Manipulação Cosmética

Tempurá de feira

Novembro/Dezembro 2015

Luis Antonio Paludetti

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Luis Antonio Paludetti

Em algum outro artigo desta minha coluna, escrevi sobre uma iguaria sem igual: o pastel de feira.

O pastel pode ser feito em pastelarias, botecos, lanchonetes e restaurantes da moda, mas nenhum destes se compara ao pastel feito na feira.

Também já contei a vocês que, quando quero relaxar minha cabeça, um dos meus locais favoritos é a feira; tantos sons, cores e aromas distraem o cérebro com coisas diferentes de farmácia, farmacotécnica e cosmetologia.

Recentemente, fui à barraca do meu xará Luiz, que faz um dos melhores pastéis de feira que já provei.

- Vai um tempurá? - disse ele.

- Vai! - respondi no automático.

- Ops! Como assim tempurá? - pensei ainda a tempo de remanejar o pedido.

- Ô Luiz, agora você está fazendo tempurá?

- Tempurá de camarão e legumes, frito na hora e crocante! Sabe, com esta crise aí fora, a gente tem que diversificar. Agora também tem bolinho de bacalhau, quibe e coxinha!

E o que o tempurá tem a ver com manipulação cosmética? Muita coisa.

Em 2015, muitas coisas acabaram por atrapalhar as iniciativas empreendedoras no Brasil. Crise política, crise econômica, as diversas operações da Polícia Federal e seus nomes criativos, incertezas, graus de risco rebaixados, dólar em alta... Foi tanta coisa, que até a sempre vigorosa indústria cosmética sentiu o baque.

As farmácias com manipulação também tiveram seus percalços.

Como a farmácia com manipulação é uma atividade que mescla produção e serviços, a inflação que afeta ambos os setores também afeta as farmácias duplamente. Não só o aumento dos preços administrados pelo governo, mas também o dólar impulsiona os custos das matérias-primas, dos insumos e das embalagens. Some-se a isso a crescente pressão por aumento de salários dos funcionários e a redução do poder aquisitivo dos clientes, e a bomba está armada.

Será mesmo?

Eu acho que não. E é aí que entra a lição de empreendedorismo ensinada pelo Luiz do pastel: diversificar.

Tradicionalmente no Brasil, as farmácias magistrais sempre optaram por manipular medicamentos e cosméticos. Houve épocas em que as estratégias foram oferecer ao mercado opções mais baratas de medicamentos ou revender produtos alheios ao comércio de medicamentos.

Mas, agora, é preciso ir além. Mais que nunca. É preciso diversificar.

E esta diversificação é perfeitamente possível e totalmente amparada pela legislação.

De uns anos para cá, os farmacêuticos têm ampliado suas atribuições profissionais. Aquele típico profissional de medicamentos, que só manipulava ou dispensava, hoje pode se habilitar para muitas coisas mais. Hoje, como farmacêuticos, podemos levar outros serviços de saúde para a população, além da dispensação.

Acupuntura, prescrição farmacêutica, consultórios farmacêuticos, orientação nutricional, fitoterapia e, mais recentemente, a farmácia estética.

E como estamos numa revista de cosméticos, vou limitar-me a esta área: imagine o potencial de negócios de uma farmácia com manipulação que implemente serviços de avaliação, preparação e de uso racional de cosméticos em procedimentos estéticos, serviços que poderiam também ser complementados com orientações nutricionais e fitoterapia.

Desde que oferecidos com ética e por profissionais especializados e habilitados, estes serviços podem agregar valor àqueles que tradicionalmente as farmácias já oferecem, a manipulação e orientação sobre o uso de medicamentos.

A barraca do Luiz do pastel sempre foi cheia. Ele sempre fez ótimos pastéis, desde o tradicional de carne até o inusitado pastel de banana com chocolate. Só que, depois do tempurá, ela ficou muito mais cheia. E, com isso, o Luiz está superando a crise.

Nesta última coluna deste ano, deixo meus votos de um feliz ano novo e que em 2016 possamos também diversificar, enfrentando a crise com criatividade e esperança.

Ah! Sim, só para lembrar: o tempurá estava delicioso!



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