Maquiagem do Século XXI

Débora Diorcelia de Souza, Karina Elisa Machado
Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Florianópolis SC, Brasil

Metodologia

Maquiagem

História da Maquiagem

A Maquiagem do Século XXI

Composição das Maquiagens

Resultados e Discussão

Considerações Finais

Referências

artigo publicado na revista Cosmetics & Toiletries Brasil, Set/Out de 2019, Vol. 31 Nº 5 (pág 18 a 25)

     É da natureza do ser humano o ato de cuidar, seja o cuidado com algo, seja o cuidado com os outros, seja o cuidado consigo mesmo. A satisfação de uma pessoa com sua imagem física que apresenta aos outros é afetada pelo quanto essa imagem se aproxima da imagem valorizada por sua cultura. Ressalte-se que diferentes culturas apresentam diferentes padrões de beleza.1

     O conceito da beleza tem fundamentos filosóficos amparados em autores como Aristóteles, Kant, Hume e Platão para os quais a beleza é a harmonia das partes em relação ao todo.2 No Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa,3 belezas é definida como “qualidade de belo; pessoa bela ou ainda, coisa bela, muito agradável ou muito gostosa. ”

     Já uma das definições de vaidade é o excessivo desejo por merecer a admiração dos outros. A vaidade está por trás da definição de padrões estéticos e da forma como a beleza corporal é culturalmente construída.4 Ela faz com que os indivíduos se preocupem com sua aparência física e há uma forte ligação entre a aparência e a autoestima.

     O conceito de autoestima de cada pessoa está relacionado à opinião que ela forma sobre si mesma, a qual é dependente do olhar do outro, dos valores, das conjunturas e dos contextos em que a pessoa está inserida, bem como é dependente da consolidação de diversos fatores pessoais e interpessoais.5 O valor da autoestima não está apenas no fato de esta permitir que a pessoa se sinta melhor, mas de permitir que ela viva melhor, respondendo aos desafios e às oportunidades de maneira mais construtiva e mais apropriada.6

     Segundo Strehlau e colaboradores,2 a vaidade pode afetar o consumo de cosméticos e tratamentos estéticos e o envolvimento do indivíduo com a beleza, e esses cosméticos e tratamentos, por sua vez, podem ser utilizados para elevar a autoestima.

     Nesse contexto, a maquiagem é constantemente empregada para ressaltar a beleza, a autoestima e a vaidade.6 Pode-se dizer que a maquiagem é um meio importante do qual o indivíduo se utiliza para demonstrar sua personalidade.7

     Considerando que atualmente a aparência física está associada à autoconfiança e ao sucesso pessoal e profissional, o objetivo deste trabalho foi analisar os diferentes tipos de maquiagem usados no decorrer da história da humanidade até chegar no século XXI.

 

Metodologia

     Este trabalho é uma revisão bibliográfica exploratória-descritiva com abordagem qualitativa. Para atender o objetivo deste estudo, as produções científicas referentes ao tema foram pesquisadas em livros e nos bancos de dados das bibliotecas eletrônicas Bireme, Lilacs, Scielo, Pubmed e Periódicos Capes no período, preferencialmente, de 2008 a 2018. Os descritores utilizados para a seleção foram: maquiagens, conceitos, definições de maquiagens, história da maquiagem e importância da maquiagem no cenário atual. As estratégias utilizadas para a inclusão dos artigos neste estudo foram: inserir artigos de pesquisas com estudos in vivo e in vitro, inserir artigos de revisão e artigos publicados em versões em inglês, espanhol e português que estavam disponíveis integralmente nas bases eletrônicas. Os critérios de exclusão de artigos utilizados foram: excluir artigos repetidos, excluir artigos incompletos e excluir artigos que não representavam a temática deste estudo.

