Mercado

Não há como esconder!

Setembro/Outubro 2015

Carlos Alberto Pacheco

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Carlos Alberto Pacheco

Há alguém que acredite ainda que não estamos em recessão? Antes de responder, seria bom dar uma olhada no signifi cado do termo que tem afetado tantos de nós. Um período de recessão é um momento da vida econômica, por exemplo, de um país (pois pode ser aplicado a uma empresa ou até mesmo a uma família), caracterizado por uma conjuntura de fatores. Fatores como um grande declínio na taxa de crescimento econômico, que resulta na diminuição da produção e do trabalho, dos salários e dos benefícios das empresas. Do ponto de vista dos empresários, recessão significa restringir as importações, produzir menos e aumentar a capacidade ociosa. Para o consumidor, significa restrição de crédito, juros altos e desestímulo para compras. Para o trabalhador, baixos salários e desemprego.

Do ponto de vista técnico, para que a economia de um país entre em recessão, são necessários dois trimestres consecutivos de queda no PIB; alguns especialistas mais conservadores falam em três trimestres. Se o PIB crescer pouco, pode-se falar até em estagnação econômica, mas não em recessão. E, embora caracterizada por uma redução expressiva das atividades comerciais e industriais, a recessão é considerada uma fase normal do ciclo econômico, sendo bem menos severa que a depressão. De acordo com o que foi exposto acima, sim, estamos em recessão econômica quando todos os critérios mencionados são avaliados.

Vamos avaliar um deles a título de exemplo: a balança comercial, pois os demais critérios são mais facilmente perceptíveis no dia a dia.

Este indicador nos mostra a atividade econômica de uma sociedade. Quando se exporta mais do que se importa, dizemos que temos uma balança comercial favorável, pois se vende mais do que se compra. No entanto, mais importante do que saber o saldo, o relevante é saber o volume negociado (se aumenta ou diminui) e a grandeza deste volume. Um olhar crítico sobre estes dois aspectos nos mostra um quadro preocupante.

No acumulado do ano (até agosto, ou seja, mais de dois trimestres), as exportações atingiram US$ 128,347 bilhões e as importações, US$ 121,045 bilhões – garantindo uma balança comercial positiva, portanto. No entanto, no mesmo período de 2014, as exportações registraram retração de 16,7% e as importações, de 21,3%. Em outras palavras, o volume negociado diminuiu de US$ 307,835 bilhões para US$ 249,232, ou seja, houve uma expressiva redução, de 19%. Um olhar sobre os últimos 12 meses leva à mesma constatação: uma expressiva redução de 16,9%. Em um horizonte mais próximo, entre julho e agosto de 2015 houve uma queda de 10,7%.

Olhando especificamente os parceiros comercais de exportação, observa-se no acumulado do ano uma queda no nível das negociações com todos os blocos econômicos. O mercado asiático reduziu as exportações em 18,9%, tendo a China – que é o principal destino comercial do bloco, com 19,9% do volume gerado – apresentado uma queda de 19,7%.

As exportações para o Mercosul recuaram 16,2%, tendo a Argentina – que é o principal destino, com 33,5% do volume gerado – apresentado queda de 11,3%.

E, por último, as exportações para os Estados Unidos (segundo maior país em termos de volume negociado, com 12,8% do volume gerado) retrocederam 8,1%.

Sendo assim, por qualquer corte que se analise - nos últimos 12 meses, no acumulado do ano ou na variação do mês anterior –, os indicadores mostram uma redução de dois dígitos, o que é muito e, embora uma recessão seja considerada uma fase normal do ciclo econômico de um país, a questão é o nível do mal-estar provocado e o período que se demora para retornar a um nível aceitável de crescimento. Vale destacar que a febre pela qual passamos hoje, se não cuidada, pode muito bem nos levar a uma estagnação, ou pior, a uma depressão.

Um país é uma estrutura muito pesada e a economia é um ente lento a se mover. Toda e qualquer ação exige muito esforço para ser posta em movimento, e os resultados nunca são sentidos de imediato. O ano que vem já será comprometido em termos de crescimento. Os especialistas indicam que um sinal positivo de tudo isto só poderá ser sentido em 2017, se medidas forem tomadas ainda neste terceiro trimestre. E, para um bom planejamento estratégico, estas são variáveis que não podem ficar de fora.

Não há como esconder!



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