Reposicionamento de Mercado

Edicao Atual - Reposicionamento de Mercado

Editorial

Caminhos digitais

Grandes empresas do setor investem em ferramentas on-line, como aplicativos e simuladores, e no e-commerce, como forma de acompanhar as mudanças no comportamento do consumidor – e de conquistar espaço no mercado, em tempos tão adversos. No que diz respeito ao varejo on-line no Brasil, as perspectivas são de crescimento.

De acordo com a pesquisa “Estilos de Vida dos Brasileiros”, produzida pela Mintel – e divulgada em junho deste ano – a internet é utilizada principalmente para comunicação, interação social e como fonte de informação. Entre os brasileiros conectados à internet nos últimos três meses, 85% a usaram para enviar e receber e-mails, 84% para mídias sociais e 76% para ler notícias.

Por outro lado, apenas 43% dos brasileiros fizeram compras on-line no mesmo período – o que sinaliza oportunidades de crescimento nessa área. O sudeste é a região onde o consumidor está mais aberto ao varejo on-line, utilizado por 48% dos respondentes.

Esta edição de Cosmetics & Toiletries Brasil traz, na matéria de capa, um panorama sobre o reposicionamento de marcas. Realizar alterações no posicionamento da marca – embora seja uma tarefa complexa – pode garantir a sua sobrevivência no mercado, além de abrir caminho para novas oportunidades. A seção Persona apresenta a trajetória de Renata Ashcar e sua paixão pela perfumaria.

Nesta edição, você encontrará ainda artigos sobre protetores solares, com oportunidades de mercado e estratégias de formulação; uso de animais em experimentos científi cos, tema que merece uma reflexão da comunidade científi ca; desenvolvimento de modelos de cultivo de células in vitro, para avaliar a efi cácia de cosméticos; uso de espectrometria de massa para quantificar parabenos em cosméticos. Na seção Aos Formuladores, uma detalhada descrição do novo marco legal na exploração da biodiversidade brasileira.

Boa leitura!

Hamilton dos Santos
Publisher

Oportunidades de Nichos para Proteção Solar - Rob Walker (Euromonitor International, Londres, Reino Unido)

O mercado de proteção solar representa mais de US$ 10 bilhões, com alta taxa de crescimento nos últimos anos. Entretanto, a introdução de novos conceitos nos segmentos de cuidado pessoal e maquilagem tem colocado em risco a robustez do mercado de proteção solar. Neste artigo, o autor explica a dinâmica do mercado e apresenta sugestões para o seu crescimento.

El mercado de protección solar es más de US$ 10 mil millones, con una alta tasa de crecimiento en los últimos años. Sin embargo, la introducción de nuevos conceptos en los segmentos de cuidado personal y maquillaje, ha puesto en riesgo la solidez del mercado de protección solar. En este artículo, el autor explica la dinámica del mercado de protección solar, sino también ofrece sugerencias para su crecimiento.

The sun protection is more than $ 10 billion market, with high rate of growth in recent years. However, the introduction of new concepts in the segments of personal care and make up, has put at risk the robustness of the solar protection market. In this article, the author explains the dynamics of the sun protection market and also presents suggestions for their growth.

Comprar

Testes em Animais: a Cosmética já pode viver sem eles? - Jadir Nunes (Sociedade Brasileira de Métodos Alternativos à Experimentação Animal (SBMAlt), São Paulo SP, Brasil)

Neste artigo o autor reporta o status do processo de introdução dos métodos alternativos aos experimentos com animais e propõe uma reflexão ética sobre o uso desses animais nas pesquisas científicas e o progresso da ciência como um todo.

En este artículo el autor informa el status del proceso de introducción de métodos alternativos a la experimentación con animales y propone una reflexión ética sobre el uso de estos animales en las investigaciones científi cas y el progreso de la ciencia en su conjunto.

In this article the author reports the status of the process of introduction of alternative methods to animal experiments and proposes an ethical reflection on the use of these animals in the scientific researches and the progress of science as a whole.

Comprar

Filtros Solares “Muito” Resistentes à Água - Luigi Rigano, PhD (ISPE, Milão, Itália)

Resistência à água é um parâmetro-chave para os filtros solares atuais, e existem inúmeras estratégias de formulação que podem ser usadas, isoladamente ou combinadas, para obter esse efeito. Entre elas estão: formulações anidras, emulsões a/o, polímeros formadores de película, dissolução em álcool de substâncias insolúveis em água, baixos níveis de emulsificantes e aprisionamento de filtros em lipossomas. Este artigo detalha essas estratégias.

Resistencia al agua es un parámetro clave para los protectores solares de hoy en día, y hay un número de estrategias de formulación que se puede utilizar solo o en combinación para lograr este efecto, incluyendo: formulación anhidra, emulsiones w/o, polímeros formadores de película, la disolución en alcohol de sustancias insolubles en agua, bajos niveles de emulsionantes, y los fi ltros atrapados en liposomas. Estos se detallan aquí.

Water-resistance is a key parameter for today´s sunscreens, and there are a number of formulation strategies that can be used alone or in combination to achieve this effect, including: anhydrous formulation, w/o emulsions. Film-forming polymers, dissolution of water-insoluble substances with alcohol, low levels of emulsifiers, and entrapping filters
in liposomes. These are detailed here.

