Produtos Infantis: Corpo  (Série Fundamentos da Cosmetologia)

Luciana Amiralian, Claudia Regina Fernandes
Phisalia Produtos de Beleza Ltda., Osasco SP, Brasil

 

 

Fisiologia da Pele Infantil

 
 
 

Conclusão

Referências

 

 

artigo publicado na revista Cosmetics & Toiletries Brasil - Jan/Fev 2017 Vol. 29 Nº 1  (pag 38 a 40)

 A pele do bebê e a da criança diferem da pele do adulto e necessita de cuidados únicos. A pele infantil é caracterizada como fina, frágil, sensível e imatura. As principais diferenças dessa pele em relação à pele adulta são a maior permeabilidade, reatividade, transpiração e fotossensibilidade. O maior desafio, em relação à pele infantil, é manter a integridade da barreira epidérmica saudável.

Para isso, devem-se evitar algumas condições desfavoráveis, como fricção, desidratação, alteração da flora bacteriana cutânea e exposição à luz solar.

 

Fisiologia da Pele Infantil

   A pele, o maior órgão do corpo humano (Figura1), é formada pela epiderme, pela derme e pelo tecido celular subcutâneo.1
 
   A epiderme compreende o estrato córneo e as camadas granulosa, espinhosa e basal. A derme é composta de colágeno e elastina, e abriga terminações nervosas, vasos sanguíneos e linfáticos, e glândulas sudoríparas e sebáceas. O tecido celular subcutâneo é composto de tecido conjuntivo gorduroso.2 Entre as funções da pele, a mais importante é sua ação como barreira entre o meio interno e o ambiente, prevenindo a desidratação, protegendo contra traumas e fazendo sua termorregulação.2
 
   Entre o nascimento e a maturidade, a área de superfície da pele, aumenta e várias estruturas cutâneas sofrem alterações anatômicas e funcionais.1
 
   A pele infantil apresenta facilidade de descamação e maior perda de água que a adulta, pois nela as células estão menos coesas entre si. Nessa etapa da vida, a pele tem menor resistência a agentes externos, o que explica sua textura ser diferente da de um adulto. Para que a pele da criança atinja a maturidade da pele do adulto, são necessários de 2 a 3 anos.3
 
Glândulas sudoríparas
As glândulas sudoríparas são de dois tipos: écrinas e apócrinas. Elas são responsáveis pela transpiração e seu funcionamento é imaturo, veri? cando-se ausência de suor apócrino nas crianças (esse suor surge apenas na puberdade) e que as glândulas é crinas entram em funcionamento 24 horas após o nascimento.1
 
 
   A principal função das glândulas sudoríparas é regular a temperatura da pele quando a temperatura externa está elevada.
 
Glândulas sebáceas
As glândulas sebáceas são responsáveis pela produção de sebo, que faz parte da formação do manto ácido-lipídico da pele.
 
   Elas são ativadas, durante a vida fetal, pela estimulação dos andrógenos maternos por via transplacentária, mas só adquirem
maturidade com o crescimento do bebê.4
 
   A pele do recém-nascido é gordurosa e após 3 meses torna-se seca ou muito seca. A utilização de cosméticos tópicos nessa pele deve ser realizada com atenção: devem-se escolher produtos compostos de matérias-primas suaves, específicos para o público infantil e que tenham sido submetidos a testes dermatológicos e aprovados por dermatologistas ou pediatras. Esses testes visam diminuir o potencial de risco de reações adversas.
 
 
 
 
  No desenvolvimento de produtos corporais infantis, é necessário selecionar criteriosamente os insumos que serão utilizados. Os 
ingredientes deverão ser apropriados e seguros para a finalidade de uso. A RDC nº 15/2015 menciona, inclusive, o risco de ingestão acidental de produtos.
 
   Se a formulação incluir uma fragrância, esta deverá estar de acordo com a RDC nº 3/2012, assim como o uso de corantes deverá estar conforme a RDC nº 44/2012. Além disso, será necessário cumprir a RDC nº 29/2012, que traz a lista de sustâncias de ação conservante permitidas para uso em produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes.
 
