Enfim, boas perspectivas

Erica Franquilino

Enfim, boas perspectivas

Eleições

Cenário internacional

Setor cosmético

Inflação e Juros

 

 

Enfim, boas perspectivas  

artigo publicado na versão impressa da edição janeiro/fevereiro de 2018 da revista Cosmetics & Toiletries Brasil
   Depois de atravessar uma das maiores recessões de sua história – com as retrações de 3,8% em 2015 e de 3,6% em 2016 –, em 2017 o Brasil deu sinais de que essa fase foi superada. Dentre os indicativos da retomada, estão a estabilidade dos indicadores financeiros e econômicos e a melhora dos índices de confiança. O panorama é de inflação sob controle, recuo da inadimplência, recuperação gradual do nível de emprego e aumento do consumo.
 
   No entanto, temos pela frente as incertezas em relação ao cenário eleitoral – elegeremos o novo presidente da República, governadores, senadores e deputados federais e estaduais – e a necessidade de avanço das reformas, como a da Previdência. O país também segue com uma alarmante situação fiscal, que “vai assombrar o novo governo desde seu primeiro dia”, como afirmou o economista Luiz Schymura, da FGV/Ibre, no documento Conjuntura Econômica, divulgado pela entidade em janeiro.
 
    A cada ano, as receitas não cobrem as despesas, mesmo descontando-se o pagamento dos juros. Segundo Schymura, a dívida líquida do país passou de 30,5% do PIB em 2013 para 50,7% em 2017 (o dado é referente a outubro do ano passado).
 
   No que diz respeito à expectativa de aceleração da economia, Fernando Sampaio, diretor da LCA Consultores, explica que essa perspectiva está embasada em vários fatores. “Provavelmente, o mais importante deles é que a forte queda da inflação observada de 2016 para 2017 ampliou o raio de manobra da política econômica, permitindo a adoção de medidas que facilitam o crescimento.
 
   A mais relevante dessas medidas é a sensível redução da Selic, que barateou muito a captação de recursos pelos bancos. Essa redução do custo do dinheiro já começa a permitir um recuo do custo do crédito”, ressalta.
   Ele estima que o PIB tenha crescido 0,9% em 2017. O dado oficial será divulgado pelo IBGE em março, mas o consenso entre economistas é de um crescimento próximo de 1%. Para este ano, a projeção da LCA é de uma elevação de 2,5%, “mas podemos rever esse número um pouco para cima”, comenta Sampaio.
 
   Outro aspecto que deve favorecer o crescimento da economia é o aumento da confiança de empresários e consumidores, “que vem ocorrendo, de forma lenta mas progressiva, há um ano e meio”, afirma o economista. Dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgados no final do mês de janeiro, mostram que a confiança do consumidor brasileiro começou o ano em alta, com crescimento de 2,4% no Índice Nacional de Expectativa do Consumidor (Inec), na comparação com dezembro de 2017.
 
   Segundo a CNI, houve crescimento na maioria dos indicadores que compõem o Inec na comparação mensal, com exceção do índice de compras de bens de maior valor, que caiu 0,7%. Entre os componentes que mais avançaram no período, a CNI ressalta a expectativa de renda, que subiu 5,3%.
 
   Neste ano, a recuperação econômica deverá ser alavancada pelo consumo das famílias. “Fatores como inflação e juros baixos, emprego em recuperação e inadimplência caindo gradualmente – juntamente com um maior nível de confiança dos consumidores e uma maior disposição dos bancos a ampliar suas carteiras de crédito – impulsionarão o consumo e, portanto, a economia”, sintetiza o economista Luiz Rabi, da Serasa Experian.
 
   Sampaio, da LCA, destaca que, em 2017, o início da recuperação do consumo foi determinante para o fim da recessão. “O volume de vendas do comércio varejista, por exemplo, deve ter fechado o ano com uma expansão de 2,4%, depois de dois anos trágicos, com queda acumulada de 10% no biênio 2015-2016”, diz.
 
   No entanto, dois fatores poderão moderar o ímpeto dos brasileiros por novas compras. “O primeiro é a tendência de que a inflação suba um pouco. O segundo é o reajuste de apenas 1,8% concedido ao salário mínimo. Vale lembrar que mais de um terço dos consumidores recebe até 1,5 salário mínimo, como remuneração por seu trabalho ou como benefício previdenciário”, afirma.
 
A procura por emprego deve crescer, bem como a oferta de postos de trabalho. “Projetamos uma redução de aproximadamente 2 pontos percentuais na taxa média de desemprego neste ano. Se, no ano passado, a taxa de desemprego fechou no patamar de 12%, neste ano deveremos convergir para algo mais próximo de 10%”, diz Rabi. O patamar de desemprego, portanto, deve continuar alto.
 