Comprar

Modelos para avaliar a Proliferação Celular e o Potencial de diferenciar Queratinócitos - Márcio Lorencini (Grupo Boticário, São José dos Pinhais PR, Brasil; Universidade Estadual de Campinas, Campinas SP, Brasil); Bruna Bastos Swinka, Camila Miranda de Carvalho, Talita Maria Tavares, Carla Abdo Brohem (Grupo Boticário, São José dos Pinhais PR, Brasil); Nilson Ivo Tonin Zanchin (Universidade Estadual de Campinas, Campinas SP, Brasil; Fundação Oswaldo Cruz, Curitiba PR, Brasil)

Este trabalho descreve um estudo de queratinócitos humanos de procedência neonatal e adulta em relação à expressão de marcadores de proliferação e diferenciação. Como forma de desenvolver novas ferramentas para a avaliação de produtos cosméticos foram também aplicados os seguintes modelos de cultivo celular in vitro: monocamada e pele reconstituída.

Este trabajo describe un estudio de queratinocitos humanos de origen neonatal y adulto con respecto a la expresión de marcadores de proliferación y diferenciación. Con el fin de desarrollar nuevas herramientas para evaluación de productos cosméticos, también se aplicaron los siguientes modelos de cultivos celulares in vitro: monocapa y piel reconstituida.

This work describes a study of human keratinocytes from neonatal and adult origin with respect to the expression of proliferation and differentiation markers. In order to develop new tools for the assessment of cosmetic products, the following in vitro cell culture models were also applied: monolayer and reconstituted skin.

Comprar

Avaliação de Parabenos por Espectrometria de Massas - Soraya El Khatib, Rosana M Alberici, Marcos N Eberlin (Instituto de Química (IQ) da Universidade Estadual de Campinas - Unicamp, Campinas SP, Brasil)

As técnicas utilizadas para avaliação dos conservantes parabenos em formulações cosméticas apresentam baixa reprodutibilidade e especificidade, são demoradas e muitas vezes incluem testes em animais. Neste trabalho, os autores propõem o uso da técnica de espectrometria de massas para identifi car diversos componentes nas formulações cosméticas.

Las técnicas corrientes para evaluar los derivados de los parabenos los cosméticos tienen una baja reproducibilidad y especificidad, requieren mucho tiempo y con frecuencia incluyen la experimentación con animales. En este trabajo, los autores proponen el empleo de la técnica espectrometría de masas para identificar una amplia variedad de componentes en formulaciones cosméticas.

The techniques used for analyses of parabens derivate in cosmetic products are usually laborious, time consuming, display low accuracy and reproducibility, and require animal tests. Herein the authors propose the use of the mass spectrometry technique to characterize several cosmetics formulations.

Comprar
Carlos Alberto Pacheco
Mercado por Carlos Alberto Pacheco

A quantas anda o bem-estar?

O IBGE divulgou no início do mês de junho um estudo recente que retrata a percepção do estado de saúde, estilo de vida e doenças crônicas não transmissíveis do Brasil com dados coletados no censo de 2010.

O objetivo do estudo era medir a percepção do estado de saúde do ponto de vista da avaliação qualitativa que os indivíduos fazem da própria saúde, englobando tanto componentes físicos quanto emocionais, além de aspectos do bem-estar e da satisfação com sua vida pessoal. O indicador foi obtido por meio de uma questão única, em que o próprio morador classifica sua saúde em uma escala de cinco graus: muito boa, boa, regular, ruim ou muito ruim. A percepção do indivíduo sobre a saúde não sobrevém apenas das sensações físicas de dor e desconforto, mas, sobretudo, das consequências sociais e psicológicas da presença da enfermidade.

Alguns dados interessantes: cerca de 66,1% dos entrevistados (pessoas com 18 anos ou mais) autoavaliaram sua saúde como boa ou muito boa, sendo a região Sudeste a que apresentou o maior percentual de satisfação – 71,5%. Em relação ao sexo, 70% dos homens consideraram sua saúde como boa ou muito boa, contra 62,4% das mulheres. Em relação aos grupos de idade, quanto maior a faixa etária, menor o percentual, que variou de 81,6%, para aqueles de 18 a 29 anos de idade, a 39,7%, para as pessoas de 75 anos ou mais. Em relação à escolaridade, observou-se que, quanto maior o grau de instrução, maior o percentual daqueles que consideraram sua saúde boa ou muito boa. Entre as pessoas sem instrução ou com o ensino fundamental incompleto, o percentual foi de 49,2%, enquanto para aquelas com superior completo foi de 84,1%.

Com a dimensão “estilo de vida”, o estudo ateve-se à quantificação dos fatores de risco à saúde associados a consumo alimentar, uso de álcool e prática de atividade física e tabagismo, os quais, segundo a literatura especializada, estão fortemente relacionados ao desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis. Entre os indicadores para esta dimensão, escolho para um olhar mais atento os marcadores de padrões saudáveis e não saudáveis de alimentação. São considerados marcadores de padrão saudável de alimentação o consumo recomendado de frutas, legumes e verduras e o consumo regular de feijão.

