Beleza Ecologicamente Correta

Edicao Atual - Beleza Ecologicamente Correta

Editorial

Estudar é preciso

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acaba de divulgar os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2009 e os resultados são interessantes, levando-nos a fazer algumas reflexões.

De modo geral, nos últimos 15 anos houve aumento da renda e aumento expressivo do número de habitantes com telefone, que passou de 19% para 85%, porém não tão expraessivo foi o aumento dos que dispõem de saneamento básico - cresceu apenas de 46% para 59% no mesmo período – porém houve avanço.

Entretanto, outras conclusões dessa pesquisa, que podem fazer acender a luz amarela de alerta, dizem respeito à educação. Ainda é baixa a taxa de brasileiros que cumprem pelo menos 11 anos de estudo, o que equivale pelo menos ao ensino médio. Essa taxa variou de 15,5% para 33,3%. Nesse ritmo, serão necessários mais de dez anos para que esse índice atinja 50% da população. Consequentemente, isso se reflete no ingresso no ensino superior.

Se atualmente já é escassa a disponibilidade de profissionais, notadamente nas áreas técnicas de engenharia, pode-se imaginar o que irá acontecer nos próximos anos, caso se mantenha o ciclo de crescimento que caracteriza as economias emergentes.

Como atender a essa demanda? Importando mão de obra qualificada?

Nesta Cosmetics & Toiletries (Brasil), "Beleza Ecologicamenta Correta", que é o tema de capa, refere-se aos cosméticos orgânicos que, conforme declarou a Anvisa, não são contemplados pela regulação brasileira, apesar de serem realidade em expressivos mercados, como Europa e Estados Unidos.

Outros assuntos são abordados em um interessante artigo sobre os fatores de crescimento humano no rejuvenescimento das células da pele, e em outro artigo sobre nanocosméticos.

Para a aplicação prática, o leitor irá conhecer as propriedades do óleo de pracaxi e as maneiras de preservar cosméticos.

Em "Persona", conta-se a história de Rubens Becker, que, entre muitas atividades, foi o presidente da ABC no período de 1979 a 1981. Vale a pena conhecê-la.

Agradeço aos leitores atentos, que corrigiram deslize do editor na edição passada: em 2010 não iremos eleger prefeitos!!!

Boa leitura!
Hamilton dos Santos
Editor

HGFs como Cicratizantes Naturais - Celeste Hilling (Especialista em dermatologia, Carlsbad CA, Estados Unidos)

Pesquisas da comunidade médica para o avanço da cura e da regeneração de tecidos identificou os fatores de crescimento humano (HGFs, sigla em inglês para human growth factors) como componentes críticos da cicatrização de feridas cutâneas, sugerindo seu potencial para o rejuvenescimento de células da pele. Aqui o autor analisa o trabalho que está sendo desenvolvido nessa área, e propõe o uso dos HGFs em produtos de regeneração e reparação da pele, apresentando um exemplo.

Investigaciones de la comunidad médica sobre el avance de la cicatrización y regeneración de los tejidos han identificado los factores de crecimiento humano (HGFs) como componentes críticos en la cicatrización de heridas cutáneas, lo que sugiere su potencial para el rejuvenecimiento de células de la piel. Aquí el autor revisa el trabajo que está siendo desarrollado en esa materia y propone los HGFs para productos de regeneración y de reparación de la piel, presentado un ejemplo.

The medical community´s research toward the advancement of healing and tissue regeneration has identified human growth factors (HGFs) as critical components in cutaneous wound healing, suggesting their potential for skin cell rejuvenation. Here the author reviews the present work in this area and proposes HGFs for skin regeneration and reparative products, providing an example.

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Nanocosméticos: Conceitos, Vantagens e Aplicações - Alessandra Ströher, Cristián Jesús Velásquez Armijo, Renata Platchek Raffin (Centro Universitário Metodista IPA, Porto Alegre RS, Brasil)

Os nanocosméticos são formulações cosméticas que conduzem ativos em nanoestruturas menores que 1000 nm, tornando-os mais efetivos do que os produtos convencionais. Este artigo descreve as principais nanoestruturas lábeis utilizadas em produtos cosméticos, suas aplicações, vantagens e desvantagens, e a segurança na sua utilização.

Los nanocosméticos son formulaciones cosméticas que conducen activos en nano estructuras menores que 1000 nm, lo que permite mejorar su efectividad frente a los cosméticos convencionales. Este artículo describe las principales nanoestructuras lábiles utilizadas en productos cosméticos y sus aplicaciones, ventajas y desventajas, así como la seguridad relacionada a su empleo.