 

Maquiagem

     A palavra maquiagem deriva da palavra francesa maquillage, que tem como significado “pintar o rosto”. Make-up é um termo em inglês que traduz a verdadeira finalidade da maquiagem, a de realçar a imagem pessoal, e que foi inventado por um famoso maquiador chamado Max Factor.8

     A maquiagem ajuda a realçar os traços naturais do rosto, criando efeitos que o iluminam e revelam sua beleza, ao mesmo tempo que pode encobrir pequenas imperfeições. Ela colore, realça o contorno, disfarça olheiras e linhas de expressão do rosto, tendo como princípio a harmonia entre cores, formas, estilo pessoal e ocasião.9 Magalhães (2010) afirma que as maquiagens podem auxiliar as pessoas a se inserir em grupos sociais, ao adquirirem, por meio desse recurso, suas características e seus trejeitos corporais.10

     A maquiagem sempre foi de grande importância em todas as civilizações por causa da crença em seus poderes místicos e curativos, por ser usada para camuflar-se ou confrontar o inimigo em guerras, por ser uma arte magnífica de adornar o corpo e a face, por ajudar a seduzir, por ajudar a distinguir as pessoas, por ser usada na caracterização de personagens e, finalmente, por ajudar no disfarce de imperfeições e no realce da beleza e da sedução.11

     Atualmente, a maquiagem consiste em produtos funcionais e coloridos, existentes em diversas formas cosméticas e que têm os objetivos de embelezar a pele e cobrir suas imperfeições.12 O forte crescimento da indústria cosmética ocorrido ao longo dos últimos anos levou está levando ao constante aprimoramento dos produtos de maquiagem. Hoje, as maquiagens não têm apenas a função de embelezamento, mas tem também as de cuidado e tratamento, podendo ser associadas a filtros solares, produtos anti-idade, entre outros.13

 

História da Maquiagem

     Segundo a literatura, na Antiguidade, a maquiagem já era utilizada na Mesopotâmia, no Egito, em Creta, na Grécia e no Império Romano. Esses povos utilizavam matérias-primas provenientes da natureza, como açafrão, hena, terra vermelha, kohl (mistura de negro de fumo e minério de chumbo e estanho), fuligem, índigo, frutas silvestres roxas e vermelhas e outros produtos.6

     Os indícios das primeiras maquiagens foram encontrados em cavernas na África do Sul e em regiões do sul da França, e datam de aproximadamente, 1,5 milhão de anos. Os seres humanos das cavernas, mais precisamente os que eram guerreiros e caçadores, usavam um pó avermelhado extraído das cavernas para se camuflar, para assustar seus inimigos e para adorar seus deuses em ritos primitivos.14,15

     Na Suméria, os homens e as mulheres usavam sobrancelhas grossas e unidas no centro da testa formando um arco no topo do nariz. Suas sobrancelhas eram ressaltadas quando eles e elas utilizavam o kohl ou o sulfito de antimônio.16

     Na Babilônia, homens e mulheres se maquiavam muito e utilizavam kohl ao redor dos olhos. Além disso, os guerreiros babilônicos exageravam na maquiagem: no rosto, eles usavam uma pasta branca feita de cera de abelha com carbonato de chumbo e coloriam as bochechas com tinta de cor avermelhada, feita de frutas silvestres ou pétalas de rosas.15,16

     Os assírios utilizavam hena para fazer desenhos em todo o corpo. Também usavam pastas feitas com pigmentos brancos e vermelhos, além do kohl, que marcava fortemente os olhos. Essas maquiagens eram guardadas em requintatos estojos.15

     Contudo, foi no Egito que o hábito de se maquiar se tornou frequente. No Egito, além de ser utilizadas como um recurso estético, as maquiagens funcionavam como um bloqueio contra o brilho do sol e protegiam as pessoas de doenças e não estavam relacionadas ao status social.16

     Por volta de 3200 a.C. a prática de se maquiar se tornou um hábito cotidiano dos egípcios, que enfatizavam muito a pintura nos olhos, com o kohl, e nas pálpebras, com o índigo, a malaquita, a azurita, a terracota e pigmentos vegetais, além da galena, que é o minério de chumbo. Para deixar o rosto pálido, eles usavam uma pasta feita de chumbo branco com cera de abelha ou gordura solidificada. Nos lábios, usavam pigmentos da cor vermelho-ocre, que eram aplicados com a ponta de uma pena. Inicialmente, o

kohl era misturado a óleos e aplicado com a ponta de um palito de madeira nas partes inferior e superior das pálpebras, contornando os olhos com um traço e alongando esse traço até o início das têmporas.  Depois os egípcios passaram a usar um caule oco, no qual derramavam uma massa líquida quente que solidificava quando fria, da mesma forma que ocorre com os lápis de olho atuais em sua produção.17

