DIY

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Perplexidade

Não há justificativa para a guerra que acontece na Ucrânia, a primeira invasão de uma nação soberana e democrática na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945). A invasão russa já causou a perda de milhares de vidas e a deslocação de aproximadamente dez milhões de pessoas, a maioria mulheres e crianças. A bravura e a força da resistência ucraniana ante a superioridade militar da Rússia surpreendem o mundo.

Vidas interrompidas e famílias destruídas são as consequências mais cruéis do conflito, que impacta países e economias em todo o planeta. Em meio ao difícil processo de retomada pós-pandemia, pressões inflacionárias são agravadas pelo aumento dos preços de commodities como energia e trigo. Rússia e Ucrânia são, respectivamente, a primeira e quarta maiores produtoras mundiais de trigo.

As sanções ocidentais ao Estado, indivíduos e empresas ainda não diminuíram o ímpeto da ofensiva russa e o desfecho da situação parece distante. Independentemente de quando ou como o conflito terminará, especialistas apontam mudanças definitivas no mapa político internacional. O mundo acompanha, num sentimento quase unânime de estarrecimento, os desdobramentos da batalha – entre a tensão em relação ao que está por vir e a comoção ante o drama ucraniano.

Esta edição da Cosmetics & Toiletries Brasil traz na reportagem de capa a tendência DIY e como esse movimento impacta inovações e lançamentos na indústria cosmética.

Entre os artigos técnicos, destaque para um no qual os autores exploram o uso e a elaboração de receitas estéticas caseiras e seus possíveis riscos à saúde.

Boa leitura!

Hamilton dos Santos
Publisher

Receitas Estéticas Caseiras e Naturais: Análise de Riscos à Saúde - GA Chambilla Mamani, N Araujo Santos, S Wisam Abou Rafe, VH Lago Lorenzo, A Ramalho Garcia (Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo SP, Brasil)

A adoção do “faça você mesmo” se transformou em uma prática comum, mas é preocupante pela falta de segurança que traz aos consumidores. Neste artigo os autores exploram o uso e a elaboração de receitas estéticas caseiras e seus possíveis riscos à saúde por meio de um levantamento bibliográfico e de uma pesquisa, obtendo dados primários e quantitativos.

El uso del “hágalo tu mismo” se ha convertido en una práctica común y preocupante por la falta de seguridad a los consumidores. En este artículo, los autores exploraron el uso y la elaboración de recetas estéticas caseras y los posibles riesgos para la salud por medio de una revisión de literatura y una investigación, en el cual fueron obtenidos resultados cuantitativos y primarios.

The use of “do it yourself” has become a common practice and is worrying due to the lack of safety for consumers. In this article, the authors explored the use and preparation of homemade aesthetic recipes and their possible health risks through a literature review and research obtaining primary quantitative data.

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Uso de um Nutricosmético na Queda Capilar e Unhas Quebradiças - Tatiana AB Bressel, Taiana Haag Bressel (Biologics Consultoria Biológica Ltda., Porto Alegre RS, Brasil)

O objetivo deste estudo foi avaliar a influência de um nutricosmético na melhora das deficiências nutricionais e sua correlação com o crescimento e o fortalecimento das unhas e dos cabelos. Os resultados foram benéficos em relação às deficiências e à percepção de melhora significativa das unhas e dos cabelos.

El objetivo de este estudio fue evaluar la influencia de un nutricosmético en la mejora de deficiencias nutricionales y su correlación con el crecimiento y fortalecimiento de las uñas y cabello. Los resultados fueron beneficiosos en relación a las deficiencias y la percepción de mejora en las uñas y cabello.

The aim of this study was to evaluate the influence of a nutricosmetic on the improvement of nutritional deficiencies and its correlation with the growth and strengthening of nails and hair. The results were beneficial in relation to deficiencies and the perception of improvement of nails and hair.

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Técnicas de Indução Percutâneas em Acne e Estrias - Jefferson Fernandes Soares (Consultor Farmacêutico, Bocaiúva MG, Brasil)

Este trabalho, uma revisão bibliográfica, busca mostrar a eficácia do microagulhamento no tratamento da acne. O tratamento de acne com o microagulhamento mostrou-se efetivo e seguro, pouco invasivo e de rápida recuperação.

Este trabajo es una revisión de la literatura y busca evaluar la efectividad de la microaguja en el tratamiento del acné. El tratamiento del acné con microagujas ha demostrado ser efectivo y seguro, minimamente invasivo y rápido de recuperar.

This paper is a literature review, and it seeks to assess how the effectiveness of microneedling in the treatment. The treatment of acne with microneedling has been shown effective and safe, minimally invasive and quick to recover.

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John Jimenez
Tendências por John Jimenez

DIY Beauty

Me inspirei para escrever esta coluna em uma recente visita ao apartamento de uma amiga. Agora que estamos recuperando alguma normalidade, é interessante ver como os consumidores estão adotando as novas tendências. Minha amiga produz muita comida que consome em sua varanda, que tem uma bela vista das montanhas andinas em Bogotá.

