Temas Dermatológicos

Hidratação

Setembro/Outubro 2014

Denise Steiner

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Denise Steiner

A água é essencial para o funcionamento normal da pele, especialmente da sua camada externa, o estrato córneo. Assim, a perda cutânea de água deve ser cuidadosamente regulada, o que depende da complexa natureza do estrato córneo. A retenção hídrica no estrato córneo é dependente de dois componentes principais: a presença de agentes higroscópicos naturais dentro dos corneócitos (coletivamente referidos como fatores de hidratação natural) e de lípidos intercelulares do estrato córneo, ordenadamente dispostos para formar uma barreira contra a à perda transepidérmica de água. Um determinado teor de água no estrato córneo é necessário para a adequada maturação e descamação da pele. O aumento da perda transepidérmica de água prejudica funções enzimáticas necessárias para o processo normal de descamação, resultando em uma pele visivelmente seca e escamosa. Recentemente, foram feitas descobertas sobre os mecanismos complexos da hidratação cutânea. Em particular, descobriu-se que o glicerol, um ingrediente cosmético bem conhecido, está presente no estrato córneo, atuando como umectante natural endógeno. O ácido hialurônico, que tem sido considerado principalmente como componente dérmico, é encontrado na epiderme e é fundamental para manter estrutura e função de barreira epidérmica normais. Mais importante, a descoberta da existência de proteínas transportadoras de água na epiderme e de estruturas de coesão na junção entre o estrato granuloso e córneo trouxe novos insights sobre os mecanismos de distribuição de água e função de barreira da pele.

A hidratação adequada é essencial para manter a pele saudável e hidratantes são um importante componente para seus cuidados básicos. A capacidade da pele de reter água está diretamente relacionada ao estrato córneo, que desempenha papel de barreira contra a perda de água. O teor de água no estrato córneo suficiente para manter a aparência saudável da pele é de, no mínimo, 10%. O papel dos componentes higroscópicos dentro dos corneócitos (referidos genericamente como fatores de hidratação natural) tem sido relatado desde 1950. Foi inicialmente descrito por Blank. Downing et al. e Long et al., que demostraram a importância dos lipídios intercelulares do estrato córneo na formação de uma barreira contra a perda transepidérmica de água. A organização lipídica intercelular, e, consequentemente, as propriedades de barreira do estrato córneo, estão também relacionadas à existência de um gradiente lipídico, como comprovado por Bonté et al. Na derme, o ácido hialurônico é um glicosaminoglicano de elevado peso molecular, com importantes propriedades hidrofílicas, contribuindo para a hidratação e para as propriedades plásticas da pele. A hidratação cutânea e a função de barreira da epiderme têm sido, há muitos anos, alvos ativos de investigação acadêmica e dos laboratórios farmacêuticos.

Muitos aspectos podem influenciar o conteúdo dos fatores de hidratação natural. Estudos demonstraram que a maior parte dos fatores de hidratação natural solúveis é eliminada do estrato córneo superficial na pele exposta a agentes de limpeza rotineiros. A produção dos aminoácidos dos fatores de hidratação natural é influenciada por fatores extrínsecos e intrínsecos. A baixa umidade relativa (menor que 10%) prejudica a função das enzimas hidrolíticas, responsáveis pela proteólise da filagrina, e, consequentemente, induz a xerose da superfície cutânea. A radiação ultravioleta (UV) também causa danos ao estrato córneo, interrompendo o processo de hidratação natural. Uma dose mínima de eritema causada pela radiação UV é suficiente para perturbar a degradação enzimática da filagrina em fatores de hidratação natural. Com a idade, há um declínio dos fatores de hidratação natural. Na xerose senil, uma condição comum, caracterizada pelo ressecamento da pele em idosos, ocorre a redução da síntese de profilagrina e da quantidade de aminoácidos. Além dos aminoácidos, outros componentes dos fatores de hidratação natural têm funções importantes, como a ureia. Existe um déficit de ureia no estrato córneo em determinadas condições - como a dermatite atópica e a xerose senil -, que pode ser corrigido por meio da aplicação tópica da própria ureia ou do seu precursor arginina. Lactato e potássio também desempenham um papel essencial na manutenção do estado de hidratação e das propriedades físicas (rigidez e pH) do estrato córneo em indivíduos saudáveis.

Existem muitos métodos biofísicos disponíveis para avaliar a hidratação cutânea. A medida das taxas de perda transepidérmica de água é o método mais comumente utilizado, pois esta perda está diretamente relacionada com a disfunção da barreira cutânea. Idealmente, a perda transepidérmica de água na pele saudável deve ser tão baixa quanto possível. Os números mais baixos sugerem menor perda de água, e os elevados, maior perda de água e baixa função de barreira. Os hidratantes devem diminuir essa perda. Métodos padrão para avaliar a hidratação são baseados nas propriedades elétricas da pele, tais como a condutância e a capacitância, que mudam de acordo com o teor cutâneo de água. Nos últimos anos, foram desenvolvidos métodos inovadores com esse propósito. Recentemente, a tecnologia de sensor de imagem vem sendo introduzida como uma ferramenta inovadora, proporcionando sensível imagiologia da capacitância da pele. Este método pode detectar discretas variações focais na hidratação superficial cutânea. O método de imagem multiespectral infravermelho afere a absorção da luz infravermelha pela água em tecidos vivos a partir do seu espectro de reflectância. Existe uma correlação linear entre a intensidade da absorção e a concentração de água na pele. Este método tem sido aplicado com sucesso em estudos clínicos, para estimar os efeitos do uso de emolientes na hidratação cutânea. Outras técnicas quantitativas, não invasivas, in vivo, estão atualmente sob investigação, como a tomografia de coerência óptica, a ressonância magnética nuclear espectroscópica e a transferência térmica transiente.

Os mecanismos para a manutenção da hidratação da pele são complexos. Uma melhor compreensão da regulação da hidratação cutânea é essencial para fornecer a base para o desenvolvimento de novos tratamentos. Estudos da diferenciação da epiderme em modelos de cultura de queratinócitos continuarão a melhorar nossa compreensão sobre os mecanismos subjacentes à hidratação. Camundongos com ausência de AQP3 e claudina-1 têm fornecido novas perspectivas sobre os mecanismos subjacentes ao gradiente de água na pele, é provável que o desenvolvimento de modelos vivos seja útil para o estudo dos mecanismos moleculares envolvidos na hidratação cutânea. Desenvolvidos recentemente, novos métodos quantitativos e não invasivos para avaliar a hidratação da pele in vivo serão instrumentos úteis na avaliação clínica dos agentes emolientes cutâneos. Os hidratantes são importantes componentes do cuidado básico da pele. Eles a protegem, estimulando sua função de barreira natural, a fim de mantê-la com sua constante demanda de umidade. Ao restabelecer a barreira, eles protegem a pele dos insultos diários do ambiente, e, consequentemente, previnem o envelhecimento cutâneo.



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