     A rainha egípcia Cleópatra representa o ideal de beleza daquele tempo no Egito, não só por causa de sua vaidade, mas também porque ela tinha conhecimento sobre as essências das substâncias dos produtos que usava. Existem registros de historiadores romanos relatando que Cleópatra frequentemente se banhava com leite para manter sua pele e seus cabelos hidratados.18

     A maquiagem também passou por sanções e perseguições. Na Grécia, seu uso foi proibido durante o segundo século da era cristã19 e para os gregos o embelezamento do corpo e do espírito era mais importante que a maquiagem do rosto. No entanto, a maquiagem era utilizada. As mulheres gregas usavam o kohl nos olhos de maneira esfumada, diferentemente de como o usavam as egípcias. Na pele, elas aplicavam óleos essenciais para suavizá-la e pasta branca de carbonato de cálcio. Pós vegetais aromatizados eram utilizados pelas gregas para fixar a maquiagem.15

     Na Idade Média, a Igreja católica reprimiu com rigor o culto à higiene e a exaltação da beleza. Essa igreja pregava que não havia relação entre os hábitos de higiene e as doenças e que estas só poderiam ser curadas com a intervenção divina, e considerava que a maquiagem era uma tentativa de modificar a aparência original das mulheres. A Idade Média ficou historicamente conhecida como “Idade das Trevas” e o uso de cosméticos praticamente desapareceu nesse período.20

     Em algumas partes do Oriente, entretanto, seguidores de outra religião, homens e mulheres continuavam a maquiar seus rostos de acordo com as cores de cada casta. Porém, com as Cruzadas, aos poucos o culto à beleza voltou ao Ocidente. Isso porque os cruzados traziam cosméticos e perfumes do Oriente.15 Assim, no período da Renascença (século XIV-XVI), o uso da maquiagem ressurgiu.

     Por volta de 1453 d.C., na Itália, no início da Idade Moderna (século XV-XVIII) surgiu um movimento que buscava a restauração dos valores da elegância, da beleza e da cultura.15 O padrão de beleza daquela época na Europa era uma aparência pálida, que era alcançada com o uso do milenar pó de arroz.11

     Entretanto, ainda na Idade Moderna, em 1770, o uso de maquiagem passou por uma nova restrição quando o Parlamento inglês editou um ato que restringiu o uso de cosméticos. Esse Parlamento estabeleceu que “qualquer mulher que [...] se imponha, seduza e atraia ao matrimônio qualquer um dos súditos de Sua Majestade por utilizar pinturas, perfumes, cosméticos, produtos de limpeza, dentes artificiais, cabelos falsos, espartilho de ferro, sapatos de saltos altos, enchimento nos quadris, vai incorrer nas penalidades previstas pela Lei contra a bruxaria e o casamento será considerado nulo e sem validade”.21

     A popularidade dos cosméticos retornou na Europa no início da Idade Contemporânea (na segunda metade do século XVIII). Destaque-se que, nessa época, os cosméticos ainda eram feitos em casa e cada família tinha suas receitas favoritas para prepará-los.21

     No começo do século XX, os cosméticos deixaram de ter produção caseira e passaram a ser fabricados em quantidades maiores por indústrias. A inserção das mulheres no mercado de trabalho, a partir do final do século XIX, como consequência da Revolução Industrial, foi o fator fundamental para o sucesso dos cosméticos prontos, já que as mulheres não mais tinham tempo para produzi-los em casa.21

     Pode-se dizer que a maquiagem se consagrou no século XX, graças ao sucesso do cinema e das estrelas de Hollywood. Cada década foi ditada por uma tendência de moda e as indústrias cosméticas acompanharam essa evolução.9

     As grandes mudanças que marcaram a maquiagem no século XX estão descritas resumidamente no Quadro 1.

     No século XXI, beleza e saúde estão andando juntas porque houve uma mudança no perfil dos públicos consumidor feminino e masculino, que buscam a longevidade e a qualidade de vida.

     Assim, nas indústrias cosméticas, cada vez mais são criados cosméticos multifuncionais, que são uma inovação ao unir a tecnologia e o tratamento para a pele maquiada.22

 

A Maquiagem do Século XXI

     A nova tendência nos cosméticos para maquiagem é agregar a eles ativos que tratem a pele além de embelezá-la. Os ativos incorporados às formulações com FPS promovem a prevenção contra o fotoenvelhecimento, as vitaminas C e E que funcionam como antioxidantes e os que promovem efeito lifting.