O BBVA publicou recentemente uma nota interessante, na qual menciona que a Agenda 2030 das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável quer evitar a geração de resíduos por meio de quatro estratégias: prevenção, redução, reciclagem e reutilização. Esses fatos estão impulsionando a tendência DIY (Do It Yourself) globalmente e em muitos tipos de indústria, incluindo a de cosméticos. Como bem sabemos, a economia circular é tendência em beleza e cosméticos. Ago- ra, reciclar, reutilizar e reduzir resíduos estão entre os novos objetivos da nossa indústria. A seguir, veremos algumas das tendências mais interessantes desse conceito.

DIY market: 81% do mercado mundial da indústria de DIY está concentrado em 8 países. Os principais players do mercado mundial são Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Japão, Austrália, Itália, França e Alemanha. O Reino Unido, a França e a Alemanha representam 50% do mercado europeu de DIY.

DIY on-line coach: A pandemia veio de uma hora para outra e vimos salões fechando em todos os lugares. Fomos forçados a nos tornar nossos próprios cabeleireiros, esteticis- tas, coloristas e dermatologistas durante a noite e em nossas próprias casas. Agora temos a ajuda de consultores on-line que aconselham os consumidores com os seus procedimentos de DIY.

Localism – Pensar globalmente, consumir localmente: Há consumidores interessados em promover a identidade local, aproveitando os recursos disponíveis na área e evitando as emissões de CO2 dos transportes ou reduzindo a procura de energia.

DIY masks: Essa tendência também tem a ver com a ten- dência beauty snacking. Um tipo de máscara que está na moda são as rubber masks. São produtos em pó, que o consumidor pode usar para criar diferentes tipos de máscaras com água ou com soluções que podem fazer em casa. Recentemente, o Euromonitor publicou que 41% dos consumidores globais de produtos de beleza usam um produto caseiro mensalmente. Os dados mostram que as buscas por máscaras caseiras aumentaram 233% e o termo “facial em casa” cresceu 115%.

Imagination: A Foreo lançou a Imagination há alguns meses. Trata-se da primeira e única base de máscara caseira do mundo. Esta fórmula funciona como a base perfeita para máscaras caseiras, e agora os consumidores podem aproveitar ao máximo os ingredientes frescos e naturais da cozinha. Eles indicam que são necessários três passos simples: imaginar, misturar e aplicar.

Homemade cosmetics: Essa é uma tendência controversa que estamos começando a ver com mais frequência nas mídias sociais. Os cosméticos caseiros podem trazer muitos benefí- cios para as pessoas que têm tempo e vontade de criar seus próprios produtos de beleza, porém, deve haver ciência de que a qualidade nunca será igual à dos produtos comercializados pelas marcas de cosméticos (prazo de validade é muito curto, há muitas limitações e riscos).

DIYers: Esse termo está na moda e se refere a pessoas que gostam do conceito DIY. Os millennials lideram esse segmento de consumo. Essa tendência aumentou porque os consumidores consideram as rotas DIY em beleza e cosméticos como uma ótima ferramenta para aliviar e tratar o estresse, que aumentou drasticamente devido à pandemia.

DIY tech: A tecnologia já está disponível para você fazer isso sozinho. Os consumidores agora podem criar dispositivos wearables, que podem trazer notícias, atualizações e até mesmo indicar sua frequência cardíaca.

A varanda da princesa: Cuidar do nosso corpo começa com escolhas certas na hora de nos alimentarmos. A nova moda é criar verdadeiras fazendas de comida urbana DIY nas varandas dos apartamentos. As pessoas estão interessadas em cultivar o que comem e o que aplicam à sua pele.

Moda circular: Esse conceito está em alta por diversos motivos: a necessidade de os consumidores apoiarem a eco- nomia circular, a crise social gerada pela pandemia e a busca por conceitos inovadores.

Manscaping: Essa tendência impulsionou o conceito DIY na cosmética masculina. 67% dos homens realizaram atividades de depilação, incluindo a área íntima. A manicure em casa para homens também teve um forte aumento nos últimos dois anos.

DIY is fun: A Mintel publicou recentemente um relatório sobre atitudes em relação às rotinas de beleza e higiene. Nele, indica que marcas de produtos de limpeza, como sabonetes e limpadores faciais, estão tornando a experiência DIY divertida, lúdica e desestressante.

Carlos Alberto Pacheco
Mercado por Carlos Alberto Pacheco

O mundo em marcha à ré!

Olha a geopolítica atrapalhando a banquinha de bolo de fubá da dona Maria Joana aqui da esquina. Na edição passada, por ocasião do fechamento do editorial, não havia uma sombra tão forte da guerra do outro lado do mundo sobre os nossos negócios. A luta de um Estado soberano pelo direito de escolha sobre suas políticas comerciais e econômicas tem afetado negativamente o atual sistema de Estados, e as consequências não poderiam deixar de ser percebidas por todos os cantos.

Há bastante tempo, vivemos em um mundo globalizado, o que não significa mais igualitário, extremamente interligado, principalmente no que diz respeito aos aspectos econômicos. Atualmente, é impossível não se deixar influenciar econo- micamente por qualquer evento com a magnitude da crise na Ucrânia. Mesmo que a guerra fosse interrompida agora, as sanções econômicas impostas aos russos e aliados deixarão marcas negativas na economia. As ondas de impacto sobre os demais Estados, fronteiriços ou não, serão tanto maiores quanto maior for o período da crise.

