, com o novo texto legal. Além disso, o prazo para sua implementação nem sempre é suficiente para esgotar os estoques da versão anterior, fato que gera descartes de rótulos e/ ou embalagens.

Pois bem, diante do atual cenário econômico, embora o setor venha apresentando crescimento magro (porém acima da maioria dos demais índices industriais do país e de nossos parceiros do Mercosul), associado a uma variação cambial “louca” reflexo do comércio internacional e de nossas reformas internas, nas nossas indústrias ainda são necessárias ações de contenção, de modo a evitar custos extraordinários além dos já planejados.

Nesse sentido, faço referência aos valiosos ensinamentos inseridos na coluna do meu amigo de longa data Antonio Celso da Silva, com o título “A morte das embalagens secundárias” (Embale Certo, C&T Brasil, Maio/Junho 2019, pág. 60). Na referida coluna, Antonio Celso abordou a tendência da progressiva substituição das embalagens secundárias dos produtos de HPPC, como forma de reduzir custos, utilizando tecnologias de impressão, aplicando-se a realidade virtual ou aumentada (QR Code), com leitura por celular, já disponíveis e praticadas no país, inclusive por fabricantes do nosso segmento.

Assim, embora na rotulagem, à vista do consumidor, já tenhamos disponível um caminho aberto para o texto de rotulagem dos nossos produtos, abordando aspectos mercadológicos e promocionais, claim’s storytelling, certifi cações, apelos ambientais, entre outros, não obrigatórios, falta consultar o órgão regulador, a Anvisa, para saber que dados constantes de rotulagem são obrigatórios. Caso contrário, por ora, “nem tudo são fl ores”, são tão somente espinhos”, uma vez que continuaremos com os mesmos problemas de hoje, principalmente nos produtos de baixo volume ou peso (batons, esmaltes, entre outros). Nesses produtos, devido à sua diminuta área da embalagem, faz-se necessária uma visão mais do que acurada (ou uma lupa potente) para realizar sua leitura.

Não seria fora de propósito, quando estiverem sendo adotadas as novas tecnologia de realidade virtual, fossem essas usadas para obter parte dos dados obrigatórios na rotulagem dos produtos, por exemplo, o CNPJ e o endereço completo do fabricante ou do importador, o número da Autorização de Funcionamento e o número do processo ou do registro do produto, dados esses que não são considerados obrigatórios pela grande maioria das legislações internacionais sobre rotulagens, inclusive aquelas de referência da legislação brasileira, ou seja, as dos Estados Unidos e da União Europeia.

Concluindo e em paralelo, desejo ao grupo de trabalho brasileiro, que, em conjunto com os demais representantes dos países-membros, alcancem o resultado esperado pelo setor nesta importante fase de atualização do Regulamento Técnico de Rotulagem do Mercosul que, após aprovação, será internalizado em nossa legislação.

De minha parte, pessoalmente, vejo com preocupação a inclusão da advertência “Em caso de ingestão, ligue imediatamente para o Disque Intoxicação 0800722 6001”, que está sendo proposta. Sua aprovação implicaria em, literalmente, jogar no lixo todas as embalagens existentes e refazê-las incluindo essa nova menção, satisfazendo, dessa forma, o ego de poucos. Essa proposta não é nova. No século passado, houve uma tentativa de sua implementação, que, porém, foi rejeitada.

A hora, como desejam todos os “normais”, é de avançar e não de produzir retrabalho sem valor agregado para o consumidor.

*In memoriam. Coluna publicada na edição set/out 2019

Olivier Fabre
Fragrâncias por Olivier Fabre

Requisitos para o metiê de avaliação de fragrâncias

Na última edição de 2019, desta revista, contei a curta história do metiê de avaliação em perfumaria, que é um metiê relativamente novo nessa indústria e pouco conhecido. Na edição de março/abril deste ano, reportei algumas lembranças desse maravilhoso metiê que exerci durante quase trinta anos. Hoje vou abordar, a seguir, o que é necessário para ser um ser um avaliador de fragrâncias e ser bem-sucedido nesse metiê.