Nanocosmetics are cosmetic formulations that carry actives in nanostructures smaller than 1000 nm, making them more effective than the conventional products. This article describes the main labile nanostructures used in cosmetic products, their applications, advantages and disadvantages as well as the safety in their usage.

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Argilas e Argilominerais em Produtos Cosméticos: Bentonita - P Souza Santos, R A Hanna, A C Vieira Coelho (Escola Politécnica, Universidade de São Paulo – USP, São Paulo SP, Brasil) H Souza Santos (Instituto de Física, Universidade de São Paulo – USP, São Paulo SP, Brasi

A bentonita é uma argila composta essencialmente de argilominerais do grupo esmectitas. Há muito tempo é utilizada em pós, batons, blushes, entre outros cosméticos. Neste artigo, são apresentados e discutidos aspectos físico-químicos e estruturais das bentonitas.

La bentonita es una arcilla compuesta esencialmente por minerales de arcilla del grupo de esmectita grupo. Desde de mucho tiempo se utiliza en polvos, lápices labiales, rubores, entre otros cosméticos. Este artículo presenta y discute las características físicas, químicas y estructurales de las bentonitas.

Bentonite is a clay composed essentially of clay minerals of smectite group. Since a long times it is used in powders, lipsticks, blushes, among others cosmetic products. This article presents and discusses the physical, chemical and structural of the bentonites.

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Óleo de Pracaxi como alternativa a Tensoativos Catiônicos - Cíntia Baradel (Beraca Sabará, São Paulo Sp, Brasil)

Neste artigo, a autora descreve os benefícios do uso de óleo de pracaxi orgânico como substituto de tensoativos catiônicos comuns usados em formulações cosméticas capilares.

En este artículo el autor describe las ventajas de usar el aceite de pracaxi como un sustituto de tensioactivos catiónicos utilizados en formulaciones cosméticas para el cabello.

In this article the author describes the benefits of using the pracaxi oil as a substitute for cationic surfactants used in hair care cosmetic formulations.

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Razões para Preservar Cosméticos (Artigo de Revisão) - Sebastião D. Gonçalves (Proserv Química Ltda., São Paulo SP, Brasil)

O sistema preservante é um dos cuidados mais importantes na formulação de produtos cosméticos. Neste artigo, o autor compartilha um pouco de sua experiência discorrendo como preservar esses produtos e destacando os testes de desafio, a velocidade de ação dos preservantes, as implicações toxicológicas, entre outras variáveis.

El sistema de conservación es uno de los cuidados más importantes en la formulación de productos cosméticos. En este artículo, el autor comparte un poco de sus experiencias discutiendo como conservar estos productos e evaluando las pruebas de desafío, la velocidad de la acción de los preservativos, las consecuencias toxicológicas, entre otras variables.

The preservative system is one of the most important cares in the formulation of cosmetic products. In this article, the author shares some of her experience discussing how to preserve these products and poiting out the challenge tests, the speed of action of preservatives, toxicological implications, among other variables.

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Cristiane M Santos
Direito do Consumidor por Cristiane M Santos

Consumidor Verde

Pesquisa realizada pela consultoria Ernst & Young, no ano passado, denominada Riscos Estratégicos aos Negócios 2009: Os Dez Maiores Riscos para as Empresas, revelou que o crescimento dos consumidores “verdes” é motivo de grande preocupação das empresas no mundo inteiro.

Na pesquisa, o “desrespeito ao meio ambiente” apareceu em quarto lugar entre os maiores riscos para as empresas – só perdendo para a crise de crédito, a maior rigidez das leis e o agravamento da recessão.

Segundo a pesquisa, esse resultado não aconteceu por acaso, já que a crise econômica mundial colocou em xeque o estilo de vida consumista dos países de primeiro mundo.

Além disso, o estudo Perspectivas Globais da Biodiversidade, divulgado pela Organizações das Nações Unidas (ONU), em maio passado, informou que a imensa perda de vida sustentável no meio ambiente deve intensificar-se até o ponto de ficar irreversível, caso os objetivos globais instituídos para reduzir significativamente ou reverter essas perdas não forem alcançados este ano.

Certamente, estes dois fatores juntos – o risco ambiental e a crise econômica – contribuem ainda mais para que as questões socioambientais sejam consideradas pelos consumidores atuais.

Mas, afinal, quem é o consumidor “verde”?

Segundo o Guia del Consumidor Verde (John Elkington e Julia Hayles, Antoni Bosch Editor, Barcelona, 1990), esse consumidor é aquele que busca comprar ou utilizar um produto que cause o menor – ou nenhum – prejuízo ao meio ambiente. Ele evita, para desestimular a produção, produtos que possam, por exemplo: agredir a natureza; representar risco à saúde; consumir muita energia; apresentar excesso de embalagens ou ser descartável; e conter ingredientes que provenham de habitats ou espécies ameaçadas.

