Tricologia

O Brasil e suas raízes africanas

Maio/Junho 2015

Valcinir Bedin

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Valcinir Bedin

No Brasil, aproximadamente 60% da população apresenta cabelo afro-étnico ou extremamente encaracolado.

Do ponto de vista anatômico da estrutura da fibra capilar, temos: medula, córtex e cutícula. A medula é uma camada cilíndrica e fina, que ocorre na região central da fibra capilar, podendo não estar presente nos fios tipo velus. O córtex é o principal componente da haste do cabelo, sendo a parte que dá o volume à haste e que garante a resistência mecânica do fio. A cutícula é a parte mais externa da haste capilar, composta por células sobrepostas, como telhas, e está localizada na superfície da fibra capilar.

A distribuição da queratina dentro do córtex é responsável pelas propriedades físicas e mecânicas do cabelo. Essas propriedades são: resistência ao estiramento, elasticidade, poder hidrofílico e propriedades de superfície. O cabelo afro-étnico é extremamente ondulado quando comparado com o caucasiano, embora tenha composição de aminoácidos similar. Apresenta grande variação de diâmetro, menor conteúdo hídrico e forma elíptica. As diferenças anatômicas e físico-químicas entre as fibras capilares extremamente encaracoladas e aquelas naturalmente lisas evidenciam suas peculiaridades e a necessidade de cuidados específicos, bem como o emprego de produtos cosméticos desenvolvidos para esta etnia e técnicas de manuseio e estilização adequadas.

O cabelo afro-étnico tem curvaturas estruturais muito maiores quando comparado com o caucasiano. Isso faz com que ele fique mais suscetível à manipulação mecânica, levando a um maior desgaste no ponto de curvatura, que pode acarretar danos irreversíveis.

Esta informação se torna mais importante quando falamos de tratamentos químicos estéticos aos quais eles são submetidos a fim de se adequarem à moda do momento. Quando se fala de conteúdo de aminoácidos, não existem diferenças entres as várias formas de cabelo, mas a disposição das pontes químicas (salinas, de hidrogênio ou bissulfidricas), que são responsáveis pela estrutura final da haste, é totalmente diferente, o que confere a forma especial desses cabelos.

Algumas características especiais estão presentes nos cabelos afro-étnicos: variação de diâmetro em vários pontos ao longo do fio (o diâmetro nas torções é menor que nas demais áreas), menor conteúdo hídrico, torceduras com alteração de direções aleatórias, achatamento acentuado e forma elíptica.

As fibras do cabelo apresentam-se retorcidas em várias regiões ao longo do fio, o que não ocorre nos cabelos caucasianos, nos quais elas se apresentam de forma cilíndrica.

Quando se trata de propriedades físicas dos cabelos, falamos de resistência ao estiramento, elasticidade, poder hidrofílico e propriedades de superfície.

As propriedades de tensão dos cabelos afro-étnicos indicam que ele possui baixa resistência à quebra quando comparado com o caucasiano.

Nos afrodescendentes, a lubrificação, que é dada pela produção das glândulas sebáceas, apresenta, frequentemente, atividade reduzida. Essas glândulas secretam quantidade inadequada de lipídios. Por esse motivo, o couro cabeludo e os fios são hidratados em uma menor proporção, pois apresentam lubrificação irregular.

Por conta das curvas, os cabelos mais encaracolados ficam mais frágeis e mais propensos à quebra quando manipulados física ou quimicamente, especialmente quando falamos de escovas progressivas, que envolvem, além dos produtos, o calor como componente essencial do seu resultado.

Externamente, temos a cutícula do cabelo, que nos caucasianos apresenta de 6 a 10 camadas, enquanto nos afro-étnicos é variável, com 6 a 8 camadas (nos fios ou parte deles com maior diâmetro) e de 1 a 2 camadas (nas curvaturas das ondulações e nos fios com diâmetros menores). Isso faz com que as propriedades de tensão do cabelo afro-étnico levem a menores valores de força necessários para sua ruptura, quando comparados ao cabelo naturalmente liso.

A resistência ao estiramento, de ruptura ou solidez, ocorre em função do diâmetro do cabelo e das condições do córtex e é afetada negativamente pelos tratamentos químicos.

Essas diferenças anatômicas e físico-químicas entre as fibras capilares extremamente encaracoladas e aquelas naturalmente lisas levam à necessidade de cuidados específicos, bem como o emprego de produtos cosméticos destinados a estas etnias.

Também é importante notar que técnicas de manuseio e de estilização adequadas, evitando a ocorrência de danos irreparáveis aos cabelos afro-étnicos, mais frágeis e ressecados, são necessárias.

O acúmulo de conhecimento científico envolvendo a elucidação das propriedades estruturais, físicas e mecânicas dos cabelos afro-étnicos propiciou elevar o conhecimento de suas peculiaridades, o desenvolvimento de produtos cosméticos característicos e técnicas de manuseio capilar apropriadas, mas ainda temos um longo caminho pela frente no sentido de ampliar o acesso dessa grande camada da população ainda desvalida economicamente.



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