Mercado do Luxo

Edicao Atual - Mercado do Luxo

Editorial

Fé no que virá

Depois dos rituais de bem-aventurança comuns à passagem de ano e de mais uma vez renovarmos as esperanças, é natural que os primeiros dias do calendário comecem impregnados de entusiasmo. A esse sentimento natural somam-se os excelentes números de 2010 e o ingresso de novas parcelas de brasileiros ao mercado de consumo, cenário que deixou incontestável saldo de confiança no que está por vir.

Brasileiros seguem confiantes, mas também exigentes, consumindo mais e de maneira mais diversificada. Haja vista a disparada da classe C, que cada vez mais está na mira das estratégias de mar­keting das empresas. Essa fatia da população equivalia a 25,8% dos gastos dos brasileiros, em 2002, e atualmente responde por 41,35% (consultoria Data Popular). São eles que mais consomem no Brasil, movimentando cerca de R$ 881,2 bilhões por ano, com salários, benefícios e crédito. Os brasileiros também estão “conectados” como nunca. No país que contabiliza mais de 200 milhões de celulares também crescem consideravelmente as vendas do comércio eletrônico: apenas em dezembro, cerca de 30 milhões de pessoas navegaram em sites de e-commerce (dados Ibope Nielsen). Esse contingente equivale a 68,6% do total de usuários ativos do Brasil, número que chegou a 43,3 milhões de pessoas em dezembro.

No país de contrastes e transformações, há potencial de crescimento em segmentos variados, como você irá conferir na matéria de capa desta primeira edição da Cosmetics & Toiletries Brasil. A reportagem sobre o mercado de produtos de luxo apresenta dados sobre um setor que ainda engatinha, mas que tem tudo para caminhar bem nos próximos anos.   Esta edição ainda traz o “Balanço Econômico”, com a avaliação dos empresários do setor sobre os resultados obtidos em 2010 e as perspectivas para este ano - o otimismo, felizmente, dá o tom a todos os depoimentos. A seção “Persona” traz a trajetória de persistência e determinação do empresário Carlos Ará Amiralian. Nos artigos técnicos, você conferirá os mitos e as verdades sobre a segurança dos parabenos e os benefícios das microesferas de silício como filtro para radiação UV, visível e infravermelha.

Boa leitura! 

Hamilton dos Santos

Parabenos: Mitos e Realidade - Dene Godfrey (S. Black Ltd., Hertford, Reino Unido)

Esta revisão oferece uma visão mais profunda de um dos estudos científicos mais controvertidos dos últimos anos e explora a relevância dos resultados deste estudo e de outros estudos selecionados, de acordo com a percepção atual do homem comum quanto à segurança dos parabenos.

Esta revisión ofrece una profunda visión de uno de los estudios científicos más controvertidos de años recientes y explora la relevancia de los resultados de este estudio y de otros estudios seleccionados, para la actual percepción del hombre común cuanto la seguridad de los parabenos.

This review offers an in-depth look at one of the most controversial scientific studies of recent years and explores the relevance of the results of this study and other selected studies to the current layman´s perception of the safety of parabens.

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Microesferas de Silício como Filtros contra Luz UV, Visível e Infravermelha para Cosméticos - Isabelle Rodriguez, PhD, Roberto Fenollosa, PhD, Francisco Meseguer (Centro de Tecnologias Físicas, Unidade Associada ICMM-CSIC/UPV, Universidade Politécnica de Valencia, Valencia, Espanha)

As microesferas de silício são descritas como filtros de radiação de luz UV, visível e infravermelha (IV). Os parâmetros dessas esferas, incluindo forma, macieza, índice de refração e tamanho, são examinados para que sejam determinados seus benefícios potenciais em formulações cosméticas. Finalmente, a capacidade das esferas de bloquear a radiação IR é avaliada para detectar seus efeitos termorreguladores.

Las microesferas de silicio se describen como filtros de radiación de luz UV, visible e infrarroja (IR). Los parámetros de estas esferas incluyendo forma, lisura, índice de refracción y tamaño se examinan para determinar sus beneficios potenciales en formulaciones cosméticas. Finalmente, la capacidad de las esferas de bloquear la radiación IR se evalúa para detectar sus efectos termoreguladores.

Silicon microspheres are described as UV, visible and infrared (IR) radiation filters. Parameters of these spheres including shape, smoothness, refractive index and size are examined for their potential benefits in cosmetic formulations. Finally, the ability of the spheres to block IR radiation is evaluated for thermoregulatory effects.

