Autoestima

Edicao Atual - Autoestima

Editorial

Coisa de homem

 

Em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre, cresce o segmento de salões de beleza voltados exclusivamente ao público masculino. Barbearias “modernas” ganham espaço no mercado e incorporam elementos diferenciados ao ambiente, como geladeiras, chopeiras e máquinas de café expresso.

 

A proliferação desses espaços, bem como o crescimento nos gastos com produtos de beleza entre os homens brasileiros, apontam um cenário favorável para o mercado de produtos masculinos nos próximos anos. Segundo dados da Abihpec, a categoria de produtos masculinos representa quase 11% do consumo total de cosméticos no país. Nos últimos cinco anos, as vendas dobraram de tamanho, chegando a um faturamento de aproximadamente R$ 11,1 bilhões em 2014. Atualmente o Brasil é o segundo mercado do mundo, no segmento de produtos masculinos, atrás apenas dos Estados Unidos.

 

Matéria publicada no inicio de março no jornal Valor Econômico destaca o sucesso e os planos de expansão de barbearias paulistanas e cariocas, bem como os movimentos da indústria, em sintonia com o fortalecimento desse mercado.

 

Esta edição de Cosmetics & Toileties Brasil apresenta na matéria de capa a relação entre cosméticos e autoestima. Sabemos que a satisfação com a própria aparência acarreta impactos positivos à vida das pessoas. Contudo, em alguns casos – em razão de problemas dermatológicos severos e outras enfermidades - produtos para o cuidado da pele, cabelos e itens de maquiagem cumprem um papel ainda mais importante, ao fortalecer sentimentos como bem-estar, segurança e autoconfiança.

 

A seção Persona traz a trajetória de Ulisses Matiolli Sabará.Os artigos técnicos tratam das boas maneiras de promover os benefícios dos produtos cosméticos, do uso de ésteres em produtos de cuidado pessoal e do uso de cristais líquidos em cosmetologia, dentre outros assuntos.

 

Boa leitura!

 

Hamilton dos Santos
Publisher

Critérios Básicos para a Promoção de Cosméticos - Chris Flower, PhD (Cosmetic, Toiletry and Perfumery Association (CTPA), Londres, Reino Unido)

Comunicar os atributos é essencial para a promoção e a comercialização de produtos cosméticos. Entretanto, há regulações sanitárias legais e éticas para o uso correto de apelos, quer no rótulo quer na propaganda do produto. Este artigo aborda a regulação em vigor na União Europeia (UE).

Informar los atributos es esencial para la promoción y comercialización de productos cosméticos. Sin embargo, hay normas de salud, legales y éticas para el uso correcto de los claims, ya sea en la etiqueta o en la publicidad del producto. Este artículo aborda la normativa vigente en la Union Europea (UE).

Claims attributes is essential for the promotion and marketing of cosmetic products. However, there are regulations from health, legal and ethical for the correct use of these claims, either on the product label or in media advertising. This article discusses the regulation in force in the European Union (EU).

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Ésteres em Personal Care - Umberto Piergallini (Divisão Novecare, Grupo Solvay, Taboão da Serra SP, Brasil)

O autor apresenta neste artigo breve um relatório sobre a origem e os benefícios dos ésteres em cosméticos.

El autor presenta en este artículo breve informe sobre el origen y los beneficios de los esteres en los cosméticos.

In this article, the author presents shortly report on the origin and benefits of esters in cosmetics.

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Método Verde e Rápido na Pesquisa da Presença de PG e PABA em Cremes Hidratantes - G Giraldi Shimamoto, J Terra, MI Maretti Silveira Bueno (Instituto de Química, Universidade Estadual de Campinas - Unicamp, Campinas SP, Brasil)

As ferramentas quimiométricas de Análise de Componentes Principais, Mínimos Quadrados Parciais para Análise Discriminante e K-ésimo vizinho mais próximo foram aplicadas a espectros de fluorescência de raios X de cremes hidratantes para identificar simultaneamente a presença de propilenoglicol e parabenos, o que produziu classificação de amostras externas com 100% de acerto.

Se aplicaron las herramientas quimiométricas de Análisis de Componentes Principales, Mínimos Cuadrados Parciales para Análisis Discriminante y K-Vecinos más Cercanos en los espectros de fluorescencia de rayos X de cremas hidratantes para identificar simultáneamente la presencia de propilenglicol y parabenos, que produjo clasificación de muestras externas con 100% de acierto.