Ele também faz separação de lixo, não desperdiça água nem papel, e exige das empresas uma postura socioambiental responsável.

Nos Estados Unidos, o público verde foi chamado de lohas – lifestyles of health and sustainability. Segundo pesquisa de mercado realizada pela The Marketing Insider, o público lohas é 60% feminino, tem alta escolaridade e não se preocupa com preço – faz suas escolhas de consumo com base em critérios de sustentabilidade e aceita pagar até 20% a mais por isso.

Assim, os lohas adquirem produtos de beleza e de alimentação orgânicos e preferem produtos de limpeza biodegradáveis.

Outra pesquisa, divulgada pelo Natural Marketing Institute, mostrou que, em 2007, 40 milhões de norte-americanos já haviam aderido a esse lifestyle.

E como anda esse movimento de conscientização ecológica no Brasil?

Levantamento feito pela National Geographic Society, em junho deste ano, colocou o Brasil em segundo lugar no ranking de consumo verde – a primeiro colocada foi a Índia.

O quesito moradia, que avalia o impacto ambiental de residências em função da baixa utilização de aparelhos de ar-condicionado ou de calefação - foi o melhor desempenho brasileiro registrado, e o alto consumo de biocombustível foi outro destaque.

Apesar dos lohas, segundo esse levantamento os Estados Unidos permanecem como um dos povos com os hábitos menos sustentáveis do Planeta nos últimos três anos, juntamente com Canadá, França e Inglaterra.

Gestão em P&D por Wallace Magalhães

Cosméticos orgânicos e naturais, o que fazer

Trabalhar em projetos é o papel do P&D. E, como todo projeto tem seus desafios, enfrentar desafios é a rotina do P&D. Até a simples aplicação de uma nova essência em uma formulação conhecida é um desafio, já que o que se espera não é somente saber se a nova aplicação ficará boa, mas sim que seja feita uma avaliação completa do desempenho, da segurança e da estabilidade do novo produto.

O cenário atual, caracterizado pela crescente tendência de normatização, reserva grandes desafios para o P&D. Os cosméticos orgânicos e naturais certificados surgiram como um desses desafios. Será quase como reinventar a tecnologia de formulações que é atualmente empregada. Haverá expressivo aumento da quantidade de documentação e informação envolvida em projetos, tanto em relação a insumos quanto a produtos acabados. Os processos de montagem de formulações, seleção de ingredientes, definição de processo de preparação, estabelecimento e verificação das especificações se tornarão mais extensos e complexos.

Do ponto de vista tecnológico, os desafios a serem enfrentados também são muitos. Se, de um lado, em tese os produtos serão mais seguros porque neles serão usados insumos menos agressivos, haverá muito trabalho para obter produtos com eficácia, estabilidade, sensorial e aparência, como os que temos hoje.

Com a limitação de conservantes permitidos, os procedimentos da produção deverão ser criteriosamente revisados, com a finalidade de torná-los comprovadamente mais limpos e controlados.

Assim, logo surge uma importante questão: esses produtos terão, em nosso mercado, o mesmo impacto que têm em mercados mais maduros, como Europa, Estados Unidos e Japão, justificando todo esse esforço? Ao que parece, até o momento não há sinalização clara indicando que cosméticos orgânicos e naturais certificados serão em breve os carros-chefes no mercado brasileiro. E realmente há muitos motivos para isso, já que esses produtos são mais caros e a capacidade de compra do consumidor brasileiro é inferior à capacidade dos consumidores europeus, norte-americanos e japoneses. Também porque, infelizmente, estamos atrás deles no quesito “consciência ambiental”. E ainda porque desodorantes, perfumes e produtos capilares, que têm grande importância em nosso market share, são produtos que apresentam grandes dificuldades técnicas para serem formulados utilizando-se somente matérias-primas permitidas para produtos orgânicos e naturais.

Para tentar responder à questão acima, temos de considerar os seguintes pontos:

- Poderá haver a criação de uma demanda no mercado brasileiro, se a procura por cosméticos orgânicos e naturais continuar crescendo em taxas muito maiores que a busca por cosméticos “tradicionais”, como vem acontecendo atualmente.

- Já é possível perceber, inclusive no Brasil, que o consumidor vai prestigiar cada vez mais produtos ecologicamente corretos, fabricados por empresas ambientalmente responsáveis.

- Como terceiro mercado mundial, empresas e técnicos brasileiros devem manter-se tecnologicamente atualizados e competitivos.