O estudo indica, por exemplo, que é muito maior a proporção de pessoas com 60 anos ou mais que consomem a proporção ideal de verduras do que entre os jovens de 18 a 24 anos. Trata-se de um indicador ruim, pois, no futuro, teremos uma população idosa com uma saúde claudicante. O consumo de verduras das pessoas com ensino superior completo é significativamente maior (45,9%) do que o dos sem instrução ou com ensino fundamental incompleto (33%). Do lado dos indicadores não saudáveis, o consumo de refrigerantes é significativamente menor para o primeiro grupo (26,1%) contra o segundo grupo (40%).

Por último, os dados da dimensão “doenças crônicas não transmissíveis” focalizaram os agravos da falta de um bom estilo de vida na saúde das pessoas, com destaque para a ocorrência de hipertensão, diabetes, colesterol, asma, doenças cardiovasculares e neuropsiquiátricas e câncer, entre outros problemas de saúde que, em conjunto, respondem por uma significativa parcela das mortes: mais de 70% dos óbito s no país.

Vejamos os dados sobre as doenças cancerigênas. Em 2013, a Pesquisa Nacional de Saúde estimou que 1,8% das pessoas de 18 anos ou mais (2,7 milhões de adultos) referiram diagnóstico médico de câncer. O tipo de câncer com a segunda maior incidência entre homens e mulheres é o câncer de pele não melanoma. De todos os casos de câncer relatados, o de pele nos homens correspondia a 18,7% e, nas mulheres, a 14,4%. Em 2014, esperava-se 98.420 casos novos de câncer de pele não melanoma nos homens e 83.710 nas mulheres no Brasil. Esses valores correspondem a um risco estimado de 100,75 casos novos a cada 100 mil homens e 82,24 a cada 100 mil mulheres, porém é provável que exista um sub-registro dessa neoplasia, em função do subdiagnóstico. O câncer de pele não melanoma em homens é o mais incidente nas regiões Sul (159,51/100 mil) e, nas mulheres, é o mais frequente na região Sudeste (112,28/100 mil). A incidência dos cânceres de pele não melanoma aumenta com a idade.

O estudo é extremamente rico, com informações sobre consumo de álcool, uso de tabaco e estatísticas sobre tipos de atividades físicas. Vale a pena considerá-lo nas estratégias de marketing que procuram entender como a população compreende o que vem a ser o “bem-estar”.

Gestão em P&D por Wallace Magalhães

Geração de valor em P&D

Gerar valor é o papel essencial de qualquer empreendimento, desde os primórdios da história da civilização. No entanto, nos últimos tempos, o peso e a importância de cada elemento neste complexo processo têm sofrido alterações expressivas, ou melhor, uma evolução expressiva. Muitas coisas perderam a utilidade e, consequentemente, o seu valor. Máquina de escrever, calculadora manual, mimeógrafo e máquina de mecanografia são alguns exemplos. O orelhão parece estar em processo de extinção, e o cartão – largamente usado para operações bancárias e crédito -, já está com seus dias contados. Em breve, será peça do passado, e as empresas que o fabricam terão de achar novas aplicações para sua tecnologia e seu parque industrial. E olha que ele é relativamente novo!

Isso tudo é resultado da excepcional evolução tecnológica que estamos vivendo. Esta onda de transformações profundas, em altíssima velocidade, já aconteceu antes, na Revolução Industrial. Aí você pergunta: o que o P&D tem a ver com isso? Resposta rápida: tudo! Todos os produtos e soluções que substituíram os que se tornaram obsoletos ou perderam a utilidade nasceram no P&D. E a indústria e o mercado de cosméticos estão, naturalmente, inseridos neste efervescente contexto, em constante e veloz mutação. Se considerarmos que o valor das indústrias é diretamente proporcional ao valor dos produtos que ela oferece e que estes são diretamente dependentes de seu nível tecnológico, poderemos entender o relevante papel do P&D no valor das empresas. E isso significa, acima de tudo, uma enorme responsabilidade.

E como está o P&D das indústrias brasileiras de cosméticos? Para responder a esta questão não será necessário fazer muito esforço. Basta olhar para o nosso mercado. O vigoroso crescimento que o mercado consumidor brasileiro experimentou nestes últimos 25 anos fez surgir um grande número de novas empresas fabricando cosméticos - pequenas e médias, na imensa maioria. E, nestas empresas, este pequeno “boom” (se é que podemos chamar de pequeno um crescimento de quase 800%) teve lá suas consequências. Primeiro, houve a escassez de mão de obra especializada, com experiência consolidada. Atualmente, com o aparecimento de cursos orientados especificamente para o setor, congressos, publicações técnicas, seminários de atualização e consultorias especializadas, esta deficiência está sendo suprida.

Mas há ainda um cenário que merece atenção, principalmente na pequena empresa, que é formado por uma tétrade altamente limitadora: o acúmulo de funções na área técnica, o baixo investimento em desenvolvimento de produtos, a desconsideração de obrigações regulatórias e, muitas vezes, a equivocada noção que simplesmente desconsidera a base tecnológica e científica dos cosméticos e sua grande importância para as pessoas (é por isso que elas compram). Não parece absurdo pensar que uma das consequências deste ambiente aparece no saldo da balança comercial brasileira de HPPC. Enquanto as exportações cresceram 106% nos últimos dez anos, as importações subiram mais de 495%, transformando um saldo positivo, que era crescente até 2006, em saldo negativo nos anos seguintes.