Principal Component Analysis, Partial Least Squares Discriminant Analysis and K-Nearest Neighbors methods were applied to X-ray fluorescence spectra of moisturizers in order to identify simultaneously propylene glycol and parabens, that produced external sample classifications with accuracies of 100%.

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Cristais Líquidos Aplicados à Cosmetologia - S Arandas Monteiro e Silva, M Martines Silva, G Ricci Leonardi (Universidade Federal de São Paulo - Unifesp, São Paulo SP, Brasil); R Petrilli, V Baillo (Universidade de São Paulo – USP, Ribeirão Preto SP, Brasil); MF Costa Valarini (Universidade Metodista de Piracicaba, Piracicaba SP, Brasil)

Este trabalho conceitua os cristais líquidos, apresentando aspectos relevantes da terminologia, mecanismos de formação, caracterização, identificação e métodos de análise. Discorre-se sobre a aplicação da fase líquido cristalina para área específica da cosmetologia, apresentando estudo pertinente da influência de ativos vegetais hidrofílicos sobre a manutenção dos cristais líquidos.

En este trabajo se definen los cristales líquidos, presentando los aspectos relevantes de la terminología, mecanismos de métodos de formación, caracterización, identificación y análisis. Se comenta sobre la aplicación de la fase cristalina líquida para el área específica de la cosmetología, presentando un estudio pertinente de la influencia de activos vegetales hidrofi licos en el mantenimiento de cristales líquidos.

This paper defi nes the liquid crystals, presenting relevant aspects of terminology, formation mechanisms, characterization, identification and analysis methods. It is presented the application of the liquid crystalline phase for specific area of cosmetology, showing relevant study of the infl uence of vegetable hydrophilic actives about the maintenance of liquid crystals.

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Carlos Alberto Pacheco
Mercado por Carlos Alberto Pacheco

O que a OCDE tem a nos dizer?

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)* vem, há vários anos, ajudando de diversas formas os governos dos Estados Membros a desenvolverem políticas que resultem em vidas melhores para os seus cidadãos. Há mais de 50 anos, produziu estatísticas de alto padrão, que têm ajudado governos bem-intencionados a entender as forças que movem as mudanças positivas em todas as esferas do bem-estar.

Nos últimos 10 anos, a partir da simples pergunta “nossas vidas estão realmente melhorando?”, descobriu-se que a análise do PIB de um país não é suficiente para medir “o grau de satisfação de vida” de um cidadão. Afirmação curiosa, não? Em geral, partimos da premissa de que, quanto mais dinheiro disponível, maiores as chances de se obter o bem-estar pessoal. Ledo engano! Embora se reconheça a importância da riqueza material na obtenção do bem-estar pessoal, a importância desta variável para a determinação da satisfação varia de cultura para cultura. O que é importante para uma sociedade, não o é necessariamente para outra. As percepções de bem-estar variam também de acordo com outros fatores, como sexo, estado civil, idade, orientação religiosa e doutrina de governo, além de outras variáveis, que, no fundo, podem ser traduzidas como os valores importantes para cada cidadão.

Imbuída deste desafio, a organização determinou 11 dimensões consideradas valores importantes para a natureza humana, como: comunidade, educação, meio ambiente, engajamento cívico, saúde, moradia, renda, empregos, satisfação pessoal, segurança e equilíbrio vida-trabalho. Estas dimensões são medidas por 24 indicadores independentes, que, ponderados e cruzados, dão origem ao indicador “Viver Melhor”.

A diferença deste indicador para os demais é que, além de um indicador geral, ele também pode ser derivado para um indicador individual, no qual você - como indivíduo - escolhe que dimensões quer que componha o seu indicador, baseado na sua escala pessoal de valores, além de permitir também a atribuição de pesos diferentes a cada uma destas dimensões.

A plataforma onde os dados estão livremente disponíveis para consulta permite que, ao ajustar as dimensões e os pesos do seu indicador personalizado, você possa compará-lo entre o seu país de origem e outro Estado Membro.