Com o forte envolvimento dos norte-americanos e dos países da comunidade europeia no conflito, as linhas de financiamento de investimento, a evasão de recursos de projetos acordados e a revisão de prioridades irão alterar velozmente as relações comerciais dessas grandes economias com o resto do mundo, mudando o cenário, o que pode fazer com que acordos anteriores de consumo de produtos e serviços possam naufragar.

Olhando para dentro, nos últimos cinco anos (2017/2021), a balança comercial entre Brasil e Rússia foi negativa na ordem de US$ 9,1 bilhões, ou seja, importamos mais do que exporta- mos. As exportações brasileiras para a Rússia representaram no período 0,8% do total; e as importações, 2% - o que indica uma dependência econômica pequena entre os dois Estados, mesmo levando em conta um possível calote. Do ponto de vista estraté- gico, já não se pode dizer o mesmo. O exemplo mais icônico é o impacto negativo no setor agropecuário fortemente dependente da Rússia e de Belarus (aliada e igualmente embargada) dos produtos classificados no capítulo 31 do sistema aduaneiro, de acordo com a tabela de NCM (Adubos e Fertilizantes). Atualmente, o Brasil importa 80% do total da demanda interna por adubos e fertilizantes, e 28,5% do volume da demanda é suprido por esses dois países. Olhando as exportações para a Rússia, os principais produtos são soja, carnes bovina, suína e avícolas, que representaram nesse período 47,7%. Em virtude de uma demanda positiva desses itens no mercado interna- cional, será fácil encontrar novos consumidores sem risco de perda nesse setor. Em particular, a exportação de cosméticos para a Rússia (NCM 3401,) no mesmo período, da ordem de US$ 388 mil, é inexpressiva no total de bens e serviços de exportação do Brasil (0,07%).

Todas essas incertezas externas, incluindo uma pandemia com risco de novas ondas de impacto, somadas às incertezas específicas de cada local farão com que a escalada de juros no país continue aumentando no sentido de conter a inflação. Nota: tanto a inflação como a taxa de juros interna já eram altas antes da instalação da crise, diferentemente de outros países que es- tão com a inflação e a taxa de juros baixas, portanto com maior margem de manobra para o uso desse artifício. Hoje a taxa de juros reais interna do Brasil (aquela já descontada a inflação) é a segunda maior do mundo considerando 40 países (Infinity Asset), perdendo apenas para a Rússia, que enfrenta no momento uma economia extremamente sancionada pelo mundo. Em ou- tras palavras, o impacto local de uma crise gerada a mais de 10 mil quilômetros não será pequeno. Não é necessário ter muita expertise para enxergar como essa configuração de inflação e juros altos irá impactar a redução das ofertas de emprego.

Os argumentos acima são colocados com o intuito de ressaltar que conceitos tidos como básicos, como a aparente estabilidade da ordem mundial, de fato são dos mais vazios, simples fumaça de uma realidade há muito evaporada. Um mundo com mais atores pleiteando o status de potência hege- mônica militar e econômica (sistema multipolar), parece trazer mais calor para as tensões internacionais do que luz para as relações de cooperação. Essa visão, em linha com uma teoria das relações internacionais chamada “realista”, parece estar mais evidente no cenário mundial a partir da dissolução da ex- -URSS e da ascensão chinesa do que o pensamento “liberal”, que preconiza a cooperação econômica entre Estados com o objetivo de conter os conflitos bélicos.

Eventos como o atual, à guisa de muitos outros, têm feito teóricos em relações internacionais se questionarem “se vale a pena sustentar e defender o (atual) sistema de Estados ou se deveríamos substituí-lo por outro sistema.” (Robert Jackson e Georg Sørensen, pg. 57).

Enquanto isso, não nos resta outra opção a não ser pagar mais caro pelo bolo de fubá da dona Maria Joana aqui da esquina.

Joana Marto
Sustentabilidade por Joana Marto

Desmistificando a sustentabilidade

Ao longo do ciclo de vida de um cosmético, em todas as fases, há impacto na sustentabilidade. Mas sabe-se que a seleção dos ingredientes é uma das fases com mais impacto!

Há algumas décadas, os recursos do planeta eram vistos como infinitos e facilmente acessíveis. No entanto, a exploração excessiva desses recursos tem suscitado vá- rias questões sobre seu impacto em nível climático, na biodiversidade e na desflorestação. Esses fatores, aliados ao aumento da procura de produtos cada vez mais sustentáveis, enfatizam a necessidade de se estabelecerem critérios mais específicos e diferenciadores no que diz respeito à origem e à seleção de matérias-primas.

Durante muito tempo, o conceito de cosmético “verde” foi es- tabelecido, significando que um produto cosmético era composto exclusivamente, ou principalmente, de ingredientes de origem natural. A necessidade de cosméticos mais amigos do ambiente acelerou nos últimos anos, causando certa polarização relacionada à perceção de valor dos ingredientes, ou seja, posicionando os ingredientes sintéticos como vilões e os ingredientes naturais como uma verdadeira salvação.

Se por um lado a sustentabilidade tornou os ingredientes naturais heróis, por outro também os crucificou, pois todos nós sabemos da finitude dos recursos naturais.