Especificamente no P&D, é preciso haver expansão dos critérios e recursos técnicos usados no desenvolvimento de formulações, uma vez que o valor destes produtos é determinado principalmente por seus atributos fundamentais: eficácia, segurança e estabilidade. O desenvolvimento de produtos baseado única e exclusivamente em estudo de estabilidade, além de ser uma desobediência regulatória – que é um fator de risco que reduz o valor das empresas –, desconsidera os principais valores para os consumidores, que são a eficácia e a segurança (creio que, obrigatoriamente, nesta ordem). É urgente a necessidade de implantar protocolos de avaliação destes dois atributos e inseri-los na rotina dos trabalhos do desenvolvimento. Uma atenção especial deve ser dada aos ensaios in-vitro e ex-vivo. A criação de um painel de avaliação de fragrâncias e até a realização de ensaios de aceitabilidade devem ser seriamente cogitados.

Teremos de vencer muitos obstáculos, mas, antes de qualquer coisa, nós, técnicos de P&D, temos de compreender bem esta realidade para assumir conscientemente a nossa responsabilidade. Precisamos estar bem preparados para demonstrar aos gestores e empreendedores as necessidades e também as vantagens que serão obtidas e, assim, criar condições para eliminarmos a “tétrade maldita” citada acima.

Assuntos Regulatórios por Artur João Gradim

Resumo: O Papel do Papel e... do Carimbo

É fato que um sistema eletrônico não requer papel tampouco carimbo. Então, o que fazer com eles? Se voltar o carimbo, voltará o papel – pois sem papel o carimbo não funciona.

Pois é, era uma vez um sistema eletrônico inovador para peticionamento de produtos de HPPC, desenvolvido sobre uma avançada plataforma de processamento, que deveria atender, com agilidade e segurança, o setor regulador e o regulado. Com esse sistema acabariam o protocolo presencial e o postal; as idas e vindas de malotes; o Sedex 10; os “prototáxis” (taxistas que realizam protocolos); os toners, os furadores e os separadores; as rubricas, as “bailarinas” (colchetes metálicos para prender papel) e as mesas enormes para montagem dos processos. Perfeito, é claro: o carimbo em Brasília também sumiria. Tudo isso foi uma felicidade passageira.

A proposta da RDC nº 4, de janeiro de 2014 – para implantar o novo sistema -, que, após muitas negociações entre os representantes do setor privado e do governo, a Anvisa decidiu publicar, mesmo após os “engasgos” do sistema que foram verificados nos testes preliminares. “Engasgos” esses que ocorreram em função de os testes, com o novo sistema, terem sido realizados em condições operacionais precárias, não conectados ao sistema de informática da agência.

Foram 13 meses de verificação de inconsistências, contínuas paradas e investimentos adicionais visando ajustar o sistema às condições previstas, o que em quase nada resultou, a não ser em incalculáveis prejuízos causados às empresas.

Com o objetivo de encontrar uma saída para essa situação insustentável, foram buscados os meandros da legislação dos produtos sujeitos à vigilância sanitária, e, como eram necessários recursos para custeio, foi implementada a RDC nº 7, em 10 de janeiro de 2015, que reclassifica os produtos quanto aos requerimentos legais e sanitários. Foram reclassificados os produtos sujeitos ao registro e os isentos, porém estes não foram isentos do pagamento de taxa, mesmo os de grau 1. Em resumo, como tive a oportunidade de comentar em colunas anteriores, com essa nova resolução, a Anvisa passará a ter aumento em sua arrecadação e deixará de gastar recursos com as publicações no DOU, pois a aprovação dos produtos isentos de registro passou a ser publicada no site da agência (inclusive a dos produtos de grau 2, com exceção das cinco categorias sujeitas a registro). Esse foi um rearranjo financeiro produtivo, porém o aspecto regulatório para o setor regulado manteve-se em um nível sofrível. Isto porque os problemas continuaram a existir em função das falácias do sistema eletrônico “bichado”, que ganhou o apelido pejorativo de “Sistema 27”, uma referência às 27 semanas necessárias para o deferimento da maioria das petições.

Assumindo a impossibilidade de recuperar o sistema, em 2 de junho de 2015, a diretoria colegiada da Anvisa publicou o despacho nº 202/15, que desativa o sistema de automação eletrônico (SGAS) a partir de 15 de junho deste ano. Essa decisão foi fundamentada na prerrogativa legal de que a agência pode aplicar outros meios para o peticionamento de produtos de HPPC. Na ausência de um sistema eletrônico confiável, a dupla “papel e carimbo” foi escolhida como uma nova tentativa de agilizar (?) o processo para os produtos sujeitos a registro.

Ao mesmo tempo, foi retomado o uso do sistema SGAS para os produtos isentos de registro. Como o sistema eletrônico e o sistema de “papel e carimbo” não se comunicam, os processos de produtos isentos de registro peticionados anteriormente (exceto os de grau 2) que não foram deferidos devem ser peticionados de novo. Como consolo, não será necessário recolher a taxa.