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Extrato Vegetal da Biodiversidade Brasileira com Atividade “Retinoid-Like” - Gustavo de C Dieamant, Samara E, Maria DCVP, Lilian M, Cecília N, Gustavo F, Márcio AP (Chemyunion Química Ltda., Sorocaba SP, Brasil); Luiz CDS (Universidade Estadual Paulista - Unesp, Botucatu SP, Brasil)

Neste artigo os autores descrevem as atividades antioxidante, anti-inflamatória e “retinoid-like” do extrato de Bidens pilosa L. obtido por meio de extração em dióxido de carbono supercrítico.

En este artículo los autores describen los antioxidantes, anti-inflamatorios y “retinoid-like” del extracto de Bidens pilosa L. obtenido por extracción con dióxido de carbono supercrítico.

In this article the authors describe the antioxidant, anti-inflammatory and retinoid-like of the extract of Bidens pilosa L. obtained by extraction with supercritical carbon dioxide.

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Bioativos de Uva: Uso e Atividade Antioxidante - Camila de MB, Valeria WA (Univ. de Caxias do Sul – UCS, Caxias do Sul RS, Brasil); Morgane PF (Vinotage Cosméticos Ltda., Garibaldi RS, Brasil); Cláudia AS (Laboratório Randon Ltda., Caxias do Sul RS, Brasil)

Vários efeitos benéficos para a saúde, como a atividade antioxidante, têm sido atribuídos aos compostos fenólicos presentes na uva (Vitis vinifera); com isso, seus bioativos apresentam benefícios similares. Neste artigo, são apresentadas a composição fenólica e a atividade antioxidante dos bioativos da uva utilizados como matéria-prima na indústria cosmética.

Beneficios a la salud, como la actividad antioxidante, se han atribuido a los compuestos fenólicos presentes en la uva (Vitis vinifera), por lo que sus compuestos bioactivos tienen beneficios similares. Este artículo presenta la composición fenólica y la actividad antioxidante de la uva bioactivos utilizado como materia prima en la industria cosmética.

Several health benefits such as antioxidant activity, have been attributed to phenolic compounds present in grape (Vitis vinifera), thus their bioactive compounds have similar benefits. This article presents the phenolic composition and antioxidant activity of grape’s bioactive used as raw material in the cosmetic industry.

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Carlos Alberto Pacheco
Mercado por Carlos Alberto Pacheco

Apreço sobrepõe-se a preço!

Começou, mas não acabou! A mudança do ano, sob o ponto de vista prático, é apenas uma sequência de dias e, num país sem um plano diretor sólido, não há como esperar que as necessárias reformas fiscais e de atitudes – sobre as quais tanto se fala, mas tão pouco se realiza - aconteçam rapidamente. É assim que deve ser encarado o ano em que estamos, quando falamos em termos de inflação.

O ano de 2010 foi fortemente marcado por uma série de recordes na economia. Alguns deles positivos, como o aumento da renda per capita e da oferta de vagas no mercado de trabalho formal. Outros negativos, como os impostos arrecadados sobre o consumo (indicador de economias de terceiro mundo) e a referida inflação, que, para alguns, traz más recordações (IGPM 11,32% a.a., IPC-Fipe 6,40% a.a. e IPCA 5,25% a.a.).

No entanto, com ou sem inflação a vida de um produto no mercado há de continuar. O que muda é a estratégia no momento da venda. Em períodos de altíssima inflação, quando ocorre a escassez de oferta, os processos de venda se apresentam de maneira diferente, na comparação com um ambiente de alta oferta de produto. Assim como acontece com o corpo humano, o mercado se adapta à escassez ou ao excesso de alimentos.

Dentre as abordagens estão as chamadas “promoções de vendas”, um misto de técnica, arte e ciência, que leva o produto (ideia, serviço, bem) ao consumidor. Em outras palavras, é uma técnica para promover, facilitar ou fomentar a venda. Enquanto as vendas fecham os negócios, as promoções de vendas abrem as portas para que isso ocorra.

Essa técnica não deve ser confundida com a propaganda. Essa última faz um caminho contrário ao da promoção de vendas, ou seja, enquanto a primeira leva o consumidor ao produto, a propaganda direciona o esforço para levar o produto ao consumidor. As propagandas são artísticas, levam o consumidor a raciocinar sobre o produto antecipadamente e tendem a criar o conceito da marca e a fidelização a ela. As promoções de vendas são mais técnicas e científicas e, por sua vez, levam o consumidor a pensar no produto na hora da escolha. Enquanto a propaganda trabalha no sentido de conscientizar, a promoção de vendas se encarrega de divulgar a marca. A primeira é subjetiva e de difícil quantificação, a segunda é objetiva e totalmente mensurável. E, como os seres humanos existem não apenas para refletir, mas também para agirem, essas técnicas se complementam perfeitamente.