Existem pontos-chave que devem ser considerados quando é feita a seleção de matérias-primas sustentáveis. São eles:

a) a origem da matéria-prima, ou seja, sua fonte sintética ou natural, seja animal, seja vegetal, é tão importante quanto a forma como a matéria-prima foi sintetizada, extraída e/ou purificada;

b) é preciso avaliar a biodegradabilidade e a composição-base dos ingredientes;

c) também não podemos nos esquecer de que a sustentabili- dade não diz respeito apenas ao impacto ambiental, mas também aos domínios econômico e social.

Com base nessas premissas, é importante destacar que cada ingrediente deve ser analisado considerando-se o maior número de critérios possível.

Nem todos os ingredientes sintéticos são insustentáveis e nem todos os ingredientes naturais são sustentáveis. Por exemplo, o uso do óleo de palma e da mica, que são matérias-primas de fontes naturais, levanta várias questões de sustentabilidade. A problemática do óleo de palma está relacionada com sua exploração, que é antiética, pois leva à desflorestação de várias florestas tropicais, afetando assim a população local, a biodiversidade e contribuindo para que ocorram alterações climáticas ao aumentar as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera. Como forma de solucionar esse problema e de responder à pressão dos consumidores, as empresas procuraram investir na utilização de fontes de óleo de palma certificadas.

O Certified Sustainable Palm Oil (CSPO) é certificado pela Roundtable on Sustainable Palm Oil (RSPO), de acordo com critérios específicos, como: condições de trabalho justas; pro- teção das terras e dos direitos da população local; não ocorrer desflorestação de florestas primárias; proteção da vida selvagem nas plantações; redução das emissões de gases de efeito estufa; e minimização da poluição industrial.

Estratégias semelhantes também já existem para a soja, a Round Table on Responsible Soy (RTRS), e para o cacau, a Round Table on Sustainable Cocoa (RTSC).2 Da mesma forma, o uso de mica como pigmento (por exemplo, da mica proveniente da Índia) levanta várias questões relacionadas ao domínio social da susten- tabilidade, já que o trabalho infantil continua sendo realizado na mineração da mica, sem mencionar o impacto ambiental dessa atividade. Em 2017 surgiu a “The Responsible Mica Initiative”, coalização global que visa obter mica sustentável, garantindo a rastreabilidade e a transparência da sua cadeia de valores.3

As empresas que desejam ser verdadeiramente sustentáveis precisam ter uma visão holística e considerar as múltiplas dimen- sões da sustentabilidade.

A indústria cosmética deve ter a responsabilidade de considerar matérias-primas alternativas para ingredientes não sustentáveis, não apenas devido à elevada procura de produtos sustentáveis, mas também ao declínio da oferta de matéria-prima de origem petroquímica. Para resolver essa questão, cada vez mais a indústria de matérias-primas está recorrendo aos resíduos que derivam da indústria alimentar (por exemplo, borras de café, caroço de abacate e cascas de uva e de tangerina) e pensando em como esses resíduos poderiam ser valorizados e utilizados em formulações cosméticas. Essa pode ser uma das grandes estratégias, mas os fabricantes de matérias-primas e os formuladores precisarão trabalhar sinergicamente para desenvolver e expandir essa nova tendência.


Referências
1. Bom S, Jorge J, Ribeiro HM, Marto J. A step forward on sustainability in the cosmetics industry: A review. J Clean Prod 225, 2019. DOI:10.1016/j. jclepro.2019.03.255
2. Berg J van den, Ingram VJ, Judge LO, Arets EJMM. Integrating ecosystem services into tropical commodity value chains - cocoa, soy and palm oil. Dutch policy options from an innovation system approach. WOt-technical reports 6(January):9–101, 2014
3. RMI. Resposible Mica Initiative. On-line. 2022. Disponível em: https:// responsible-mica-initiative.com/about-us-rmi/about-us-history. Acesso em: 31/3/2022

Wallace Magalhães
Gestão em P&D por Wallace Magalhães

Faça você mesmo! Será?

Nos meados da década de 1980, eu estava começando a desenvolver uma linha para clínicas de estética quando fui ao dentista e percebi que ele preparava, na hora, o material que iria usar, misturando alguns produtos. Achei uma ótima ideia usar este processo na linha profissional. O produto poderia ser ajustado para atender especificamente as necessidades de cada pessoa. Assim, projetei uma linha que seria composta de produtos base aos quais poderiam ser adicionados concentrados de ativos, de acordo com cada caso. Apresentei a ideia e cheguei a desen- volver algumas formulações. O pessoal da empresa gostou, porém o projeto nunca foi colocado na pauta para realização. Talvez não desse certo naquela época por ser uma novidade que iria exigir um trabalho de divulgação e treinamento que iam além das possibilidades que tínhamos. Projeto arquivado. Nos meados da década de 1990, apresentei a ideia para outra empresa que tinha os recursos necessários para lançar a linha, mas também não se interessaram. Não chegaram nem a ver a apresentação toda.