   Cabe ao formulador avaliar a toxicidade desses materiais, seus estudos de segurança e realizar os testes de compatibilidade cutânea. Além disso, o formulador deve realizar testes de bancada para comprovar a estabilidade físico-química desses materiais, sua compatibilidade com o material da embalagem e seu sensorial durante o uso.
 

 

Produtos para o Corpo

 
Shampoo corporal
O sabonete líquido ou shampoo corporal deve ser composto basicamente de tensoativos suaves, agentes hidratantes, fragrância e conservante.
   Os tensoativos utilizados nesses produtos são os aniônicos, os anfotéricos e os não iônicos. Entre os tensoativos aniônicos indicados para ser usados nos produtos infantis, destaca-se o lauril sulfusuccinato de sódio (alquil sulfusuccinato), que possui excelente poder umectante. Porém, quando comparado ao alquil sulfato, utilizado em produtos para o público adulto, o alquil sulfusuccinato produz espuma não tão rica e abundante, tem poder de detergência mais baixo, porém, causa menos irritação dérmica.
   Nesse grupo ainda há outros tensoativos suaves, porém com custo mais elevado que o do sulfusuccinato, como os sarcosinatos e o cocoil glutamato de sódio.
   Na classe dos tensoativos não iônicos destaca-se o alquil glucosídeo, que tem excelentes propriedades de formação de espuma, de limpeza e de suavidade. Geralmente, é utilizado como tensoativo secundário e auxilia na diminuição do potencial de irritação dos tensoativos primários.
   Já os tensoativos anfotéricos têm boa compatibilidade com a pele e proporcionam aumento de viscosidade e estabilização de espuma. São chamados de anfotéricos por adquirir carga dependendo do pH do meio: em pH ácido, adquirem características catiônicas e, em pH básico, características aniônicas. Seu principal representante é a betaína.
   Os sabonetes líquidos corporais devem ter pH na faixa de 6-7. O produto final deverá ser muito suave.
 
 
Hidratante para a pele
Os hidratantes para a pele infantil são emulsões óleo-em-água (O/A) ou água-em-óleo (A/O), com viscosidade mais baixa que a de um produto para a pele adulta. Caracterizam-se também pelo uso de tensoativos não iônicos para a formação da emulsão, de agentes hidratantes (como glicerina) e de emolientes suaves (óleos vegetais ou ésteres). Esses produtos devem ter pH na faixa de 5,5-6,0.
 
Óleo corporal
Os óleos corporais geralmente são utilizados para a higiene de zonas cutâneas mais delicadas, como na retirada das casquinhas
do couro cabeludo. Caracterizam-se por fornecer elasticidade à pele e proteção contra a umidade e o atrito. São formulados por
óleos vegetais, sendo que o mais utilizado é o óleo de amêndoas. Entretanto, outros ingredientes podem ser empregados nesses
produtos, como os ésteres (por exemplo, o palmitato de isopropila), principalmente, e os triglicérides do ácido cáprico/caprílico.
 
Pó corporal (talco/amido)
O talco é utilizado na zona da fralda, pois tem como propriedade absorver a umidade e lubrificar a pele, diminuindo seu atrito
com a fralda. Deve-se ter cuidado ao utilizá-lo, pois existe risco potencial de inalação do produto pela criança. Assim, devem ser
protegidos os olhos, o nariz e a boca do bebê. O produto consiste na mistura de pós, geralmente amido de milho e talco. Algumas
formulações também utilizam óxido de zinco e estearato de magnésio para auxiliar na função secante.
 
Desodorante axilar
O desodorante axilar é indicado para uso por crianças a partir de 8 anos. É proibido utilizar substâncias antiperspirantes em sua formulação e o produto não pode ter apresentação na forma aerosol.
   A forma cosmética mais utilizada é a roll-on, com emulsão não iônica na qual são utilizados um emulsionante primário e um
secundário, além de um estabilizador da fase aquosa. Geralmente, faz-se a associação dos emulsionantes Steareth-2 e Steareth-20
com o hidroxietilcelulose ou o fosfato de amido para a formação da emulsão. Ainda podem ser utilizados ésteres de óleos polares,
para garantir a estabilidade do produto e a doar emoliência à pele. Como agentes desodorantes (que eliminam o mau odor) existem
no mercado algumas opções interessantes, como: etilexilglicerina e associações; caprilato de poliglicerila; e o ingrediente (INCI):
methylpropanediol (and) caprylyl glycol (and) phenylpropanol. O produto final deve ter pH em torno de 4,5.
 