A seguir, temos um pequeno extrato deste relatório. Vejamos o índice da dimensão “Satisfação Pessoal” do indicador “Viver Melhor”. Como ele é medido? Esta dimensão mensura como as pessoas avaliam sua vida como um todo em vez de seus sentimentos momentâneos. Ela obtém uma avaliação reflexiva de quais condições e circunstâncias da vida são importantes para o bem-estar subjetivo. Quando solicitadas a classificar sua satisfação geral com a vida em uma escala de 0 a 10, as pessoas dos Estados Membros da OCDE lhe atribuíram um índice médio de 6,6. No Brasil, a pesquisa indica que este índice é 8,1. Note que nosso índice está situado entre os obtidos pelos Estados de Luxemburgo (7,9) e Nova Zelândia (8,4) e é superior aos obtidos em Estados como Alemanha (7,5), França (6,4) e Japão (4,1). Podemos perceber, portanto, que não existe uma relação direta entre “Satisfação Pessoal” e PIB, uma vez que o PIB de qualquer um destes Estados é superior ao do Brasil.

Por outro lado, nosso índice da dimensão “Segurança” perde feio para os demais Estados. Este indicador é medido pelas taxas de agressão e de homicídios e pela percepção do temor ao crime. Enquanto o índice aponta para 9,3 na Nova Zelândia e 8,4 em Luxemburgo, no Brasil este indicador é de 2,2, ficando à frente apenas do México, com 0,4. O mesmo acontece com o índice da dimensão “Educação”, já que apenas 43% da população entre 25 e 64 anos tem pelo menos uma graduação superior. Como referência, aponto o Chile, com 73% da população entre 25 e 64 anos com pelo menos uma graduação superior.

O indicador também permite realizar comparações entre a vida de homens e mulheres, assim como entre aqueles situados no mais alto e no mais baixo degrau da escala econômica e social, além de muitos outros cortes e relacionamentos entre os vários indicadores.

Como se pode observar, os dados estão disponíveis e as ideias, lançadas e testadas em economias de Estados mais desenvolvidas do que o nosso. O que falta talvez seja um poder político mais forte e focado no bem-estar social com o intuito de enveredar ações mais assertivas no desenvolvimento social do Brasil.

John Jimenez
Tendências por John Jimenez

Mais tendências 2015

Complementando a coluna da edição anterior, a seguir veremos mais tendências que serão protagonistas neste ano.

• Smarter skin care. Os dispositivos evoluirão para o benefício de predição de necessidades da pele. Esta é uma categoria emergente, com projeção de forte crescimento para os próximos anos. Também veremos aplicativos para os telefones inteligentes que se conectarão com o aparelho para otimizar seu funcionamento.

• Personalization gets personal. A customização baseada no DNA continua no auge, já que permite conhecer detalhes como a predisposição de cada pessoa a desenvolver sinais de envelhecimento, perda de cabelo, perda de colágeno, perda do tom uniforme, pele sensível etc.

• Masculine hair masks. Dispositivos com efeito sauna que são colocados sobre a cabeça após aplicar a máscara sobre o cabelo e realizar uma massagem. É um dos novos segredos de vaidade do segmento masculino.

• Photo-ready cosmetics. “Selfi e” é a nova moda. Muitos lançamentos terão como protagonista a “melhora imediata”, pronto para a foto! Easy to use será a regra para essas formulações.

• Men make-up. Os tempos estão mudando. Veremos um aumento nos lançamentos de bronzeadores, corretores, máscaras, delineadores e outros produtos para o público masculino.

• Perfumes plus. As fragrâncias multifuncionais estão no auge. Elas vêm com benefícios como anti-idade, iluminação e proteção solar, entre outros. Veremos a união de benefícios em cuidados para hair care, skin care e nail care.

• Alphabet cream craze. Cc cream, ee cream… zz? A tendência alfabética continua. O limite entre skin care e color cosmetics começa a se reduzir. O desafio para os novos produtos está em identificar muito bem as necessidades do consumidor e satisfazê-las por meio de conceitos inovadores e funcionais nessa categoria.

• Glamorously geometric cosmetics. Veremos diferentes formas geométricas em frascos com conceitos luxuosos.

• Digit-Enveloping Razors. Novos dispositivos digitais que conseguem um melhor barbeado e prometem mais conforto no momento de fazer a barba.

• Touchless suncare. Trata-se de novos aplicadores corporais para produtos de proteção solar que funcionam de forma similar às câmaras de aplicação de bronzeador em spray. Para usá-los, simplesmente se seleciona o FPS adequado (15, 30 ou 50) junto com a altura. Em menos de 20 segundos, é possível uma aplicação uniforme do protetor solar.

• Bottle cap balms. Inovação em frasco. Vemos novos lançamentos de bálsamos para homens em tampas de cerveja reciclada e com sabores cerveja, manteiga e cereja. As tampas são recicladas e o produto, 100% orgânico.