Pela introdução, fica claro que sempre acreditei em produtos ajustados às necessidades de cada pessoa, porém, o movimento “Faça você mesmo” para cosméticos e higiene pessoal tem enormes equívocos e muitos riscos. Na internet, há pessoas leigas dando “receitas” para fabricar cosméticos caseiros. Vi um site que dizia que shampoos “são poluidores terríveis” e, para limpar os cabelos, sugeria usar limão, maionese ou bicarbonato de sódio. Só não disse se era maionese caseira e que bicarbonato de sódio é um composto químico que, mesmo tendo um perfil toxicológico de baixo risco, continua sendo um composto químico. Havia também uma “receita” de produto para clarear os cabelos composta por água, limão, canela, casca de cebola e óleo de rícino. A orientação era aplicar o produto nos cabelos e ir para o sol, com o cuidado de não deixar a mistura atingir a pele. Outro site, que trazia a citação “não passe na pele o que você não pode comer” - o que descarta todo e qualquer cosmético ou produto de higiene pessoal –, dava uma receita para fazer sabonete natural. Com hidróxido de sódio, é claro. Estranho, porque não se come sa- bonete. Tem pessoas de formação superior ensinando a fabricar cosméticos artesanais e incentivando as pessoas a terem uma renda extra com isso.

Estimular a fabricação caseira de cosméticos, além dos riscos toxicológicos e ambientais, é um incentivo a uma atividade ilegal, pelo menos por enquanto. E aqui vem o pior da história. Este texto está sendo escrito em fevereiro de 2022, período no qual tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei 7816/17, que altera o artigo 27 da Lei 6360/76 e cria, em última instância, o “cosmético artesanal”. Ele já foi aprovado na Câmara de Deputados e agora foi enviado ao Senado para apreciação, com a seguinte redação: “Altera a Lei no 6.360, de 23 de setembro de 1976, para estabelecer isenção de registro e observância de regras simplificadas para cosméticos, produtos de higiene pessoal, perfumes e outros produtos de finalidade congênere, quando produzidos de maneira artesanal.” Se aprovado, ficam absolutamente desconsiderados todos os aspectos tecnológicos e toda legislação sanitária referente à atividade. Também per- dem o valor a responsabilidade técnica, as BPF, os procedimen- tos e metodologias usados no desenvolvimento, na produção, no controle de qualidade e, finalmente, a cosmetovigilância. Em outras palavras, um enorme e perigoso retrocesso. Haverá risco de acidentes na preparação artesanal, riscos para o meio ambiente e, principalmente, riscos para os consumidores que podem se enganar, acreditando se tratar de “produtos do bem”, que são naturais, que não fazem mal, que não agridem o meio ambiente e têm preço justo. Uma temeridade.

Qualquer pessoa tem o direito de passar o que quiser em sua pele, mas encorajar institucionalmente outras pessoas a fazerem isso extrapola esta prerrogativa. Incentivar e instruir a pro- dução caseira de cosméticos é uma irresponsabilidade. Inserir a legalização da fabricação e comercialização de “cosméticos artesanais” no ordenamento jurídico é uma insanidade que dá a impressão de que o congresso adotou a estratégia de “ir passando a boiada”. O “faça você mesmo” pode ser bom para comida, bolo, roupa, pintura da casa, móvel etc. Mas, em se tratando de cosméticos, é um descabimento que, até fevereiro de 2022, é ilegal. Se depois disso for permitido, será um enorme retrocesso para a saúde pública e para o meio ambiente.

Valcinir Bedin
Tricologia por Valcinir Bedin

DIY e cabelos

Sempre houve essa tendência da espécie humana de tentar resolver seus problemas fazendo uso de técnicas aprendidas de maneira coloquial, passadas de geração em geração, sem o necessá- rio questionamento de sua eficácia e seu poten- cial risco à saúde. Não estamos aqui querendo dizer que o chá da vovó não fazia efeito, mas que potencialmente poderia causar algum malefício.

Um dos conceitos mais errados nesta área é de que um produto natural não vai causar dano. Só para exemplificar e ficando na nossa área, existe uma intercorrência grave, que pode levar até a morte, chamada fitofotodermatose, que é uma lesão de pele causada pela interação de substâncias químicas encontradas em plantas e a luz do sol. Frutas cítricas são as responsáveis número um por esta condição.

Como o objetivo desta coluna é tentar esclarecer alguns pontos da nossa área de atuação, selecionei, da internet, alguns tratamentos do tipo “faça você mesmo” e vou tecer alguns comentários sobre eles.

Tratamentos naturais para queda de cabelo:

- Óleo essencial de alecrim e hortelã: “São os melhores óleos para queda de cabelo. Ativam a circulação no couro ca- beludo, melhorando o desempenho do crescimento, nutrindo o couro cabeludo e evitando assim a queda. Separe uma colher de sopa de óleo vegetal e acrescente 3 gotas de cada óleo. Misture bem e passe no couro cabeludo, massageando bem. Deixe agir por uma hora e lave os cabelos normalmente.” Risco aparentemente zero de danos. Efeitos positivos não demonstrados e, se o cabelo já for oleoso, pode haver uma piora desta condição.

- Óleo de coco: “O óleo de coco fortalece e nutre o couro cabeludo, evitando a queda de cabelo. Além de ajudar na hidratação do fio, o óleo de coco também acelera o crescimento. Deixa os fios mais alinhados e sem frizz. Separe uma quantidade para passar no seu couro cabeludo (cerca de duas colheres de sopa). Com os cabelos secos, aplique o óleo de coco em todo o couro cabeludo. Faça leves massagens até o óleo ser absorvido. Pode passar um pouco no comprimento e nas pontas. Coloque uma touca para ajudar a aquecer o óleo na cabeça. Deixe agir por quatro horas e, em seguida, lave os cabelos normalmente.” De novo, se os cabelos forem oleosos, este procedimento pode piorar a condição. Vale lembrar que queda de cabelos normalmente é causada por uma alteração interna e não apenas externa.