     Dessa forma, a maquiagem no século XXI é um item de beleza que preserva a integridade e a saúde da pele, com formulações inovadoras que permitem à mulher ter embelezamento, cuidado e praticidade em seu dia a dia.12,22

     Entre os ativos tecnológicos, a nanotecnologia é um dos principais focos dos profissionais que realizam as atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação desses ativos em todos os países industrializados do mundo, pois eles têm como objetivo tornar os produtos de beleza mais eficazes com essa tecnologia. Os produtos cosméticos formulados empregando a nanotecnologia são utilizados para conferir maior proteção aos raios UV, permeação mais profunda dos ativos cosméticos na pele, melhor estabilidade, e, consequentemente, qualidade desses ativos.23

     Nas maquiagens, a nanotecnologia está presente como aliada no desenvolvimento dos produtos, pois com ela busca-se a melhoria desses itens. Por exemplo, nos blushes, a nanotecnologia permitiu a criação de um pó extremamente fino e leve, o que favorece sua dispersão na pele.24

     A tecnologia HD (high definition) para televisão surgiu na década de 1990, nos Estados Unidos. Para acompanhar essa tecnologia, surgiu uma nova técnica de maquiagem que proporciona melhor definição dos traços do rosto e assim possibilita aplicações uniformes e rápidas, e transições entre cores sutis e delicadas, garantindo um visual perfeito para a fotografia, o vídeo e as câmeras de TV com alta definição de imagem. Essa técnica de maquiagem é aplicada com o equipamento chamado air brush, composto de um compressor de ar e de uma pistola aerógrafo. Esse equipamento exige cuidado na preparação da pele e na aplicação dessa técnica.22,25 A maquiagem de alta definição é uma tecnologia capaz de produzir uma cobertura suave que funciona quase como uma segunda pele.20 Os principais produtos para a aplicação dessa técnica são: primes; corretivos de diferentes cores; pós faciais com a tecnologia de ultra micronização, que ficam invisíveis na leitura digital; bases formuladas com álcool, que são usadas para proporcionar efeitos especiais; bases formuladas com água; e bases de silicone.25

     Outra tendência que surgiu no século XXI, vista como modismo por alguns, mas que muitos outros compreendem ser um processo de mudança de comportamento e de hábitos, são os cosméticos naturais. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec),26 produtos “verdes” ou “naturais” são aqueles obtidos por um processo limpo e sustentável. Esses produtos englobam produtos como hidratantes, sabonetes, máscaras para o rosto e cabelo, óleos, géis, tinturas de cabelo, esmaltes, condicionadores, shampoos, incluindo maquiagens, as quais ganham espaço nas prateleiras e cujas vendas crescem, mesmo sendo itens de valor elevado.

 

Composição das Maquiagens

     Hoje, as maquiagens são verdadeiros tratamentos que ajudam a proteger e a nutrir a pele ao longo do dia, além de valorizar os traços e corrigir imperfeições no rosto, e de proporcionar beleza e bem-estar.9 Elas podem se apresentar de diversas formas cosméticas. Entre os produtos para maquiagem, destacam se: batom, corretivo, base, pó facial, blush, sombra, lápis para os olhos, delineador e máscara para cílios.

     A descrição da composição das maquiagens, segundo Rebello12 e Morais,14 encontra-se no Quadro 2.

     Com essas formas cosméticas, as mulheres podem escolher seu estilo e incluir as maquiagens em seu cotidiano, da maneira que julgarem necessária.15

 

Resultados e Discussão

     Na Antiguidade, as maquiagens utilizadas para embelezar eram feitas em casa com recursos naturais, como açafrão, hena, terra vermelha, kohl, fuligem, índigo, frutas silvestres roxas e vermelhas, entre outros produtos, que foram usados pelos povos da Mesopotâmia, do Egito, de Creta, da Grécia e do Império Romano.6

     Na Idade Média, a Igreja católica reprimiu com rigor o culto à higiene e a exaltação da beleza. Considerava que a maquiagem era uma tentativa de modificar a aparência original das mulheres. O período ficou conhecido como “Idade das Trevas” e o uso de cosméticos praticamente desapareceu.20