No dia 16 de junho, o portal da Anvisa publicou a relação de pendências da agência que apresenta 1.249 peticionamentos pendentes, dos quais 828 se referem a novos produtos e 421 a alterações não deferidas. Além desses mil e tantos peticionamentos relacionados, há um número não estimado de peticionamentos que, por falha ou omissão, não aparecem na lista inicial.

Outra novidade: as alterações de produtos sujeitos ao registro não poderão mais ser feitas de uma só vez, caso estejam correlacionadas. Elas deverão ser desmembradas em petições separadas e apresentadas simultaneamente. Serão isentas de pagamento, caso este já tenham sido realizado.

Assim, com o papel e o carimbo de volta, será que todo o processo será mais rápido? Será o máximo do absurdo se isso acontecer, porém tudo é possível no momento em que vivemos.

Meu conselho é que você reative sua impressora, reative o vai e vem dos malotes e dos “prototáxis”, para que atenda os prazos. Espero que você tenha garantido seu lugar na fila, que não tenha perdido o pagamento da taxa e que seus peticionamentos tenham entrado em uma nova fila por ordem de protocolo presencial ou do postal.

Aproveite e visite sua “caixa postal”, pois os produtos sujeitos ao registro, em exigência, também não serão publicados no site da Anvisa. Fique atento ao prazo para o atendimento, que doravante é de 120 dias e não prorrogável.

Finalizando, nada foi manifestado quanto ao recadastramento dos produtos liberados a partir de 31 de janeiro de 2014. Esses produtos deveriam ser recadastrados no sistema, ora desativado. Não fique pasmo se um novo sistema eletrônico vier por aí e se o papel e o carimbo forem, por Deus, definitivamente aposentados.

Desejo a você um bom e ágil trabalho.

Carlos Alberto Trevisan
Boas Práticas por Carlos Alberto Trevisan

A necessidade de conhecer a qualidade

O título desta coluna pode levar você, leitor, a me perguntar: “Como não conhecer a qualidade?”

Pois é prezado leitor, posso assegurar que nossa experiência indica que parte significativa dos envolvidos com a qualidade, em nosso setor, nem faz ideia dozzz que é considerada efetivamente a qualidade de um produto e muito menos sabe como avaliá-la.

Neste ponto, devo deixar claro que simplesmente criar parâmetros de controle (às vezes considerando especificações como: cor, odor e aparência) pode causar a ilusão de que há qualidade, pois esses padrões são subjetivos.

Outro método estabelece parâmetros de qualidade por similaridade de um produto em relação aos produtos dos concorrentes. Nesse caso, não se pode dizer que exista qualidade, pois não se conhecem os fundamentos e os critérios utilizados pelas empresas concorrentes para estabelecer seus parâmetros.

A primeira consideração para conhecer a qualidade de um produto é saber a forma como foi desenvolvido desde a sua concepção.

A segunda se refere aos insumos que fazem parte do produto: Será que efetivamente avaliamos a qualidade desses insumos? Nesse caso, podemos mencionar o uso de certificados de análise como única fonte de informação. Entretanto, se os fornecedores não tiverem sido previamente qualificados, a qualidade correrá grande risco.

Por fim, uma consideração também deve ser feita quanto aos procedimentos de recebimento dos insumos, manuseio, pesagem, fabricação, envase e expedição: Se a qualidade não estiver presente nessas atividades, como garantir que estará presente no produto final?

Essas considerações são apenas alguns exemplos de fatores que, se não forem bem conhecidos e devidamente avaliados, proporcionarão uma falsa imagem de qualidade que, mais cedo ou mais tarde, será desmistificada.

Muitas vezes, empresários dizem que o fato de não receberem reclamações é representativo da qualidade de seus produtos. Isso só é válido quando é certo que ao consumidor são dadas todas as possibilidades e facilidades de contatar a empresa, não apenas o acesso ao SAC. Isto porque o SAC, em geral, se limita a propor a troca de produto ou o reembolso do valor pago, sem investigar a real procedência da reclamação.

Outra dificuldade que se apresenta ao consumidor é quando ele tenta obter informações que permitam reconhecer as deficiências do produto e a empresa não realizou testes para verificar em quais condições poderão ocorrer não conformidades e como preveni-las.

Deve-se sempre ressaltar que qualidade é um conceito global da empresa que não pode ser diferente em cada departamento ou setor. Cabe aqui a velha máxima de que a corrente sempre arrebenta no elo mais fraco.

A efetiva implantação do conceito de qualidade na empresa é, sem dúvida, a mais difícil e trabalhosa de todas as atividades. Isto porque, na maioria das situações, envolve a mudança de cultura, ou seja, a alteração de toda a série de informações e hábitos que foram solidificados durante muitos anos no comportamento das pessoas.

O primeiro grande obstáculo encontrado é descobrir qual é a melhor comunicação para sensibilizar e conseguir o comprometimento das pessoas, porque, sem a participação delas, a qualidade não acontece.

Durante a realização de minhas atividades para implantar processos de qualidade e (ou) para preparar empresas para receberem a certificação ISO, a ausência de um processo adequado de comunicação sempre impediu que existisse motivação para o comprometimento das pessoas com aqueles processos.