   “É típico que, nos momentos iniciais de um processo de recuperação da atividade econômica, muitas pessoas que tinham desistido de buscar emprego se animem a voltar a procurar. Assim, mesmo com o emprego voltando a crescer, essas pessoas freiam a redução da taxa de desemprego”, explica Sampaio.

 

Eleições

    O diretor da LCA aponta alguns aspectos que atuarão como freios ante uma aceleração mais forte da atividade econômica do país em 2018, como a perspectiva de menor crescimento da agropecuária, que teve um ano especialmente favorável em 2017 “e cujo PIB deve ter crescido mais de 12%”. Ele também menciona a evolução do comércio exterior, “uma vez que a queda da cotação do dólar e o reaquecimento da demanda interna deverão limitar a alta das exportações e alavancar o aumento das importações”.
 
   Para Rabi, a fragilidade fiscal e as incertezas quanto à aprovação da Reforma da Previdência e ao panorama eleitoral devem impactar a economia do país, sobretudo no que diz respeito aos investimentos. “Diante de um nível ainda elevado de incertezas, especialmente no aspecto político-eleitoral, as decisões referentes a investimentos produtivos, como aquisição de máquinas, quipamentos e ampliação de unidades, bem como aquelas relacionadas à infraestrutura, como privatizações e concessões, ficam contidas”, diz. Ele projeta um crescimento entre 2,5% e 3% na atividade econômica do país neste ano.
 
   Sampaio ressalta que o vaivém das pesquisas eleitorais e das votações do Congresso, “que costumam ser raras em ano de eleições”, deverá se refletir em flutuações relevantes da cotação do dólar, por exemplo. “No entanto, essa influência deverá pesar menos do que os vetores que favorecerão o crescimento, porque a incerteza quanto ao perfil do futuro Congresso é bem menor do que aquela relativa ao desfecho da corrida presidencial”, comenta.
 
   “Não se sabe quem será o próximo presidente, mas é bem provável que ele tenha de se entender com um Congresso de perfil parecido com o atual, mesmo que muitos nomes mudem, dado que diversos dos atuais congressistas sofreram forte desgaste devido às investigações anticorrupção. Isso limitará muito o espaço para mudanças de rumo mais ousadas, por parte do futuro Governo Federal”, acrescenta.

 

Cenário internacional

   A economia mundial está crescendo, com destaque tanto para países desenvolvidos, como Estados Unidos e nações europeias, como para países emergentes, como a China. “Isso mantém um cenário propício às nossas exportações, contribuindo para o crescimento econômico”, diz Rabi.
   Para Sampaio, apesar do clima favorável, algumas movimentações merecem atenção. Ele explica que os bancos centrais de países ricos estão começando a reverter as medidas excepcionais que adotaram para combater a grave crise financeira iniciada em 2008. “Esse processo recebeu o esclarecedor nome de normalização da política monetária”, comenta. As taxas de juros básicas praticadas por esses bancos, que foram mantidas muito perto de zero por quase uma década, estão sendo elevadas, aos poucos, e deverão continuar a subir ao longo de 2018.
 
  “Desde o início da década, tem sido muito fácil para os países emergentes atrair capitais dos países ricos, pois, ao longo desse período, as aplicações de renda fixa feitas nos países ricos propiciaram um retorno muito baixo, abaixo da inflação inclusive. A dúvida, agora, é o quanto o avanço da normalização monetária dificultará a vida dos emergentes”, ressalta. Para o economista, essa dúvida se traduz em incerteza sobre as perspectivas em relação à cotação do dólar. “No caso específico do Brasil, a incerteza é reforçada pelo quadro eleitoral indefi nido”, acrescenta.
 
   “Avaliamos que esse fator pode, sim, levar a uma subida do dólar no Brasil, mas ela deverá ser moderada, sobretudo porque dessa vez – ao contrário do que aconteceu em 2002, por exemplo – a sucessão presidencial ocorrerá num quadro em que o Banco Central dispõe de mais de US$ 380 bilhões em suas reservas”, conclui.

 

Setor cosmético

   Após as quedas de 9% em 2015 e de 6% em 2016, o ano passado trouxe uma pequena recuperação para o setor, com rescimento real de aproximadamente 2%, informa João Carlos Basílio, presidente da Abihpec. Os dados oficiais da entidade serão divulgados em março. “A categoria que mais se destacou foi perfumaria, que teve um ano muito bom. Cresceu cerca de 12% em volume e 23% em valor”, comenta Basílio.
 
   Em outras categorias, houve quedas em valor e em volume. Foi o caso dos desodorantes. Ele explica que, de modo geral, há uma guerra de preços na categoria. A concorrência baixou o preço do produto, reduzindo o faturamento global. A queda em volume, por sua vez, “mostra que as classes C, D e E ainda estão com muita dificuldade e deixando de consumir produtos essenciais. Desodorante não é um produto que você pode deixar de usar e ninguém percebe”, aponta.
 