     No início da Idade Moderna surgiu na Itália um movimento que buscava a restauração dos valores da elegância, da beleza e da cultura,15 em vez da aparência pálida com o uso do milenar pó de arroz, que era o padrão naquela época na Europa.11

     Entretanto, o uso de maquiagem passou sofrer restrições quando em 1770, o Parlamento inglês editou um ato que restringiu o uso de cosméticos. 21

     No início da Idade Contemporânea, no século XIX, as maquiagens ainda eram feitas em casa, e cada família tinha suas receitas favoritas para prepará-las. Com a primeira fase da Revolução Industrial (que ocorreu no final do século XVIII e no início do XIX) e a consequente inserção das mulheres no mercado de trabalho, elas não tinham mais tempo para produzir suas maquiagens em casa. Então, para suprir essa demanda de mercado, no começo do século XX, os cosméticos deixaram de ter produção caseira e passaram a ser fabricados em indústrias, em escalas maiores, e os cosméticos prontos se tornaram um sucesso.11 No século XX, a maquiagem se consagrou por causa do sucesso do cinema e das estrelas de Hollywood.9

     Entretanto, o século XX também trouxe as duas Guerras Mundiais e, nesses períodos, a produção nas fábricas de cosméticos e das demais fábricas foi afetada em todo o mundo, pois todos os recursos produtivos estavam direcionados à produção de material bélico. Por causa disso, nesses períodos, a produção das maquiagens voltou a ser caseira. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, e com o avanço tecnológico, no início dos anos 1950, o uso e a produção de maquiagens em grande escala retornaram com força total.11

     No século XXI, o conceito de maquiagem mudou, pois esta passou a estar associada à saúde além de à beleza. Diversos ativos passaram a ser associados a diferentes tipos de maquiagem, com o objetivo de tratar a pele e não somente de embelezá-la. Entre esses ativos, podem-se destacar: as vitaminas C e E, que funcionam como antioxidantes, e os ativos que têm efeito lifting, os extratos de trigo e os extratos de soja. Assim, no século XXI, a maquiagem é um item de beleza que preserva a integridade e a saúde da pele, que pode contar com formulações inovadoras que permitem à mulher ter embelezamento, cuidado e praticidade no seu dia a dia.12,22

     Atualmente, as maquiagens são multifuncionais e agregam diferentes ativos em um só produto. No entanto, deve-se destacar que muitos desses ativos são compostos instáveis e/ou incompatíveis, podendo sofrer reações que acarretem a diminuição ou a perda de sua efetividade e até mesmo a degradação do produto. Em decorrência disso, a indústria cosmética tem investido em novas tecnologias para melhorar a efetividade dos produtos cosméticos e sua aceitação pelos consumidores. Uma dessas alternativas para aumentar a estabilidade dos ativos e permitir sua liberação controlada é o encapsulamento dessas substâncias por meio da nanoencapsulação. Essa técnica envolve a nanotecnologia, que é um dos principais focos das atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação em todos os países industrializados do mundo.23,27

     Muitas empresas de cosméticos já utilizam os princípios da nanotecnologia há alguns anos.27 Nas maquiagens, a nanotecnologia está presente como aliada no desenvolvimento desses produtos, com o objetivo de obter a melhoria de sua eficácia. Por exemplo, nos blushes, ela permitiu a criação de um pó extremamente fino e leve, o que favorece a dispersão deste sobre a pele, além de proporcionar maciez e elasticidade e extrema difusão da luz à pele.24

     Além disso, a nanotecnologia é utilizada em sombras com brilho e cor irradiante, chamados cristais fotônicos, e em esmaltes que promovem o fortalecimento de unhas quebradiças e fracas.23

     Também foi criada a maquiagem HD, que proporciona melhor definição e assim possibilita aplicações uniformes e rápidas, e transições de cores sutis e delicadas, garantindo um visual perfeito para fotografia, vídeo e câmeras de TV com alta definição de imagem. Essa tecnologia vem sendo empregada principalmente, por exemplo, em primes, corretivos de diferentes cores e pós faciais. 22,25

     Atualmente, paralelamente a essas tecnologias, há o apelo ecológico, em que se destacam os produtos “verdes” ou “naturais”, que trazem diferentes conceitos, os quais são considerados, por diversos autores, um estilo de vida. Entre esses conceitos, destacam-se: os cosméticos veganos, os cosméticos cruelty free e os cosméticos orgânicos.