- Senso olfativo, o instrumento do avaliador: em princípio, quase todos nós podemos exercitar o metiê de avaliação de fragrâncias, pois a grande maioria de nós possui boa percepção olfativa. No entanto, há casos de anosmia, que é perda da capacidade olfativa, podendo ser definitiva ou temporária. A perda defi nitiva do olfato é rara, podem ser congênita ou acidental, causada por um traumatismo craniano que afete o nervo olfativo. Casos de anosmia temporária são mais frequentes, e esta pode ser causada por obstrução da via nasal, por causa de rinite ou resfriado, e é um dos sintomas da Covid-19, como se descobriu recentemente. Mas a recuperação do senso olfativo é rápida e total nos dois casos.

- Formação: como mencionei na coluna de novembro/ dezembro de 2019, ainda não existe escola de formação específica para esse metiê. O que existe são programas internos de treinamento nas casas de perfumaria. Porém, no Brasil, na cidade de São Paulo, a Paralela Escola Olfativa (https:// paralelaescolaolfativa.com.br), entre seus programas, tem um módulo de formação para avaliador olfativo. A minha consultoria, a Fragrances & Fonctions, também oferece um programa extensivo de formação para o metiês. A função pode ser exercida por pessoas de ambos os gêneros.

- Qualidades requeridas para ser um avaliador: como mencionei, o senso olfativo é o “instrumento” de trabalho da avaliação de fragrâncias. Mas esse instrumento precisa ser treinado e o nariz do avaliador precisa ser “articulado” e “apurado”. Para isso o avaliador precisa treinar seu senso olfativo conhecendo os principais ingredientes, matérias-primas e o vocabulário específico da perfumaria.

- Conhecer o mercado: é importante também que o avaliador de fragrâncias conheça muito bem os produtos do mercado do segmento em que vai trabalhar. Esse conhecimento do mercado é fundamental para orientar o perfumista na criação. A parceria do avaliador com o perfumista é o “coração” da função de avaliação.

- Habilidades: aos conhecimentos mencionados anteriormente, é fundamental acrescentar criatividade, sensibilidade artística, curiosidade intelectual, bom senso e empatia para trabalhar com muitos atores da empresa. Esses atores são perfumistas; gerentes de vendas, de marketing, de pesquisa de mercado, de produção e de logística; e os responsáveis pelos laboratórios de aplicação, de tecnologia e de sensorial. Como o leitor pôde perceber, para que a troca com esses atores seja proveitosa, o avaliador precisa ter conhecimento amplo dessas áreas.

- Conheça a própria casa: outro requisito importante é que ele conheça muito bem a coleção interna de fragrâncias que já tenham sido desenvolvidas pela casa de perfumaria e estejam disponíveis para venda no mercado. Isso vai permitir ao avaliador que foque seu trabalho nos projetos que precisam de fragrâncias originais que ainda não tenham sido desenvolvidas.

- Idioma estrangeiro: o domínio de um idioma estrangeiro pelo avaliador é importante, porque a indústria da perfumaria é internacional. No Brasil, é comum o trabalho em projetos de desenvolvimento de fragrâncias para outros países ou regiões do mundo.

- Recrutamento: em geral, as casas de perfumaria recrutam avaliadores com nível universitário (formados em biologia, farmácia, química, marketing, administração, mercadologia, etc). Outra forma de ingressar nesse universo é conseguir ter uma promoção interna nessas casas da perfumaria, de assistente de perfumista ou assistente de vendas ou de marketing para a função de avaliação. Também o recrutamento entre casas de perfumaria é frequente, isto é, as casas de perfumaria recrutam profissionais dos concorrentes, para essa função.

- Responsabilidade: a responsabilidade do avaliador é grande. É este profi ssional quem decide qual será a fragrância a ser submetida ao cliente. É muito importante que essa decisão seja tomada objetivamente, tendo em conta todos os aspectos especificados nos tópicos anteriores.

Diante do que foi exposto, podemos concluir que o trabalho do avaliador é um metiê complexo, variado e internacional. Costumo dizer que “cada projeto de desenvolvimento de uma fragrância é uma nova aventura”.