Vamos a um exemplo: em novembro passado, A L’Oréal fez uma forte campanha para sua linha capilar com protetor solar, a L’Oréal Elsève Solar (propaganda). Imediatamente, observava-se nas gôndolas a comercialização, em um único pacote, de shampoo e condicionador, cujo preço era mais atrativo do que o da compra separadamente de cada item (promoção de venda).

Existem inúmeras técnicas de promoção de vendas, que vão desde premiações, por meio de concursos, sorteios, vale-brindes, ofertas (“leve 2 e pague 1”, “500 ml grátis”), descontos e liquidações, até os famosos gifts packs (brindes acoplados fisicamente ao produto e que podem ser vistos já nas gôndolas pelo consumidor) e banded packs (brindes não acoplados ao produto, mas que podem ser retirados no caixa no momento da compra). Vale lembrar que o Poder Executivo, por meio do MS/Anvisa e do MDIC /Inmetro, tem regras específicas para regulamentar algumas técnicas de promoção de vendas, a fim de evitar a exposição de crianças ao risco ou ao engodo na entrega do volume/quantidade do produto oferecido.

No entanto, alguns acreditam que as técnicas de promoções de vendas comprometem a marca. Caso o produto não seja vendido única e exclusivamente com o uso dessa técnica (do tipo desconto, liquidação, brindes, entre outros), não há problemas em lançar mão da técnica. No entanto, se esse não for o caso, corre-se o risco de se formar uma imagem negativa sobre o preço justo do produto e sobre sua qualidade, e de se esvaziar o valor intrínseco da marca, que é o bem mais precioso de um produto – isso seria o “suicídio” de marca. Não podemos esquecer que há diferença entre o valor (mais-valia) e o preço (quanto se paga) de um produto. Muitos compram um produto por causa do status que ele representa. Portanto, um produto que sempre é vendido no estilo “leve 2 e pague 1” não vai conferir o bem-estar psicológico desejado.

Muito provavelmente, nunca veremos uma marca como a Renew sendo comercializada no estilo “leve mais 50 g grátis pelo mesmo preço”. Esse é o tipo de apelo que não cabe em uma marca premium para o público das classes A e B.

Não podemos esquecer que qualquer esforço promocional não deve ser maior nem mais forte do que o produto promovido. Deve-se vender o produto e não a promoção. Caso contrário, a propaganda ou as promoções de vendas - caríssimas e extremamente artísticas - não cumprirão seu papel, quer seja o de criação da marca ou o de promoção do produto.

Gestão em P&D por Wallace Magalhães

Conservantes

A seleção dos conservantes, ou melhor, do sistema conservante, é um passo decisivo no desenvolvimento de formulações cosméticas. Sua eficácia vai garantir a segurança do produto durante o prazo de validade. Além da satisfação e manutenção da saúde do consumidor, deve-se considerar que a preservação do produto tem implicações econômicas, já que vai afetar a lucratividade e a imagem da marca, principalmente nos casos de não conformidade.

Ao se falar de conservantes, o que vem à mente é a proteção antimicrobiana e isso é um erro. É necessário considerar a necessidade de proteção contra a degradação química do produto, o que pode exigir adição de antioxidantes, sequestrantes e absorvedores de radiação, inclusive para preservar os agentes antimicrobianos.

E, em se tratando de antimicrobianos, como não existe um conservante ideal, o uso de misturas ou blends é uma prática comum. Eles têm amplo espectro de ação e são de fácil manuseio. Haverá redução nos itens de compras, no número de análises e no investimento em estoque. No entanto, deve-se tomar muito cuidado para que essas conveniências não interfiram na definição do sistema conservante do produto em desenvolvimento. É absolutamente incorreto optar por um sistema conservante simplesmente porque ele já é usado pela empresa.

Outro aspecto fundamental é a documentação das amostras recebidas para teste. Elas devem estar acompanhadas de literatura, que deve incluir INCI name, CAS, especificações, estudo de eficácia e, no caso de blends, sua composição centesimal. Essas informações são vitais para a definição do sistema conservante e para regularização dos produtos que possam vir a utilizá-lo em sua composição.

O uso de conservantes é regulado por lista restritiva (no Brasil, pela RDC nº 162/2001), o que torna obrigatória a declaração de sua concentração centesimal real no produto final. Por isso, é preciso conhecer o teor de ativo e, ou, sua composição para emitir a fórmula oficial, que é aquela que aparece em dossiês e petições de notificação/registro. Nessa fórmula, todos os ingredientes devem ser consolidados em teor de ativo. Especificamente no caso dos ingredientes constantes de listas restritivas, esse procedimento é o que permite que se faça a devida verificação de conformidade. O processo de consolidar uma formulação em teores de ativos é trabalhoso, sujeito a erros, mas não é opcional. Muitas petições são erroneamente formuladas por causa do descumprimento dessa regra básica.