- Babosa (Aloe vera): “A babosa atua limpando os folículos capilares. Ou seja, ela expulsa a gordura contida no couro cabeludo, que pode atrapalhar o crescimento dos fios. A babosa ainda é capaz de regenerar e nutrir os fios, recuperando o cabelo. Deixa os cabelos mais bonitos, macios e brilhantes, fortalece e ainda evita a queda de cabelo.” Efeitos cosméticos garantidos. Efeitos de nutrição duvidosos.

- Ovo para o fortalecimento: “O ovo é um grande aliado para prevenir e melhorar a queda de cabelo. Ele é composto por ácidos graxos saturados, ácidos graxos insaturados, 20 aminoácidos, 14 minerais, 12 vitaminas e carotenoides que nutrem o couro cabeludo. A gema é rica em gorduras e proteínas e é naturalmente hidratante. A clara contém enzimas de bactérias que removem a oleosidade indesejada e limpam os fios.” O ovo é um grande alimento, mas seu uso externo nos fios e na pele carece de demonstração científica, uma vez que sua absorção é muito pequena na pele.

- Vinagre de maçã e óleo essencial de sálvia: “O vinagre de maçã é rico em aminoácidos, vitaminas e minerais, além de ácidos orgânicos (málico, cítrico, láctico e oxálico). O vinagre de maçã ajuda a selar as cutículas, melhorando o frizz, regula o pH do couro cabeludo e ajuda a melhorar a caspa e combater a queda de cabelo.” A melhora da queda pode se dar como efeito secundário da melhora do couro cabeludo.

- Chá-verde: “O chá-verde ajuda a melhorar as condições do couro cabeludo, regulando a oleosidade. Pode também ajudar no crescimento do cabelo. Isso acontece porque a bebida é rica em antioxidantes, que combatem os radicais livres prejudiciais e estimulam o desenvolvimento dos fios. Também foi constatado que as propriedades do chá atuam no crescimento e alongamento do folículo piloso, além de impedir a proliferação de problemas no couro cabeludo, como a caspa.” A absorção destes elementos é muito pequena. O efeito positivo se dá no plano local. Sem riscos de utilização.

- Máscara fortalecedora de abacate: “Abacate batido com água no liquidificador e aplicado em forma de máscara nos cabe- los”. Serve apenas para deixar os fios mais brilhantes momentaneamente. É de uso cosmético eventual.

- Tônico natural com plantas para o fortalecimento: “Mistura de plantas e água para fortalecimento dos fios”. Potencialmente arriscado, especialmente se forem usadas plantas com efeitos fitofoto, tipo limão ou outras plantas cítricas. Sem efeitos benéficos.

Pela nossa avaliação, não há nenhuma vantagem em se usar produtos feitos domesticamente, especialmente hoje, quando temos no mercado produtos fabricados com qualidade e cuidados especiais na produção.

Cristiane M Santos
Direito do Consumidor por Cristiane M Santos

O desrespeito da Amil

Após muita pressão social, ajuda de entidades de defesa do consumidor, consumidores lesados e pacientes em tratamento sem atendimento, no ultimo dia 4 de abril, a ANS (Agencia Nacional de Saúde) voltou atras em sua decisão e manteve a empresa de planos de saúde Amil responsável pelo atendimento dos planos individuais que haviam sido transferidos para outra empresa até então também controlada pelo grupo UnitedHealth, a APS (Assistência Personalizada à Saúde).

Para contextualizar, a Amil é uma das maiores empresas de saúde do país, com mais de 3 milhões de beneficiários.

Em dezembro de 2021, a empresa solicitou à Agência Nacional de Saúde (ANS) au- torização para transferir toda a carteira de planos individu- ais e familiares dos estados do Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo à empresa APS – esta- mos falando de cerca de 330 mil beneficiários (a maioria idosos).

Segundo informações divulgadas na imprensa, a carteira de planos individuais não era considerada rentável para a Amil e o objetivo era transferir essa carteira para a APS e, então, repassar essa investidor, gerando um negócio estimado em R$ 3 bilhões (valor doado pela grupo UnitedHealth para os futuros gestores da carteira).

Essa transferência caótica resultou em descredenciamento de hospitais, laboratórios e danos – muitas vezes irreversíveis – à saúde de seus consumidores.

Depois desse período de lesão aos consumidores da Amil, como já foi dito, a ANS reviu sua decisão e determinou que a operadora Amil reassumisse e fosse responsável pela carteira de planos individuais transferida para a ope- radora APS entre o fim de 2021 e início de 2022.

De acordo site Agência Brasil, a ANS também determinou a suspensão de qualquer transação da Amil e da APS baseada no Contrato de Compra e Venda de Ações (“Share Purchase Agreement”) tendo por objeto a venda das cotas que representassem o capital social da APS.

AANS também constatou que os compradores das cotas da APS não teriam capacidade financeira suficiente para garantir o equilíbrio econômico-financeiro da APS, e que a Amil havia omitido o fato de que as cotas representativas do capital da APS seriam vendidas.

Amil eAPS têm prazo de 10 dias (a partir da nova decisão) para se manifestarem junto à ANS. Após esse período a agência reguladora deverá decidir de forma definitiva se anula a autorização concedida para a transferência de carteira ou se adotará novas medidas.