Portanto, temos de concordar que será necessário assimilar e desenvolver tecnologia de cosméticos orgânicos e naturais, ou, no mínimo, ecologicamente corretos. Isso exigirá a expansão da capacidade técnica e operacional do P&D, com a implantação de novos recursos e procedimentos. Já que a documentação será ampliada, a adoção de um sistema de gestão da informação, com ferramentas específicas e atualizadas, será praticamente inevitável. Pesquisadores terão de conhecer integralmente a normatização de produtos orgânicos e naturais e, se possível, estabelecer contatos com centros de pesquisas que atuem nesses projetos. Outra boa estratégia é estabelecer uma aproximação maior com fornecedores que já estejam desenvolvendo tecnologia para formulação de produtos orgânicos e naturais certificados.

Resumindo, pode-se dizer que teremos novos e grandes desafios pela frente. Para empresas competitivas e técnicos competentes, certamente essas serão grandes oportunidades.

Carlos Alberto Trevisan
Boas Práticas por Carlos Alberto Trevisan

BPFeC no uso da água nas indústrias de cosméticos

Como se sabe, de todas as matérias-primas utilizadas na produção de produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos (HPPC), a água é o insumo que participa em maior concentração desse processo e o que requer maiores cuidados.

A razão para que a água necessite de tantos cuidados se deve ao fato de que o processo de tratamento para seu uso requer a retirada do cloro, utilizado para proteger esse insumo de contaminações microbiológicas, já que a água se trata de um meio facilmente contaminável.

Do ponto de vista da captação, a água para a produção de produtos de HPPC deve ter características semelhantes às da água potável, e quando não for recebida da rede pública de tratamento deve ser submetida a tratamentos que a deixem nessa condição.

Existem muitas empresas que utilizam a água nas condições em que é fornecida pela rede pública, mas se deve considerar que a água potável tem características diversas daquelas requeridas para as formulações. Veja no quadro as especificações da água potável em obediência à norma sanitária.

De acordo com essas especificações, pode-se concluir que a água potável contém uma série de componentes, como cátions, ânions e contaminantes microbiológicos, que poderão causar efeitos adversos às formulações cosméticas.

O objetivo do tratamento é eliminar ou diminuir o teor dos componentes citados, para que esses não comprometam a formulação, na forma, por exemplo, de contaminação, oxidação e alteração de cor, e de desestabilização de emulsões.

A preservação da água é uma das atividades mais importantes preconizadas pelas Boas Práticas de Fabricação e Controle (BPFeC), e em breve o sistema de tratamento da água terá de ser validado.

As boas práticas, desde que sejam rigidamente cumpridas, oferecem a melhor condição operacional para a obtenção, o transporte e a estocagem da água tratada.

Um sistema básico que processe o tratamento de água deve conter, por exemplo, tanques, filtros (de areia e carvão), colunas, trocadores de íons, tubulação, registros e válvulas. Pode-se concluir que vários são os pontos nos quais, se não forem seguidas as recomendações das BPFeC, haverá riscos potenciais de contaminação e, portanto, esses pontos necessitam de monitoramento.

O monitoramento deve observar as características da água resultante de cada uma das etapas do tratamento e, quando necessário, providenciar solução imediata se alguma não conformidade for constatada.

Deve-se ressaltar que o monitoramento deverá sempre ser realizado com registros escritos de todos os parâmetros amostrados e devidamente aprovados pelo responsável pela área da qualidade ou responsável técnico.

Apenas para ressaltar a importância em observar as boas práticas no sistema de tratamento da água, pode-se mencionar que, na sua ausência, poderá ocorrer o desenvolvimento de biofilmes que, uma vez instalados em equipamentos e tubulações do sistema, serão pontos para o surgimento de contaminação microbiológica. Essa, por sua vez, se não for controlada a tempo, poderá acarretar a inoperância do sistema.

Na tubulação do sistema de tratamento de água deve ser evitada ou reduzida a instalação de cotovelos ou curvas muito fechadas, válvulas e registros, e evitados os pontos ou ramificações inativos.

Outros cuidados devem ser tomados quanto à armazenagem da água, uma vez que não se pode permitir que a água tratada permaneça parada. Essa deve estar em recirculação permanente e provida de radiação UV. Além disso, recomenda-se também, quando possível, a manutenção de ambiente inerte para reduzir ao máximo a possibilidade de contaminação.