A forma padrão para consolidar uma formulação é ponderar a quantidade pesada, desdobrando-a de forma a apresentar todos os seus componentes e suas respectivas quantidades. Se o produto for destinado à exportação para a Europa, por exemplo, a fórmula declarada deve ser emitida dessa maneira. Para o mercado brasileiro, a RDC nº 162/2001 permite, em alguns casos, que seja apresentada a fórmula oficial sem o desdobramento total dos seus conservantes. O primeiro caso é o da mistura de metilisotiazolinona e metilcloroisotiazolinona, na qual a concentração máxima permitida é estabelecida para a mistura. Não se deve esquecer que os blends comercializados com essa mistura têm teor de ativo de 1,5%, ou seja, a quantidade real existente na formulação será igual à quantidade pesada multiplicada por 0,015. Outro exemplo é o do blend de parabenos e fenoxietanol. Se for utilizado até 0,8%, atenderá ao que está estabelecido para a mistura de parabenos e não atingirá o máximo permitido para o fenoxietanol. Nesse caso, também não é necessário desdobrar sua composição.

A eficácia do sistema conservante deve ser verificada. Para antimicrobianos, a confirmação pode ser feita por meio de challenge tests. Quando não houver essa possibilidade, a inclusão de um teste de estabilidade em estufa a 37º C pode fornecer informações importantes. Para os preservantes de proteção química, a verificação da eficiência é feita nos testes de estabilidade acelerada.

A escolha do sistema conservante é um ponto-chave na determinação do sucesso de um produto.

Carlos Alberto Trevisan
Boas Práticas por Carlos Alberto Trevisan

Parâmetros da qualificação

Como tivemos oportunidade de comentar em ocasiões anteriores, no Brasil a indústria cosmética, quando é comparada à indústria farmoquímica, tem uma marca bastante peculiar: a maioria das empresas cosméticas não foi estruturada para seguir os requisitos básicos de qualificação, desde o início de suas atividades.

Além disso, os critérios para a qualificação ainda estão restritos às utilidades (como tratamento de água, geradores de vapor, ar comprimido e sistema de ventilação) e a equipamentos com impacto na qualidade do produto.

Devemos, todavia, considerar que a literatura existente não fornece diretrizes para identificar quais utilidades e, ou, equipamentos precisam ser qualificados.

Como está nas disposições legais vigentes, a qualificação das utilidades e dos equipamentos é de responsabilidade do fabricante, e para isso os requisitos e os métodos variam de acordo com as interpretações do usuário.

Por essa razão, é necessário estabelecer uma abordagem sistemática para elencar os parâmetros da qualificação e da metodologia a ser utilizada.

Quanto ao comprometimento da qualidade, devemos considerar que os sistemas podem ser classificados em três tipos:

- Os que causam impacto direto, mais críticos

- Os que causam impacto indireto

- Os não impactantes

As práticas da qualificação em conjunto com as Boas Práticas de Engenharia (BPEs) devem ser utilizadas somente para os componentes críticos. A concordância com as BPEs já é suficiente para os componentes não críticos: os sistemas de impacto indireto e os não impactantes.

A Sociedade Japonesa de Maquinário e Equipamentos para a Indústria Farmacêutica elaborou uma abordagem prática para a seleção de critérios de qualificação e de determinação das metodologias específicas.

Como já é de conhecimento, a qualificação apropriada dos equipamentos críticos e das atividades auxiliares deve ser concluída antes de serem iniciadas as atividades relativas ao processo de validação.

As utilidades e os equipamentos para a produção têm funções dinâmicas (trabalho e ação), e essas funções são realizadas por meio de funções estáticas (estrutura, forma e material) das utilidades e dos equipamentos.

A produção deve ocorrer utilizando-se determinadas utilidades e determinados equipamentos com funções estáticas e dinâmicas sob condições prescritas e dentro das variações controladas.

Na maioria dos processos ordinários, algumas das funções dinâmicas e estáticas têm impacto direto sobre a qualidade dos produtos, enquanto outras não resultam em impacto.

Tanto a matéria-prima quanto um produto para uso possuem atributos como identificação, pureza, entre outros.

A qualidade da avaliação do risco para as funções estáticas e dinâmicas deve ser considerada para classificar as funções, com base no risco destas para a qualidade do produto.

Quanto ao risco, devemos classificar as funções em dois grupos:

- Funções diretas: aquelas que apresentam risco de impacto direto sobre a qualidade do produto

- Funções indiretas: aquelas que apresentam risco de impacto indireto ou não implicam em risco para a qualidade do produto

As práticas da qualificação devem ser aplicadas exclusivamente nas funções diretas; para as funções indiretas o que se exige é a observação das BPEs.

A adequação e a apropriação das utilidades e dos equipamentos, no que se refere ao seu impacto sobre a qualidade do produto, são verificadas, documentadas e aprovadas com o uso das BPEs.