Desodorante pédico
O desodorante pédico é indicado para uso por crianças a partir de 8 anos. Na formulação desse tipo de desodorante não é permitido
o uso de substâncias antiperspirantes e é proibida sua apresentação na forma aerosol. O produto consiste na mistura de pós,
geralmente amido de milho, talco, estearato de zinco e silicato de magnésio, que auxiliam na função secante. Utilizam-se ainda
um ativo desodorante para o controle do mau odor e agentes de ação antisséptica, como o ácido bórico.

 

 
   Há necessidade de comprovar que os produtos infantis não causam irritação e ou sensibilização.
   Dependendo da categoria desses produtos, pode ser necessário realizar testes específicos de fotossensibilização e outros
testes exigidos por regulações específicas, por exemplo, no caso de protetor solar e repelente de insetos.
 
   Os testes de comprovação de e? cácia, de estudos de compatibilidade ou de estudos de aceitabilidade cutânea desses produtos
são realizados inicialmente em adultos, embora o uso seja infantil. Se forem aprovados nessa pré-avaliação, os produtos poderão
ser avaliados pelo público-alvo.

 

Rotulagem

   Os dizeres de rotulagem, além do que está estabelecido na RDC nº 15/2015, devem atender os requisitos das regulações
pertinentes à rotulagem específica das demais categorias.
   A embalagem deve proporcionar segurança em seu uso, ser isenta de partes contundentes e de partes que possam ser facilmente destacadas ou engolidas. Os materiais usados em sua fabricação devem ser isentos de constituintes tóxicos.5
 
   Cada categoria de produto tem uma advertência específica, conforme está descrito na RDC nº 15/2015. Por exemplo, no caso
de desodorante axilar, nova categoria contemplada nessa RDC, as advertências são: “a) Uso recomendado a partir de 8 anos de
idade. b) Usar sob orientação de um adulto. c) Usar somente nas axilas. d) Não usar na pele irritada ou lesionada. e) Em caso de
irritação, suspender o uso e procurar um médico”.

 

Conclusão

   A pele infantil possui características próprias que a diferencia da pele do adulto. O conhecimento dessas características auxilia
o formulador a desenvolver produtos específicos para o público infantil e a selecionar ingredientes adequados e aprovados pela
agência reguladora do setor, a Anvisa.
 
   De modo geral, o cosmético infantil visa o bem-estar da criança e proteger sua saúde. No desenvolvimento desse tipo de
produto, deve-se considerar a biologia da pele infantil, que está em formação e em amadurecimento.

 

Referências

 

1. Darmstadt GL, Dinulos JG. Neonatal skin care, Pediatric Clinics 47:757-82, 2000
2. Lund C, Kuller J, Lane A et al. Neonatal skin care: evaluation of the AWHONN/NANN research-based practice project on knowledge and skin care practices, J Obstet Gynecol Neonatal Nurs 30:30, 2001
3. Barel AO, Paye M, Maibach HI. Handbook of Cosmetic Science and Technology, 3. ed., Informa Healthcare, New York, 2009
4. Barata E. Cosméticos: arte e ciência, 1. ed., Lidel-Ed. Técnicas, Lisboa, 2002
5. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Requisitos técnicos para a concessão de registro de produtos infantis, RDC nº
15, de 24 de abril de 2015, publicada no DOU de 27/4/2015 e com posterior reti? cação em 6/5/2015
Luciana Amiralian é farmacêutica e sócia-diretora da empresa Phisalia Produtos de Beleza, na qual é responsável pelas áreas de pesquisa e desenvolvimento, inovação e controle de qualidade.
Claudia Regina Fernandes é química-industrial com especialização em Engenharia Cosmética e tem mais de 15 anos de experiência na área de pesquisa e desenvolvimento, regulatórios e controle de qualidade. Atua na empresa Phisalia Produtos de Beleza como supervisora da área de pesquisa e desenvolvimento.

 

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