• Medicated skin care. Espera-se que a venda de produtos de tratamento receitados por médicos tenha um importante crescimento nos próximos anos graças ao desenvolvimento de novos benefícios e de novas categorias e a uma presença mais forte entre os consumidores hispânicos e asiáticos.

• Smart skin e smart sensor. Estão em alta também os curativos dérmicos de apenas 3 ou 4 cm2 que podem conter aproximadamente 3.000 cristais líquidos, que mudam de cor em resposta à temperatura e ao calor corporal de forma que monitoram a circulação sanguínea. Também poderemos ver no mercado curativos eletrônicos ultrafinos, que parecem tatuagens e leem respostas biológicas da pele, transmitindo-as a computadores e aparelhos eletrônicos. As marcas de proteção solar também estão lançando chips eletrônicos que avisam sobre o aumento da radiação e a necessidade de reaplicação do produto.

• Retailtainment. Novas formas para tornar as experiências em varejo divertidas. Sons, cores, luzes e aromas se misturam na seleção dos produtos.

• Smog busters. Devido à poluição atmosférica, algumas marcas cosméticas estão lançando máscaras para proteção da respiração em cores e desenhos que combinam com a maquiagem e os acessórios.

Assuntos Regulatórios por Artur João Gradim

Gerúndio Regulatório

A fonte conceitual de nosso vernáculo, o prof. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, em seu dicionário define “gerúndio” como a forma nominal do verbo formado pelo sufixo “ndo”, cuja ação não é finalizada ou está em andamento.

É nessa forma que podemos enquadrar o que ocorre em nossa área regulatória, no que diz respeito aos produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos (HPPC).

O sistema eletrônico para os produtos registráveis continua instável. Os registros dos produtos são publicados lentamente, e há quase inércia em sua análise técnica, a mesma de quando se implantou o novo sistema, depois de em média 240 dias da data de seu protocolo. Esse fato deixa o disposto na RDC nº 7/15 patinando nos resultados esperados, com a falta de agilidade na prestação do serviço.

A falta de visão da Anvisa sobre o que ocorre no mercado em nosso setor é algo absurdo e inconcebível. Dá para se pensar que somente a receita financeira foi o objetivo da nova resolução. A agilização dos serviços, no que se refere às categorias sujeitas a análises e às modificações solicitadas nos peticionamentos, que era esperada com a nova resolução, continua ineficaz. Isso deixa nossos almoxarifados abarrotados de insumos impossibilitados de serem transformados em produtos e, consequentemente, causa a quebra do planejamento de vendas destes, somada a um momento de marasmo e instabilidade da economia brasileira.

Com o rearranjo referente à desobrigatoriedade de registro para a quase totalidade de produtos de HPPC, imposto pela nova resolução, não se justifica manter as pendências existentes, como alterações e notificações ou registros, que são a maioria das pendências da Anvisa, uma vez que esses produtos não estão mais sujeitos à análise.

Até quando continuaremos esperando por essa liberação, que, em muitos casos, de nada mais serve? A maioria dos produtores não dispõe de verba para propor medidas judiciais para obter prioridade analítica, como vem ocorrendo, e só lhes resta ficar esperando e perdendo o bonde.

No status presente, constatamos as evoluções da nova resolução: o sistema eletrônico, moroso na solução dos problemas técnicos, foi eficientíssimo quanto ao ajuste para a emissão da taxa a ser recolhida para os denominados “isentos de registro”; e a supressão da publicação no DOU, que era paga pela agência e agora é disponibilizada no site do órgão após uma ágil verificação interna do pagamento efetuado pelo interessado.

Continuam minguadas as publicações de peticionamentos de alterações, de inclusões e de registros (cinco categorias), fato que explicita que o setor analítico da área continua com pouca produtividade, o que eleva os prejuízos acumulados pelo setor. Esse mesmo setor observa, pasmo, o fim do verão e seu estoque repleto de insumos e coleções de cores passadas, impossíveis de serem desencalhados.

Pois bem, considerando que mais de 95% dos produtos de HPPC são agora considerados “isentos de registro”, ou seja, sem necessidade de análise técnica, não se justifica a demora no trâmite de ações internas da Anvisa. Essas ações não andam no mesmo passo das necessidades do setor. É lamentável e custosa essa situação, que em nada contribui para a necessidade de seus consumidores, ao contrário.