     Nessa perspectiva, Barros28 contextualiza que o veganismo é uma extensão do vegetarianismo e não se limita a uma dieta alimentar.

     O apelo ecológico também criou o termo cruelty free, que começou a ser gradualmente empregado para designar os produtos cosméticos não testados em animais. Isso porque, entre os anos 2006 e 2016, houve crescimento dos manifestos dos consumidores relativos ao não uso de animais em testes para a produção de cosméticos.29

     A regulação desses produtos é feita por agências reguladoras e certificadoras da indústria. No Brasil, a indústria cosmética segue os referenciais de normas publicados pela Ecocert francesa e pelo Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento (IBD).30 O IBD é a maior certificadora de produtos orgânicos e biodinâmicos da América Latina, é reconhecido pela Federação Internacional de Movimentos da Agricultura Orgânica.31,32

     De acordo com Neves,33 o setor de perfumaria e cosméticos vem desenvolvendo esses produtos por causa da preocupação ecológica dos consumidores. Existe uma tendência importante, no Brasil, de aumentar o consumo de cosméticos que incorporem ingredientes naturais e orgânicos.34

 

Considerações Finais

     A maquiagem é constantemente empregada para ressaltar a beleza, elevar a autoestima e satisfazer a vaidade. Pode-se dizer que a maquiagem é um meio importante do qual o indivíduo se utiliza para demonstrar sua personalidade. A maquiagem teve grande importância para as civilizações antigas e continua tendo para as atuais, pela crença de que ela tem poderes místicos e curativos, por ter sido usada para se camuflar ou confrontar o inimigo em guerras, por ser uma arte magnífica de adornar o corpo e a face, por ajudar a seduzir e a distinguir as pessoas, por ser usada na caracterização de personagens e, finalmente, porque disfarça imperfeições, realça a beleza e eleva a autoestima.

     Atualmente, a maquiagem consiste em produtos funcionais e coloridos, existentes em diversas formas cosméticas e que têm os objetivos de tratar e embelezar a pele e cobrir suas imperfeições. As maquiagens podem ser consideradas verdadeiros tratamentos, pois ajudam a proteger e a nutrir a pele ao longo do dia, além de valorizar os traços e corrigir imperfeições e de proporcionar beleza e bem-estar. Elas podem ter diversas formas cosméticas. Entre os tipos de maquiagem, destacam-se: batom, corretivo, base, pó, blush, sombra, lápis para olhos, delineador e máscara para cílios.

    A maquiagem é amplamente empregada nos dias atuais e seu uso permeia toda a história dos seres humanos. Segundo a literatura, a maquiagem já era utilizada na Antiguidade, na Mesopotâmia, no Egito, em Creta, na Grécia e no Império Romano. Esses povos utilizavam matérias-primas provenientes da natureza, como açafrão, hena, terra vermelha, kohl, fuligem, índigo, frutas silvestres roxas e vermelhas e outros produtos. O forte crescimento da indústria cosmética nos séculos XX e XXI levou ao aprimoramento das maquiagens, que passaram a ter não apenas a função de embelezamento, mas também as de cuidado e tratamento, podendo ser associadas a filtros solares, produtos anti-idade etc. Hoje, além dessas tecnologias, há o apelo ecológico, com os produtos “verdes” ou “naturais” e novos conceitos, como o dos cosméticos veganos, o dos cosméticos cruelty free e o dos cosméticos orgânicos.

     Por fim, hoje existem cosméticos para maquiagem com diferentes conceitos, variedades de cores e usos, porque avanços tecnológicos e pesquisas permitiram o aprimoramento desses produtos. Dessa forma, o consumidor pode escolher os produtos que melhor atendam às suas necessidades.

