Manipulação Cosmética

Quando eu era criança, mamãe dizia…

Março/Abril 2017

Luis Antonio Paludetti

colunistas@tecnopress-editora.com.br

Luis Antonio Paludetti

Uma característica interessante dos humanos adultos é que a maioria não se lembra bem dos tempos de criança. Fatos mais específicos quase sempre se perdem nas lembranças, exceto quando são muito marcantes ou traumáticos.

Talvez por esse motivo, quando nos tornamos adultos, quase sempre tendemos a tratar as crianças como se fossem algum tipo de “cópia reduzida” de nós.

Isso é um fato preocupante. Na verdade, não podemos tratar as crianças como pequenos adultos. Sua anatomia e fisiologia são significativamente diferentes das dos adultos, e muitos órgãos e sistemas fisiológicos ainda não estão totalmente desenvolvidos - a pele é um bom exemplo disso.

Por isso gostaria de tratar de um tema bastante oportuno nesta edição da Cosmetics & Toiletries (Brasil): a carência de medicamentos pediátricos e como as farmácias com manipulação podem ajudar a resolver esse problema. Então, vamos lá!

Quando observamos o mercado farmacêutico, percebemos que a maioria dos medicamentos está disponível em cápsulas ou soluções injetáveis. Há pouca disponibilidade de medicamentos em formas farmacêuticas adequadas às crianças. O mesmo ocorre em relação às dosagens.

Qual seria a causa disso? Por que a indústria farmacêutica parece não ter muito interesse em formas de uso pediátrico?

Por incrível que pareça, um dos motivos mais importantes está relacionado com pesquisa e desenvolvimento. Todos sabemos que, para que um medicamento possa ser comercializado, ele precisa passar por inúmeros testes que demonstrem sua segurança e eficácia no tratamento de uma determinada patologia que acomete um grupo populacional específico. Como a incidência de muitas doenças é menor em crianças e como as crianças são afetadas por patologias específi cas que não afetam os adultos, o interesse comercial em desenvolver estudos clínicos com formas farmacêuticas e dosagens específicas para a população pediátrica tende a ser menor. Além disso, os estudos clínicos em crianças têm um custo maior e necessitam de mais cuidado em seu desenho experimental.

Essa situação nos leva a uma condição pouco animadora: o leque de opções terapêuticas oferecido pela indústria farmacêutica fica limitado.

Tudo isso faz com que a tarefa de administrar medicamentos para crianças seja imprecisa e difícil.

Em vários casos, o médico pediatra precisa lançar mão de formas farmacêuticas projetadas para adultos e que possuem doses que são muito difíceis de ajustar para crianças, visto que, na maioria dos casos, a dose pediátrica se define em função do peso corpóreo.

Muitas vezes, em função da faixa etária ou do grupo populacional, o médico precisa fazer adaptações que podem levar a doses imprecisas, contaminação causada pela manipulação do medicamento por pessoas leigas, prejuízos à estabilidade ou incompatibilidades e interações indesejadas.

A maioria dos países desenvolvidos não tem disponibilidade adequada de formas farmacêuticas pediátricas, e essa situação é ainda mais grave nos países subdesenvolvidos ou emergentes.

É aí que se encontram as oportunidades para as farmácias magistrais: oferecer soluções terapêuticas individualizadas utilizando princípios ativos de comprovada segurança e eficácia para as populações pediátricas.

Nesse sentido, várias alternativas podem ser propostas pelas farmácias:

As farmácias podem preparar formas farmacêuticas com doses adequadas, evitando os erros inerentes à administração de medicamentos utilizando colheres ou copos medida. Isso sem falar no uso de colheres domésticas, totalmente inadequadas.

As crianças não têm a mesma percepção do sabor que os adultos; elas percebem melhor os sabores ácidos e adocicados e, portanto, o sabor dos medicamentos deve ser ajustado a essa percepção.

Formas adequadas e que facilitem a adesão ao tratamento, como por exemplo os líquidos orais, os pirulitos, as gomas, os géis tópicos e os “refrescos”.

As farmácias podem preparar produtos excluindo excipientes inadequados para pacientes com necessidades específicas, como por exemplo, produtos sem lactose, sem caseína, sem soja, sem corantes, sem conservantes ou sem propilenoglicol.

As farmácias podem adaptar uma forma farmacêutica em outra, por exemplo, transformar um comprimido em uma suspensão, respeitando-se a estabilidade e segurança.

Esses são apenas alguns aspectos em que as farmácias poderiam atuar.

Como disse, quase nunca os adultos se recordam do que viveram na infância. Se isso fosse diferente, certamente nos lembraríamos de como era desagradável que nossas mães ou pais muitas vezes tivessem que nos prender pelas pernas para que tomássemos medicamentos, além de outros subterfúgios.

No meu caso, quando nada mais funcionava, ela dizia: bilu, bilu, bilu. Bilu teteia.



Outros Colunistas:

Deixe seu comentário

código captcha

Seja o Primeiro a comentar

Novos Produtos