Precisamos sair do gerúndio e irmos para o presente rapidamente, para esperarmos por um futuro melhor.

Gestão em P&D por Wallace Magalhães

Insumos, Formulações e Produtos Acabados

Continuando a abordar o tema “Cadastro Técnico em P&D”, vamos tratar de insumos, formulações e produtos acabados. Mesmo correndo o risco de ser repetitivo, é oportuno lembrar que cadastro é o conjunto de informações referentes a um determinado assunto, e cadastramento é o ato de registrar estas informações, normalmente utilizando um padrão adequado. Estranhamente, estes são conceitos pouco conhecidos e pouco tratados pelos técnicos do nosso setor. A RDC 07/2015 estabelece a obrigatoriedade de se manter as informações dos produtos alinhadas em formato e conteúdo padronizados. A norma pressupõe que a formação do dossiê aconteça à medida que o desenvolvimento do produto avança.

A prática comumente adotada - de montá-lo após a notificação ou o registro - é equivocada e contraproducente por dois motivos. Primeiro, por contrariar frontalmente a norma e segundo, porque, conceitualmente, deveria ser o registro formal das informações consideradas, desde a fase pré-laboratório até a regularização, com o objetivo claro de conduzir os trabalhos de forma a obter um produto seguro e eficaz pela observação sistemática de informações técnicas e regulatórias pertinentes. Ainda há casos em que as informações não estão organizadas sob a forma de dossiê, o que é uma situação irregular.

Na montagem do cadastro técnico, existem duas providências recomendáveis. A primeira é adotar uma forma protocolar de receber e cadastrar os materiais antes de usá-los. A segunda é adotar uma sistemática de codificação interna no P&D. Muitos materiais que dão entrada nos laboratórios não serão usados na produção. Daí a importância de ter uma codificação independente. Lembre-se de que a função genérica de um código é identificar especificamente um determinado item. É conveniente utilizar uma convenção para gerar os códigos.

O cadastro de matérias-primas deve conter: descrição, código, composição quantitativa centesimal em nomenclatura INCI, função dos ingredientes, especificações, literatura técnica, custos, fornecedores aprovados e anotações. Essências devem ter os alergênicos destacados.

O cadastro de embalagens deve conter: descrição, código, especificações, custo, fornecedores aprovados e anotações.

O cadastro de formulações deve conter: descrição, código e versão, fórmula de preparação, fórmula qualitativa, modo de preparação (de laboratório e industrial), especificações, literatura técnica e anotações. Será necessário ainda um relatório de custo e um documento para instruir a preparação na bancada. Devem ser juntados ainda os resultados de estudos de estabilidade, eficácia e segurança. Note que o código está acompanhado de versão, que é uma numeração sequencial interna do código. Funciona da seguinte maneira: se você monta uma formulação de código 7.0001, a primeira terá versão 01. Uma segunda formulação, na qual sejam feitas pequenas alterações na quantidade de algum ingrediente, no modo de preparação ou mesmo na especificação, você terá a versão 02, e assim por diante. Se as alterações forem profundas, um novo código deverá ser gerado. Assim será possível agrupar e avaliar as formulações de forma racional e evolutiva.

O cadastro de produtos acabados deve conter: nome, código, fórmula, especificações, texto de rotulagem, projeto de arte, dados regulatórios (grau, destinação, forma física, validade, grupo, embalagem primária, embalagem secundária, restrições de uso, cuidados de conservação) e anotações.

As especificações de insumos, formulações ou produtos devem ser vinculadas funcionalmente ao cadastro de métodos analíticos. Lembre-se de registrar no cadastro de P&D os códigos que insumos, formulações e produtos acabados aprovados receberam no sistema de gestão. É recomendável manter também um cadastro dos fornecedores, com endereços, nomes de contatos, telefones e catálogos atualizados. Uma linha com cem produtos pode erar mais de 3.000 documentos obrigatórios. Por isso, é recomendável a implantação de recursos para sua geração e manutenção.

Valcinir Bedin
Tricologia por Valcinir Bedin

Autoestima e cabelos

Durante toda a história da humanidade, algumas partes do corpo humano tiveram maior ou menor representação, como a estatura, por exemplo, e os músculos à mostra, como hoje em dia. Mas nenhuma parte do corpo teve a importância dos cabelos nessa trajetória.

Há relatos de receitas para o crescimento dos cabelos desde a China Antiga – que datam de mais de 4 mil anos atrás, que falam em misturas de banhas animais com chifres raspados para atingir esse efeito.