 

Referências

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3. ABH Ferreira. Míni Aurélio. O Dicionário da Língua Portuguesa, 8ª. ed, Positiva, Curitiba, 2010

4. RS Queiroz, E Otta. A beleza em foco: condicionantes culturais e psicobiológicos na definição da estética corporal, Senac, São Paulo, 1999

5. N Branden. Autoestima e os seus seis pilares, Saraiva, São Paulo, 1995

6. MV Pereira, S Emiliano. A Maquiagem como Comunicação Não--Verbal - Um Estudo Sobre a Expressão da Maquiagem Aplicada nos Olhos (TCC). Curso Superior de Tecnologia em Estética e Cosmética, Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba, 2014

7. PRZ Abdala. Vaidade e consumo: como a vaidade física influencia o comportamento do consumidor (dissertação). Programa de pós-graduação em Administração, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2008

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14. GN Moraes. Maquiador, 1ª. edição, Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, Montes Claros, 2015

15. S Tinelli. Maquiador: Manual Prático da Maquiagem, 1ª. ed, Viena, São Paulo, 2016.

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17. M D’Allaird, B Booles, G Boyce, S Mckenna, SA Moren, S Mulroy, A Pierce, Podbielski, S Schmaling. Milady Maquiagem, Gengage, São Paulo, 2016

18. GN Vieira, DS Garcia, FH Garcia. Química Cosmética: Uma Situação de Estudo. In: 2º Encontro Missionário de Estudos Interdisciplinares em Cultura Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia. Porto Alegre, 2016

19. IR Ferraz, NW Yabrude, FM Thives. O que Leva o Consumo pela Maquiagem (TCC). Santa Catarina, Curso Superior de Tecnologia em Estética e Cosmética, Universidade do Vale do Itajaí – Univali, Balneário Camboriú, 2013

20. F Torquatto. O Boticário Maquiagem. Curitiba, 2011

21. CA Trevisan. História dos Cosméticos, Química Nova, 2011

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23. LS Gonçalves, DPM Mejia. O uso da Nanotecnologia na Formulação de Cosméticos (TCC). Goiás, Pós-graduação em Fisioterapia Dermatofuncional, Faculdade Cambury, Goiânia, 2014

24. MB Silva, VM Pereira, CMP Raminelli, MP Souza Filho. Nanotecnologia Aplicada aos Cosméticos, Etic - Encontro de Iniciação Científica 13(13), 2017

25. EM Schneider, M Reis, F Thives. Tendência do Mercado da Maquiagem: Conceito da Arte e da Tecnologia (TCC). Curso Superior de Tecnologia em Estética e Cosmética, Universidade do Vale do Itajaí – Univali, Balneário Camboriú

26. Abihpec. Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. III Caderno de Tendências 2014- 2015: Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos, BB Editora, São Paulo, 2014.

27. RM Daudt, J Emanuelli, IC Külkamp-Guerreiro, AR Pohlmann, SS Guterres. A nanotecnologia como estratégia para o desenvolvimento de cosméticos. Cienc Cult 65(3):28-31, 2013

28. MAR Barros. O movimento vegan em Portugal: signifi cados e justificações (dissertação). Mestrado em Sociologia, ISCTE-IUL, Lisboa, 2013

29. C Hessel, AC Negri. Os novos negócios da moda e beleza, Ver Pequenas Empresas & Grandes Negócios 329:64 79, 2016

30. M Tozzo, L Bertoncello, S Bender. Biocosmético ou Cosmético Orgânico: Revisão de Literatura, Revista Thêma et Scientia 2(1), 2012

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32. IBD. Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento. Diretrizes para a certificação de produtos de saúde e beleza orgânicos e naturais e para ingredientes orgânicos e naturais, 5ª. ed, IBD Certificações, São Paulo, 2014.

33. K Neves. Formulação verde, Cosmetics & Toiletries Brasil 21(2):23 2009

34. LS Rodrigues, FQ Oliveira, LH Angelis. Certifi cação de Cosméticos Orgânicos e Naturais. Cosmetics & Toiletries Brasil 24(5):52-57, 2012

Débora Diorcelia de Souza é graduada em cosmetologia e estética pela Universidade do Vale do Itajaí – Univali, Florianópolis SC, Brasil. Atualmente é funcionária do laboratório de Estética e Cosmética da Univali.

Karina Elisa Machado é farmacêutica pela Universidade d o Vale do Itajaí– Univali, Florianópolis SC, Brasil, mestre em Ciências Farmacêuticas pela mesma Universidade e doutora em Farmácia pela Universidade Federal de Santa Catarina. Atualmente é professora do Curso de Estética e Cosmética da Univali.

 

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