Especificações da água potável

Componente -> (mg/l máx.)
Alumínio -> 0,20
Amônia (como NH3) -> 1,50
Cloreto -> 250,00
Etilbenzeno -> 0,20
Ferro -> 0,30
Manganês -> 0,10
Monoclorobenzeno -> 0,12
Sódio -> 200,00
Sulfato -> 250,00
Sulfeto de hidrogênio -> 0,05
Tolueno -> 0,17
Zinco -> 5,00
Xileno -> 0,30

Dermeval de Carvalho
Toxicologia por Dermeval de Carvalho

Nanopartículas: um desafio à cosmetotoxicologia

O título, a princípio, pareceu-me bastante sugestivo para a mídia, especialmente para os veículos de comunicação que se preocupam com audiências e manchetes sensacionalistas. As informações desta coluna, embora extremamente pequena, frente ao grande número de publicações, mostram o pensamento dos segmentos envolvidos na avaliação de segurança dos produtos resultantes de processos nanotecnológicos.

As nanopartículas (do grego nano, que significa pequeno, pigmeu), são representadas por minúsculas partículas cujas dimensões são expressas em nanômetros (1 nm = l0-9 do metro) e vêm sendo usadas de maneira crescente no desenvolvimento de materiais para diferentes fins, incluindo a produção de cosméticos. A Revolução Industrial e a do conhecimento não podem deixar de incluir em suas agendas uma das mais promissoras tecnologias do século 21: o revolucionário uso das nanopartículas, pois, segundo o US National Science Foundation o mercado global alcançará, dentro dos próximos 20 anos, cerca de 1 trilhão de dólares (http://www.nanotechprohect, org/file_download/77).

Pesquisas relativas à segurança de nanopartículas ainda são preocupantes, especialmente quando a palavra de ordem está direcionada a danos ambientais e à saúde humana. Passadas largas e urgentes são necessárias e devem ser praticadas, de forma ampla e irrestrita, na avaliação de toxicidade, pois a ciência pouco tem convivido com essas “invisíveis moléculas” (Regulatory Toxicology and Pharmacology 49:217-229, 2007 e Contempory Clinical Trials 28:433-441, 2007).

A nanotecnologia deve ser vista como um novo, vasto e relevante campo de trabalho, didaticamente agrupado em compartimento único conectado por meio de divisórias interligadas. Esse imaginário dispositivo deve ser monitorado pela comunidade científica, pelos órgãos regulatórios e pelos setores produtivos. A avaliação de segurança de nanomateriais, segundo meu entendimento, mesmo sabendo dos contraditórios químicos, quando direcionados à saúde humana, não se distancia dos fundamentos básicos e resultantes da evolução das ciências toxicológicas (Environmental Health Perspective 109:547-551 2001).

Cientistas e jornalistas, na Inglaterra, avaliaram assuntos relacionados à nanomateriais divulgados por meio da comunidade científica e da mídia, respectivamente. Ambos concordaram quanto às dificuldades atribuídas à comunicação do risco e às incertezas sobre os procedimentos envolvendo nanotecnologias (Circulation 106:141-142, 2002 e Health, Risk & Society 9(2):145-157, 2007).

As nanopartículas exigem inovadoras avaliações de segurança, para garantir, em longo prazo, o seu uso em humanos? A resposta foi discutida em recente publicação, na qual os autores afirmaram que, até o presente momento, ainda é cedo para prever, com base nas características das nanopartículas, se haverá uma possível resposta biológica por causa da falta de métodos confiáveis. (Drug safety 32(8):625-636 2009).

O SCCP publicou estudos preliminares a respeito da utilização dos parâmetros usados na avaliação de segurança de nanomateriais em produtos cosméticos, e concluiu que alguns deles ainda não são adequados (Scientific Committee on Consumer Products: http://ec.europa.eu). Já o Food and Drug Administration abordou o assunto discutindo: a) o estágio do conhecimento resultante da interação biológica com nanopartículas, b) recomendações pertinentes à assuntos científicos e regulatórios (Nanotechnology - a Report of the US FDA 2007).

O crescente aumento do uso de nanopartículas em diferentes produtos comerciais, entre eles os cosméticos, tem motivado o debate, por vezes contraditório, a respeito dos possíveis danos que esses materiais podem causar à saúde humana e ao meio ambiente, fruto de exposições diretas e, ou, indiretas a essas partículas. Organizações ambientais também se mostraram preocupadas com o assunto em pauta (http://www.foe.org, http://greepeace.org.uk e http: www.icta.org).

Sob o ponto de vista de conceituados toxicologistas, os protocolos de estudos empregados na caracterização rotineira das substâncias químicas são suficientemente robustos para prover, também, a caracterização de nanopartículas (http:www.nanotoxicology.ufl.edu). Nos últimos anos, o risco potencial de nanopartículas para a saúde humana e o meio ambiente foram revisados pela comunidade internacional. A conclusão foi consensual: as nanopartículas podem oferecer novos riscos, embora a natureza desses possa ser grandemente hipotética (Critical Reviews in Toxicology 37:151-177, 2007).