No Egito Antigo, a forma dos penteados fazia a distinção entre as classes sociais. Assim, os trabalhadores não podiam usar cabelos com os mesmos formatos que os dos sacerdotes ou dos médicos, e os guerreiros eram autorizados a usar perucas feitas com os cabelos dos derrotados.

Clássica é a história do juiz do povo hebreu, chamado Sansão, que teria sua enorme força associada à grande cabeleira e que a teria perdido quando, encantando pela filisteia Dalila, ao dormir, teve suas madeixas cortadas e, consequentemente, perdeu toda força, tendo sido cegado e posteriormente morto.

Na época do Renascimento na França, teve início o uso da farinha nas perucas - os detratores da monarquia diziam que, numa noite de festa em Versalhes, usava-se uma quantidade de farinha que poderia alimentar toda a população de Paris. Também é desta época o uso de um artifício especial: um receptáculo em forma de cabeça, no qual se colocava um potinho de mel para atrair os insetos que se alojavam na peruca após o seu uso. Até hoje o uso de perucas brancas é comum pelos representantes do povo e dos juízes em vários países da Europa.

Na África, há relatos de que, em algumas tribos, o uso de tranças feitas com apenas três fi os é comum. O trabalho é tão grande que, às vezes, leva-se até três anos para terminá-las, e, para não desfazê-las, o usuário passa a dormir com um tronco sob a cabeça!

Durante a segunda grande guerra, nos países aliados, algumas mulheres que se envolviam com soldados alemães, quando descobertas, tinham seus cabelos raspados, para serem identificadas como traidoras.

Na Antiguidade, os romanos faziam uso de descolorantes para aloirar os cabelos, com a intenção de que eles ficassem parecidos com ouro, o metal mais precioso da época.

Essas histórias apenas ilustram a importância que a humanidade empresta a esse anexo da pele, que, do ponto de vista exclusivamente fisiológico, tem muito pouca importância, mas que do ponto de vista emocional, é crucial.

No Brasil, os estudos mostram que as meninas começam a aplicar produtos químicos (mesmo que seja apenas papel celofane para dar uma cor diferente) aos nove anos de idade! E, a partir daí, “mexem” nos cabelos até o final da vida.

Em termos de investimentos, calcula-se que uma mulher normal gasta, durante a vida, o equivalente a um apartamento de dois quartos num bairro nobre de uma grande cidade só com produtos e serviços para os cabelos.

Diante do exposto, podemos supor o nível de importância que é dado a estes fi os que cobrem o couro cabeludo.

No nosso meio, temos um trabalho feito no ambulatório de Tricologia da Sociedade Brasileira do Cabelo no qual consolidamos um questionário de qualidade de vida e queda de cabelos que mostrou uma relação muito grande entre os dois fatos.

Mulheres que se submetem à quimioterapia pós-câncer têm muito mais preocupação com a queda dos cabelos do que com a própria doença!

Costuma-se brincar com o fato de que toda mulher gostaria de ter os cabelos que não tem! Assim, se ela tem os cabelos lisos, gostaria de encaracolá-los. Se eles são ondulados, quer alisá-los, e assim por diante.

Uma grande aliada dos cabeleireiros é a mídia, que cria e dita modas de acordo com o tempo. Hoje estamos saindo de um período, que durou mais ou menos 10 anos, marcado pela ditadura do cabelo liso, como se a beleza não residisse na diversidade!

Nas décadas de 1940 e 1950, era exatamente o inverso. Foi o auge dos permanentes, que tinham como objetivo deixar as madeixas onduladas. O mesmo ocorre com as cores dos fios. De tempos em tempos, a moda dita a cor da estação!

Como vimos, os cabelos têm muita relação com a autoestima, mais nas mulheres do que nos homens, às vezes em excesso, mas quem terá coragem de dizer para uma adolescente de 15 anos que os cabelos não deveriam ser tão importantes na sua vida?

Antonio Celso da Silva
Embale Certo por Antonio Celso da Silva

Rotulagem de Cosméticos

Aproveitando um dos temas dessa edição, que aborda a rotulagem dos produtos cosméticos sob a ótica da Anvisa, é interessante ver o outro lado desse assunto, que será o foco desta coluna: as embalagens.

Considerando as embalagens primárias e secundárias, obviamente a preocupação maior é com a primária, aquela que entra em contato direto com o produto.