Outro ponto importante é que, em muitos casos, a empresa não conhece seus processos de qualidade. Isso implica fixar e estabelecer critérios para avaliar atividades que, se forem adequadamente analisadas, vão fornecer a indicação de que estes não produzem os resultados esperados ou, em casos extremos, geram resultados opostos aos desejados.

Devemos, em especial, levar em consideração que a comunicação, que é o único meio de transmissão de informações internamente na empresa, também pode ser a causa de as não conformidades escaparem do controle, caso apresente falhas. Além disso, por causa dessas falhas, pessoas são responsabilizadas por esses problemas, mas, na maioria dos casos, não são efetivamente responsáveis por eles.

Outros fatores a serem considerados são a capacitação e a qualificação do pessoal diretamente envolvido no processo de qualidade. Em muitos casos, esse pessoal não tem conhecimento sobre a política de qualidade (quando esta existe) e, pior ainda, não sabe como aplicá-la.

Essas são as razões da necessidade de conhecer a qualidade.

Valcinir Bedin
Tricologia por Valcinir Bedin

Cabelos e fotoproteção

Os efeitos nocivos da radiação ultravioleta sobre a pele já foram amplamente estudados e são de conhecimento de todos que trabalham no segmento. A fotodegradação do cabelo se dá pela fotólise, mecanismo no qual a cistina, a tirosina, a fenilalanina e o triptofano absorvem radiação UVB, resultando na formação de radicais livres. Ocorre ainda a cisão das pontes bissulfridicas. O que vemos como resultado são a desidratação dos fios, a redução da resistência à tração, a modificação da textura da superfície, a fragilidade e o clareamento da cor. Tudo como consequência direta da fotodegradação induzida pela radiação UVB.

Com base nestas informações podemos deduzir um fato já comprovado: os cabelos embranquecidos sofrem mais fotodano do que os cabelos escuros naturalmente, levando a um processo maior de envelhecimento dos fios.

Embora a radiação UVA não seja a principal causa dos danos aos cabelos, os cientistas descobriram que a luz visível e a UVA são, em grande parte, responsáveis pelo desvanecimento da cor nos cabelos tingidos.

Em resumo, as radiações UVB e UVA desempenham um papel determinante no fotodano dos cabelos. Esse dano no cabelo pode ser manifestado de diversas formas, inclusive com a perda de cor e diminuição de resistência à tração, a degradação das pontes e um aumento da rugosidade superficial dos pelos. A sensibilização dos consumidores para a fotodano dos cabelos tem aumentado, e o mercado espera por produtos com proteção solar que mostrem resultados de forma mais perceptível visualmente.

À primeira vista, toda a questão de fotoproteção para o cabelo pode parecer irrelevante; no entanto, muitas vezes o paciente consulta o dermatologista para aconselhamento sobre crescimento de fios e problemas com a aparência destes. A fotoproteção dos cabelos é uma parte importante para se manter o valor cosmético da haste do fio.

Apesar de todo estudo com relação ao fotodano capilar estar ainda no seu início, já temos estudos que mostram, por exemplo, que os corantes capilares protegem os cabelos contra este tipo de dano. A eficácia da fotoproteção dada pelos produtos corantes foi medida por meio do monitoramento da resistência à tração e a integridade das pontes bissulfidricas nas fibras. Estudo recente envolveu também a dosagem de proteínas nas hastes pré e pós exposição à radiação ultravioleta.

Pode parecer paradoxal pois, embora os cabelos tingidos sejam inicialmente enfraquecidos devido ao estresse oxidativo causado pelos danos químicos, eles também mostram um ritmo mais lento de degradação pela radiação UV, comparados com os cabelos não tingidos. Assim sendo, apesar de ser uma vantagem teoricamente menor, tingir os cabelos pode ser uma proteção contra danos causados pelo sol.

Uma análise feita por microscopia eletrônica de transmissão de cabelos expostos ao sol revelou danos importantes. Os resultados indicam uma alteração de diversos componentes celulares. Ocorrem danos na cutícula, que podem levar à sua perda. Ocorre ainda a separação das macro-fibrilas e a destruição de pigmentos melânicos, resultando em danos ao córtex. Algumas das mudanças químicas e físicas que ocorrem nos cabelos expostos ao sol foram: formação de grupos carbonila, destruição de cistina, modificação de proteínas obtidas através da redução das pontes bissulfidricas, perdas de força mecânica e descoloração.

Sabe-se, portanto, que as radiações ultravioleta causam alteração nas propriedades dos cabelos. O que se coloca como questão é a quantificação do fator de proteção que um produto para cabelos pode ter. Ao contrário dos protetores para pele, que já têm bem especificado seu mecanismo de ação, aqueles para os cabelos ainda não têm um protocolo formal para medir o quanto ele pode proteger das radiações luminosas.

Foi proposto um mecanismo para se avaliar o quanto de proteção um produto pode ter nos cabelos, chamado de HPF (sigla, em inglês, para Hair Protection Factor, ou, em português, Fator de Proteção do Cabelo), que seria semelhante ao Fator de Proteção Solar (FPS) mas, com relação aos cabelos o que se mede é a resistência à tração antes e depois da aplicação do produto. Por questões regulatórias, este índice ainda não é usado nos produtos capilares.