Valcinir Bedin
Tricologia por Valcinir Bedin

Alimentos e cabelos

Estamos vivendo uma época de “produtos internos para a aparência” que parece uma verdadeira invasão. Temos suplementos em forma de cápsulas, em líquidos, águas e pós, todos com a informação de que são auxiliares na busca ou na manutenção da beleza.

Com os cabelos não é diferente. O mercado foi invadido por produtos que prometem aumentar a massa capilar, acelerar o seu crescimento e retardar ou evitar a queda dos fios. Deve-se ter em mente que nem tudo o que se ingere é absorvido, e que, mesmo quando são absorvidos algumas substâncias e princípios ativos seguem caminhos que não são os esperados. Vou elencar o que é necessário, em termos alimentares, para se ter um cabelo saudável.

Os cabelos são estruturas proteicas, isto é, feitos de aminoácidos, vitaminas, sais minerais e cofatores. Toda vez que algum desses nutrientes estiver faltando no corpo de uma pessoa, ela poderá ter algum problema com os cabelos. Eles podem cair, não nascer ou ficar frágeis e quebradiços. Ás vezes, eles podem mudar de aspecto, de textura e até de forma (ficar mais lisos ou mais encaracolados).

Ao contrário do que pensa o senso comum, a vitamina A não entra na composição dos cabelos. As vitaminas essenciais para os cabelos são aquelas do grupo do complexo B. Portanto, alimentos que contenham essas vitaminas são sempre bem-vindos, como o leite de qualquer origem e seus derivados, e a maioria dos vegetais.

No que se refere aos nutrientes minerais, temos o ferro, encontrado nas carnes vermelhas, no feijão e em alguns vegetais verde-escuros, como o brócolis e a couve; o zinco, encontrado nos frutos do mar, como ostras e mariscos; e o cobre, encontrado também nos frutos do mar e no chocolate amargo.

É importante lembrar que esses nutrientes têm de estar circulando em grande quantidade no nosso corpo (em um percentual maior que 50 para cada forma de avaliação), para que sejam usados nos cabelos, e que grandes deficiências, como desnutrição grave, podem levar a problemas sérios na haste capilar, como a perda de cor nos fios (kwashiokor).

O importante é lembrar que o cabelo não tem uma função fisiológica vital para o corpo humano. Isso significa que podemos viver da mesma maneira, com ou sem cabelos! Obviamente, não estamos falando da altíssima importância emocional que essa parte do corpo tem. Um trabalho feito na Universidade de Berkeley, na Califórnia, EUA, mostrou: mulheres que perdem cabelos têm uma sensação de dor maior do que a dor que sentem quando perdem seus companheiros!

O fato de não representar parte essencial na vida do corpo humano faz que, na distribuição dos nutrientes, os cabelos fiquem sempre em último lugar. Só são mandados para os cabelos os nutrientes que sobram da divisão para outras partes do corpo. Assim, quando ocorre carência vitamínico- proteica, a mera reposição, sem que ocorra também uma avaliação do que realmente está faltando, pode não trazer o resultado esperado, uma vez que outra parte do organismo pode absorver o nutriente antes que ele chegue ao cabelo.

O ideal é manter uma dieta equilibrada e saudável, e, a cada sinal ou sintoma de que esteja ocorrendo alguma alteração metabólica de origem nutricional, deve-se fazer uma pesquisa bioquímica para avaliar os nutrientes e os micronutrientes circulantes.

Antonio Celso da Silva
Embale Certo por Antonio Celso da Silva

Kanban para embalagens

O kanban nasceu na década de 50, na Toyota, por meio de seu então presidente sr. Taich Ono, que copiou os supermercados observando o estoque e a reposição nas gôndolas dos produtos óleo de soja, azeite, entre outros.

Seu objetivo era atender o cliente interno com qualidade, na hora certa, na quantidade certa, sem necessidade de conversar, e o objetivo maior era reduzir o estoque ao mínimo necessário.

Com a implantação desse sistema, a empresa deixou de empurrar os produtos para a venda e passou então a puxá-los, repondo o que era vendido.

Considerado uma das ferramentas do JIT – just in time –, o kanban foi uma febre no Japão e se espalhou pelo mundo. No Brasil, as montadoras de carros foram as primeiras empresas a utilizá-lo em suas fábricas, e na sequência com seus parceiros fornecedores.

Com o avanço da tecnologia dos computadores, com programas específicos, o kanban perdeu força, mas ainda é utilizado principalmente nas empresas de pequeno e médio porte.