Na embalagem secundária, o cartucho é normalmente o mais comum e, para essa embalagem, temos uma oferta que não nos deixa nada a dever a nenhum outro país, mesmo aqueles dois que estão na nossa frente em consumo de cosméticos.

Pensando então na primária, qual seria a melhor maneira de informar nessa embalagem tudo que os órgãos legais exigem, além das não raras viagens fantásticas que os departamentos de marketing insistem em querer explorar?

Qual o melhor caminho, o mais econômico, o menos trabalhoso e o mais rápido?

Podemos dividir essas maneiras de expressar as informações em três grandes caminhos:

Rótulos: podem ser autoadesivos ou não, em papel ou plástico. Os mais usados são os autoadesivos em BOPP (polipropileno biorientado).

Se a opção for por rótulo, a primeira preocupação deve ser achar um bom fornecedor e no perfil de quantidade e qualidade que a sua empresa deseja. Vencida essa primeira etapa, vem a preocupação com a área útil da embalagem disponível para rotular, seu formato, seus contornos etc.

Tão importante quanto essas duas etapas é saber se a empresa tem equipamento para rotulagem e lembrar que rotuladora para embalagem plana normalmente não rotula embalagem cilíndrica.

Geralmente, passa despercebido outro possível problema que acontece no ponto de venda, que diz respeito ao tipo de adesivo usado no rótulo. Ele não é produzido pela gráfica que faz o rótulo, mas esta deve conhecer e informar ao cliente qual o melhor adesivo a ser usado em função da superfície plástica da embalagem onde vai o rótulo.

A grande vantagem da opção rótulo é poder usar um mesmo frasco e diferentes modelos de rótulos para diferentes produtos, além da otimização de compra de embalagens primárias e de estoque.

Considerando que o rótulo é muito mais barato que o frasco, ganha-se em flexibilidade e agilidade de produção, minimizando o risco de faltar produto no caso de um aumento de vendas não esperado (o que anda um tanto difícil ultimamente).

Gravação: uma opção ao rótulo autoadesivo é a gravação direta no frasco, mais conhecida como serigrafia. Nesse caso, diferentemente dos rótulos, existem poucas opções de fornecedores, e destes, poucos têm boa qualidade.

Se a opção for gravação, alguns cuidados devem ser tomados, como, por exemplo, certificar-se de que o produto é compatível com a gravação. Para isso, são necessários testes prévios, de modo a não haver risco de ocorrerem surpresas no ponto de venda, tais como a perda da tinta.

Outro cuidado importante é checar se o fornecedor realmente faz a flambagem da embalagem antes de gravar. Isso na verdade é passo mandatório nesse processo, mas é importante visitar o fornecedor antes de fechar o negócio. A flambagem serve para abrir os “poros” da superfície plástica, de maneira a facilitar a penetração da tinta. Uma embalagem não flambada pode resultar no descascamento da gravação. Ela “solta na mão” depois de alguns manuseios. Isso pode ser previamente verificado no scotch test, feito no ato do recebimento do lote.

Uma das desvantagens da gravação é a perda de flexibilidade no caso de um aumento de venda, como explicado anteriormente. Como a gravação é feita previamente, a empresa pode ter estoque de uma versão do produto mas precisar de outra, no caso de embalagem semelhante. Também é uma desvantagem a limitação gráfica de cores e imagens. Para a produção, a grande vantagem é a redução de mão de obra, considerando que não precisa de equipamento e mão de obra para colocar as informações na embalagem.

Sleeve: esse é outro recurso, excelente quando há a necessidade de colocar imagens ou muitas cores. A grande preocupação no uso do sleeve é achar um bom fornecedor que consiga fazer com qualidade as distorções necessárias de acordo com o formato da embalagem.

Também é importante avaliar antes se a empresa possui o forno específico para fazer o termoencolhimento. O forno comum usado para shrink não é adequado para fazer sleeve.

Em resumo, cada sistema de informação na embalagem primária tem suas vantagens e desvantagens. Resta avaliar os prós e contras antes de efetivamente decidir por um ou outro sistema.

Luis Antonio Paludetti
Manipulação Cosmética por Luis Antonio Paludetti

Iguais, porém diferentes

Ultimamente, os profissionais que atuam nas farmácias com manipulação têm se deparado cada vez mais com a retomada de um conceito há muito falado, porém pouco praticado: o conceito de terapia individualizada.