Finalmente, qual é a melhor maneira de se acoplar um fotoprotetor a um produto para cabelos? Shampoos e condicionadores são os produtos mais comuns que incorporam esta tecnologia ao dia a dia, mas, produtos de estilo, como géis para penteados ou mousses para finalização de penteados, são mais adequados, uma vez que ficam mais tempo em contato com os fios.

Já avançamos muito neste tópico, mas ainda há muito espaço para inovações que podem nos levar à criação de produtos mais tecnológicos, que possam fornecer uma proteção maior para esta parte do corpo muitas vezes negligenciada.

Antonio Celso da Silva
Embale Certo por Antonio Celso da Silva

Reposicionamento: qual é o papel da embalagem?

O tema central desta edição é o reposicionamento de mercado. Obviamente estamos falando de produto acabado, ponto de venda, etc.

Não raras vezes nos deparamos dentro da empresa com essa grande dúvida e, basicamente, quando se quer reposicionar é porque alguma coisa não anda bem - e em 100% das vezes o que não anda bem é a venda do produto, o faturamento da empresa... Enfim, a necessidade
de ganhar mercado.

Na verdade, essa necessidade nos dias de hoje existe em todas as empresas, pois a crise que começou como uma marolinha vem derrubando feito tsunami até grandes empresas de cosméticos.

Dentro dos quatro principais canais de venda existentes no mercado de cosméticos (varejo, venda direta, franquia e eletrônico), o canal varejo é o que mais tem sofrido, pois há uma briga insana por espaço nos PDVs (pontos de venda) e, muitas vezes, também há briga por centavos na negociação de um produto.

Os reposicionamentos têm acontecido principalmente nesse canal, mas, nos canais venda direta e franquia, o fenômeno também tem sido observado e, muitas vezes, até com migração de um canal para o outro e vice-versa.

Nesse reposicionamento de mercado, tem importância crucial a nova roupagem do produto, isto é, a embalagem.

Um dos reposicionamentos que considero um case de sucesso foi o de uma empresa que começou com contratipos de colônias e depois acrescentou maquiagem na sua linha. Atuava no canal porta a porta (venda direta) e, em um dado momento, entendeu que deveria parar com os contratipos de colônias e trabalhar só com a maquiagem. A mudança foi grande e corajosa, pois junto dela veio a troca de canal para franquia, mas hoje a empresa é um sucesso.

Lógico que aqui pontuamos apenas o lado macro dessa história, porém lembro de uma palestra que assisti, ministrada pela então gerente de marketing dessa empresa, em que ela enfatizou a necessidade primeira de mudar completamente a “cara”, ou seja, a roupagem do produto. Isso passou por pesquisa de mercado, viagens à China em busca de embalagens compatíveis com a nova realidade e, mais do que isso, houve a necessidade de uma mudança radical de preço, elevando-o.

Essa alteração de preço foi necessária pela qualidade das novas embalagens, mas também porque o reposicionamento pedia um preço bem maior para se adequar à nova realidade e ao novo enquadramento como produto Premium.

A embalagem primária (aquela que entra em contato com o produto) tem de ser mudada quando há um reposicionamento, mas, talvez ainda mais importante que a primária, uma mudança grande também tem de acontecer na embalagem secundária, que é aquela que vende o produto em um primeiro contato.

O grande cuidado que se precisa tomar para um reposicionamento de mercado e para a entrada de novas embalagens é verificar previamente a disponibilidade dessas embalagens - principalmente considerando que um reposicionamento pode trazer surpresas desagradáveis nas vendas -, pois ele foi feito para superar expectativas, e os fornecedores das embalagens envolvidas têm de estar na mesma sintonia.

Fazer todo um trabalho de reposicionamento e não ter a garantia do abastecimento das embalagens e um esperado “boom” de vendas é dar um tiro no pé.

Isso significa, portanto, que os fornecedores envolvidos têm de ser visitados, mesmo que em outros países. É preciso conhecer seu parque industrial, bem como o seu sistema de controle de qualidade e, principalmente, a velocidade de resposta em caso de necessidade de quantidades maiores deve ser auditada e bem avaliada. Não menos importante é a necessidade de verificação dos estoques de embalagens existentes (o que não raras vezes é bem grande) e da data de lançamento das novas embalagens e dos produtos reposicionados.

A empolgação pode fazer com que uma grande quantidade de embalagens, agora consideradas obsoletas, tenha de ser descartada. É interessante avaliar se não compensa esperar um pouco mais até escoar as embalagens existentes.

Outra parte que muitas vezes também passa despercebida na empolgação da mudança são os dizeres de rotulagem de cada produto.

Reposicionar pode significar mudar textos, apelos de produtos e novas linguagens, e isso necessariamente passa por um pedido de alteração de rotulagem ou mesmo um novo registro na Anvisa. Considerando as constantes mudanças de regras na Anvisa, precisa-se de um profissional de regulatórios que saiba avaliar bem cada caso e dizer se uma embalagem e seus respectivos dizeres de rotulagem podem ou não ser aproveitados.