Uma das grandes empresas de cosméticos que atua na venda direta implantou esse sistema na década de 80. O trabalho foi iniciado por um grupo de colaboradores, com o objetivo de reduzir estoques. A implantação começou em uma linha de produtos (desodorantes), foi um sucesso e, passo a passo, estendeu-se a todas as outras linhas de produtos.

Ainda hoje essa empresa utiliza o sistema, obviamente com o apoio da área de TI, que o transformou num “kanban eletrônico”, no qual um quadro na produção informa on-line as vendas e alimenta as necessidades e as prioridades de produção de cada produto daquela célula. É algo mais ou menos assim.

Antes de abordar como esse sistema pode ser utilizado na movimentação de embalagens na fábrica, é preciso entender, mesmo que basicamente, como ele funciona.

Ele é composto de um quadro nas cores verde, amarela e vermelha, no qual são identificados dados do produto ou a embalagem em questão. Nesse quadro, são colocados os cartões nos espaços: verde, que indica não haver urgência na reposição; amarelo, que significa atenção para reposição do estoque; e vermelho, que sinaliza reposição imediata pois o estoque zerou.

Tendo como necessidade básica o treinamento intensivo de todos que participam desse processo, o kanban, após implantado, reduz e equilibra estoques, minimiza faltas, padroniza lotes de produção, evidencia problemas antes desconhecidos, obriga a empresa a resolver problemas crônicos, quebra tabus e antigos conceitos, delega responsabilidades aos níveis inferiores, motiva, integra e evidencia líderes e funcionários-problema.

Com todos esses benefícios, que são o sonho de qualquer empresário, por que será que as empresas não utilizam o kanban? Acredito que as respostas sejam: falta de conhecimento desse sistema, poucos profissionais que tenham condição de fazer sua implantação, mas, acima de tudo, a chamada “correria do dia a dia” e a falta de tempo para parar e pensar nas soluções simples que resolvem grandes problemas.

Exemplificando o uso do sistema na movimentação de embalagens entre estoque e linhas de produção, pode-se considerar uma embalagem comum a vários produtos de uma mesma linha, como o frasco de shampoos, o estojo de batons, o frasco de colônias, entre outros. No início da linha de envase, pode-se padronizar uma quantidade desses itens, colocando-os em caixas ou paletes dependendo do volume de produção. Essa quantidade deve estar dividida em “porções” iguais: no mínimo duas e no máximo três. Cada uma dessas porções deve conter um cartão com o código e o nome da embalagem, a quantidade padrão de atendimento e a localização no estoque.

Considerando três porções como exemplo, iniciada a produção, ao consumir a primeira dessas porções, o respectivo cartão deve ser levado pelo líder de linha ou qualquer colaborador da produção para ser colocado no quadro de kanban no espaço destinado ao verde. Isso quer dizer que todos saberão que já foi utilizada uma porção e que ainda restam duas para serem consumidas e que, portanto, não existe urgência. O separador, então, pode ocupar-se de outros afazeres. Com a continuidade da produção, consome-se a segunda porção. O respectivo cartão segue o mesmo destino do anterior e deve ser colocado no espaço do quadro identificado como amarelo. Esse segundo cartão informa a todos os envolvidos que já foram consumidas duas das três porções e que ainda resta uma, ou seja o separador precisa abastecer a linha ou ficar alerta para, ao receber o terceiro e último cartão (que deve ser colocado no espaço vermelho) parar tudo o que estiver realizando e fazer imediatamente o abastecimento da linha que estiver parando ou que já estiver parado por causa da falta da embalagem. Nesse caso, todos saberão que a razão da parada terá sido o não abastecimento por parte do separador.

É obvio que existe aqui um “caminhão de dúvidas” sobre a necessidade de ordem de produção, o sistema de PCP com que a empresa trabalha, o fluxo, o espaço, os níveis de estoque, a falta da embalagem, o quadro, os cartões... Porém, também é óbvio que é impossível explicar tudo e fazer a implantação desse sistema apenas com a leitura de uma coluna, limitada a uma determinada quantidade de palavras. O que posso garantir é que o sistema funciona e traz todos os benefícios citados acima, que foram provados por quem participou e, ou, foi responsável pela implantação do kanban em algumas empresas.

Fico à disposição para, por meio do e-mail divulgado nesta página, dar outros esclarecimentos e explicações a quem queira conhecer ou tenha interesse em implantar o sistema em sua empresa.

Luis Antonio Paludetti
Manipulação Cosmética por Luis Antonio Paludetti

Farmacêuticos verdes

Calma. Ninguém precisa expor-se aos raios gama e virar o “Incrível Hulk”. Também não é necessário pegar carona num disco voador para fazer intercâmbio em Marte. Nesta edição, voltada aos cosméticos orgânicos, iremos conversar um pouco sobre como as farmácias com manipulação podem diferenciar-se ao abraçar a “bandeira verde” e a sustentabilidade.