Antonio Celso da Silva
Embale Certo por Antonio Celso da Silva

O processo criativo e as embalagens

Sempre costumo escrever nesta coluna sobre temas técnicos e objetivos, mas, desta vez, vamos misturar o subjetivo também e mostrar que as embalagens e seus processos produtivos afetam diretamente o processo criativo e as inspirações dos designers, profi ssionais do marketing e de desenvolvimento de produtos.

Aqui vamos dar ênfase às decorações e aos acabamentos e comprovar porque eles são tão importantes e porque quem for mais criativo com certeza sairá na frente e se destacará perante a concorrência no ponto de venda.

Vamos apenas recordar o que já citei em outras ocasiões: no Brasil, o investimento em embalagens injetadas (estojos principalmente) é muito pequeno, dificultando que as empresas tenham embalagens diferenciadas e exclusivas. A importação nem sempre é a melhor saída, por questões de preço (US$), prazo (mínimo de 120 dias) e, em certos casos, também a quantidade.

Então, como fazer o nosso produto se destacar utilizando embalagens standard? Começamos negociando com o fornecedor uma cor exclusiva, desde que a quantidade mensal justifi que a compra de um máster, o que nunca é inferior a 10 mil peças.

Uma cor diferente, de preferência exclusiva, já vai entregando uma personalidade à marca. Mas, além da cor, busca-se também um layout diferente e impactante. Nesse momento, nos deparamos com as “viagens” do processo criativo e as limitações da nossa indústria. O que podemos fazer num estojo? Colocar o logo da marca com um relevo, hot stamping, tampografia ou serigrafia.

O relevo deixa o molde exclusivo ou ainda se tem a possibilidade de fazer um postiço para o molde original. É um detalhe que chama a atenção.

A tampografi a, sistema que utiliza um sairel (derivado da marca Cyrel da Dupont) de borracha, é ideal para superfícies não planas, frascos redondos, gravação 360 graus.

Já a serigrafia, processo que utiliza telas, se adequa melhor às gravações de apenas um lado, ou, então, se faz necessário gravar frente e verso. A serigrafia é melhor quando se utilizam uma ou duas cores, no máximo.

Ainda temos a possibilidade dos rótulos, que, embora não configurem um acabamento impresso na embalagem, proporcionam infinitas variações. Num rótulo, podemos utilizar fontes de texto pequenas e com espessuras variáveis sem a preocupação de que vá entupir ou falhar. Nos rótulos também podemos abusar das cores e de efeitos, tais como hot stamping, cold stamping, cores especiais e laminação (para termos um efeito de hot stamping no rótulo inteiro com menor custo).

Outra tecnologia, ainda cara, mas que deixa o produto extremamente bonito, é o heat transfer, decoração que incorpora uma imagem na embalagem, geralmente feita ao redor ou sobre as tampas.

Mas, nas embalagens de cartão, é que a imaginação flui. As gráficas estão oferecendo uma infinidade de recursos e apostando em profissionais mais qualificados para assessorar as ideias mirabolantes dos clientes.

Vale tudo nos cartuchos e luvas para que o produto fi que lindo e destaque-se. Há pouco tempo, desenvolvemos embalagens que juntavam de uma forma bem compacta vários recursos gráficos. Conseguimos colocar cartão metalizado, com relevo, reservas de espaços com fundo branco para impressão de textos, quadricromia e cor especial. Ainda complementando o conjunto, aplicação de BOPP. Em outro caso, cartão metalizado com relevo, aplicação de hot stamping holográfico sobre relevo e acabamento com BOPP fosco.

A metalização com acabamento fosco, a impressão sobre o metalizado, com e sem suporte branco, a utilização do cartão holográfico, a aplicação de verniz UV localizado, enfim, combinações de recursos que dão efeitos muito interessantes e valorizam os produtos.

Mas é importante tomar certos cuidados: algumas combinações são incompatíveis, como acabamento UV sobre cartão holográfico.

Uma opção de embalagem que vem conquistando o mercado são as paletas de compactados cartonadas. Já temos algumas gráficas nacionais praticamente no mesmo patamar das paletas importadas. Porém, por ser um processo com várias etapas manuais, ainda não é muito acessível, apesar de já estar se popularizando.