No momento, torcer, pressionar e esperar é o que cabe aos consumidores lesados pela Amil.

Esse episódio mais uma vez de- monstra que, apesar de termos uma lei específica para a defesa do consumidor, como é o CDC (Código de Defesa do Consumidor), não podemos esquecer que quando falamos de saúde e tratamento de enfermidades podemos muitas vezes nos deparar com situações que se deve correr contra o tempo. E remediar ou reverter decisões equivocadas ou mal analisadas podem custar vidas...

Carlos Alberto Trevisan
Boas Práticas por Carlos Alberto Trevisan

Comunicação e Qualidade – Parte 2

Ao entender a mensagem de um comu- nicado, o ouvinte, automaticamente, amplia sua capacidade de ouvir e, consequentemente, de compreender o conteúdo do que está sendo transmiti- do. Assim ele estará apto a receber as mensagens sem distorções ou ruídos.

Quando o ouvinte entende e respeita os conceitos transmitidos pelo interlocutor, amplia-se a confiança mútua na comunicação e são criadas condições para que novos conceitos sejam explicitados.

O processo da Qualidade tem, fundamentalmente, que sensibilizar os parceiros para difundir as informações. Demonstra, também, a efetiva importância da comunicação tanto para se obterem os resultados desejados quanto para se obterem os indesejados. Motiva, ainda, as pessoas a compartilhar conhecimentos.

O descuido com a comunicação, ou sua utilização sem o devido conhecimento de seus princípios, é a maior causa de maus resultados na implantação dos processos da Qualidade.

Diz-se que a comunicação diária disfarça a importância que ela tem. Por outro lado, os resultados da comunicação não são imediatos.

A ausência de comunicação confiável gera o aumento da especulação e o surgimento de boatos (fake news).

Deficiências na formação técnica de profissionais da Qualidade na indústria dificultam o entendimento e a administração dos princípios da comunicação. Esse fato pode prejudicá-los na transmissão de conceitos aos seus colaboradores (parceiros).

Outro ponto a ser considerados é a qualidade do que se está comunicando, pois sabe-se que a comunicação com conteúdo de pouca importância cai rapidamente no esquecimento.

A insistência na comunicação não pode deixar de ser realizada, seja qual for o contexto. A constância e a persistência da repetição da informação são essenciais para a obtenção dos resultados.

Outro fator importante para o sucesso da comunicação é a valorização de todas as colaborações. Todo processo de comunicação exige a participação de todos.

A repetição da informação fundamenta e solidifica o conhecimento. A comunicação pobre, dispersiva, irregular e improvisada é como se a empresa “gaguejasse”.

Opções quanto ao sistema de comunicação resultam na sorte de todo o processo da Qualidade da empresa. O sucesso do processo da Qualidade é diretamente proporcional à qualidade das decisões tomadas na área da comunicação.

Implantar e administrar a comunicação, mantê-la sintonizada com a missão da empresa e com suas metas operacionais são condições fundamentais para o êxito, especialmente, das empre- sas que almejam ter tranquilidade e forte participação no mercado.

A qualidade da informação que circula na empresa indica o estágio de desenvolvimento do seu processo de Qualidade.

Denise Steiner
Temas Dermatológicos por Denise Steiner

Cuidados com a sua pele: faça você mesmo

Os principais cuidados diários com a pele são: limpeza, hidratação e foto- proteção. Esses cuidados garantem que a nossa pele se mantenha saudável e promovem a proteção eficaz da barreira cutânea.

A limpeza deve ocorrer duas vezes ao dia com produ- tos adequados ao tipo de pele, que não causem alergia, descamação ou entupimento dos óstios. Este produto deve ser totalmente retirado.

A hidratação mantém a capacidade de barreira cutânea da pele. Deve ser feita pelo menos uma vez ao dia em todos os tipos de pele. O fotoprotetor ou os produtos antienvelhecimento podem estar associados ao hidratante.

O fotoprotetor irá prevenir tanto o câncer de pele como o fotoenvelhecimento. O filtro pode ter ativos agregados, como vitaminas, peptídeos e hidratantes, sendo necessário se adequar a cada tipo de pele. Seu uso é preconizado pelo menos duas vezes ao dia.

O que podemos utilizar, além desses cuidados, para que nossa pele possa ter mais estímulos para preservar o viço, a textura e a coloração saudável?

Alimentação com comida de verdade, atividade física regular e moderada, sono reparador e diminuição do estresse ajudam muito na manutenção da juventude cutânea.

Os ácidos retinóico e glicólico ajudam a renovar e oxigenar os tecidos. Eles estimulam a troca da pele e também a formação de colágeno. Portanto, vale, para a pele, incorporar o uso dos ácidos, de preferência à noite, alternando ou complementando com hidratantes.

Os ácidos podem irritar e ressecar a pele devido a sua concentração e conforme a sensibilidade de cada um. Portanto, a frequência do uso e a alternância ou associação com hidratantes é fundamental.