A meu ver, quando pensamos em um cosmético orgânico alguns requisitos são indispensáveis, entre eles:

Ser obtido utilizando-se o maior número possível de matérias-primas de ocorrência natural; o ideal seria utilizar todas as matérias-primas de ocorrência natural.

Ser obtido utilizando-se matérias-primas oriundas de fontes renováveis.

Ser obtido utilizando-se preferencialmente matérias-primas de origem vegetal.

O processo de fabricação deve adotar práticas para reduzir ao máximo seu impacto no meio ambiente e nas pessoas envolvidas nele.

A empresa deve adotar práticas de reciclagem de materiais e embalagens após seu uso pelo consumidor.

Por tratar-se de uma atividade conceitualmente diferente da realizada na indústria cosmética, a manipulação dos medicamentos com finalidade cosmética em farmácias precisa superar muitos desafios.

O primeiro deles é fazer a formulação com produtos de ocorrência natural, com os obtidos de fontes renováveis e com os obtidos de origem vegetal. Em uma indústria cosmética é possível fazer estudos de pré-formulação, escolhendo ingredientes que possuam essa característica. Devido à grandeza da escala, as indústrias podem negociar com fornecedores e obter os componentes dos veículos, adjuvantes e ativos de origem natural (ou idêntica à natural), com preços acessíveis.

Nas farmácias, isso é bem mais difícil: por exemplo, ao atender a uma prescrição o farmacêutico não sabe quais componentes serão necessários, e a decisão sobre quais adjuvantes serão ou não adicionados ao veículo terá de ser tomada “na bancada”. Assim, no caso de um farmacêutico necessitar adicionar polissorbato à formulação, deixará de cumprir com o requisito proposto.

Matérias-primas de origem vegetal e obtidas de fontes renováveis para uso como veículos já estão disponíveis, há algum tempo, para a indústria cosmética. Apesar de ativos dermatológicos de origem vegetal estarem disponíveis há bastante tempo para as farmácias, a oferta de insumos naturais para o preparo dos veículos ainda está dando seus primeiros passos; já é possível encontrar colágeno, queratina, lanolina e glicerina vegetais; e certamente muitos outros virão. Enquanto isso não acontece, devemos utilizar o que é possível.

Se, por um lado, ainda há dificuldade em se obter matérias-primas e insumos, por outro lado o processo de manipulação em farmácias pode aproveitar-se amplamente de práticas sustentáveis.

Para isso, é necessário modificar o comportamento de proprietários, farmacêuticos e colaboradores. Por exemplo, deve-se reduzir a emissão de papéis na confecção de orçamentos; utilizar papéis reciclados; reaproveitar papéis impressos, como rascunho; adotar ordens de manipulação eletrônicas (imprimindo-as apenas quando for legalmente necessário); utilizar aquecimento elétrico em vez de gás; aproveitar ao máximo processos naturais de ventilação (reduzindo o uso do aparelho de ar-condicionado); usar energia solar para aquecimento da água de uso geral; fazer uso de sanitizantes com menor impacto ambiental, mas com igual eficácia; comprar equipamentos que consumam menos energia; aproveitar a iluminação natural; e assim por diante.

Outra atitude importante é cuidar adequadamente da destinação do lixo. Nesste ponto, as farmácias são legalmente obrigadas a possuir um plano de gerenciamento de resíduos, aplicável aos resíduos de saúde. Entretanto, é preciso também dar atenção ao lixo potencialmente reciclável, exemplificado por frascos, bombonas, papéis e outros recipientes utilizados no processo de manipulação ou na rotina diária da farmácia e de seus colaboradores.

Por fim, é preciso também estender essas práticas aos consumidores e aos pacientes. O primeiro passo é utilizar embalagens recicláveis para o acondicionamento dos produtos: mais vidro e alumínio, e menos plástico. Outra atitude simples e de grande impacto é criar, nas farmácias, postos para o descarte adequado de embalagens utilizadas em medicamentos e cosméticos – que, a rigor, não deveriam ir para o lixo convencional. Por meio de ações de esclarecimento ao público, é possível criar uma “cultura de retorno”, por meio da qual a farmácia dará destinação adequada a cada embalagem utilizada, conforme requisitos sanitários.

As práticas de sustentabilidade e a opção por produtos renováveis não devem ser encaradas apenas condiderando-se a relação imediata de custo e benefício. É preciso haver a consciência de que, caso não nos tornemos “farmacêuticos verdes”, talvez, num futuro não muito distante, nossos descendentes jamais saberão o que é viver num “Planeta Verde”.






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