Com a grande avalanche de celebridades, principalmente blogueiras, youtubers etc. desenvolvendo suas marcas próprias, percebemos que, como não conhecem os processos técnicos, solicitam decorações bem inusitadas, que o pessoal da criação tem que entender, pesquisar, conciliar, fazer e apresentar o melhor resultado. Dessa forma, também nascem coisas novas, com as quais os próprios fornecedores se surpreendem. Mas é muito bom ter gente nova com novas ideias, criando alternativas.

Valcinir Bedin
Tricologia por Valcinir Bedin

O cabelo usado como diagnóstico

Os cabelos podem ser usados como agentes de diagnóstico e de objetos de estudo para confi rmação da presença de drogas ou outros metabólitos no corpo. O uso de uma droga para modificar o comportamento de uma pessoa para obter ganhos criminais não é um fenômeno recente. No entanto, o recente aumento de denúncias de crimes facilitados por drogas (agressão sexual, roubo) causa alarmismo no público em geral.

Os medicamentos envolvidos podem ser produtos farmacêuticos, como benzodiazepínicos (flunitrazepam, lorazepam, etc.), hipnóticos (zopiclona, z olpidem), sedativos (neurolépticos, alguns anti-H1) ou anestésicos (gama-hidroxibutirato, cetamina), drogas de abuso, tais como canabis, ecstasy ou LSD, ou, mais frequentemente, o etanol.

Para realizar exames toxicológicos bem-sucedidos, o analista deve seguir algumas regras importantes: obter o mais rápido possível as amostras biológicas correspondentes (sangue e urina); coletar cabelos cerca de 1 mês após o evento alegado; usar técnicas analíticas sofi sticadas (cromatografi a gasosa ou líquida acoplada à espectrometria de massa em tandem - MS/ MS, cromatografia gasosa no espaço livre); e tomar cuidado na interpretação dos resultados.

Desde a coleta do material até o seu processamento final, qualquer deslize pode levar a um resultado falso positivo ou falso negativo.

Para se obter um resultado confiável, é necessário que se tome alguns cuidados com cada etapa do processo.

- Amostras de cabelo: medicamentos, metabólitos e/ou produtos de decomposição podem surgir não apenas da administração deliberada do medicamento, mas também por deposição de uma atmosfera contaminada se o(s) medicamento(s) foram fumados ou vaporizados em uma área confinada, transferidos de superfícies contaminadas por alimentos/dedos, etc., e transferida do suor e de outras secreções após uma única exposição grande, que pode incluir anestesia. A excreção no suor de analitos endógenos, como o ácido γ-hidroxibutírico, é um fator de controvérsias em potencial se seu uso for investigado.

Procedimentos cosméticos, como branqueamento ou tratamento térmico dos cabelos, podem remover os analitos antes da coleta das amostras. A cor e a textura do cabelo, a área da cabeça da qual a amostra é retirada, a taxa de crescimento dos cabelos e como a amostra foi armazenada também podem afetar a interpretação dos resultados.

- Análise toxicológica: os resultados do imunoensaio por si só não fornecem evidências confiáveis
sobre as quais se deva basear as decisões judiciais, quando este for o caso. Cromatografi a gasosa ou líquida com detecção espectrométrica de massa (GC- ou LC-MS), se usada com o devido cuidado, pode fornecer identifi cação precisa do analito e com alta sensibilidade, mas muitos problemas permanecem. Em primeiro lugar, não é possível preparar padrões de ensaio ou material de controle de qualidade, exceto mergulhando o cabelo “em branco” em soluções de analitos apropriados, secando e depois submetendo o material seco a uma análise. O fato de que os solventes podem ser usados para adicionar analitos aos cabelos indica que os analitos podem chegar não apenas, mas também nos cabelos, de fontes exógenas. Uma gama de procedimentos de lavagem com solvente tem sido defendida para “descontaminar” o cabelo removendo os analitos adsorvidos, mas eles correm o risco de transportar analitos adsorvidos para a medula do cabelo, confundindo todo o procedimento. Isso é especialmente verdadeiro se a análise segmentar estiver sendo realizada para fornecer um “curso temporal” da exposição ao medicamento.