Portanto, é suficiente, para os usuários que realizam algumas atividades de qualificação, que haja a segurança de que esses itens sejam apropriadamente verificados nas atividades da engenharia.

O assunto aqui tratado é bastante extenso e voltaremos a ele em uma das próximas edições.

Denise Steiner
Temas Dermatológicos por Denise Steiner

Cosmética e cosmecêuticos: a polêmica permanente

A pele é o maior órgão do corpo humano, contendo inúmeros tipos de células, centenas de elementos químicos e várias estruturas diferenciadas que, em conjunto, são responsáveis por funções de proteção e pela homeostase do organismo. A pele também é reconhecida como um ativo órgão do sistema imunológico, interagindo com o sistema endócrino e o neural. Além disso, a pele reflete a aparência do indivíduo e vai, indiscutivelmente, influenciar sua autoestima e, consequentemente, seus comportamentos biofísico e social. De maneira geral, a maioria dos especialistas concorda que o cosmético não poderia provocar mudanças fisiológicas na pele, servindo somente como mantenedor de suas boas condições.

Alguns produtos cosméticos estão relacionados às funções decorativas e protetoras, como esmaltes, perfumes, batons, limpadores, filtros solares, entre outros. Observa-se que, em algum momento de sua ação, ocorrem mudanças fisiológicas na pele. No caso do sabonete, a limpeza promove desengorduramento, que persiste por alguns instantes durante os quais acontece modificação fisiológica, com a diminuição do manto hidrolipídico.

Hoje, temos visto diversos produtos chamados de cosmecêuticos, principalmente na área dos hidratantes e produtos antienvelhecimento. Podemos até dizer que o conceito de cosmecêutico nasce, praticamente, com a redescoberta dos alfa-hidróxi-ácidos, utilizados há muitos anos e que agora voltam a ocupar espaço importante no tratamento da pele envelhecida.

O modo de penetração de um cosmético não é diferente do de uma medicação. É necessária a realização de pesquisa médica e farmacológica para essa análise, com o uso de recursos como: marcadores, microscopia eletrônica, modelos in vitro e in vivo. Isso tudo deve ser feito para acompanhar o trajeto do produto com suas ações químicas e seus desdobramentos, desde sua entrada na camada córnea até a profundidade que ele possa atingir.

Por outro lado, à medida que são utilizados em larga escala, esses produtos com maior potencial de ação aumentam os riscos de efeitos colaterais e complicações. Isso implica que todos os grupos de pessoas relacionados à manufatura e à venda desses produtos devem estar informados a respeito desses riscos. É necessário enfatizar que o uso de cosmecêuticos demanda melhor preparação dos profissionais relacionados à sua manufatura e venda, uma vez que o grupo de pessoas que os utilizarão é muito grande.

O cosmecêutico deveria ser acompanhado de bula, com a especificação exata do seu conteúdo, de seu modo de utilização e de suas possíveis interações com outros medicamentos. A utilização, por exemplo, do ácido glicólico por duas vezes ao dia, em peles mais secas e sensíveis, pode promover avermelhamento e certo grau de inflamação. Como ocorre a modificação e o afinamento da camada córnea, provocados pela maioria dos alfa-hidróxi-ácidos, é necessário haver maior proteção em relação ao sol, assim como se deve ter maior cuidado com o uso de outros produtos, principalmente de medicamentos. A pele afinada por ácidos absorve outras substâncias com maior facilidade.

O produto cosmecêutico deverá ter muitas indicações, como a associação de filtros solares a vitaminas antioxidantes e a princípios hidratantes. É recomendado o uso de hidratante e de filtro solar no dia a dia. A associação desses produtos a princípios antioxidantes potencializa a proteção da pele em relação à radiação ultravioleta, tornando-o um produto com várias utilidades.

A utilização da nanosfera e de ceramidas também melhora o potencial de ação dos cremes hidratantes, antienvelhecimento e protetores. A utilização desses produtos foi possível graças ao desenvolvimento de tecnologias avançadas para produzir ativos encapsulados e de liberação lenta.

Não podem ser tolerados conceitos fantasiosos sobre respiração da pele, poros abertos, raízes capilares encharcadas, entre outros. O uso dos cosmecêuticos terá de ser acompanhado da competência e da responsabilidade que são exigidas no processo de produção de produtos com ação específica para a pele.

Em nosso país, ainda é comum a indicação de medicação feita boca a boca, mesmo para problemas mais graves. É frequente a troca de receitas de remédios para o fígado, contra a pressão alta, a gastrite... Naturalmente, no que se refere a produtos de uso tópico, isso também ocorre e de forma mais intensa. Cabe aos especialistas alertarem os consumidores em relação aos perigos, pois os cosmecêuticos não são simples cremes emolientes. Não se pode usar esse tipo de produto - que em boa parte dos casos é manipulado mediante receita médica, extrapolando os limites da categoria de cosméticos - sem a indicação adequada.