Outros ativos que podem ajudar na qualidade da pele são os antioxidantes. A principal representante do grupo é a vitamina C, mas também são benéficos a vitamina E, o resveratrol, o ácido lipóico, a vitamina A, a luteína e a coenzima Q10, entre outros. Eles promovem a antioxidação, neutralizando os efeitos nocivos do sol, da poluição, do cigarro e de remédios, entre outros. A vitamina C pode ser incorporada ao hidratante ou até mesmo ao filtro solar. Além disso, na formulação, pode haver combinação de antioxidantes que tenham ação sinérgicas, como a vitamina C associada à vitamina E.

Outro grupo importante de ativos são os peptídeos, que são aminoácidos com várias funções na pele, como neuro-modulação, controle da inflamação e estímulo de colágeno.

A combinação dos cuida- dos básicos, como limpeza, hidratação e fotoproteção com ativos dessas três categorias (ácidos, antioxidantes e peptídeos), irá ajudar muito na qualidade e longevidade da pele.

Cuide-se!

Antonio Celso da Silva
Embale Certo por Antonio Celso da Silva

Faça você mesmo. E as embalagens?

O tema desta edição é a fabricação de cosméticos de maneira artesanal, o chamado “faça você mesmo”.

Na verdade, esse é um tema que vai e vem e sempre encontrou resistência por parte da Anvisa. Aos olhos dessa entidade, que regula o setor, não existe cosmético artesanal, pois isso equivaleria a adotar dois pesos e duas medidas em relação às empresas que precisam regularizar seus produtos e, para isso, ter uma fábrica 100% regularizada.

Sempre é bom lembrar que “fazer você mesmo” é somente para quem realmente quer fazer quantidades muito pequenas.

Hoje, com o trabalho de prestação de serviço feito pelos terceiristas, torna-se muito mais interessante contratar um deles do que fazer por conta própria. A menos que a quantidade seja tão pequena, que nenhum pequeno terceirista consiga fazer em escala industrial.

Fabricar com um terceirista significa ter um produto legalizado sem riscos de problemas com os órgãos fiscalizadores, fazer com especialistas, usar o sistema full service, no qual o terceirista compra todos os insumos e a marca se preocupa apenas com o marketing e a venda do produto, seja qual for o canal de venda. Isso potencializa e dá foco para o negócio.

A Anvisa não permite a fabricação artesanal de cosméticos para comercialização, assim como não permite fazer qualquer complemento da produção como, por exemplo, o envase, o reescalonamento ou a adição de algum ativo na própria loja.

A gente sabe que há quem armazene o bulk de colônias dentro da loja e incentive o consumidor a comprar a quantidade que quiser, trazendo a sua embalagem ou mesmo usando a embalagem que a loja oferece.

Isso é completamente ilegal, pois não atende às exigências de órgãos como Anvisa, Inmetro e até mesmo Procon, explicitadas nas portarias existentes.

Acho que o grande exemplo de fazer um complemento da produção de um cosmético na própria loja aconteceu com a marca internacional Lush.

Essa marca mantinha barras de sabonete em prateleiras ou em bancadas e o consumidor comprava o tipo de sabonete e tamanho de sua preferência. A loja “embalava” na hora. Essa operação não levava em conta os riscos de contaminação cruzada em função do ambiente não ser adequado para a operação, além de desconsiderar também a preocupação com a compatibilidade do produto com o tipo de embalagem e seu material de composição, onde eram colocados os pedaços de sabonetes.

Depois de várias autuações por parte da Anvisa, a marca resolveu fechar uma grande loja que existia num shopping de luxo em São Paulo e se retirar do Brasil.

Vemos na TV o incentivo à produção artesanal para a geração de emprego e renda também para cosméticos, porém sem considerar a legalidade. Tramita no Senado o Projeto de Lei 7816/2017, que trata desse assunto, mas ainda sem aprovação.

A preocupação com o “faça você mesmo” nos cosméticos é grande se não houver legislação adequada, pois, além do aspecto embalagem, há o uso das matérias-primas que não passam por controles físico, químico e microbiológico, obrigatórios na indústria.

Com relação à embalagem, um dos testes que se faz durante o desenvolvimento da formulação é a compatibilidade tanto física quanto química do produto com sua embalagem primária, que é aquela que entra em contato direto com o produto.

Esse teste visa detectar previamente defeitos, tais como migração do produto através da embalagem, reação de matérias-primas do produto com o material de composição da embalagem, stress da embalagem etc.

Um bom exemplo é a incompatibilidade do palmitato de isopropila, comum nos batons, com o poliestireno, material de composição das embalagens de batom.

Citei esse exemplo, porém existem muitos outros, principalmente se considerarmos que, nesses produtos artesanais, a prioridade é o uso de matérias-primas de origem vegetal, nas quais o risco de contaminação microbiológica é grande.

Aliado a isso, temos as incompatibilidades físicas entre produto e embalagem, como, por exemplo, o tipo de material de composição de um frasco de shampoo, seu peso e sua espessura de parede para torná-lo com memória, no caso de um shampoo viscoso. Frasco “pesado” é inadequado para esse tipo de shampoo, pois dificulta o uso do produto se for usada uma tampa disc ou flip top. Por outro lado, o uso de válvula pump também não resolve o problema.

Coloquei aqui alguns exemplos apenas para ilustrar o “faça você mesmo” sem conhecimento, além da total falta de contro- le de qualidade nas diversas fases do processo e na embalagem.

Concluindo: faça você mesmo, mas tenha cuidado. Não se esqueça do risco a que será exposto quem usar esses produtos.

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