- Aplicações clínicas propostas para análise de cabelos: houve vários relatos em que drogas aparentemente administradas durante a perpetração de um crime foram detectadas nos cabelos.

No entanto, a avaliação detalhada desses relatórios é difícil sem a compreensão total dos possíveis efeitos de qualquer procedimento de “descontaminação” usado e de outras variáveis, como cor do cabelo ou tratamento cosmético do cabelo. Da mesma forma, em casos de custódia de criança e nos quais o objetivo é demonstrar abstinência ao uso de drogas ou álcool, os problemas de possíveis fontes exógenas de analito e as grandes variações nas concentrações de analitos relatadas em usuários conhecidos continuam confundindo a interpretação dos resultados em casos individuais. A interpretação dos resultados da análise dos cabelos deve levar em conta todas as evidências circunstanciais e outras disponíveis, especialmente no que diz respeito à metodologia empregada e à possibilidade de contaminação da superfície dos cabelos antes da coleta.

Para minimizar estes efeitos, há quem advogue que os fios deveriam ser retirados de áreas menos propícias à contaminação externa como os pelos pubianos.

Mas, independentemente do método, o mais importante é que não deixemos nunca de lado o bom senso.

Denise Steiner
Temas Dermatológicos por Denise Steiner

Novo produto restaura formato jovem

A procura para manter o rosto jovial, natural, sem rugas e expressões marcadas é incessante. Nunca houve tantas possibilidades de prevenir as marcas do envelhecimento e fazer uma gestão adequada da beleza, da saúde e do equilíbrio da pele do corpo e do rosto. Cuidar da pele, ter um grau de vaidade, gostar de estar bem está relacionado ao bem-estar e à autoestima.

A neurociência vem demonstrando que a interação positiva com a autoimagem está relacionada à saúde e à felicidade.

Este novo produto que chega ao mercado brasileiro traz a possibilidade de manter o rosto jovem em 3D.

Isto significa que ele proporciona a possibilidade da convexidade e concavidades estarem harmônicas e melhora a flacidez, a textura e a luminosidade da pele.

Trata-se de um produto que combina na mesma formulação ácido hialurônico e hidroxiapatita de cálcio.

O ácido hialurônico é bastante conhecido, pois é uma molécula que temos no nosso organismo que preserva a hidratação facial.

O ácido hialurônico é eficaz para preenchimento de lábios, olheiras e rugas profundas. Ele também é interessante para técnicas como volumização, reestruturação e harmonização, entre outras.

Este novo produto contém hidroxiapatita de cálcio, que é conhecida por sua capacidade de estímulo ao colágeno. Ela é considerada um dos melhores bioestimuladores da pele.

Nesse sentido, a mistura de ácido hialurônico e hidroxiapatita de cálcio no mesmo produto possibilita uma nova forma de preenchimento, conseguindo numa mesma sessão uma melhora significativa do volume, das projeções e da qualidade da pele.

Esse produto será disponibilizado somente para médicos especializados, pois o conhecimento da anatomia facial deve ser profundo, detalhado e completo.

A aplicação desse produto com ácido hialurônico e hidroxiapatita de cálcio na mesma formulação é feita em consultório com assepsia adequada, usando de preferência cânula 22 para a injeção.

O rosto deve ser analisado quanto a seu formato, projeções e angulações. O plano de aplicação é individual e deverá ser previamente desenhado.

Em geral, na região malar e na área do queixo, ele é aplicado num plano profundo (submuscular) e também num plano mais superficial acima da musculatura. A técnica de aplicação preconiza a retroinjeção para que o produto seja espalhado de forma natural e homogênea.

Na linha da mandíbula e também periauricular, a aplicação será mais superficial e proporcionará uma definição dos contornos e ângulos faciais.

São necessárias, em média, três sessões, sendo que os resultados são duradouros e naturais.

Há poucos efeitos indesejáveis, como ligeiro inchaço e eventuais hematomas, que desaparecem em cinco a dez dias.

As atividades diárias podem seguir dentro da normalidade. Não há idade específica para a aplicação deste produto, podendo ser utilizado tanto aos 30, para prevenir, como aos 60, para corrigir.

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