A realidade é que, a cada dia, surgem novos produtos que podem ser caracterizados como cosméticos ativos. É papel de todos – pesquisadores, indústria, revendedores, especialistas médicos e não médicos, além dos consumidores - conscientizarem-se de que cada desafio é acompanhado de novas demandas de conhecimento e responsabilidades.

Dermeval de Carvalho
Toxicologia por Dermeval de Carvalho

Toxicidade sistêmica na avaliação de segurança

Tempos remotos... Pesquisa e desenvolvimento eram praticados com elevado grau de empirismo e magia; cosméticos eram usados ocasionalmente por elites que, paradoxalmente, eram distintas e semelhantes entre si. Nos dias de hoje, o uso de cosméticos se generalizou por todas as classes sociais.

A aparente singeleza dos conceitos que vêm sendo atribuídos aos produtos cosméticos, por parte da comunidade científica e dos órgãos regulatórios, traz em seu bojo similaridades e contornos distintos, porém ricos em detalhes, os quais são de fácil acesso àqueles que se interessarem pelo assunto.

Paracelsus (1493-1541) deixou notáveis desdobramentos científicos aplicados à toxicologia. Contudo, destaca-se em seu legado as afirmações que o imortalizaram: “Todas as substâncias são venenos, não há nenhuma que não seja um veneno. A dose certa diferencia um veneno de um remédio”.

Embora nada tenha sido registrado, acredito que Paracelsus já havia assumido o conceito de dose/resposta, hoje visto como um complexo mecanismo quimiocinético que se desenvolve desde o momento da absorção de uma substância química pelos organismos vivos, por meio de sua interação no sítio de ação, seja na sua forma inalterada ou seu produto de biotransformação.

Esse “deslocamento” da substância até o órgão-alvo, a clássica toxicodinâmica, tida como de natureza bastante complexa, pode oferecer ao toxicologista meios para que ele estabeleça seu provável ou real mecanismo de ação, pois para isso são levados em consideração fatores relacionados à absorção, à distribuição, à metabolização, à excreção, a aspectos bioquímicos, farmacológicos e patológicos, entre outros. Esses fundamentos foram aplicados aos cosméticos e aos produtos dermatológicos por Arnold Lehman e John Draize, há mais de meio século, e continuam sendo úteis. (Toxicology and Applied Pharmacology 243:225-238, 2010).

A toxicologia estuda os efeitos adversos ocasionados pelas substâncias químicas. Por isso, os toxicologistas devem estar suficientemente capacitados para avaliá-los (mecanismos celulares, bioquímicos e moleculares) e para avaliar as probabilidades de eles ocorrerem. Os toxicologistas que se propuserem a realizar esse tipo de trabalho devem estar cientificamente envolvidos com as áreas da toxicologia mecanicista, descritiva e regulatória. O conhecimento dessas três importantes áreas permitirá ao profissional trabalhar na avaliação do risco, desdobramento essencial e conclusivo para a avaliação de segurança.

A toxicidade sistêmica tem merecido, em todas as ocasiões, forte atenção dos toxicologistas. Atualmente, tem sido discutida exaustivamente, especialmente quando se propõe a mistura de diferentes substâncias químicas e suas possíveis interações, bem como o uso de baixas doses e tempo de exposição. (Food and Chemical Toxicology 34:1025-1031, 1996). O parágrafo anterior deve servir como parâmetro para se fazer o delineamento de futuros trabalhos relacionados à avaliação de toxicidade, pois a notificação dos efeitos adversos tem sido avaliada utilizando-se doses consideradas altas e extrapoladas para menores. (Journal of Applied Toxicology – disponível em www.interscience.willey.com).

Os ingredientes cosméticos estão incluídos como se fossem preocupantes, nesse painel de baixas doses? De forma genérica, não. Em casos específicos, sim.

O foco da discussão tem sido especialmente direcionado às substâncias químicas que podem atuar como desreguladores endócrinos (Journal of Applied Toxicology 28:561-578, 2008), a exemplo do que vem acontecendo com alguns conservantes e outros ingredientes.(Critical Review in Toxicology 40(S3):1-30, 2010).

O espaço reservado a esta coluna não permite que se faça uma abordagem minuciosa a respeito dos pontos convergentes e das divergências que têm sido veiculados a respeito do assunto, mas pode ser visto como sinal de alerta. Daí, com o devido respeito, a sugestão para a realização de um encontro de alto nível na busca de objetivos comuns é: a segurança de ingredientes e produtos cosméticos e a saúde de usuários.