   Basílio também menciona a categoria de sabonetes, na qual houve um recuo de 3% em valor. “Mas aí pode ser que nem seja uma redução, mas uma procura por marcas mais baratas. Em cremes dentais, tivemos uma queda de 1% em volume e crescimento de 4,2% em valor”, diz. Ele destaca que o crescimento em valor na categoria de cremes dentais demonstra a ascensão de produtos de melhor performance e maior valor agregado. “No entanto, temos as classes menos favorecidas e a queda de 1% em volume. Esse percentual representa um recuo muito grande, estamos falando de bilhões de unidades”, menciona.
 
   No que diz respeito ao comportamento do consumidor, ele acredita em uma tendência de melhora, na esteira da recuperação econômica. “No nosso setor, adquirir produtos essenciais não depende de crédito ou de políticas financeiras. Depende de dinheiro no bolso”, diz. “Em 2018, nossa grande preocupação continua sendo a carga tributária. Isso é um problema muito sério, porque nossos produtos são resilientes aos preços. Não dá para deixar de comprar determinadas categorias de produtos. Você consegue viver sem tomar café, mas não consegue viver sem tomar banho”, ressalta. “A sociedade não tem noção do imposto que paga. O mesmo imposto que eu pago, a empregada doméstica que trabalha na minha casa também paga. A tributação no Brasil é pelo consumo, ao passo que deveria ir se deslocando para a renda”, argumenta.
 
    O histórico do setor – com exceção das retrações de 2015 e 2016 – é registrar um desempenho superior ao PIB do país. Essa é a expectativa também para 2018. “O PIB brasileiro cresceu 1% em 2017 e nós vamos fechar com crescimento de 2%. Estão falando em um crescimento de 2% a 2,5% do PIB para este ano. Independentemente de quanto o PIB cresça, nós cresceremos o dobro. Nosso patamar é de um crescimento de duas ou até três vezes mais do que o PIB. Mas estamos cautelosos. Esperamos que haja a real possibilidade de atingir um aumento de 2,5% no PIB. Com isso, projetamos um crescimento real para o setor, fora a inflação, de 5%”, afirma.

 

Inflação e Juros

  A inflação oficial brasileira, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), foi de 2,95% em 2017, abaixo dos 6,29% registrados no ano anterior. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), essa é a menor alta de preços desde 1998 (1,65%). Com o resultado, a inflação ficou abaixo do piso da meta do Banco Central, de 3% em 2017. O centro da meta é de 4,5%, com margem de 1,5 ponto percentual, para mais ou para menos. É a quinta vez que a meta é descumprida desde que o sistema de metas de inflação foi criado, em 1999. Pela primeira vez, a meta foi descumprida para baixo. No entanto, os preços administrados – que incluem, dentre outros, contas de luz, combustíveis, gás de botijão, transportes e plano de saúde – avançaram 7,99% no ano passado, desempenho acima da inflação apurada pelo IPCA no período.
 
   Sete dos 13 locais pesquisados pelo IBGE para compor o IPCA encerraram o ano passado com inflação abaixo de 3%. Os maiores índices foram registrados em Goiânia e Brasília, ambas com alta de 3,76%. O índice mais baixo foi o de Belém (1,14%). Em São Paulo, o indicador fechou 2017 acima da média nacional, em 3,63%. No Rio de Janeiro, o IPCA acumulou alta de 3,03%.
 
Mesmo diante do fortalecimento do consumo esperado para este ano, a inflação deve permanecer dentro da meta estabelecida pelo Banco Central. “O nível de ociosidade, tanto de maquinário como de mão-de-obra, ainda é muito elevado no país. Portanto, a ampliação da produção para atender o consumo, que deverá dar o destaque econômico em 2018, não acarretará maiores pressões de custos e preços. Assim, a inflação deverá ficar bem próxima do centro da meta”, esclarece o economista Luiz Rabi, da Serasa Experian.
 
   Na primeira semana de fevereiro, o relatório de mercado “Focus”, produzido com base em pesquisa realizada semanalmente pelo Banco Central – com mais de 100 instituições financeiras –, projetou uma infl ação de 3,94% para este ano. Nesse panorama, a expectativa dos analistas continua abaixo da meta central de 4,5%, mas dentro do intervalo de tolerância (entre 3% e 6%).
 
   A meta de infl ação é fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e deve ser perseguida pelo Banco Central. Para alcançá-la, o banco eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia, a Selic. Os analistas de mercado consultados para o boletim Focus mantiveram a previsão para a Selic em 6,75% ao ano, para o fi nal de 2018.

 

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