Não desejo tratar aqui da farmacogenética ou farmacogenômica, uma das abordagens mais recentes da terapia individualizada; mas de algo que é tão importante quanto e tão “individualizado” quanto: a individualização das bases dermatológicas.

Porém, antes de passarmos a este assunto, convém resgatar um pouco destes conceitos:

A terapia individualizada (medicina individualizada ou terapia personalizada) compreende os exames e métodos de tratamentos curativos, preventivos ou de reabilitações aplicáveis a um determinado paciente, proporcionando uma abordagem holística e integrativa. A terapia individualizada se inicia com o conhecimento do fato de que a predisposição para doenças específicas, o desenvolvimento das doenças, o curso natural da doença e a resposta à intervenção terapêutica são causados pela interação multidimensional da idade, gênero, genética, fatores ambientais, estilo de vida, cultura, crenças e classe social. A expressão destes fatores varia amplamente de indivíduo para indivíduo. Ao respeitar estas diferenças, a terapia individualizada tenta categorizar os pacientes em subgrupos clínicos relevantes. Dessa maneira, o cerne do conceito de terapia individualizada é a estratificação que “individualiza” um sem número de intervenções padronizadas em um grupo intervenções específicas. (Kraft K, Hoffmann W. Challenge of Evidence in Individualized Medicine. Personalized Medicine. 2012;9(1):65-71)

Vamos tentar exemplificar.

Em um modelo convencional, mulheres e homens que apresentam micose na pele deveriam ser tratados com o mesmo tipo de creme ou pomada. No modelo da terapia individualizada, estes pacientes seriam divididos em dois grupos: um grupo de homens e outro, de mulheres. Como sabemos, a pele dos homens e das mulheres apresenta diferenças importantes, e, por este motivo, determinados tipos de ingredientes cosméticos podem ser modificados nas bases dermatológicas para torná-los mais compatíveis com a pele de cada grupo.

Mas a pele de todas as mulheres é igual? É claro que não! Então, para uma individualização ainda mais precisa, poderíamos dividir as mulheres de acordo com a etnia (negras, caucasianas e asiáticas), pelo fototipo, pela faixa etária ou por subdivisões destes grupos, combinados entre si ou não.

É óbvio que a indústria cosmética e principalmente a indústria farmacêutica não podem oferecer uma variedade tão grande. Não que elas não sejam tecnicamente capazes, mas, de fato, os aspectos regulatórios e comerciais impedem a execução da terapia individualizada.

Para suprir estas necessidades terapêuticas, existem as farmácias com manipulação. Mas fica uma pergunta: as farmácias realmente estão abraçando esta ideia?

A minha vivência prática como consultor leva-me a dizer que não.

Infelizmente, um número considerável das farmácias prefere adquirir bases dermatológicas prontas e utilizá-las diretamente em cada prescrição enviada, sem considerar as necessidades individuais.

Por exemplo, um médico solicita uma loção cremosa “oil-free” para uma paciente com pele oleosa. Uma loção “oil-free” pode ser obtida de diversas formas: algumas utilizam apenas álcoois graxos e emulsionantes; outras utilizam triglicerídeos de cadeia média; e há ainda outras que utilizam emulsões de silicone. Todas são “oil-free”, mas são, definitivamente, diferentes. Além disso, há no mercado diversas distribuidoras que fornecem loções “oil-free”, algumas bem parecidas entre si e outras bastante diferentes.

Na maioria dos casos, as farmácias optam por ter uma “fórmula-padrão” de loção “oil-free” (seja manipulada na própria farmácia, seja comprada de distribuidores), utilizando-a para atender às prescrições independentemente do paciente em questão.

Essa atitude, sem dúvida, facilita os processos de manipulação, reduz os custos de produção e atende às normas sanitárias.

Mas, espera aí: isso não é exatamente o que as indústrias fazem? Em outras palavras, para “facilitar a vida”, as farmácias adotam um modelo de terapia padronizada, em vez do modelo de terapia individualizada que seria sua missão enquanto estabelecimento de saúde e diferencial enquanto empresa.

É preciso que as farmácias repensem o modelo de bases padronizadas, sejam elas manipuladas na farmácia, sejam adquiridas de fornecedores, e passem de fato a implementar a terapia individualizada como ela deve ser.

Farmácias com manipulação podem fazer muitas coisas, mas o que elas podem fazer de melhor é a terapia individualizada. Afinal, todos somos humanos: iguais, porém diferentes.

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