Antonio Celso da Silva
Embale Certo por Antonio Celso da Silva

Maquiagem: A escolha do fornecedor

Todos sabem quais são as dificuldades para se encontrar um bom fornecedor de embalagem para maquiagem, principalmente se a empresa for de pequeno ou médio porte. A procura se torna ainda mais difícil se quem procura não souber exatamente o que quer. Como essa possibilidade existe e não é rara, vamos começar pela definição do que se quer.

Embora a variedade seja grande, normalmente são mais procuradas as tradicionais embalagens para batom e pós (sombra, blush, pó compacto, pancake).

Comece, portanto, fazendo um briefing. O primeiro passo nesse briefing é definir se a empresa usará um molde próprio (exclusivo) ou um molde-padrão de mercado (standard).

Optar pelo molde próprio é algo impensável, em função do custo e do prazo de entrega – razões pelas quais não são encontradas muitas inovações no mercado. São sempre as mesmas embalagens, o que muda geralmente é a cor e a decoração, com exceção das importadas.

Ao processo de fabricação dessas embalagens se dá o nome de injeção, pois a máquina injeta o material plástico, (normalmente o poliestireno - PS) numa temperatura adequada, no interior do molde. Esse processo é diferente do adotado para a fabricação de um frasco ou pote: nesse caso, o procedimento é denominado sopro. Nesse processo, o material plástico, aquecido no formato de mangueira, é soprado contra as paredes do molde, ficando com seu formato. Os moldes para o processo de sopro são relativamente baratos, se comparados ao processo de injeção. Por essa razão, existe uma infinidade de frascos (moldes próprios) diferentes para shampoos, condicionadores, sabonetes líquidos, entre outros produtos.

Como o molde próprio para injeção tem preço proibitivo e uma embalagem para batom ou pó é constituída por várias peças (lembre-se que cada uma delas necessita de molde), o melhor é escolher embalagens já existentes e disponíveis no mercado.

Após isso ser definido, o próximo passo é saber a quantidade, o preço e se o custo irá compensar. Por onde começar? A resposta é simples para quem é do setor cosmético. Pesquisas na internet podem ajudar quem não conhece esse mercado.

Contudo, o caminho mais curto e mais seguro é contratar um consultor especializado, que vá buscar o que o cliente procura em um curto espaço de tempo.

Seja qual for a escolha, para chegar ao fornecedor e à peça procurada é preciso definir o perfil do fornecedor, ou seja, se ele é: internacional; nacional de pequeno, médio ou grande porte; importador e,ou, representante de fabricante internacional ou distribuidor de empresas nacionais. Essas são as possibilidades.

Se a ideia for partir para um fornecedor com fábrica em outro país, existem dois caminhos: viajar e procurar (o que demanda muito dinheiro e não é comum) ou buscar no Brasil um representante desse fornecedor. Se for considerada essa última possibilidade, a primeira preocupação é saber se o representante mantém estoque local das embalagens e qual é o tamanho desse estoque. Outra preocupação está relacionada à qualidade, ou seja, no caso de ocorrer reprovação do lote, como o representante do fornecedor tratará e resolverá o assunto.

No caso da opção por um fornecedor nacional e partindo-se do princípio de que sua empresa já é estabelecida e conhecida, este irá visitá-lo e levar-lhe as amostras solicitadas. Mas, se a empresa estiver começando e não for conhecida no mercado, o melhor será contatar o fornecedor e ir até a fábrica. Essa visita será importante, pois, além poder escolher as amostras de embalagem diretamente na fonte, você terá a oportunidade de conhecer as pessoas, a fábrica, verificar a limpeza, a organização, e se existe controle de qualidade atuante e a quem esse setor responde.

O trabalho de procura e definição do fornecedor e da embalagem pode demorar semanas, meses até. No entanto, é aconselhável investir o tempo que for preciso nessa fase, desde que a escolha seja bem feita, segura e, acima de tudo, satisfaça plenamente a todos os envolvidos no processo.
Esse “final feliz” foi mostrado aqui apenas para ilustrar os caminhos da procura por uma embalagem para maquiagem. A realidade, contudo, é bem mais dura e difícil. Isso porque esse mercado - que cresce dois dígitos ao ano no país que já é o terceiro do mundo em consumo de cosméticos – é muito carente de opções em embalagens para maquiagem e de seus respectivos fornecedores.

Luis Antonio Paludetti
Manipulação Cosmética por Luis Antonio Paludetti

Se a moda pegar...

O conceito de cosmecêutico foi introduzido há cerca de 30 anos pelo professor Albert M. Kligman, e, desde então, sempre gerou controvérsias. Na época, era considerado um neologismo, e, como sempre acontece nesses casos, não havia legislação específica para lidar com o novo conceito. Ao longo dos anos, o tema evoluiu e passou a ter várias conotações legais, políticas e econômicas.

