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Chegou a hora de dar adeus para 2014, um ano intenso, sobretudo por causa do cenário político-social (falta de água em São Paulo, crise da Ucrânia/Rússia, eleições, Copa do Mundo...). No entanto, não antes de darmos uma última olhada no que hoje já é passado, mas que sem dúvida irá asfaltar o futuro.
No meio de dezembro, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nos trouxe dados estatísticos valiosos sobre o perfil dos domicílios, que, se bem aproveitados, podem nos ajudar a evitar algumas armadilhas escondidas no cenário de 2015.
Uma vez que a família continua sendo a entidade principal do mundo em que vivemos, vale a pena analisar a evolução dos seus padrões de organização em termos de composição e pensar sobre o reflexo que isto pode ter em nossas estratégias.
Um dado que chama a atenção no período estudado, de 2004 a 2013 (10 anos), é que o perfil das famílias mudou definitivamente.
Novas formas de organização estão surgindo, passando a coexistir de maneira mais significativa com formações familiares do tipo “tradicional” (casal com filhos). Os fatores apontados na pesquisa que contribuem para a transformação na organização das famílias brasileiras são: a queda da fecundidade, o envelhecimento populacional, o aumento do número de divórcios, o adiamento dos casamentos e da maternidade, o crescimento do número de pessoas que moram sozinhas - bem como o de casais que optam por não ter fi lhos-, o aumento da participação da mulher no mercado de trabalho e o aumento do grau de escolarização da população.
O estudo indica que o arranjo familiar mais expressivo é o “arranjo familiar com parentesco”, ou seja, de pessoas que vivem juntas no mesmo domicílio (86,2%, em 2013), seguido pelo “arranjo familiar unipessoal”, ou seja, famílias formadas somente por uma pessoa por domicílio (13,5%).
Nos “arranjos familiares com parentescos”, percebe-se no período uma queda de 13,7% no número de casais com filhos e um aumento de 32,9% na quantidade de casais que optam por não ter filhos. O Rio Grande do Sul é o estado que tem o maior percentual de casais que optam por não ter filhos (23,9%), embora a região Norte tenha sido a que apresentou o maior percentual de variação nos últimos 10 anos (43,1%). O alto percentual evidencia uma dinâmica já mais amadurecida nas demais regiões, que há anos já vinham apresentando esta tendência.
Nos “arranjos familiares unipessoais”, percebe-se um aumento de 35% no período. Estes arranjos são formados principalmente em virtude do aumento da longevidade, o que acarreta um número maior de indivíduos viúvos. Em 2013, dos 9.230 domicílios com esta formação (13,5% do total), 61,7% eram compostos por pessoas com 50 anos de idade ou mais, e, destes, 50,4% eram mulheres.
A taxa de fecundação nacional indica que o número de filhos por mulher no período caiu 26%, passando dos 2,4 filhos/mulher para apenas 1,8. Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais apresentam taxas menores que a média nacional: apenas 1,6%.
Além deste decréscimo relevante, o mesmo estudo indica o aumento do número de mulheres sem filhos entre 25 e 29 anos, que passou de 32,5% para 40,4%, sendo expressivo o percentual de mulheres declaradas brancas e sem filhos (48,1%) em comparação aos 33,8% das declaradas negras/pardas. A escolaridade também influencia na decisão de ter ou não ter filhos: quanto maior o nível de escolarização, menor o percentual de mulheres que optam por tê-los. Na mesma faixa etária, somente 16,3% das menos escolarizadas optaram por não ter filhos, contra 45,5% das mais escolarizadas.
A “geração canguru” (termo usado para designar as pessoas entre 25 e 34 anos que ainda moram com os pais) aumentou de 21,2% para 24,6%. A razão para o fenômeno está mais ligada ao prolongamento dos estudos desta geração - mais escolarizada que a geração anterior – do que com o desemprego, já que a taxa de ocupação destes jovens é alta. Uma vez que a região Sudeste apresenta a maior taxa de ocupação e o maior nível de escolaridade dos jovens nesta faixa de idade, a proporção desta geração canguru é mais expressiva na região: 26,8%, enquanto a média nacional é de 24,6%.
Os hábitos mudaram e o mercado também. O imperador Júlio César (100 a.C. a 44 a.C.), em um momento de reflexão, havia dito: “Hábitos, hábitos, hábitos... O que pode melhor explicar um povo? Hábitos!” Parafraseando-o, eu diria: “O que pode mais pode explicar o mercado? Hábitos!”
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