Concluindo, reposicionar produtos no mercado passa necessariamente por uma minuciosa avaliação das embalagens existentes e por uma análise do que precisa ser feito para que a nova embalagem faça parte do sucesso da nova estratégia.

Luis Antonio Paludetti
Manipulação Cosmética por Luis Antonio Paludetti

Poderes e responsabilidades

Quando eu era criança e fazia algo errado ou alguma malcriação, minha mãe já sabia qual era o castigo que mais doía: uma semana sem assistir aos desenhos animados do Homem-Aranha. O inusitado personagem “nerd” de Stan Lee transforma-se em um herói após ter sido picado por uma aranha radioativa. Quando ele constata seu enorme poder, seu tio Ben profere uma frase que ficaria famosa no universo dos quadrinhos: “Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”.

E, agora, um grande poder foi concedido à classe farmacêutica, pelo menos no estado de São Paulo. Recentemente, o Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo obteve na justiça sentença favorável no que traz uma decisão que permite aos farmacêuticos manipular cosméticos sem necessidade de receituário médico. Essa sentença judicial põe fim à questionável exigência criada pela RDC 67/2007, a qual impunha às farmácias com manipulação a exigência da receita médica para a manipulação de medicamentos, cosméticos e outros manipulados.

O argumento do CRF-SP foi cristalino: há ilegalidade quando a RDC 67/2007 sobrepõe a Lei 5991/73 (com implicações também com a Lei 6360/76), que define que a exigência da prescrição médica se faz necessária apenas para medicamentos, conforme torna explícita a sentença proferida pelo Tribunal Regional Federal da 3a Região: “Como se depreende de referida norma, exige-se receita apenas de medicamentos, mas não de correlatos ou mesmo especificamente de cosméticos”. A sentença reconhece que a RDC 67/2007, neste aspecto, cria uma nova regra jurídica, o que não pode ocorrer por meio de Resolução da Agência.

Como se, magicamente, fôssemos picados por uma aranha radioativa, os farmacêuticos podem manipular cosméticos sem receita, o que é um grande poder.

Centenas de pacientes poderão ter, a partir de agora, o apoio de um profissional qualificado para auxiliar na decisão da escolha do melhor cosmético para as suas necessidades específicas.

Mas, devemos também estar cientes das responsabilidades. A primeira delas é não extrapolar o conceito de cosmético, conforme definido na Lei 6360/76 (decorrente da definição de correlato da Lei 5991/73): produtos para uso externo, destinados à proteção ou ao embelezamento das diferentes partes do corpo.

No cotidiano da farmácia, nem sempre é fácil saber onde termina o cosmético e onde se inicia o medicamento. Por exemplo, um paciente com caspa solicita a orientação do farmacêutico para melhor cuidar de sua condição. Como o farmacêutico poderia diferenciar a caspa (que necessita de uma intervenção cosmética) da dermatite seborreica, que necessita de uma intervenção medicamentosa?

Neste caso, o farmacêutico deve munir-se de protocolos para melhor orientar o paciente na definição de sua condição patológica na escolha de um cosmético, o que nos leva à segunda responsabilidade: o conhecimento profundo da legislação sobre o que é permitido em cosméticos e o que não é.

Voltando ao paciente com caspa, esta pode ser tratada, por exemplo, com um shampoo com sulfeto de selênio. Neste caso, esta substância pode ser utilizada em concentrações que variam entre 0,5 a 2,5%. Para cosméticos, o limite máximo é de 1%, como dissulfeto de selênio. Ou seja, qualquer concentração acima deste limite desclassifica a indicação como sendo a de um cosmético de grau 2 (sem necessidade de prescrição) e a requalifica para uma indicação de um medicamento de venda livre, para a qual há necessidade de, no mínimo, uma ainda controversa prescrição farmacêutica ou, eventualmente, uma prescrição médica.

Sentiram o peso da responsabilidade? Mas, como nas histórias em quadrinhos, há sempre mais um terceiro vilão escondido: a questão da manipulação de cosméticos para “colocar na prateleira”.

É preciso entender que a isenção da necessidade de prescrição de manipulação de cosméticos não implica diretamente autorização para manipular estes cosméticos em série e disponibilizá-los em prateleiras para venda, o que, salvo melhor juízo, caracterizaria uma produção, levando as farmácias à necessidade de registro ou notificação, para a qual não estão legalmente habilitadas.

No meu entender, as farmácias devem atender às solicitações de cosméticos manipulados sempre com base em uma relação farmacêutico x paciente bem estabelecida e documentada.

Os mais jovens talvez não tenham vivido esta experiência, e os veteranos talvez não lembrem, mas, acreditem: quando eu comecei a trabalhar com manipulação, nós manipulávamos cosméticos sem qualquer tipo de restrição ou problemas sanitários. Atendíamos com critério todos os que nos procuravam e, quando necessário, sabíamos onde estava nosso limite, encaminhando o paciente ao médico.

Agora, nós, farmacêuticos paulistas, recebemos de volta um grande poder. Vamos usá-lo com responsabilidade para que, em breve, os farmacêuticos de todo o Brasil possam também exercer a profissão com plenitude.

Novos Produtos