Atualmente, o termo pode ser empregado tanto por profissionais de marketing (quando querem dar glamour a seus produtos cosméticos) quanto por cientistas que não entendem o cosmético apenas como um “produto que se aplica sobre a pele”.

Atualmente, os cosmecêuticos têm recebido outras denominações, como cosméticos de tratamento, cosméticos funcionais, dermocosméticos, cosméticos ativos, entre outras, sem que nenhuma delas explique completamente o que é um cosmecêutico.

Quando remontamos à legislação americana, desde 1938 há uma clara definição do que é cosmético e do que é medicamento, sem que fosse prevista uma categoria intermediária. Da mesma forma, no Brasil a lei nº 5991/73 e a nº 6360/73 definem claramente o que é fármaco, medicamento e cosmético, também sem categorias intermediárias. Quando analisamos o texto das legislações (tanto a brasileira quanto a americana, fica claro que o legislador não se preocupou com o “que,” mas sim com o “como,” ou seja, a preocupação da legislação é a “finalidade do produto” e não sua “formulação.” Para deixar mais claro: se uma substância ou produto tem a finalidade de diagnosticar ou tratar uma doença, ela é um medicamento; se a finalidade é o “embelezamento”, ela é um cosmético.

Será que esses conceitos podem ainda ser aplicados nos dias de hoje? Desde a publicação da legislação (seja da brasileira ou da americana), a farmacologia e a cosmetologia evoluíram muito. Muitas substâncias consideradas anteriormente inertes, hoje se sabe, possuem atividade fisiológica e vice-versa.

No livro Cosmeceuticals: Drugs vs. Cosmetics, o professor Kligman cita um exemplo contundente: a vaselina sólida sempre foi considerada uma substância inerte, mas pode promover a cicatrização de feridas e prevenir os tumores causados por luz ultravioleta, atividade não relacionada à fotoproteção.

A partir do conhecimento desse fato, devemos então reclassificar a vaselina sólida e considerá-la um fármaco? Se assim fosse, baseados nos avanços do conhecimento científico, teríamos de reclassificar inúmeras substâncias que são atualmente empregadas em cosméticos, na categoria de fármacos, e inúmeros produtos cosméticos na a categoria de medicamentos.

Atualmente, grande parte dos produtos cosméticos está no meio do caminho entre o medicamento e o cosmético. Essa é uma constatação biológica, cientificamente fundamentada, e que não deixa margem para qualquer dúvida: é fato.

O papel da legislação é, mediante discussão centrada e objetiva, acompanhar a evolução dos valores e do grau de conhecimento de uma sociedade. A legislação mundial sobre o tema é ainda complexa, pois europeus, japoneses e norte-americanos divergem quanto à classificação dos produtos. Por exemplo, em alguns países um shampoo anticaspa ou um protetor solar é considerado medicamento, enquanto que em outros é considerado cosmético.

No que se refere aos cosméticos, no Brasil a legislação prevê uma classificação dos cosméticos quanto ao grau de risco, mas isso não tem relação direta com o produto ser ou não um cosmecêutico.

Mas por que estou dizendo tudo isso? Simples: porque, sob o ponto de vista estritamente jurídico, farmácias não poderiam manipular cosmecêuticos.

Segundo a legislação vigente, farmácias são os estabelecimentos destinados à manipulação de medicamentos; dessa forma, inúmeras substâncias ativas cosméticas não poderiam estar sendo prescritas ou manipuladas por elas.

Há quem diga que não devemos ficar preocupados com isso, mas não custa lembrarmos: recentemente, a Anvisa proibiu a manipulação de extratos de Caralluma (um nutracêutico? um fitocêutico?), alegando falta de produtos registrados no Brasil, ausência de estudos clínicos e incerteza quanto à segurança e à eficácia desses extratos.

Por acaso, teriam os cosmecêuticos estudos clínicos semelhantes aos exigidos pela Anvisa para a manipulação daqueles extratos? As farmácias magistrais prestam excelente serviço à dermatologia, ao manipular medicamentos que incluem substâncias cosmecêuticas, associadas ou não a fármacos, e por isso não podem correr o risco de inesperadamente serem surpreendidas pela Anvisa, com a proibição da manipulação dessas substâncias.

Proponho que a sociedade organizada e os organismos reguladores iniciem uma discussão ampla, científica e objetiva sobre os cosmecêuticos, que deveria culminar com a criação de uma definição - a mais clara possível – sobre os cosmecêuticos, sua fabricação, sua manipulação e seu registro.

Se a moda pegar, em breve extratos de camomila em cosméticos clareadores, da mesma forma que a Caralluma, poderão ser proibidos por causa da ausência de estudos clínicos...






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